– Majestade, está com uma expressão péssima. - Hinata falou preocupada após abrir as cortinas da cama da Rainha. 

Sakura não queria tocar naquele assunto. Era claro que Hinata sabia que algo de errado havia acontecido, visto que desde a festa de aniversário Sakura estava estranha. 

– Preparaste tudo para eu me lavar? - Sakura esfregou os olhos, desviando do assunto. Não iria explicar para a sua dama, por mais que fosse sua amiga, por que estava abatida. 

Como toda e qualquer monarca, Sakura teve a ajuda de suas damas de companhia para fazer sua higiene pessoal e vestir-se. Se há alguns anos ela achava isso um exagero e dizia que podia fazer qualquer coisa sozinha, hoje ela já não se importava. Gostava de ter pessoas para servi-la. 

Estava pensativa, olhando para o grande espelho à sua frente enquanto Hinata fazia um coque em seu cabelo. 

– Está pensativa, Majestade... - A morena pegou um capelo* verde para enfeitar a cabeça da Rainha; ele era adornado com ouro e pedras de esmeralda, não chegava a cobrir as orelhas da Haruno, deixando à mostra os brincos da monarca.  

– Acho que vou sair hoje, Hinata. - Pegou um colar de ouro com esmeraldas cujo pingente era um "R", de Rainha, claro. 

– Deseja que eu providencie algo? 

– Sim, claro. - Assentiu - A carruagem. 

[...]

Sasuke se sentia estranhamente melhor. Em contrapartida, continuava com a cabeça confusa. 

Durante o sono, mais memórias vieram. Estava, aos poucos, lembrando mais de seu irmão e isso já era o suficiente para Sasuke saber que Itachi estava querendo poupá-lo de alguma coisa que ele não sabia o que era. 

Itachi ordenou que seu irmão caçula não saísse daquele quarto, mas Sasuke não queria se sentir preso. Definitivamente era algo de sua natureza... Não queria sentir-se prisioneiro. 

Contrariando as ordens de seu irmão, Sasuke saiu calmamente do quarto e caminhou meio sem rumo pelo castelo. Aos poucos as recordações vinham... Ele conhecia cada detalhe daquele lugar, mas era como se nunca tivesse estado ali antes. Memórias armazenadas nos confins de sua mente estavam voltando sutilmente. 

Na saída do castelo, Sasuke pôde avistar o grande jardim e sorriu. Fechou os olhos e sua mente resgatou momentos agradáveis que tivera com Sakura ali. 

Levou um susto no momento em que abriu os olhos e viu em sua frente, parada, uma moça dos cabelos escuros e olhos tão claros que chegavam a adquirir cor de pérola. 

A morena parecia assustada, estava pálida, como se estivesse vendo um fantasma ali em sua frente. 

– Sasuke... - Disse num sussurro, trêmula. 

O coração do Uchiha bateu consideravelmente mais forte. Não sabia quem era aquela mulher, que a julgar pelas roupas não era uma reles empregada, mas ela claramente o conhecia. 

Sasuke nada respondeu, apenas saiu andando a passos apressados, deixando para trás uma mulher atordoada.

Hinata não sabia se acreditava no que seus olhos viam. Sasuke estava ali, em sua frente, era de carne e osso. 

– Eu preciso... - Respirou fundo, tentando recuperar seu emocional - Preciso informar isso a alguém. 

Enquanto Hinata tentava assimilar tudo que havia acontecido sem levar em consideração a hipótese de estar ficando desequilibrada, Sasuke caminhava rumo aos grandes portões. 

Ele não sabia para onde estava indo, mas ao mesmo tempo era como se soubesse. Conhecia aquele caminho, não lhe era estranho. 

[...]

Já era a terceira vez que Itachi vasculhava aquele quarto, isso após vasculhar o seu próprio. Era óbvio que Sasuke não estava ali.

