Já faziam seis meses desde que comecei a viver em Londres. Minha vida ainda era a mesma, a diferença era que eu tinha que trabalhar. O trabalho era bom e eu recebia bem, também estava me dando bem com o pessoal por lá. Tinha ficado muito próximo de Harry e Neville, acho que eles começaram a ocupar o lugar do Draco já que não tínhamos mais tanto contato desde que me mudei.

Eu era muito mais próximo do Harry do que do Neville, nós tínhamos gostos muito parecidos e sempre nos colocavam para trabalharmos juntos no mesmo caso. Ele era muito inteligente, e junto com ele não tínhamos perdido nenhum caso até agora. Já Neville era muito diferente de mim, mas acho que era isso que nos aproximava. É sempre bom ter alguém que te leva pra fazer algumas loucuras de vez em quando, e era isso que faríamos hoje. Dessa vez não era tão loucura assim, nós só iríamos juntos ao cinema. Porém, Neville estava com segundas intenções, a de encontrar uma garota para ele, e foi exatamente por isso que agora estávamos nós dois procurando um lugar para nos sentarmos na sessão que passaria um romance. Onde é que eu me meti?

Neville resolveu sentar-se numa poltrona bem no canto, a última da fileira, sendo assim eu teria que me sentar em outro lugar, na terceira poltrona depois da dele para ser mais exato e entendi perfeitamente o que ele queria. Se nos sentássemos ali, as duas cadeiras que nos separavam um do outro estavam sendo ocupadas por duas garotas, uma loira e outra morena. E eu só percebi isso quando acidentalmente derrubei minha pipoca em cima das duas. A loira que estava sentada ao lado da cadeira de Neville levantou-se no mesmo instante para me xingar e a morena que estava sentada na cadeira ao lado da minha pediu que ela parasse de gritar, e o idiota do meu amigo Neville aproveitou-se da situação para acalmá-la.

Eu fiquei completamente envergonhado com a situação e já estava preparado para sair de lá, mas a morena falou comigo.

— Moço, se você iria se sentar aqui pode ficar. Minha amiga e eu sabemos que foi só um acidente. — ela disse da forma mais educada que eu já vira alguém falar.

Apenas sorri e murmurei um "obrigado" para ela e me sentei ao seu lado.

— Me desculpe por minha amiga, ela acostuma ser meio exaltada.

— Me desculpe também, foi um acidente, não queria derrubar a pipoca em vocês. É que eu sou meio desengonçado. — eu disse envergonhado e ela riu.

— Não se preocupe, antes de você quem derrubou a pipoca em cima dela fui eu. É bem difícil andar nesse cinema com a luz apagada!

— Finalmente alguém que me entende! — ela riu de novo, e eu percebi que mesmo vendo-a fazer aquilo apenas pela segunda vez eu já adorava aquele sorriso.

— Bem, bom filme pra você! — ela disse e desviou a atenção de mim para a tela do cinema.

Não demorou muito para que o filme começasse, e pelo que entendi o filme se tratava sobre dois adolescentes com câncer e um deles morria no final. Acho que era isso, não me lembro direito qual dos dois tinha morrido porque eu não tinha prestado muita atenção no filme. Se eu não tivesse com o que me distrair provavelmente teria odiado aquele filme, mas a garota sentada ao meu lado era um filme muito melhor do que aquele. Ela nem deve ter notado que eu não parei de observá-la um minuto sequer, pois estava tão compenetrada naquele romance que parecia nem piscar. A cada cena que se passava ela afundava cada vez mais na cadeira, e desde a metade do filme ela chorava copiosamente.

