Quem tem medo destino? escrita por Morgana Lisbeth


Capítulo 33
O interrogatório


Notas iniciais do capítulo

Oi, leitores do meu coração!

Começo agradecendo a Letícia Granger Weasley que, em tempo recorde, leu a fic até aqui e ainda fez uma recomendação linda (a primeira que Qtmd recebeu). Não sei se todos têm ideia do valor das recomendações, mas, com elas, mantemos a porta aberta para a entrada de novos leitores mesmo quando a história termina.

Chegamos ao capítulo das revelações! Pronto(a) para descobrir por que Ron e Hermione, apesar de se amarem loucamente, não conseguiram ficar juntos?

Espero você no review para me presentear com as suas palavras. Mas, por ora, saboreie a leitura! Beijos



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Para ouvir antes, durante ou depois da leitura do capítulo:

 Wonderwall

(Oásis)

http://bit.ly/2ifrzIo

 

 

 


“E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas”.
(Guilherme de Almeida)

 

 

Era a segunda vez que Hermione entrava em uma sala da Câmara dos Tribunais do Ministério da Magia. A primeira foi quando ela, Ron e Harry procuravam o medalhão transformado em horcrux, usado por Dolores Umbridge. Esperava que agora vivesse momentos de menor perigo e apreensão.

Um grupo de 15 aurores, dos departamentos da Inglaterra e da Romênia, estava na sala. A garota não demorou a localizar Ron, sentado na quinta e última fileira de cadeiras ocupadas, entre Stefan e Marian. Já Harry se encontrava na mesa que dirigiria o interrogatório, ao lado de dois outros bruxos que pareciam ter mais de 50 anos e Hermione não conhecia.

Ela decidiu sentar-se na última fileira. Mesmo se não corria risco de ser vista, preferia agir de forma discreta. Nunca usara a capa de invisibilidade sozinha e esperava não derrubar algo ou esbarrar em alguém, revelando a própria presença.

Os bruxos da plateia conversavam entre si e, com a entrada de um dos acusados, todos ficaram em silêncio. Era a mulher que rondava a casa dos Granger e estava acompanhada de um feiticeiro de óculos e barba grisalha, que devia ser o advogado dela.

Somente agora Hermione observou melhor a bruxa. De estatura mediana, estava um pouco acima do peso, tinha cabelos acaju, nariz largo, olhos pretos assustados e lábios finos. A feiticeira parecia ter algum tique nervoso, remexia todo o corpo de vez em quando, com uma espécie de tremor, coçando braços, pescoço e rosto.

Depois de fazer o juramento de falar apenas a verdade, ela começou a ser bombardeada de perguntas. Em resposta a um dos primeiros questionamentos, Sarabeth Dankworth negou que ela e o marido tinham a intenção de matar Hermione. “Qual objetivo dos senhores ao estuporar e manter em cárcere privado a senhorita Granger?”, o bruxo que estava no centro da mesa a interpelou. “Queríamos apenas garantir que ficasse afastada do auror Ronald Weasley”, Sarabeth afirmou com sua voz rouca de timbre grave enquanto coçava os braços. Houve um murmúrio geral na sala e o homem que presidia o interrogatório pediu silêncio.

Questionada sobre a razão por que queria manter os dois distantes um do outro, a bruxa disse agir em defesa do filho Malcolm, de 8 anos. “Pode explicar melhor? Qual ameaça Weasley e Granger representam para o seu filho?”, foi a vez de Potter, que estava à esquerda do primeiro bruxo, fazer a sua pergunta.

— No momento, não representam ameaça alguma, mas uma profecia diz que serão uma ameaça no futuro – ela arregalou ainda mais os orbes negros e sinistros e esfregou o rosto com força.

Ao olhar para o ruivo, Hermione reparou que ele parecia agitado. Estava com as orelhas vermelhas e se mexia na cadeira. Pelo que conhecia do rapaz, imaginou que se segurava para não levantar e socar a cara daquela bruxa.

— Antes de perguntar sobre a profecia, gostaria de saber se por acaso foram a senhora e seu marido que enfeitiçaram o anel que a senhorita Granger recebeu de Ronald Weasley – o bruxo que estava do lado direito da mesa questionou.

