Quem tem medo destino? escrita por Morgana Lisbeth


Capítulo 4
Fantasma do passado


Notas iniciais do capítulo

Mais uma capítulo saindo do forno! o/o/o/

Sobre a música incidental escolhida - da qual gosto muito -, ela fala do sentimento que acompanha Hermione especialmente quando, da janela do seu quarto, olhando a paisagem, lembra de certo ruivo...



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Para ouvir antes, durante ou depois da leitura do capítulo:

Solitaire

(Marina And The Diamonds)

http://bit.ly/2b8gIMm

 

 

 

"Nossos olhos, ah meu Deus, os nossos olhos...
Eram os meus nos teus e os teus nos meus como olhos que dizem adeus.
Não era adeus, no entanto, o que estava vivendo nos meus olhos e nos teus,
Era êxtase, ternura, infinito langor.
Era uma estranha, uma esquisita mistura de ternura com ternura, em um mesmo olhar de amor."

(Pablo Neruda)

 

 

 

 

Estava novamente naquele quarto de cores claras, deitada, e com um sentimento de opressão. Olhou para o lado direito da cama e ele não estava lá. Com sobressalto, sentou-se. Logo o pânico se apoderou dela. "Ron... Ron? Onde você está"?, começou a perguntar em voz baixa. Como resposta, apenas o silêncio. "Ron! RON!!!", por fim gritou quase em desespero.

A porta se abriu e o rapaz de cabelos ruivos apareceu assustado. "O que houve? Por que estava gritando. Fui beber água", ele disse enquanto se dirigia à cama.

— Achei que tinham levado você. Todas as noites acho que vão levar você para longe de mim - ela conseguiu verbalizar o pânico que parecia infundado.

Já sentado na cama, o ruivo começou a afagar os cabelos dela na tentativa de acalmá-la. "Ninguém vai me levar daqui. Eu não vou sair de perto de você", garantiu, abraçando-a com força.

— Mas por que tenho tanto medo? Por que tenho tanto medo de perder você? - ela voltou a questionar.

— Você precisa encontrar aquele anel. Tem que voltar à Austrália e encontrar aquele anel - ele falou.

 

 

Hermione abriu os olhos assustada. Tinha sonhado de novo. Mas dessa vez ele, o Ron dos seus sonhos, não havia simplesmente a acalmado. Falara do anel que simbolizava o sentimento de um pelo outro e devia ser adornado por uma pedra de azul translúcido enquanto tudo estivesse bem entre eles. O anel que perdera na viagem à Austrália.

Era sábado e Hermione não lecionava aos fins de semana. Naquela escola de Magia, ao contrário de Hogwarts, os professores moravam em suas próprias residências ao longo do ano letivo. Por isso ela havia alugado um pequeno e aconchegante apartamento no Centro da cidade.

Tinha dois quartos, uns deles que funcionava como seu escritório e biblioteca, sala, cozinha, banheiro e uma minúscula área de serviço. O melhor era a paisagem que via dos quartos, que davam para um parque. A vista era de árvores altas e, ao longe, de uma montanha com os picos sempre cobertos de neve.

Quantas vezes, olhando aquela paisagem, Hermione pensou em Ron. Perguntava-se como o rapaz estava, se tinha uma namorada, se ainda lembrava dela... E em muitos desses momentos, talvez em quase todos, desejou ter o ruivo ali, ao seu lado. Por mais que quisesse negar, sentia-se solitária sem a presença de Ron.

Nos últimos dias, no entanto, estava preocupada com ele. Depois daqueles frequentes sonhos, temia que o rapaz estivesse enfrentando algum perigo ou sendo perseguido. O trabalho como auror era arriscado. Gina havia falado que o irmão sempre tinha grandes embates com gigantes que insistiam em atacar as aldeias bruxas da Romênia. Alguma coisa lhe dizia que, no momento, Ron não enfrentava ameaças rotineiras, mas algo ainda mais terrível.

