A grama extremamente verde, as árvores ao redor, o céu totalmente azul... Aquela sensação de liberdade que há dias não tinha. 

Sakura não nascera para ficar presa num castelo, tampouco passar o dia todo sentada num trono. 

Desceu do cavalo branco e o amarrou num tronco de árvore. Sasuke fez o mesmo, então foi atrás da rosada que corria feito criança por aquele campo extremamente verde do lado de fora dos muros do castelo. 

– Majestade, para onde vai? - Sasuke corria atrás da Haruno que estava sorridente, então ela soltou os cabelos longos que ficaram bagunçados por conta do vento. 

– Não sei, Sasuke. - Fechou os olhos e respirou fundo - Para onde o vento quiser me levar. 

– Não diga bobagens. - O moreno soltou um riso anasalado. 

– Não sente vontade de fazer isso, Sasuke? - Olhou para o rapaz. Os cabelos negros ainda mais desgrenhados por conta do vento não deixavam o Uchiha menos atraente - Vontade de largar tudo e sair por aí, livre... Longe daquelas pessoas venenosas da Corte? 

– E ir para onde? Viver de que? 

– Não sei. - Deu de ombros - Mas  tenho vontade.

– És uma rainha muito sonhadora...

– Rainha... - Falou apreensiva, olhando para o horizonte. Tinha vontade de sair voando como os passarinhos - É estranho me denominar assim... Alguns me vêem como uma criança, outros como um mero fantoche.

– Vossa majestade não é um fantoche! - Falou convicto o Uchiha - É o contrário! - Por ser irmão caçula de um dos conselheiros da rainha, Sasuke sabia muito bem o que os membros da corte achavam da monarca - Acho que subestimam vossa majestade.

– Vossa majestade! - Falou com desdém - Somos amigos de infância, Sasuke. Não gosto que me chame assim.

O moreno também achava estranho ver alguém com quem cresceu como uma pessoa tão superior. 

Eles brincaram juntos, compartilharam sonhos, medos e segredos... Eram muito mais que amigos. Quase como irmãos de sangue. 

– Sakura... - Pronunciou o nome da rainha e esta esboçou um pequeno sorriso como sinal de satisfação - Por mais que sejamos íntimos, você é a rainha agora.

– Antes de ser rainha, eu já era sua amiga... - A Haruno deu um leve aperto na bochecha do moreno que corou levemente, algo que Sakura sempre achou extremamente fofo - Ah, Sasuke! 

A rosada riu divertida, deixando o Uchiha encabulado. Ele desviou o olhar para o chão coberto por grama, completamente constrangido. 

– Eu odeio isso... - Murmurou, fazendo Sakura rir ainda mais.

– Pois eu acho muito lindo quando você fica assim, vermelho. 

– É vergonhoso. - Sasuke não conteve um riso. 

Sakura riu de seu amigo, mas logo voltou seu olhar aflito para os muros do castelo, atrás de ambos. Sasuke então seguiu o olhar de sua amiga e percebeu o porquê de ela ter ficado triste de repente. 

No entanto, o moreno permaneceu calado. Sabia o que afligia a Haruno, assim como sabia que não existia no mundo palavras suficientes para consolá-la. 

Ela não queria se casar, sofria com a pressão do Conselho. Pretendia governar sozinha e isso era mal visto por todos dentro da Corte, não somente por Sakura ser mulher, mas pela reputação que a mesma construiu desde criança. 

– Eu não quero voltar para lá. - Olhou novamente para o horizonte e Sasuke soltou um longo suspiro - Não quero olhar para a cara das pessoas que me pressionam para fazer o que eu não quero. 

– Independente da vontade deles, a palavra final é sempre sua. - Sasuke colocou uma mecha dos cabelos rosados atrás da orelha de sua amiga, logo em seguida passando sua mão carinhosamente pela bochecha macia e corada. 

– Sim, mas eu não suporto toda aquela pressão. - Puxou os cabelos para trás, arrumou os fios que foram bagunçados pelo vento e prendeu num coque. 

– Não está bem feito como estava antes, mas está preso. - O moreno riu do coque super mal feito da Haruno. 

