Quem tem medo destino? escrita por Morgana Lisbeth


Capítulo 12
Tempo de recomeçar


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores,

Sobre as músicas incidentais – escolhas difíceis diante de tantas opções -, devo dizer que são inspiradas em uma das cenas do capítulo. Neste agora, especificamente, a composição tem a ver com os sentimentos experimentados pelos dois no flashback.

Espero que curtam!



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Para ouvir antes, durante ou depois da leitura do capítulo:

You and I

(One Direction)

http://bit.ly/2bAqemx

 

 

 

"Não te fies do tempo nem da eternidade
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo.
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!

Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!"

(Cecília Meireles)

 

 

 

— O chá caiu muito bem, Isobel. Obrigada - Hermione sorriu para a amiga.

— Então, você não vai me contar como foi na Romênia? - a velha bruxa sabia esperar e só agora, depois de mais de uma semana do retorno de Hermione, fazia aquela pergunta.

A garota sorriu um tanto sem graça. Nunca guardara segredos de Isobel, mas não sabia exatamente o que dizer. Havia quase decorado as palavras escritas por Ron no bilhete entregue por Carlinhos no aeroporto do Canadá:

 

Hermione, aconteça o que acontecer, peço que confie em mim.

Fui novamente perseguido por dois bruxos ontem à noite quando saía do hotel. Quase me acertavam em três momentos, mas acho que a intenção era me assustar, já que desaparataram logo depois. Antes deixaram o seguinte recado escrito em fogo por uma das varinhas: "Afaste-se dela se quer ficar vivo".

Seria mais seguro não nos vermos mais. Essa ideia é insuportável. A melhor opção, nos vermos todos os dias e todos os segundos do dia, pode ser uma sentença de morte. Seja quem for que está atrás de mim - ou de nós - não está brincando. Então só nos resta uma alternativa: nossos encontros pessoais devem ser poucos e muito bem planejados.

Dentro dessa alternativa, temos que combinar algumas regrinhas (eu sei que você não gosta disso, mas desta vez não podemos decidir nada juntos):

— Apenas eu entrarei em contato para marcar os encontros. Você não pode me procurar e nem tomar qualquer iniciativa;

— Os encontros precisam ser rápidos e sempre em locais públicos e trouxas;

— Não devemos mandar correspondência por corujas ou usar a Rede de Pó de Flu. Toda a nossa comunicação terá que ser pelo sistema trouxa e você não poderá responder aos meus bilhetes (sim, os textos devem ser curtos).

Desculpe pela letra, escrevi com pressa.

Por favor, confie em mim.

Com amor,

Ron

 

— Você ainda está por aqui? - Isobel sorria com seu jeito bondoso.

— Ah, desculpa, eu... - a jovem ficou sem graça.

— Estava se lembrando do seu lindo ruivo de olhos azuis? - a experiente bruxa perguntou divertida.

— Sim, eu... Isobel, ele está ainda mais lindo que da última vez que o vi. Emagreceu um pouco, mas ficou mais forte, o cabelo cresceu... E os olhos... Meu Deus, os olhos! Ah, eles mudam de tom sempre, sabe? Tem horas que são azuis translúcidos, em outras escurecem, mas sempre são intensos e... - Hermione, definitivamente, não estava no seu normal.

— Apaixonados? Hermione, minha querida, como você ama esse rapaz! - a amiga espantou-se ao ver a menina, em geral contida ao falar dos sentimentos, empolgada daquele jeito.

— Isso está tão óbvio assim? - prosseguiu depois que Isobel balançou a cabeça afirmativamente - É, eu reconheço. Sou e sempre fui apaixonada pelo Ron.

— Certo. Mas, afinal, vocês voltaram a namorar? - Isobel fez a pergunta mais difícil.

Hermione abaixou a cabeça, triste. Balançou a xícara e ficou olhando o movimento do chá, antes de dar um novo gole. Respirou fundo. E por fim contou, em detalhes, tudo que aconteceu durante a viagem à Romênia.