Precisava saber dele. Não suportava mais tanta suspensão. Como não podia ir À Toca e muito menos visitá-lo na Romênia, a única forma de ter notícias de Ron era por meio de Gina. Há uns três meses não falava com ela e Harry. A desculpa, que tentava dar para si mesma, era que estava muito ocupada com a escola, preparando, aplicando e corrigindo provas e trabalhos... Mas a realidade era outra.

Sempre que entrava em contato com Gina, a ruiva falava da vida sentimental de Ron. Tentava desviar a conversa para outros assuntos, mas não tinha jeito. E isso a fazia sofrer. Da última vez, por exemplo, a amiga fez questão de dizer que o irmão, que terminara um namoro de dez meses com uma auror romena, estava saindo com uma linda bruxa morena de olhos azuis. Desconfiava que Gina abordava esses assuntos para, de alguma forma, despertar o ciúme dela.

Não havia outra opção. Ficaria desesperada se não tivesse logo notícias de Ron. Depois do café rápido, decidiu usar o Pó de Flu para se comunicar com a ruiva. A casa dos Potter era ligada à Rede e, como a lareira dela não tinha essa propriedade mágica, iria mais uma vez recorrer à sua amiga Isobel.

A feiticeira, depois de servir um chá a Hermione para que ficasse mais calma, anunciou precisar sair para comprar alguns itens mágicos. A garota sabia que era apenas uma desculpa para deixá-la mais à vontade. Não iria se deslocar até a casa de Gina. Assim como Sirius costumava fazer, usaria a Rede apenas para falar com ela. Funcionava como um telefone trouxa, com a diferença que seu rosto aparecia na lareira.

Enquanto se preparava para falar com a ruiva, lembrou-se da primeira vez que usou a Rede de Pó de Flu da casa de Isobel. Estava tão triste naquele dia... Queria se comunicar com Luna, que reencontrara no casamento de Harry e Gina, para combinarem a visita dela ao Canadá.

 

 

 

* * * * * * * * * *

 

 

 

Passado um mês do casamento dos amigos, ainda não conseguira esquecer o encontro com Ron. Não queria ter saído daquela forma da festa de Harry e Gina. Mas não conseguiu suportar a forma gélida, quase cruel, com que o ex-namorado a tratara.

Será que Luna tinha razão quando dissera que o ruivo ainda gostava dela e a tratara mal por pura mágoa? Como explicar para Ron que havia se afastado porque temia pela vida dele? Essa parecia uma atitude estúpida, sabia disso. Como alguém podia perder o amor da sua vida por um medo infundado assim? No entanto, aquela grande confusão interior que experimentou no último período em que namoraram só havia passado quando desmancharam.

Ela ainda se preocupava com o rapaz e sentia aquele aperto no coração sempre que sabia do ataque sofrido por algum auror, seja em qual parte do mundo fosse. Mas, para seu alívio, agora não experimentava mais a opressora sensação de que estava colocando a vida do ruivo em risco.

A bruxa não tinha esquecido Ron ao longo daqueles onze meses, desde que terminaram o namoro. Na verdade, lembrava-se dele todos os dias. Mas isso não diminuía a convicção de que deveriam permanecer separados. Acreditava sinceramente, porém, que voltariam a ser amigos. Após reencontrá-lo assim, zangado e magoado com ela, entendeu que não poderia resgatar nem mesmo a amizade com o ruivo.

Ron tinha uma namorada e seguia a vida dele. Hermione também precisava dar um rumo para a sua, libertar-se de vez daquele amor que ficara no passado. Por isso decidira aceitar o pedido de namoro de Mark Douglas, proprietário da livraria trouxa que frequentava no Canadá.

Depois de um mês, a garota já sabia que o relacionamento não daria certo. O rapaz era carinhoso, atencioso, mas, definitivamente, ela não o amava. "Não se precipite, Hermione. O sentimento nem sempre é instantâneo. Por vezes demora a acontecer", foi o conselho de Isobel.

Não era aquele a opinião de Luna, que visitava Hermione no Canadá. "Por que você está namorando esse rapaz?", a ex-aluna de Corvinal não fez rodeios. "Ele é ótimo, inteligente, amigo", Hermione elogiou.