– Ora essa. - Fingiu irritação - Não diga bobagens, está tão bem feito quanto o que as minhas damas fazem. 

Os dois caíram na gargalhada, pois, de fato, os cabelos de Sakura estavam muito bagunçados. 

Sasuke queria voltar logo para o castelo, pois logo poderiam sentir falta da rainha, mas Sakura não quis nem saber. Ela montou em seu cavalo e se afastou ainda mais do castelo. É claro que Sasuke foi junto.

Chegaram perto de um rio que tinha uma cachoeira, onde, bem na beirada do precipício, puderam avistar as flores favoritas de Sakura. 

– Veja. - Disse Sasuke, apontando para as flores que eram o brasão da família Real - Flores Haruno.

– Tão lindas... - Os olhos esmeraldinos brilharam ao ver tais flores tão lindas e raras - Por que não nascem em locais mais seguros? - Brincou.

– Lembra de quando estávamos aqui, nesse mesmo lugar, treinando com espadas? - O Uchiha indagou. Ele, assim como Sakura, ainda estava sobre seu cavalo - Eu quis lhe dar uma flor dessas, mas você me disse para não arrancar. 

– Hum... - A rosada levou o dedo indicador até o queixo, fazendo uma expressão pensativa - Tenho essa lembrança... - Sorriu - Tínhamos, deixe-me ver, uns doze anos ou treze... 

– Se elas já estivessem completamente desabrochadas... - Suspirou com desânimo - Acredito que daqui a poucos dias já estejam...

– Sei o que está pensando. - A garota o interrompeu - Nem em sonho que você chegará perto daquele precipício! 

– Por que não? 

– É perigoso!  - Falou como se fosse óbvio - Sasuke, você é louco!

– Não tanto quanto vossa majestade. - Falou risonho e Sakura arregalou os olhos, fingindo estar incrédula diante das palavras do amigo. 

– Eu poderia condená-lo à morte por isso, sabia? - Estreitou os olhos. 

– Quanta consideração... - Balançou a cabeça em sinal negativo, como se estivesse chateado - Eu quero lhe presentear com uma linda flor e você quer ver minha cabeça apodrecendo numa estaca?! 

– Não seja dramático, Sasuke! - Ela riu. 

Sasuke sempre foi bom em arrancar risadas da Haruno, até mais do que o filho de Minato. 

Naruto Uzumaki, filho de um conselheiro Real e de uma ex dama de companhia de Mebuki, também cresceu dentro do castelo e, assim como Sasuke, sempre estava próximo da futura rainha. 

Sakura gostava do loiro, embora suas palhaçadas idiotas a deixassem irritada na maioria das vezes. Ela sempre preferiu o Uchiha, o que acabava deixando Naruto um pouco excluído. 

Mas é claro que eles não eram as únicas crianças dentro da Corte. Contudo, Naruto e Sasuke eram as crianças mais próximas de Sakura por serem filhos de damas de companhia - de extrema confiança - da rainha Mebuki. 

Só que Naruto, na opinião de Sakura, era um verdadeiro bobo da Corte. 

– Acho melhor voltarmos. - Sasuke falou e Sakura assentiu. Estava ficando tarde e já deviam estar preocupados com ela.

Ambos voltaram e, assim que puseram os pés dentro do castelo, Itachi e Orochimaru apareceram agoniados e ao mesmo tempo aliviados ao ver a rainha. 

– Majestade, por que sumiu dessa maneira? - Orochimaru perguntou irritado. 

Sakura apenas revirou os olhos e continuou o trajeto para seus aposentos, andando como se não tivesse um único ser humano falando com ela.

– Não lhe devo satisfações, Orochimaru. - Respondeu curta e grossa.

– Não nos leve a mal, majestade. - Disse o Uchiha mais velho. Para ele, Sakura deu uma atenção um pouco maior - Mas é perigoso sair sozinha. A senhora pode ser atacada, sequestrada, morta... 

– Itachi, eu estava com ela. - Sasuke, que caminhava ao lado de sua amiga, respondeu.

– Sim, como sempre... - Orochimaru falou com malícia, então Sakura parou onde estava e olhou para seu conselheiro. 