— Isso é confidencial, Isobel. Contei apenas para você - a jovem pediu segredo.

— Não se preocupe. Você sabe que pode confiar em mim - a bruxa sorriu com os olhos. - Imagino que para você, que é uma jovem de iniciativa, não vai ser fácil aguardar passivamente por esses contatos. Mas faça como ele pediu. Ron agora é um auror. Como certeza tem um motivo forte para fazer esses pedidos.

Depois da conversa com a amiga, Hermione ficou mais esperançosa. Ron procuraria por ela, precisava apenas ter um pouco mais de paciência. Era sábado à tarde e tudo que a jovem bruxa queria era tomar um banho morno, comer algo e em seguida ficar sozinha na companhia de seus livros. Só havia um programa mais interessante do que aquele, mas... Não! Melhor não pensar naquela remota possibilidade.

 

 

 

* * * * * * * * * *

 

 

 

Ela olhava para o ruivo com a cara emburrada. Não era a primeira vez que os dois se desentendiam naqueles três meses de namoro. Pequenos fatos, por vezes detalhes, faziam com que a menina perdesse a paciência com Ron.

A jovem tinha que reconhecer que ela era a principal culpada. Ron sempre tentava uma conciliação. Mas por que ele precisava ser tão imaturo, insensível e pouco responsável assim? Essa era a pergunta que Hermione se fazia quando o rapaz não atendia as suas expectativas.

— Mione, você está exagerando. Desde que terminou a batalha, eu deixei claro que não vou voltar a Hogwarts. Não tenho mais nada a aprender lá. Jorge precisa de mim aqui - o rapaz, que já tinha começado a trabalhar nas Gemialidades Weasley, estava decidido.

— Você não pensa no futuro! Parece que não quer progredir, ser um bruxo melhor - a garota reclamou.

— Harry também não vai voltar! Por que você só reclama comigo? - Ron estava cansado de ser pressionado.

— Porque Harry não é meu namorado! Mas eu já falei com ele, disse que deveria concluir os estudos. Essa história de que já aprenderam tudo que precisavam durante a busca das horcruxes e a batalha não me convence - ela prosseguiu.

— Mione... - o rapaz a olhou de um jeito sedutor. - Eu sei que você vai morrer de saudade de mim quando voltar a Hogwarts. Mas vamos encontrar um jeito de nos ver com mais frequência.

Aqueles olhos de um azul tão intenso e o sorriso torto do rapaz a fizeram esquecer, momentaneamente, o motivo pelo qual estava irritada.

— Ron, não é isso... Claro que vou sentir saudade. Muita saudade. Mas eu me preocupo com você, com seu futuro - o tom de voz agora era suave.

— Você podia se preocupar um pouco com meu presente. Daqui a uma semana você vai para Hogwarts e acho que seria uma boa ideia aproveitar esse tempo que ainda estamos juntos para me encher de beijinhos - ele sorriu e começou a aproximar-se da namorada.

"Que droga, Hermione, você é forte para tantas coisas e tem um fraco por esse ruivo lindo e irritante". A inteligente bruxa queixava-se consigo mesma sem conseguir fazer sequer um movimento para evitar aquele beijo. Mas bastou seus lábios se encontrarem com o do rapaz para ela se sentir novamente feliz e apaixonada.

As brigas diminuíram com o retorno de Hermione a Hogwarts. Ela tinha que reconhecer que Ron estava se esforçando para fazer-se presente na distância, escrevendo muitas cartas e bilhetes. A escola de bruxaria sempre fora rigorosa e, como ela estava no último ano, a exigência era ainda maior. Mesmo se não tinham aulas ao fim de semana, dificilmente podiam se ausentar já que precisavam seguir uma rotina intensa de estudos. A tradicional instituição também não aceitava facilmente os visitantes. Ainda assim, o ruivo conseguiu uma autorização para levar a namorada até Hogsmeade no dia do aniversário dela, que caiu em um sábado.