— Deve ter muitas qualidades, com certeza. Mas não existe uma aura, uma conexão entre vocês. Pensei que queria ser feliz - Luna falou.

— Como assim? Claro que quero ser feliz - a garota protestou.

— Se quisesse mesmo, seguiria o seu coração - Luna continuou.

— O que está querendo dizer com isso? - Hermione já tinha entendido, mas desejava ouvir Luna explicar.

— Hermione, olha para onde a bússola do seu coração aponta. Não é para Mark. Você ainda ama Ron - a amiga mais uma vez foi direta.

— Por que insiste com isso? Ron tem uma namorada firme e está bem - ela não gostava de falar sobre o relacionamento que havia ficado para trás.

— Está bem mesmo? Se você diz, deve ter seus motivos. Mas não se preocupe com minhas palavras. Falo apenas o que vejo. Você sempre será livre para fazer suas escolhas - Luna abriu um sorriso.

Não voltaram a falar desse assunto. Os dois dias que Luna passou no Canadá foram felizes. Hermione sentia-se muito sozinha naquele país frio e distante e era sempre bom ter uma companhia amiga.

 

 

 

* * * * * * * * * *

 

 

 

— Gina! - ela chamou assim que a ampla sala dos Potter começou a se materializar à sua frente.

A ruiva apareceu um minuto depois, vestindo uma longa camisola. Ao ver a amiga, abriu um largo sorriso.

— Mione! Que ótima surpresa! Pena não veio até aqui pessoalmente para eu abraçá-la - Gina não escondia o entusiasmo em ver a amiga. - Faz quanto tempo que não conversamos?

— Acho que não nos falamos há uns três meses - não conseguiu evitar o constrangimento.

— Por isso que estou com tantas saudades de você! Devia ligar a sua lareira à Rede Internacional de Flu. Está falando da casa daquela bruxa que é sua amiga? - ela questionou colocando o hobby que trazia nas mãos.

— Já pensei nisso. Mas não falo com quase nenhum bruxo. Apenas com você e Harry. Preferi adquirir um telefone, para conversar com meus pais. E a Isobel é sempre muito solícita quando preciso usar a lareira dela - explicou.

— Quais as novidades? O que tem feito? Está namorando? - Gina a bombardeou de perguntas.

— Nada de novo. O trabalho de sempre, aquela rotina de dar aulas, corrigir trabalhos... - ela não queria voltar a falar dos relacionamentos pouco entusiasmantes que tivera.

A ruiva, que nunca abria mão de receber uma resposta, voltou a insistir: "Você está ou não namorando?". Hermione respirou fundo antes de dizer: "Não. E estou muito bem sozinha, se é isso que quer saber".

— Mas você andou namorando, que eu sei - a ruiva retomou o assunto que deixava Hermione profundamente desconcertada.

— Nada sério. E já terminou há muito tempo - a garota enfatizou, sentindo as faces queimarem. - Vamos mudar de assunto?

— Quer saber do meu trabalho como jogadora de quadribol? Estou indo muito bem. O técnico sempre me elogia - Gina tinha realizado o sonho de tornar-se uma profissional do esporte.

— Fico feliz por você, Gina. Sempre admirei seu talento para o quadribol. E Harry, como está? - ela sentia falta do amigo.

— Harry está viajando a trabalho. Foi para Hungria e deve aproveitar para visitar o Ron na Romênia. Eu detesto ficar sozinha. Mas fazer o quê? - Gina falou.

— Você tem uma família numerosa, saiu d'A Toca para se casar. Não deve estar acostumada a ficar sozinha. Eu já me acostumei - Hermione deixou escapar.

— Acostumou mesmo? Ninguém nasceu para ficar sozinho, Hermione. Você não pensa em se casar, formar uma família, ter filhos? - a amiga questionou-a.

— Não. No momento não penso nisso. Estou bem assim. Gosto muito de dar aulas e me sinto realizada - ela garantiu.

— Se você diz... Mas, afinal, você tem um motivo especial para fazer esse contato antes das oito horas da manhã em um dia de sábado? - perguntou divertida.