Fiquei realmente impressionado com ela e com sua beleza, acho que Gina não era mais a garota mais bonita que eu conhecia. Até mesmo chorando aquela morena era linda. Senti vontade de enxugar suas lágrimas apenas para poder tocar sua pele e sentir se era realmente macia como eu estava imaginando, ela parecia ter uma pele legal. Quando ela enxugou suas próprias lágrimas eu pude notar o quão pequenas e delicadas eram as mãos dela, aliás, ela parecia ser inteiramente pequena e delicada e eu fiquei imaginando como seria tê-la em meus braços. Porém meu pensamento foi cortado por Neville que me puxara e saíra correndo comigo para fora do cinema assim que o filme acabou.

— Você ficou maluco? — perguntei irritado.

— É o seguinte cara, vá embora pra casa sozinho ok? Assim que aquela loira que estava do meu lado passar você diz pra ela que eu estou na praça de alimentação esperando ela pra jantar ok? Tô indo nessa! — ele disse e saiu correndo. Fiquei mais irritado ainda, mas não estragaria a noite do meu amigo com aquela garota.

Assim que a tal loira apareceu eu dei o recado a ela e ela foi correndo atrás de Neville, pouco tempo depois a morena linda saiu a procura dela.

— Luna? — ela chamou e eu me aproximei.

— Ah... Oi...

— Oi. — ela respondeu sorrindo e se ela não tivesse voltado a procurar a amiga com o olhar eu tinha certeza que ficaria ali hipnotizado pelo sorriso dela.

— Acho que sua amiga não vai voltar pra casa com você.

— Por quê?

— Bem, ela foi jantar com meu amigo. Aquele cara que ficou batendo papo com ela durante o filme enquanto você chorava.

— Aí meu Deus, dá pra perceber que eu estava chorando? — ela perguntou já mexendo em sua bolsa retirando de lá um pequeno espelho.

— Não, não. É que eu te vi chorar, por isso eu sei.

— Ufa! — ela disse respirando fundo e guardou o espelho — E como você sabe disso?

— Eu vi os dois indo pra lá, e meu amigo até me pediu pra ir embora sozinho. Acho que ela não volta com você hoje...

— Ah, mas que droga! — ela parecia decepcionada — Você tem certeza disso? Ela veio para me fazer companhia, para eu não vir sozinha. E agora me abandona desse jeito?

— Tenho certeza.

— Poxa, Luna! Bem, obrigada por me avisar. Eu vou indo embora então...

— Não, não, você não precisa ir embora agora! — eu disse segurando seu braço e ela olhou para minha mão que a segurava um pouco assustada. Droga, Ronald! Está colocando medo na garota? — Quer dizer, é perigoso... — disse soltando o braço dela.

— Fique tranquilo, eu sei me cuidar. — ela disse usando sua extrema e delicada educação.

— Bem, nós podemos esperar nossos amigos terminarem o jantar.

— E porque eu esperaria? — ela cruzou os braços. Droga! Não deixe se intimidar, Ronald!

— Porque nós dois estamos na mesma situação.

— E nós ficaríamos aqui em pé, plantados, um olhando para a cara do outro até os dois voltarem?

— Hm... Nós poderíamos fazer alguma coisa juntos.

— E porque eu faria alguma coisa com um completo estranho?

— Não sou um completo estranho! Sou... O garoto que derrubou pipocas em você! — assim que eu disse aquilo ela gargalhou, será que era uma coisa boa?

— Ok, por que eu faria alguma coisa com o "derrubador de pipocas"? — agora ela parecia mais descontraída, então eu tive coragem de seguir em frente.

— Por que ele está te convidando pra tomar um café!

— Café? — ela disse descruzando os braços, parecia incrédula.

— Sim. Como todo bom inglês eu te chamaria para tomar chá, mas eu não sou um bom inglês, eu prefiro café.

— Sério? Você prefere café? — será que era bizarro demais gostar mais de café do que de chá?  Pensando bem, na cidade em que estávamos era sim.

— Sério. Mas se você preferir nós podemos tomar chá. — dei de ombros. Não queria perder a chance de passar mais tempo com ela.

— Não, é que... Eu adoro café! E aqui é quase um crime preferir café, não é mesmo? Não que eu não goste de chá e tudo o mais.