Tudo foi perfeito naquele dia. Logo chegaria o outono e a temperatura já começava a cair. Ron estava lindo, vestido com calça jeans, um suéter verde sobre uma camisa social branca e botas de couro. Hermione usava uma calça preta, botas de salto alto e cano curto na mesma cor, e um cardigan azul acompanhado por blusa branca de malha.

O ruivo falava e agia de forma irresistivelmente romântica. Levou um delicado anel de zircônia e prata para a namorada. "Não é igual ao outro. Não tem o mesmo valor e não é mágico. Mas gostaria que expressasse o meu sentimento por você. Quando olhar para esse anel, lembre-se que não está sozinha. Mesmo quando eu parecer distante, vou estar sempre com você".

No final de novembro, comemoravam seis meses de namoro. Hermione conseguiu ser liberada pela agora diretora Minerva para visitar Londres. Quando avisou o namorado, soube que ele tinha outros planos para o fim de semana. "Comprei ingressos para o jogo do Chudley Cannons no sábado à tarde. Posso tentar conseguir uma entrada para você". A bruxa releu o bilhete com raiva. Ele, com certeza, havia esquecido daquela data tão importante.

Todo o fim de semana foi um fracasso, uma sucessão de brigas e desentendimentos. "Se você prefere assistir a esse jogo inútil ao invés de comemorar nossos seis meses comigo, talvez seja melhor a gente terminar", as faces da garota estavam vermelhas.

— Mione, você diz que sou infantil, mas agora quem está agindo como uma criança pirracenta é você. Por que a gente tem que comemorar logo agora, na hora do jogo? Podemos sair juntos depois. Você não queria ir ao cinema? - Ron não perderia aquela partida por nada desse mundo.

— Acontece, senhor Ronald Billius Weasley, que eu planejei passar o sábado todo ao seu lado. Se para você assistir ao jogo é mais importante, sugiro que dispense também o jantar e o cinema! - Hermione não conseguia esconder o quanto ficara chateada.

A discussão apenas começara. Logo os dois já berravam um com o outro. "Você sempre será um legume insensível! Acha que foi fácil conseguir dispensa de Hogwarts no fim de semana ?!", a voz da menina estava mais estridente do que nunca. O ruivo já tinha as orelhas vermelhas. "Por que não me avisou antes? Tem sempre que mandar em tudo? Só sua vontade tem valor? Eu já comprei esse ingresso há um mês!", Ron respondeu de forma tensa.

Não teve jantar, não teve cinema. Hermione voltou no dia seguinte para Hogwarts brigada com o namorado. Ron fez de tudo pela reconciliação. Mandou bilhetes, flores, conseguiu autorização para falar com a menina pela Rede de Pó de Flu da escola. Eles fizeram as pazes, mas o relacionamento já não era límpido. Na verdade, os dois pareciam se afastar mais a cada dia.

O Natal gerou novas brigas e distanciamento. Hermione iria para França e queria que Ron a acompanhasse. Parte de sua pequena família - tinha apenas a avó e uma tia maternas, além de duas primas - morava naquele país. A garota deseja que conhecessem o namorado. Mas o bruxo não queria se afastar d'A Toca.

"Vai ser o nosso primeiro Natal sem Fred. Precisamos ficar todos juntos", Ron argumentou. "Você mora com seus pais e irmãos, trabalha com Jorge e dá todo apoio a eles. Mas ninguém da minha família, com exceção dos meus pais, conhece você. Acham que tenho um namorado fantasma", a menina protestou.

Nenhum dos dois abriu mão do próprio plano e passaram o Natal distantes. Ainda não foi daquela vez que desmancharam, mas Hermione estava cada vez mais irritada com o namorado.

 

 

 

* * * * * * * * * *

 

 

 

O apartamento de Hermione ficava num prédio antigo, de quatro andares, sem porteiro e elevadores. Ao entrar no edifício, a bruxa foi surpreendida por alguém que se aproximou por trás, prendendo as mãos dela às costas. Antes de pensar em uma reação, sentiu o perfume conhecido. A voz grave e levemente rouca sussurrou: "Não precisa se assustar. Venha comigo".

