Quem tem medo destino? escrita por Morgana Lisbeth


Capítulo 34
Medo e esperança


Notas iniciais do capítulo

Feliz Dia das Bruxas! Não existe data mais perfeita para ter a companhia de leitores que amam dois bruxos para lá de especiais!

Boa leitura!



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Para ouvir antes, durante ou depois da leitura do capítulo:

Truly Madly Deeply

(Savage Garden)

http://bit.ly/2z8AIJd

 

 

 

“Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho.
Amor, dor, trabalhos, devem dormir agora.
Gira a noite sobre suas invisíveis rodas
e junto a mim és pura como o âmbar dormido.

Nenhuma mais, amor, dormirá com meus sonhos.
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma viajará pela sombra comigo,
só tu, sempre-viva, sempre sol, sempre lua”
(Pablo Neruda)

 

 

 

 

Um sol tímido de outono iluminava a cama de Hermione. Dormira com a cortina aberta depois de observar as estrelas até alta madrugada. Ouviu um toque suave na porta e Jean Mary entrou com um belo sorriso no rosto.

— Bom dia, Hermione! Como passou a noite? Está se sentindo mais tranquila? – a sra. Granger perguntou.

— Sim, mãe, bem mais tranquila. O meu ruivinho já está lá embaixo me esperando? – ela sorriu divertida.

— Ainda não, mas acho que não vai demorar. Ele prometeu voltar hoje de manhã – a mãe deu um beijo no rosto da filha, que já sentara na cama. – Quem já está aqui é Isobel.

— Sério? Ela madrugou – disse a menina que, ao consultar o relógio que ficava em sua cabeceira, observou que eram seis e vinte da manhã.

— Ela falou que conhece os seus hábitos e sabe que acorda cedo. Mas confesso que me surpreendi quando a campainha tocou tão cedo assim – a mãe sorriu.

Sentada na sala, Hermione observa Isobel tomar chá. Sentia uma dor estranha, diferente, ao pensar que a amiga voltaria para o Canadá naquela tarde. Parecendo respeitar o silêncio da menina, a professora de poções não perguntou sobre o interrogatório dos Dankworth. Foi a garota que finalmente tocou no assunto.

Isobel, que conversara com Ron naquela noite, sabia cada detalhe dos depoimentos prestados pelos dois bruxos. E imaginava que, de alguma forma, Hermione também já estava informada. Por isso não fez rodeios.

— Que história mais inverossímil, Hermione. Imagino o quanto está abalada com tudo isso – a professora mostrou-se solidária.

— É constrangedor ver um assunto tão íntimo, a possibilidade de ter ou não um filho com o bruxo que amo, virar manchete dos jornais da comunidade mágica. E para piorar, nem estamos namorando. Acho que tudo isso só vai tornar mais difícil para eu e Ron reatarmos o nosso relacionamento – ela desabafou.

— Mas veja pelo lado positivo. O fato de, mesmo sob um feitiço, vocês não terem deixado de se amar comprova o quanto é forte e verdadeiro o sentimento que têm um pelo outro – Isobel argumentou.

— Ao que parece, como enfeitiçaram apenas o meu anel, Ron não foi afetado. Eu mesma só fui afetada parcialmente... – a garota contrapôs.

— Ainda assim, o feitiço apenas fez você querer, por uma estranha razão, estar distante dele. Você nunca deixou de amar o Ron – a bruxa observou.

— É, tenho que reconhecer que você tem razão – Hermione deu um sorriso.

— E então? Está pronta para enfrentar o seu ruivo de olhos azuis? – Isobel enrugou ainda mais a testa ao erguer as sobrancelhas.

— Não me julgue por isso, Isobel, mas ainda não estou pronta para dar uma resposta ao Ron. Se ele pedir para voltar o namoro... – ela recuou, temorosa.

— Por acaso não era o que você mais queria? – a amiga olhou-a intrigada.

— Sim, mas antes de descobrir a existência dessa profecia. Como posso pensar num relacionamento sério sabendo que, se tivermos um filho, ele corre o risco de ser caçado e morto por bruxos das trevas que acreditam numa louca profecia? –a jovem expressou o seu temor.