— Não fizemos pedido algum nesse sentido. Nem sabíamos do anel. Procurei Edmund Deverich para solicitar que impedisse os dois de ficar juntos. Deverich, que devia um favor ao meu marido, garantiu que havia conseguido. Quando falou que o feitiço tinha sido feito por Magnólia Whitehead, conhecida internacionalmente pelo seu poder de separar casais, acreditei que falava a verdade. Só mais tarde soubemos que ele fracassou nessa missão, já que Weasley e Granger chegaram a namorar. Não foi um relacionamento muito feliz, os dois viviam brigando, mas, de alguma forma, se mantiveram ligados – Sarabeth continuava a se coçar com certo desespero.

Hermione tremeu quando o nome da bruxa que se apoderara do seu anel na Austrália foi mencionado. Encolhida debaixo da capa de invisibilidade, não se sentia nada confortável em ouvir o próprio nome e o de Ron serem citados tantas vezes naquele interrogatório. Outro sentimento que tomava conta da garota era o constrangimento por não ter acreditado nas palavras do ruivo. O rapaz, agora um talentoso auror, tinha razão. Os dois foram alvo de bruxos que queriam vê-los separados.

Foi a vez de Harry perguntar se a bruxa não sabia que o feitiço para afastar os dois não havia dado certo. “Infelizmente, não. Ficamos muito isolados em Azkaban. Apenas há poucos meses, quando Magnólia Whitehead foi presa, soube que o encantamento do anel tinha sido revertido”, ela afirmou. Seguiram-se mais algumas revelações que deixaram Hermione ainda mais tonta. Mary Elizabeth Thompson trabalhara na loja de Raziel, irmão de Sarabeth, e foi por intermédio dele que as duas se conheceram.

— É uma lástima que uma bruxa talentosa assim tenha se envolvido com Deverich, ele, sim, um canastrão de primeira. Quando Raziel, a meu pedido, foi procurar por ela recentemente, Mary Elizabeth garantiu que resolveriam aquela situação e separariam definitivamente Granger e Weasley. Até que começou bem. Enfeitiçou a antiga secretária do Departamento para Regulamentação e Controle de Criaturas Mágicas, que pediu demissão, e ocupou o lugar dela. O problema é que se afeiçoou a Granger e quis resolver a situação de forma pacífica – Sarabeth, que continuava a se coçar ininterruptamente, deixou escapar.

— Quer dizer então que queria usar de violência? Provavelmente a intenção da senhora e do seu marido era assassinar Granger e Weasley – Harry levantou o tom de voz e toda a sala ficou agitada, com muitas conversas paralelas.

O presidente do interrogatório exigiu mais uma vez silêncio, ameaçando retirar do recinto quem voltasse a falar. Pediu que Sarabeth respondesse a pergunta do chefe dos aurores. “Claro que não queríamos assassiná-los. Mas se todos os outros recursos fracassassem, esse seria um ato legítimo em­­ defesa do meu filho Malcolm. Obviamente, os dois não precisariam morrer. A morte de um deles já resolveria o nosso problema”, a voz da bruxa ficou ainda mais grave e assustadora.

Foram feitas mais algumas perguntas. Hermione se distraiu por um momento quando viu Ron levantar da cadeira, parecendo irritado, e ser segurado por Stefan. O chefe dos aurores romenos, provavelmente em nome do ruivo, dirigiu-se à mesa dos bruxos responsáveis pelo interrogatório e entregou um bilhete a Harry.

A brilhante bruxa, com grande habilidade para desvendar problemas do mundo mágico, sentia-se zonza diante de tantas revelações, que pareciam não ter fim. Entre essas, a de que Raziel havia feito contato com Magnólia Whitehead. A bruxa se encontrava numa prisão da Austrália que, pelo visto, não era tão segura como Azkaban.

— Meu irmão é um animago e, quando se transforma em corvo, consegue ser ainda mais útil. Ele resgatou a varinha de Magnólia, que havia sido confiscada. De posse da varinha, ela detectou, entre as centenas de feitiços lançados, aquele que atingiu o anel usado por Hermione Granger. Dessa forma, mesmo depois da magia ser revertida, foi possível transformar o anel em um rastreador, identificando a localização da Granger - Sarabeth explicou enquanto erguia e abaixava os ombros para evitar um novo surto de coceira.