Foi conduzida até a salinha que guardava o material de limpeza do prédio. Quando Ron soltou o punho da menina e se virou de frente para ela, tropeçou num esfregão e por pouco não a derrubou. Os dois ficaram muito próximos. "A gente vai continuar se encontrando sempre assim?", ela perguntou com um sorriso enquanto apoiava as mãos no peito do rapaz.

— Me desculpe, Hermione. Eu não queria te assustar - o rapaz falou sem se afastar da jovem bruxa e com o olhar fixo nos lábios dela.

— Qual é o seu objetivo? Está querendo me beijar novamente? - Hermione tinha as maçãs do rosto vermelhas, mas não deixou de fazer aquela ousada pergunta.

Ron, com certo constrangimento, afastou-se dela. Mas não muito já que a sala era minúscula e estava abarrotada de baldes, vassouras, esfregões e outros materiais de limpeza.

— Daquela vez cheguei em casa com a boca borrada de vermelho. Carlinhos perguntou se agora eu estava usando batom - ele respondeu com um sorrisinho.

— Deve ter ficado com vergonha de ser chamado a atenção por causa do batom - Hermione quis voltar ao assunto do beijo.

— Mas hoje não corro esse risco, já que você está sem batom - era incrível como, desde sempre, o ruivo reparava nela, em cada pequeno detalhe. - Ainda assim, acho melhor a gente não se beijar. Pelo menos não aqui e agora.

— Realmente esse almoxarifado não é um ambiente muito romântico - foi a vez dela sorrir. - Também não é o melhor lugar para uma conversa.

— É, eu sei. Vim aqui apenas para te entregar esse bilhete. Peço que leia no seu apartamento e queime em seguida. Aliás, se não tiver queimado o outro, faça isso, por favor - Ron falou em tom baixo.

— Tudo bem. Isso é tudo? - ela olhava o bruxo tentando adivinhar suas intenções.

— Sim, por enquanto é tudo. Agora precisamos sair daqui. Você, primeiro, por favor - ele parecia apreensivo.

— Mas, Ron, a gente não vai mais se ver? - Hermione entristeceu-se.

— Claro que vamos nos ver, Mione – o rapaz deu um belo sorriso. - Leia o bilhete. Mas saia logo daqui, por favor.

— Antes quero fazer uma pergunta - ela mordeu os lábios. - Como você soube onde moro?

— Estou investigando tudo sobre você - Ron abriu um lindo sorriso.

— Sério? Sou uma ameaça tão grande assim? - Hermione olhou para o ruivo de um jeito desafiante.

— Para mim é. Mas estou aprendendo a neutralizar os seus poderes - ele a encarava com decisão.

— Não vai ser tão fácil como imagina... - a garota deu um meio sorriso.

— Eu sei. E já não estou tão certo se quero vencer essa batalha - Ron voltou a sorrir torto.

Os dois se encararam por alguns segundos. Havia tanta ternura e desejo de amor naquela troca de olhares. Ron tomou a iniciativa: "Vamos, Mione. Você precisa sair logo daqui. E tenha cuidado para ninguém te ver".

Hermione subiu as escadas quase correndo, com o coração feliz. Trancou a porta, jogou a bolsa no sofá e sentou-se para ler o bilhete. Foi melhor do que imaginava. Ron marcava o lugar e horário do primeiro encontro dos dois. Por Merlin! Faltava menos de duas horas! E que ironia do destino. O local era justamente a livraria do ex-namorado de Hermione.

 

 

 

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Notas finais do capítulo

Confesso que tenho dificuldade de fazer busca de fanfics neste site. Por isso nem sei como as pessoas acharam minhas histórias.

Seja como for, se você chegou e está gostando de Qtmd, ficarei feliz de ler uma mensagem sua.

Não importa se passar aqui depois da fic ter sido concluída. Suas palavras vão me motivar e inspirar, pode ter certeza :D



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