A rosada estava realmente furiosa. Sempre detestou as insinuações que faziam a respeito dela e de Sasuke. 

– Controle a sua língua se não quiser perder seu cargo no Conselho... E se não quiser perder muito mais do que isso! - Vociferou.

– Sinto lhe informar, mas vossa majestade não pode mandar executar uma pessoa por capricho. - O homem rebateu.

– Mas eu posso expulsá-lo da Corte. - Sorriu de canto - E não se esqueça de que eu tenho cavaleiros fiéis... Sim, isso é uma ameaça! 

– Se mandar executar cada pessoa que pensa como eu a respeito de vossa majestade e Sasuke Uchiha, sinto lhe informar, mas até seus cavaleiros...

– Pois que guardem seus pensamentos! - Furiosa, Sakura nem permitiu que Orochimaru terminasse o que ia dizer - Pensem o que quiser, mas que não me atormentem! Eu sou a rainha, e dona da minha própria vida. 

– Como quiser, majestade... - Com um sorriso cínico no rosto, Orochimaru se curvou em sinal de respeito e se retirou.

Sakura respirou fundo e cerrou os punhos.  Tentava manter a calma, mas o simples fato de ter que olhar para Orochimaru já a tirava do sério. 

– Pronto! Ele conseguiu estragar meu dia! - Apressou seus passos rumo à seu quarto, mas os irmãos Uchiha não ficaram para trás. 

– Majestade! - Itachi, andando a passos largos, alcançou a moça que parecia querer correr - Esqueça o que ele disse. Orochimaru é um louco, não se importe com ele.

– Não me importo mesmo! Quero ele longe do Conselho!

– Majestade, me escuta. - Itachi insistiu, então Sakura parou e encarou o moreno mais velho - Vossa majestade não pode sair assim, sem avisar nada e sem escolta. - Explicou.

– Sei empunhar uma espada melhor do que muitos homens. - Bufou - Estou segura. E, além do mais, Sasuke estava comigo. 

– Não há dúvidas de que vossa majestade seja boa com espadas, e meu irmão também é um excelente espadachim. - Assentiu - Mas não teriam chance alguma caso estivessem em desvantagem. Uma rainha não pode sair sem escolta do castelo, isso é loucura! 

– Itachi, eu entendo sua preocupação. - Sakura falou mais calma. Talvez fosse pelo fato de Itachi ser irmão de Sasuke ou por qualquer outro motivo que Sakura desconhecia, mas Itachi era o único membro do Conselho que a rainha confiava fielmente - Mas eu não preciso de babá. 

– É para o seu bem. - O Uchiha insistiu. Itachi se preocupava com a segurança da rainha. 

– Eu sei o que é melhor para mim. - Ela respondeu um pouco irritada - Por favor, não insista! Você me conhece desde que nasci, então sabe que não mudarei de idéia. 

Dito isso, Sakura virou as costas e seguiu para seu quarto, deixando os dois irmãos para trás. 

Itachi lançou para seu irmão caçula um olhar desaprovador. Sabia dos boatos que corriam o castelo, Sakura já não era bem vista e ainda ficava andando para cima e para baixo na companhia de Sasuke. 

– O que foi? - Sasuke perguntou nitidamente irritado. 

– Você sabe o que foi. - Retrucou - O que estavam fazendo? 

– Estávamos apenas cavalgando. - Respondeu - A rainha se sente presa nesse castelo. 

– Ela não pode sair sem escolta, Sasuke, você sabe muito bem disso! - Brigou - Vocês já não são mais duas crianças e ela agora é a rainha de Konoha! Pelo amor de Deus, tenha bom senso! 

– Essa é a diferença entre nós, meu irmão... - Sasuke comentou enquanto ambos caminhavam pelos corredores do castelo, rumando para o jardim - Você a vê como rainha... Eu a vejo como Sakura. 

– Sasuke... - Falou em tom de aviso.

– Ela gosta de liberdade. 

– Um bom monarca deve se sacrificar pelo seu reino. - Argumentou o mais velho. Os dois chegaram ao belíssimo jardim do palácio, com muita grama e flores de todos os tipos... Exceto a raríssima flor Haruno - Nossa rainha ainda é muito jovem, portanto um pouco rebelde. Mas logo vai se acostumar com a nova vida. 