— Bom, então além de derrubadores de pipocas nós somos dois viciados em cafeína. — ela riu. Como eu estava adorando aquele sorriso!

— Parece que sim.

— Então, você aceita ir comigo ou não? Tem uma cafeteria aqui no shopping mesmo...

— Tudo bem, eu aceito! — PONTO PARA O WEASLEY!

Ela caminhou ao meu lado até a cafeteria e insistiu para pagar seu próprio café, mas eu não deixei. Se eu quisesse impressioná-la teria que ser um cavalheiro! Pedimos dois capuccinos, o dela com chantili e o meu com chocolate. Nos sentamos no balcão da cafeteria e ela gargalhou alto com os bigodes que se formaram acima dos nossos lábios, como ela era maravilhosa! Não trocamos muito mais que algumas palavras sobre nossos cafés e ela recebeu uma ligação.

— Diga, Severo... Sim, me lembro... Claro que sim, fiz isso hoje cedo! ... Como assim não enviei? — a expressão dela ficou tensa e eu fiquei preocupado. Quem era esse tal de Severo? — Está sem o arquivo? ... Mas que droga! ... Sim, sim, eu tenho salvo... Não estou em casa agora... Amanhã cedo? ... Tudo bem, dentro de uma hora estará lá prontinho na sua caixa de entrada ok? ... Me desculpe, não irá se repetir... Ok, tenha uma boa noite.

Ela desligou o telefone e fechou os olhos respirando fundo. Ok, agora eu estava realmente preocupado.

— O que houve? — perguntei.

— Nada, é só que... Era meu chefe. Eu tenho que ir embora agora.

— Por quê? — será que minha voz denunciou minha decepção? Não queria que a nossa única conversa tivesse sido sobre café.

— Eu acabei esquecendo de enviar um arquivo pra ele, aquilo precisa estar pronto nas mãos dele até amanhã cedo. E eu não posso vacilar com meu chefe, entende?

— Sim, eu entendo... — na verdade eu não entendia não. Que droga de Severo!

— Me desculpe, de verdade.

— Está tudo bem... Você poderia me passar seu telefone? — perguntei assim que ela se levantara para sair.

— Posso. — ela disse docilmente e eu me levantei e entreguei meu telefone nas mãos dela.

A observei digitando seu número de telefone no meu aparelho e percebi que ela tinha que fazer uma certa força para teclar. Estava na hora de eu comprar um celular novo, aquele lá estava tão velho que as teclas mal funcionavam! Ela terminou de digitar e me entregou meu aparelho, eu li o número no visor e comecei a salvar seu contato.

— É Hermione! — ela disse e eu voltei minha atenção para ela sem entender — Meu nome. Eu me chamo Hermione.

— Ah sim. — assim que ela disse eu digitei seu nome naquelas malditas teclas e ela me corrigiu dizendo que faltava a letra "H" no início de seu nome — Sabe, este celular era uma droga até segundos atrás.

— Agora não é mais?

— Não, agora tenho algo de muito valioso aqui... — me abaixei um pouco para me aproximar dela — Agora eu tenho o contato da garota mais linda deste universo. — contei como se fosse um segredo e ela sorriu envergonhada. MAIS UM PONTO PARA O WEASLEY!

— Você é um fofo! Como se chama?

— Ronald.

— Ok, Ronald. Obrigada pelo café! — ela disse pegando seu café ainda cheio de cima da mesa.

— De nada, Hermione.

— Só Mione. Mione está bom pra mim. — ela me pediu para chamá-la por um apelido? Parece que alguém recebeu mais outro ponto!

— Só Ron está bom pra mim também. — eu disse.

— Então eu vou indo, Ron. — eu ia parecer uma garota apaixonadinha, mas eu podia jurar que meu apelido nunca fora pronunciado de forma mais doce.

— Tome cuidado, Mione. Eu ligarei pra você!

— Ok. Até mais!

— Até mais! — eu disse assim que ela saiu.