Temia pelo caçula. Alguns funcionários do castelo eram novos - a Rainha tinha nada menos que duzentos empregados pessoais - e sequer sabiam quem era Sasuke, mas ele poderia encontrar com alguém que conhecia seu rosto. Na pior das hipóteses, poderia se encontrar com Orochimaru ou com a própria Rainha. Itachi não sabia exatamente como andava a memória de seu irmão, ele poderia facilmente se perder. 

Itachi saía apressadamente dos aposentos da família Uchiha quando quase esbarrou com Hinata. A dama da Rainha parecia atordoada, como se estivesse torturando a si mesma.

– O que faz aqui, senhorita Hyuuga? - Apressado, Itachi foi direto ao ponto. 

– Pode... Pode parecer insanidade, mas eu tenho certeza de que vi seu irmão caminhando por aqui.

O sangue de Itachi gelou em suas veias. O que ele temia, aconteceu: Uma pessoa reconheceu Sasuke. 

Não adiantava mentir e dizer que não sabia de nada, mas também não tinha tempo para explicar exatamente o que estava acontecendo. 

– Para onde ele foi? - Itachi questionou. 

– Eu... Eu não sei... - Disse simplesmente - Saiu correndo para fora do castelo.

– Para fora do castelo? - A aflição de Itachi era quase palpável e, de alguma forma, Hinata percebeu que o Uchiha já estava ciente de que Sasuke estava vivo. 

– O que está acontecendo? 

– Onde está a Rainha? - Itachi perguntou agoniado, ignorando completamente a pergunta feita pela Hyuuga.

– Pediu a carruagem e dispensou suas damas até o final da tarde. 

Com a respiração ofegante e um mau pressentimento rondando sua mente, Itachi saiu apressado para procurar sua esposa. Talvez Izumi lhe dissesse exatamente para onde Sakura havia ido.

Ele estava com medo. Rezava para que sua intuição não estivesse certa, mas já tinha quase total certeza de qual lugar a monarca estava indo visitar sozinha... Assim como temia que Sasuke, ao sair do castelo, lembrasse do caminho até lá. 

[...]

Sasuke sorriu abertamente, pois sabia perfeitamente onde estava. 

O belo jardim florido, o rio contornando o local e a ponte de madeira que permitia o acesso à casa de que Sasuke se lembrava perfeitamente bem.

Continuava tudo do mesmo jeito. Lembrava-se de Naruto e Sakura na infância, seus companheiros de brincadeiras nas horas vagas. As três crianças amavam aquele imenso jardim. 

Viu  alguns cavalos e uma carruagem a poucos metros de distância da pequena ponte. Sasuke estreitou os olhos e tentou se lembrar de onde conhecia aquela carruagem branca com dourado, mas nada lhe vinha à mente. 

Resolveu ignorar e caminhou rumo à pequena ponte sobre o rio. Ainda atravessando, avistou uma mulher de costas e, por mais que seus cabelos estivessem presos por um coque, dava para ver perfeitamente que eram róseos. 

O coração de Sasuke acelerou. Ele olhou para trás e foi quando percebeu a bandeira no topo da carruagem;  era uma flor Haruno, brasão da família Real, e a flor responsável por sua queda do precipício. Não havia dúvidas de que aquela mulher dos cabelos rosados era Sakura, a Rainha. 

Feliz, Sasuke apressou seus passos para encontrar a mulher que há tempos não via, mas parou estático quando a porta da mansão se abriu e de lá saiu uma pequena menina dos cabelos lisos e negros, ela correu contente até a rosada e pulou em seu colo. Atrás, mais especificamente no degrau em frente à porta da mansão, estava parada uma moça dos cabelos claros que apenas observava a cena. 

A menina parecia feliz em ver a mulher e vice versa. Sakura abraçou a pequenina e lhe deu um beijo no rosto. Pelas roupas, ela não era uma menina qualquer, sem falar que claramente morava na mesma mansão em que Sakura cresceu. 

Após tomar fôlego, o moreno retomou seus passos rumo à mulher de quem tanto sentiu saudade. 