Agora tudo fazia sentido! Ron havia sido perseguido durante os encontros que tiveram na Romênia e no Canadá nas vezes em que ela estava de posse do anel. Lembrou o quanto relutou em deixar de usar aquela delicada e tão significativa joia.

— Edmund e a mulher dele tentaram nos ludibriar, dizendo que precisavam de mais tempo para localizar e enfeitiçar novamente o anel. Mas, na verdade, fracassaram. Quando vimos que não conseguiriam afastar definitivamente Ronald Weasley e Hermione Granger, usamos todo o nosso poder para fugir de Azkaban – a feiticeira informou voltando a coçar os braços.

— Como fizeram isso? E quem são aqueles dois, com as aparências sua e de Hunter, que permanecem nas celas de Azkaban? – o bruxo da direita voltou a perguntar

Sarabeth deu uma risada maligna antes de responder. No lugar da bruxa e do marido estavam dois corvos enfeitiçados para ganhar o corpo deles. Os carcereiros haviam notado que, há três dias, o casal começara a agir de forma estranha, emitindo grunhidos e comendo sem usar talheres.

— Raziel, que entende muito de Arte das Trevas, conseguiu nos transformar em corvos. Como não somos animagos, durou muito pouco, apenas 10 minutos, mas foi o suficiente para conseguirmos escapar. Para os corvos, que ganharam nossas aparência, o feitiço foi mais resistente. O problema são os efeitos colaterais e estou com uma terrível urticária que poderá ser crônica - ela coçou violentamente os braços.

— Mas o que diz a profecia que ameaça o seu filho? – foi a pergunta de Harry.

— Minha cliente não está autorizada a revelar a profecia. Se quiserem ter acesso à mesma, lembramos que está disponível na Sala de Profecias do Ministério – o bruxo barbudo interviu.

Não era fácil localizar uma profecia naquela sala. A que dizia respeito a Harry e Voldemort fora identificada há seis anos por Ron, provavelmente graças a uma grande sorte, durante uma incursão de alguns membros da Armada de Dumbledore ao Ministério. 

Os membros da mesa deram por encerrado o depoimento de Sarabeth Dankworth que, na companhia do advogado, saiu da sala  coçando braços e pescoço. Houve um pequeno intervalo. Hermione ficou encolhida na cadeira, próxima à parede. Tinha vontade de desaparatar dali. No fundo, sentia medo do que estava por ser revelado. Ao mesmo tempo, queria saber de tudo.

Ficou observando o movimento dos aurores, principalmente de certo ruivo. Com as orelhas vermelhas, o rapaz falava com Stefan e Marian gesticulando muito. Parecia bastante nervoso. Curiosa para saber o que Ron dizia, ela resolveu aproximar-se um pouco. Aquilo era arriscado, mas precisava descobrir qual era a grande preocupação dele.

— Os dois queriam me matar! E, com certeza, matariam também Hermione se eu não tivesse conseguido chegar a tempo de tirá-la daquele porão. Quem escutou o depoimento pode ter ficado com a impressão que ela é uma bruxa como outra qualquer, preocupada apenas em defender o filho – Ron falava de forma tensa.

— Calma, Weasley. Investiguei bastante sobre esse casal. Sarabeth é fria, calculista, dissimulada. Como você já sabe, ela foi presa ao matar uma bruxa depois de uma discussão. Alegou ter agido em legítima defesa, mas ficou enraivecida porque essa bruxa não quis ajudá-la a tirar o marido de Azkaban – Stefan explicou.

— Sim, Ron, você precisa ter calma. Se continuar tenso assim, querendo estuporar Sarabeth e Hunter Dankworth, acho que será melhor sair do tribunal – foi a vez de Marian dirigir-se ao ruivo.

— Vou tentar, Marian. Mas você sabe que sou esquentado, principalmente diante desse tipo de bruxos – ele deu um meio sorriso para a garota para em seguida se dirigir a Stefan. – E o tal de Hunter, como ele é?

— Um cara estourado, mais estourado que você – o chefe dos aurores romenos deu uma risada curta. – Não tem papas na língua, é mau-caráter e sem sentimentos. Acredito que vai falar tudo, inclusive sobre a profecia.

— Tenho que sair um minuto, Stefan. Preciso pegar um ar – Ron anunciou, passando apressadamente muito perto de Hermione.