— Hermione, toda criatura viva corre o eminente risco da morte. Mas isso só torna a vida ainda mais preciosa. O dom da vida é o maior mistério, o que de mais sublime pode existir. Se esse filho vier a nascer, será fruto de um grande amor e, quem é amado, muito cedo aprende a amar. Do alto dos meus 88 anos, posso lhe garantir que o amor vence tudo e é a maior força que existe. O amor é a única realidade que você não deve temer – a feiticeira falava com grande tranquilidade.

— Sei que todas as suas palavras estão carregadas de sabedoria, mas vou precisar de pelo menos três dias para refletir sobre tudo isso – ela confessou.

As duas amigas se despediram com um forte abraço e a promessa de se reverem o mais rápido possível. Antes de seguir para o Ministério da Magia, Hermione ainda conversou um pouco com a mãe.

— Você não entra no trabalho às oito horas? Ainda são sete... – Jean Mary lembrou.

“Prefiro assim, mãe. Não vou ficar confortável com muitas pessoas me observando de forma estranha. A essa altura, todo mundo já sabe que os quatro bruxos presos queriam separar eu e Ron”, Hermione começou a se abrir. Diante do olhar interrogativo da sra. Granger, a garota narrou tudo que tinha ouvido nos depoimentos.

— Então é por isso que você está com medo de encontrar com Ron? – a mãe fez a pergunta mais difícil de responder.

— Não é fácil tomar uma decisão. E, na verdade, nem sei se Ron quer ficar comigo – ela ainda tinha suas inseguranças.

— Se você tivesse descido do seu quarto ontem e olhado para ele, não teria mais dúvida alguma. Sei identificar muito bem o rosto de alguém apaixonado – a a sra. Granger foi direta.

— Mesmo se ele continuar apaixonado por mim, não sei se devemos ficar juntos, porque é muito arriscado – Hermione estava aflita.

— Viver é arriscado. Mas você sempre foi uma jovem corajosa, que encarou todos os riscos de uma forma tão saudável. Por que o medo agora? – a mãe parecia repetir as palavras da professora Isobel.

— Preciso mesmo ir, mãe. Quero chegar antes do início do expediente. Depois voltamos a conversar – ela prometeu.

Hermione chegou às sete e quarenta no departamento que, para sorte dela, estava vazio. Foi direto para a sala reservada que ocupava, já que trabalhava na análise de documentos sigilosos. Procurou concentrar-se nas tarefas acumulados em cima da mesa, para evitar pensar em tudo que havia acontecido nos últimos dias.

Por volta das oito e vinte, alguém bateu à porta. O coração da bruxa deu um salto. “Sou eu, Hermione”, para alívio dela, a voz ouvida era de Martin.

Convidou o chefe a entrar, temendo enfrentar o assunto que ele provavelmente puxaria. Mas para surpresa de Hermione, Martin falou pouco e de forma assertiva.

— Eu me sinto um pouco culpado por ter contratado Mary Elizabeth Thompson. Ela era muito educada e tinha um bom currículo. Só agora soube que grande parte daquelas informações eram falsas – o bruxo parecia constrangido.

— Por favor, Martin, não se culpe por isso. Na verdade, Mary Elizabeth enganou todos no Ministério. Sabe que não consigo sentir raiva dela? Acho que é uma pessoa insegura, de mente fraca, facilmente manipulada – a garota admitiu.

— Lamento por tudo que aconteceu. Acho que você precisa de uma semana de folga para descansar e colocar os pensamentos em dia. Está autorizada a ir para casa agora e voltar na próxima segunda – o chefe era uma das pessoas mais calmas que conhecia.

— Não precisa disso, Martin. Estou bem. O Departamento não pode ficar desfalcado de dois funcionários ao mesmo tempo. Sempre resolvi meus problemas dedicando-me ao estudo e ao trabalho. Não vai ser diferente agora – ela deu um suave sorriso.

— E se eu disser que só estou cumprindo ordens do Ministro da Magia? Ele me procurou pessoalmente para pedir que lhe desse uma semana de folga. Eu concordo com o Ministro. Acho que você precisa desse tempo – ele ponderou.

A bruxa sentiu que não adiantaria argumentar. Martin conseguia ser mais teimoso que ela. Lembrou que fazia mais de um ano que não visitava a sua avó na França. Talvez aquela fosse uma oportunidade perfeita para isso. Ao constatar que assim ficaria alguns dias distante de Ron, convenceu-se que era o melhor a fazer. Não conseguia explicar racionalmente o medo que sentia. Sabia apenas que não conseguiria tomar a decisão mais acertada sobre o futuro se tivesse aqueles olhos azuis a interpelando.