– Você sentiu minha falta? - Sakura perguntou docemente para a menina em seu colo, mas se assustou ao sentir uma mão em seu ombro. 

Olhou para trás e sentiu suas pernas enfraquecerem. Seus olhos se arregalaram e sua boca ficou entreaberta;  sentiu seu coração bater mais forte e por pouco não deixou a criança em seus braços cair no chão. 

– Você... Você... - Sussurrou num fio de voz, como se não estivesse crendo no que via. 

– Sakura. - Sasuke não conteve um sorriso - Depois de tanto tempo, finalmente eu posso te ver de novo. 

– Você está vivo! - Falou boquiaberta e não conteve algumas lágrimas - Como isso é possível? 

Orochimaru tinha razão, Sakura percebia isso. Sasuke estava vivo e Itachi sabia, o escondeu. 

– Aconteceu muita coisa, Sakura. Eu nem sei por onde começar a contar.

– Mamãe, quem é ele? - A menina perguntou claramente confusa, vendo um certo pânico no olhar de sua progenitora. 

– Vá para dentro. - Sakura a colocou no chão e virou-se para a mulher que permanecia parada perto da porta - Temari, leve-a para dentro. - Ordenou num tom de voz mais alto para que a loira ouvisse - Logo entrarei para vê-la. 

A menina olhou fixo para Sasuke e depois abaixou o olhar, então, obedecendo a ordem de sua mãe, acompanhou sua governanta. 

Os cabelos lisos e extremamente negros, os olhos de ônix, a pele alva, o nariz fino... somente os lábios cheios eram claramente de Sakura, mas todos os outros  traços daquela criança eram de Sasuke. Qualquer um percebia isso e, estando ciente de que compartilhava frequentemente a mesma cama que a Rainha, Sasuke logo percebeu quem havia sido o progenitor daquela menina.

– Sakura... - Sasuke deu um passo para frente, mas Sakura deu três para trás - O que houve? Pensei que ficaria feliz em me ver. 

– Por quê? - Indagou entre dentes - Por que resolveu aparecer depois de seis anos, por quê? - Bradou - Você faz idéia do que eu passei sem você por aqui, Sasuke? Faz idéia do que eu tive que suportar? - A mulher deixou grossas lágrimas caírem - Agora você simplesmente volta do nada, seis anos após ter sido dado como morto, como se nada tivesse acontecido?! Por quê? 

– Porque eu te amo, Sakura! 

– Não, você não ama! - Esbravejou - Você sumiu sem deixar rastros, todos pensavam que você havia morrido! Você dizia que me amava e eu acreditei em você, Sasuke! - Sakura limpou suas lágrimas, mas logo outras brotaram - Mas suas juras de amor eram palavras vazias. Eu tive que suportar muita coisa depois que você sumiu, fui obrigada a fazer coisas que eu não queria e sacrifiquei minha felicidade. Se você estivesse aqui, Sasuke, do meu lado como prometeu, tudo teria sido diferente. 

– Você não me ama mais? - Isso foi tudo que Sasuke conseguiu perguntar. Ainda estava confuso demais para compreender exatamente tudo o que Sakura falava, embora imaginasse. 

– Isso já não importa mais. 

– Importa, claro que importa! Porque eu voltei por você. 

– Não, não importa porque jamais poderá haver mais nada entre nós. - Falou decidida - Peço, por favor, que se afaste de mim e que nunca mais chegue perto de minha filha. 

– Sua filha, Sakura? - Estreitou os olhos - Não seria nossa? 

– Vá embora! - Rosnou entre dentes. 

Sasuke sentiu como se uma espada afiada tivesse ido de encontro ao seu peito. Procurou pelo castelo, correndo risco de vida, para rever a rosada e simplesmente foi rejeitado por ela.

Arrasado, ele virou as costas e foi embora, deixando cair lágrimas tão grossas quanto as que Sakura também derramava.