A jovem bruxa ficou sobressaltada quando o rapaz quase esbarrou nela. Temeu que Ron a descobrisse escondida sob a capa de invisibilidade. Mas o pior mesmo foi sentir aquele perfume tão familiar e envolvente, que despertava tantas maravilhosas lembranças. Foi retirada de seu momentâneo devaneio ao perceber que Marian saiu atrás de seu ruivo!

Menos de cinco minutos depois, Ron voltou na companhia de Marian. Logo atrás deles entrou Hunter Dankworth seguido de perto pelo advogado barbudo. Hunter era muito magro e alto, devia ter cerca de 2 metros, com cabelos pretos na altura dos ombros, nariz comprido e um ar muito sério, quase cruel.

Quando o feiticeiro abriu a boca para falar, começou a soluçar. Hermione imaginou que esse devia ser um efeito colateral da magia usada para a fuga de Azkaban. O depoimento acrescentou detalhes importantes. A garota ficou sabendo que ele havia contratado quatro bruxos marginais, daqueles que vivem de assassinatos, pequenos furtos e outros serviços desonestos, para matar Ronald.

— Tínhamos que... separar os dois. Se não foi possível... de forma pacífica... só nos restava... eliminar um deles. Sou um cavaleiro... só mato mulher... em último caso. Por isso preferi... liquidar o Weasley - a declaração dele, intercalada por soluços, causou novos murmúrios da plateia.

— Mas não conseguiram assassinar o senhor Ronald Weasley. O que deu errado? – o presidente da mesa perguntou.

— Os bruxos que contratei... não eram lá muito bons. Foram indicações... do meu cunhado Raziel. Também não é...  muito fácil...  dar cabo de um auror. Eles costumam... ser espertos – mesmo soluçando, Hunter mantinha o ar de deboche, o que irritou todos os presentes.

Marian segurava Ron pelo braço enquanto dizia algumas palavras, provavelmente para acalmá-lo. O rapaz estava com a cabeça baixa, concentrado. Por Merlin! Era ela, Hermione, que devia estar ali, ao lado dele, e não aquela linda auror romena.

A garota sentiu-se uma idiota. Por que convidara Ron para aquele jantar e criara um clima tão romântico? Com certeza havia sido essa ação impensada que ocasionara a sua própria captura. Mas também resultara na prisão daqueles dois casais. Por isso, achou melhor acreditar que seu erro fora providencial.

Saiu do ar momentaneamente, envolvida em algumas recordações, até ouvir a palavra profecia. “Não tenho medo de dizer... do que se trata. Minha mulher... é supersticiosa... eu não. Na verdade... ela acredita mais nisso... do que eu”, Hunter ignorou o advogado que balançava a cabeça na tentativa inútil de impedi-lo de falar.

Foram feitas muitas outras perguntas e, a partir das respostas secas, diretas e sarcásticas de Hunter, ficaram sabendo um pouco da história dos Dankworth. O casal havia perdido um filho, Morgan, de 14 anos, que se envolveu numa briga. Depois disso, Sarabeth ficou paranoica. Quis evitar esse mesmo destino trágico para o filho mais novo, que na ocasião estava com 2 anos, e consultou uma bruxa profetisa.

— Eu tinha que fazer... o que Sarabeth queria... senão ela enlouqueceria. A profecia dizia... que o filho nascido da união... de um descendente... da quinta geração... de Phineas Nigellus Black... com a descendente... da sexta geração trouxa... de Ferdinand Boucher... seria o responsável por matar Malcolm... quando ele completasse 32 anos. Minha mulher... fez uma pesquisa exaustiva... e chegou aos nomes de Ronald Billius Weasley... e Hermione Jean Granger... Ficou convencida que... se não separasse os dois a tempo... Weasly e Granger gerariam... o assassino do nosso filho – os soluços se intensificaram, mas ainda assim era possível perceber  que Hunter falava de um jeito frio, sem transparecer qualquer sentimento.

Hermione precisou colocar a mão na boca para evitar um grito. Ela não podia acreditar no que ouvia. Esperou um dos aurores responsáveis pela segurança do recinto entrar na sala para, pela porta entreaberta, sair discretamente. Agora era ela que precisava pegar um ar para não morrer sufocada com essa profecia.