— Eu vou organizar as papeladas em cima da minha mesa, separar as que têm urgência e já vou – Hermione anunciou.

Em meia hora, já tinha concluído toda a tarefa. Quando saiu da sua sala, levou um susto. Marian estava sentada na antessala do departamento, esperando por ela.

A bela auror lançou um suave sorriso para Hermione. Também os dentes dela eram perfeitos. Por Merlin! Por que ela precisava ser tão exuberante? Parecia impossível para a nascida-trouxa, que sempre se destacara pela inteligência, competir com uma bruxa tão linda assim.

— Podemos conversar? – ela perguntou diante da falta de ação de Hermione.

— Claro. Acho melhor irmos para a minha sala para ficarmos mais à vontade – a bruxa inglesa indicou a porta.

Hermione sentou na própria mesa e Marian ocupou a cadeira em frente. Depois de um silêncio constrangedor, a garota deu a deixa: “Imagino que tenha algo a me dizer...”.

— Sim, claro. É que eu percebi que quando nos encontramos, na frente da sua casa, você ficou um tanto... Como posso dizer, acho que você não esperava me ver lá, junto com Ron – Marian começou.

— Fiquei um pouco surpresa, é verdade. Mas isso era previsível. Vocês fazem parte da mesma equipe – Hermione tentava agir de forma racional.

— É verdade, trabalhamos juntos e temos uma grande sintonia. Eu me preocupo sinceramente com ele – a auror continuou.

— Tenho certeza disso. Mas, afinal, o que deseja comigo? – a eficiente funcionária do Ministério da Magia não gostava de rodeios.

— Você ama Ron? Ama de verdade? Com todo coração? A ponto de estar disposta a arriscar tudo em nome desse amor? – a voz da jovem romena saiu de forma emocionada.

— Por que está me fazendo essas perguntas tão pessoais? – Hermione ficou assustada.

— Ron já sofreu demais por sua causa e, depois de tudo que foi revelado nos depoimentos dos Dankworth, está ainda mais... Hum... Vou tentar me explicar melhor. Ele está muito abalado. Para um auror é complicado trabalhar numa missão quando isso envolve sentimentos e coloca em risco pessoas muito próximas. Em geral, somos afastados de missões assim. Você tem um grande desafio pela frente e ­­­­­­acredito que só vale a pena arriscar tanto se o seu amor por Ron for forte o suficiente para suportar tudo isso – Marian parecia estar lendo a mente de Hermione, já que era exatamente isso que ela pensava.

— Eu não devia falar do meu sentimento por Ron, não para você. Apenas Ron precisa saber como é grande o amor que sinto por ele – a morena tentou simplificar, sem deixar margem a qualquer dúvida.

— Espero que seu amor seja do tamanho do dele – a auror estava sendo audaciosa. – Sei que a decisão final é de Ron, mas gostaria que fosse amado da forma que merece. Ron tem um coração enorme, é a pessoa mais generosa que conheço.

— Eu e Ron temos uma longa história juntos. A separação, a distância, as brigas, fazem parte da nossa história, que começou há 13 anos e não vai terminar agora, pode ter certeza disso. Infelizmente, quando tínhamos tudo para ficar bem, nosso relacionamento foi afetado por um feitiço. Mas nada disso fez diminuir o amor que sinto por Ron – Hermione precisava marcar terreno. – Você ainda gosta dele, não é?

— Somos grandes amigos. Apenas isso. Fomos namorados, mas não deu para continuar. O coração dele já tinha uma dona – a bela bruxa sorriu para Hermione. – E tudo indica que foram feitos um para o outro. O destino sopra nessa direção e os únicos que queriam impedir o relacionamento de vocês já foram presos.

— Você não quer impedir isso, quer? – Hermione ficou surpresa com a própria pergunta.

— Claro que não, Hermione. Desculpe se fui um pouco incisiva. Eu queria ter certeza que você ama mesmo o Ron. Agora fico tranquila para deixar que ele siga o próprio caminho, ao seu lado, e eu vou seguir o meu – Marian falou com simplicidade.

— E quais são seus planos? – a ex-aluna de Hogwarts começara a simpatizar com Marian.