— Meu Deus! É tão cedo assim? Desculpe-me, Gina. Eu devo ter acordado você... - Hermione falou envergonhada.

— Eu já estava acordada. Não se preocupe. Mas você não me engana. Estou percebendo pela sua voz, pela expressão de seu rosto, que está tensa. Quer saber notícias do Ron? - a ruiva sempre fora perspicaz.

— Não, não é nada disso... - tentou disfarçar. - Mas está tudo bem com ele?

— Ah, eu sabia! Você está morrendo de saudades do Ron, que eu sei. Por que insiste em não procurar por ele? Não entendo esse orgulho besta de vocês - Gina disparou.

— Gina, por favor! Eu já expliquei tantas vezes. Eu gosto de Ron, mas como amigo. Já tentamos, mas não damos certo como namorados - falou com certo desespero e pouca convicção.

— Ele continua sem namorada, se é isso que quer saber. Começou a sair com uma menina no início do ano. Carlinhos me contou que ela era simpática e muito bonita, mas não levou o relacionamento adiante. Desde então está sozinho - a jovem senhora Potter foi logo dizendo.

— Mas como está agora, Gina? - dessa vez, ao contrário de outras, não ficara chateada com a menção a um novo relacionamento do rapaz, já que sua preocupação com ele era intensa. - Você tem falado com seu irmão? Eu sonhei com Ron ontem e fiquei preocupada. Parecia que estava correndo algum perigo.

— Sonhou com Ron?! Que coisa boa! Como foi o sonho? - Gina perguntou com aquele jeito maroto que Hermione detestava.

— Não é nada disso que está pensando. Não foi um sonho bom. Na verdade, foi quase um pesadelo. Ron havia sumido e depois apareceu. Mas tive certeza que uma ameaça muito grande pairava sobre ele - tentou explicar.

— Achei que você não dava tanta importância aos sonhos - Gina comentou.

— Nunca dei mesmo. Mas é que esse sonho vem se repetindo por várias noites seguidas - Hermione acabou se abrindo mais do planejava.

— Várias noites seguidas?! Você não acha que isso é um sintoma da grande saudade que sente do Ron? - Gina abriu um largo sorriso.

— Gina, agradeço pelo seu esforço em interpretar meu sonho. E espero não decepcioná-la ao dizer que você não tem muito talento para isso - ela também sorriu.

— Eu realmente não tenho qualquer pretensão de trabalhar na interpretação de sonhos e com a adivinhação - deu uma piscadela antes de retomar a conversa com mais seriedade. - Você está mesmo preocupada com Ron, não é?

— Sim. Estou - admitiu. - Você falou recentemente com Ron?

— Não converso com ele há uns dois meses. Tenho notícias do meu irmão pela mamãe. Ela também andou preocupada. Disse que Ron estava abatido, magro, triste. Coisas de mãe. Sei que trabalha muito e vem se destacando entre os aurores do leste europeu. Recentemente ganhou um bom prêmio em dinheiro. Chegou a planejar comprar uma casa na Romênia, mas desistiu da ideia porque ainda pensa em voltar para Inglaterra. Acho que guardou o dinheiro no Gringotes até se decidir - Gina falou mais do que Hermione queria ouvir.

— Bom saber que Ron está em segurança, se destacando no trabalho. E você? Como tem passado? - perguntou com interesse.

— Estou ótima. Eu e Harry nos entendemos muito bem - Gina respondeu.

As duas se despediram com a promessa de se verem com mais frequência. Hermione sentia-se tranquila por um lado e preocupada por outro. Ficara abalada ao imaginar que Ron estava mais magro, triste e abatido.

 

 

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Notas finais do capítulo

Olá! :)

Uma leitora me perguntou se vou postar sempre num mesmo dia da semana. Desculpem-me os que preferiam assim, mas não tenho como estabelecer uma data fixa; não sou muito metódica e minha vida é bem corrida. Mas, nessa retomada da história, vou tentar atualizá-la com mais regularidade.

P.S: Comentários me ajudam a saber se a fic segue no rumo certo. Espero o retorno de vcs. Beijos!



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