Já havia visto a sua árvore genealógica por parte da avó materna que, quando solteira, tinha o nome de Mary Lewis Boucher, filha de mãe inglesa e pai francês, tataraneta de Ferdinand Boucher. Sabia que esse seu antepassado citado por Hunter havia lutado na Revolução de 1848, quando o povo pedia a implantação da República com o apoio da burguesia. Mas jamais imaginara que ele fora um bruxo que, de alguma forma, renegara a sua origem e não passara os seus poderes adiante. Talvez ela fosse a primeira, em seis gerações, a ter posse da magia. Seria devido a esse antecedente que sua avó Mary tinha tanta atração por feitiçaria?

A garota estava perturbada com tudo aquilo. Não deveria ter ido ao interrogatório. Nunca acreditara em profecias e adivinhações, mas agora... Já não sabia mais de nada! O destino, do qual fugira nos últimos anos, conduzia-a mais uma vez para os braços de Ron. Mas como aceitar seguir por esse caminho se ele poderia resultar na morte de um inocente que, mesmo antes de nascer, vinha sendo perseguido?

 

 

 

* * * * * * * * * *

 

 

 

Ainda atordoada, Hermione chegou à casa dos Potter para entregar a capa de invisibilidade. Gina fez várias perguntas e ela pediu para não conversar sobre o assunto. “Harry vai te contar tudo, em detalhes. Preciso ficar um pouco sozinha”, ela justificou-se.

Ao entrar em casa, subiu direto para o quarto. A mãe foi atrás dela. “O que houve? Aconteceu algum problema?”, Jean Mary perguntou. A filha havia informado que iria até a residência dos Potter, omitindo que de lá seguiria para o Ministério da Magia.

— Mãe, não estou muito bem. Você pode me deixar sozinha no meu quarto e com meus livros? – Hermione pediu.

Jean Mary, que sempre respeitara a privacidade da filha, não recusaria aquele pedido. Mas como toda a mãe, ela também se preocupava com a garota. “Não quer mesmo se abrir comigo? Foi algo que aconteceu na casa de Harry e Gina”?, ela insistiu. Diante da negativa de Hermione, lançou a última e certeira tacada: “Algum problema com Ron, não é”?

— Sim, mãe. Mas não posso falar, pelo menos não agora, sobre o que aconteceu. Quer dizer, sobre o que pode vir a acontecer – afirmou um tanto confusa. – Talvez ele ou alguma outra pessoa venha aqui em casa me procurar. Diga que estou com dor de cabeça e preciso descansar.

A sempre ética e correta dentista não gostava de mentir, mas sentiu-se obrigada a concordar com a filha. Hermione, de fato, estava muito abatida. “Não quer falar nem mesmo com Ron? Cedo ou tarde, você vai ter que enfrentá-lo”, apesar de não ser bruxa, ela sabia adivinhar o que a garota sentia.

Assim que a mãe saiu do quarto, Hermione foi direto à estante. Os livros tinham o poder de ajudá-la a se abstrair dos problemas, mas sabia que dessa vez seria muito difícil. A sua cabeça não parava de girar embalada por muitas lembranças. Tudo que acontecera ao longo dos últimos quatro anos passava como um filme diante dela. Recordava dos momentos conturbados do namoro com Ron, da última e mais dolorosa ruptura, do reencontro com o ruivo na Romênia, dos ataques sofridos por ele, das dificuldades enfrentadas para estarem apenas alguns poucos momentos juntos, do sequestro que sofrera, da captura dos bruxos, das revelações do interrogatório e, de forma ainda mais intensa, da profecia.

Provavelmente enlouqueceria se continuasse a pensar na profecia. Por isso tentou se distrair com os seus livros. Mesmo se esforçou para ficar alheia ao mundo, presa na leitura, não pôde deixar de ouvir a campainha que tocou uma, duas... três vezes quase seguidas!  Decidiu lançar um Abaffiato para se proteger dos sons externos. Lamentou por não ter feito isso antes. Como resultado, não ouviu a mãe bater insistentemente em sua porta. Cansada de chamar pela menina, a sra. Granger entrou no quarto, que não estava trancado.

— Hermione? Fiquei preocupada. Bati tanto na sua porta – a mãe informou.

— Desculpe, eu isolei o barulho com um feitiço – reconheceu.