– Não é justo... 

– Ela nasceu como princesa, seu destino sempre foi tornar-se rainha, uma vez que sua mãe não conseguiu gerar um herdeiro varão. 

– E ela precisa de um herdeiro, não é? - Sasuke soltou um longo suspiro. Não havia dúvidas de que estava descontente com esse detalhe. 

– Sim. - Itachi olhou desconfiado para o caçula que apenas desviou o olhar - Ela precisa de um sucessor forte, de preferência um menino, e o mais rápido possível. 

– Por que tão depressa? Sei que a rainha deve aproveitar a juventude para produzir crianças fortes e saudáveis, mas ela não é jovem demais?

– Sasuke, ela é a última na linha de sucessão. Se algo acontecer, de quem será o trono? - Indagou retoricamente e Sasuke permaneceu calado - Ela precisa de filhos. 

– Eu sei... - Falou emburrado e Itachi percebeu o ciúme quase palpável do irmão. 

– Sasuke, eu não sei o que exatamente você sente pela rainha, mas pare. - Alertou o Uchiha mais velho - Você pode ser um nobre, mas está longe de ser um pretendente para ela.

– E por que eu iria querer ser um pretendente para ela?

– Responda-me você. 

Sasuke se calou.

Era estranho ver como rainha a menina com quem brincou na infância... Sua melhor amiga. 

Amiga?

Sakura cresceu e já não era mais uma menina levada, mas uma mulher feita e bonita. Sasuke não queria admitir, mas sentia-se atraído por ela... Atraído até demais. 

– Eu...

– Sasuke. - Seu irmão o cortou - Seja lá qual for o sentimento que tenha nascido dessa amizade, mate-o. Se o Conselho conseguir mudar a cabeça da rainha, logo você vai vê-la casar e ter filhos. 

– Sei disso. - Assentiu - Sei que é o melhor para Konoha, mas é estranho. - Suspirou pesadamente. Nem mesmo o próprio Sasuke tinha certeza de seus sentimentos, mas sabia que as coisas já não estavam mais como eram antes - Eu queria que as coisas voltassem a ser como eram antes. 

– Ela é uma rainha, então mais nada é como antes e você precisa aceitar. - O homem respirou fundo e olhou para o céu azul, quase sem nuvens, vendo um passarinho passar por ali e pousar numa das árvores do jardim. Então Itachi voltou novamente seu olhar para Sasuke - Já é hora de arrumar uma noiva, o que acha? 

– Itachi, eu não quero me casar. 

– Um bom casamento eleva o status da família. - Comentou - Nossa mãe está analisando algumas pretendentes...

– Eu não quero! 

Sasuke achava bizarra a forma como as pessoas se uniam em matrimônio. Os casamentos eram, na grande maioria das vezes, arranjados pelas famílias e às vezes os noivos só se conheciam no altar. 

Havia também os casais que eram prometidos ainda na infância, mas que esperavam uma certa idade para se casar. Geralmente acontecia entre nobres e membros da família Real, tudo por ambições familiares. 

– Não se preocupe. - Itachi riu - As moças são lindas...

– Não é isso! - Interrompeu o irmão - Não quero me casar com uma desconhecida. Você não acha estranha a idéia de ter que se deitar com uma pessoa que acabou de conhecer?

– Sasuke, esqueceu que meu casamento foi assim? - Arqueou levemente uma sobrancelha - E, apesar de tudo, Izumi e eu aprendemos a nos amar.

– Você deu sorte. - O moreno mais novo deu de ombros. 

– Irmão, não existe essa história de amor à primeira vista. O amor é construído aos poucos, com a convivência no dia a dia. - Explicou - No início pode parecer estranho, mas depois você aprenderá a amar sua esposa como eu aprendi a amar a Izumi e como nossos pais aprenderam a se amar. Pensa nisso.

Itachi então virou as costas e voltou para o castelo, deixando seu irmão caçula pensativo no meio daquele jardim. 

Se Itachi estivesse certo, se o amor fosse construído com o tempo e a convivência no dia a dia, então Sasuke amava alguém de verdade... Sakura.