— Quero fazer carreira como auror, começar a trabalhar em missões internacionais. E, daqui a um tempo, encontrar um bruxo que me ame com a mesma intensidade que Ron ama você – e diante do silêncio de Hermione, ela perguntou: - Não vai me desejar boa sorte?

— Desejo a você toda a sorte do mundo e agradeço por tudo que fez pelo Ron – a garota deu um sorriso tímido.

— Ron fez muito mais por mim, pode ter certeza. Eu vou agora, Hermione. Posso dar um abraço em você? – Marian perguntou.

Mesmo se constrangida, a bruxa inglesa deu um abraço na ex-namorada de Ron. Já ouvira Molly e Gina comentarem, em diferentes ocasiões, que sem Marian, o rapaz não suportaria o período no qual estivera distante de Hermione.

Estava de volta à casa antes das nove horas e logo a mãe, já de saída para o consultório, informou que Ron estivera lá. “Chegou logo assim que você saiu. Achei que iria até o Ministério. Ele deixou esse bilhete”, Jean Mary entregou um envelope à filha.

— Hermione, minha querida, esqueceu alguma coisa? – o pai, que descia às escadas, surpreendeu-se ao ver a filha aquele horário em casa.

Foi a oportunidade para a jovem anunciar aos pais que teria uma semana de folga e pretendia visitar a avó na França. O sr. Granger, sempre muito responsável com seus compromissos, logo demonstrou estranhamento com a situação. “Mas você só está trabalhando lá há três meses e meio... Como vai poder fazer um recesso de cinco dias?”, ele questionou.

— Meu chefe achou melhor eu descansar depois de tudo que passei. Eu ainda... – ela precisava dar uma explicação plausível para o pai.

— Depois de tudo que passou? Não estou entendendo. O seu tornozelo já não está bom? – o sr. Granger parecia realmente confuso.

— Na verdade, eu não torci o tornozelo. Ron não quis alarmar vocês, mas eu fui atingida por um feitiço. Não se preocupe que não corro mais riscos. Os bruxos que me enfeitiçaram já foram julgados e presos – ela tentou amenizar a situação.

— Mas por que esses bruxos lançaram um feitiço em você, Hermione? – ele estava assustado.

— Alfred, no caminho para o consultório, eu conto tudo em detalhes para você. Vamos agora se não chegamos atrasados – a sra. Granger falou decidida.

Sozinha em seu quarto, Hermione abriu o bilhete de Ron. Respirou fundo antes de começar a ler as palavras escritas com caneta esferográfica no papel pautado de um caderno, provavelmente cedidos pela mãe ao rapaz.

 

Oi, Hermione!

Queria tanto falar com você...

Imagino o que está sentindo. Não deve ser muito diferente daquilo que eu mesmo venho experimentando. Um misto de medo, alívio, alegria, expectativa... Muita expectativa!

Harry me falou que você acompanhou os depoimentos usando a capa da invisibilidade. Não sei por que não me esperou, por que não quis falar comigo lá mesmo no Ministério, por que não desceu do seu quarto ontem para a gente conversar, por que saiu tão cedo de casa sabendo que eu viria hoje aqui... 

Estou viajando daqui a pouco para Bucareste. Preciso resolver algumas situações pendentes lá e penso em voltar, o mais rápido possível, para a Inglaterra. Sem trabalho, sem casa, sem muitos planos. Apenas com um objetivo. E tudo depende de uma palavra sua...

Volto a procurar por você o mais depressa que conseguir.

Beijos,

Ron

 

 

 

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Notas finais do capítulo

Se eu fosse Hermione, depois dessa conversa com Marian, viajaria para Romênia e não para França. E vocês?

O bilhete de Ron, hein? Ai, ai, ai... O amor! Quando ele fala para a garota que “tudo depende de uma palavra” dela... Impossível não deixar escapar um suspiro.

Então, gente... Pensando aqui com meu caldeirão... Eu poderia acelerar a história e encerrá-la no próximo capítulo. Mas precisava garantir a participação especial de alguns personagens e por isso teremos três capítulos extras. Espero que curtam!

E aí, leitor? Você mesmo que ainda não comentou! Estamos na reta final. Que tal presentear essa bruxa que vos escreve, nesse dia dedicado aos feitiços e às feiticeiras, com suas palavras?



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