— Minha intenção não era invadir o seu quarto, mas acho que precisa saber que várias pessoas já estiveram aqui no início desta noite – Jean Mary falava com a voz tranquila e baixa.

— Eu acho que preferia não saber... Mas vamos lá. Quem veio aqui me procurar? – ela rendeu-se à curiosidade.

— Quem chegou primeiro foi a professora Isobel e não demorou muito. Logo depois que eu disse que você não estava bem, informou que voltaria amanhã de manhã para se despedir. Ela viaja à tarde para o Canadá - a mãe contou. – Depois veio Harry acompanhado por uma pessoa que eu não conhecia... Stefan, isso, o nome dele é Stefan. Também já foram embora. Quem está lá embaixo e me suplicou para eu tentar convencer você a descer é o Ronald.

— Ele está sozinho? – o coração da jovem disparou com a simples menção do nome do rapaz.

— Sim, chegou sozinho, logo depois que Harry e Stefan saíram – a sra. Granger respondeu.

— Ai, mãe. Por que a senhora simplesmente não pediu para ele ir embora? – Hermione suspirou.

— Como eu podia fazer isso? Ele parece tão preocupado com você... – Jean Mary fazia gosto do namoro dos dois.

— Por que você acha isso? – a garota também se preocupava com o ruivo.

— Ele me perguntou várias coisas. Se você sabia alguma coisa sobre o interrogatório dos bruxos, se havia saído de casa... – ela logo percebeu que a mãe e Ron tinham conversado por um bom tempo.

— Você falou que fui à casa dos Potter? – Hermione tinha esquecido de pedir para a mãe não contar sobre isso.

— Não podia falar? – Jean Mary era sempre sincera.

— Era melhor não ter falado, mas tudo bem. O que mais ele quis saber? – questionou sem conseguir disfarçar o interesse.

— Contei que você estava com dor de cabeça, como me pediu... Não gosto de falar mentiras, nem mesmo de distorcer a realidade, mas seria pior dizer que você não queria vê-lo – a sra. Granger tentou amenizar a própria culpa. – Então, Ronald ficou bem preocupado e, depois de conversamos um pouco mais, me perguntou se eu podia fazer o favor de ver se você estava melhor e conseguia descer para falar rapidamente com ele.

— Já soube da prisão de dois casais de bruxos, não é? – Hermione compartilhava cada vez mais as realidades do mundo mágico com a mãe.

— Ron me falou um pouco sobre isso, mas ele não quis dar muitos detalhes de toda a história. Parece que esses bruxos estavam envolvidos no sumiço do anel que ele te deu de presente, não é? – Jean Mary tinha mais informação do que a filha desconfiava.

— Isso mesmo, mãe, daquele anel mágico do qual te falei... – Hermione respondeu com simplicidade.

— Só não me contou que, na verdade, eram dois anéis, que tinham uma conexão. Um ficava com você e o outro com Ron – a mãe, de quem Hermione havia herdado o jeito analítico, queria entender toda a situação.

— Como você sabe de tudo isso? – a garota estava realmente perplexa.

— Tenho uma filha bruxa. Acabo conhecendo um pouco do mundo mágico – a sra. Granger sorriu. – Ronald me contou um pouco sobre a conexão dos anéis. Ah, minha filha, precisa ver o jeito dele de apaixonado. Por que não desce lá para falar com Ron?

— Não posso, mãe, eu não consigo... Estou muito confusa com algumas revelações que tive hoje. Preciso pensar um pouco mais. Fala para Ron que a dor de cabeça não passou – Hermione precisava ser objetiva, afinal, o rapaz a aguardava na sala.

— Por que não desce lá você mesma e fala isso? – a mãe não concordava com a atitude da filha, achava que ela devia encarar suas dificuldades, fossem quais fossem, com coragem.

— Apenas dessa vez, mãe. Por favor... – ao ver que a sra. Granger lhe dava um sorriso terno, a garota percebeu que ela havia concordado com o pedido que fazia.

 

 

 

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Notas finais do capítulo

Hermione está muito confusa com tudo que descobriu. Acho que, no lugar dela, eu ficaria assim também. Ron parece decidido e apaixonado. Agora tudo depende da garota. Mas com dois bruxos insanos acreditando na ainda mais louca profecia, será que não é muito arriscado viver essa história de amor?

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