— Princesa?

Cerys se virou em uma velocidade impressionante aos olhos dos semideuses, todos temeram que a mesma atacasse o garoto que agora surgia em sua frente, seu rosto estava mais velho do que a última vez que o vira, seu corpo estava mais másculo, porém, seu cabelo castanho quase loiro e seus olhos verdes continuavam a mesma coisa de 70 anos atrás, mas a pergunta que não parava de pairar sobre a mente de Cerys era como ele ainda estava vivo.

Cerys não se importou de manter a pose de comandante no momento que o viu, a loira se jogou em seus braços o abraçando apertado, como se ele fosse sumir a qualquer momento.

— Miguel? — ela perguntou baixinho somente para ele ouvir.

— Sim princesa, sou eu mesmo — ele respondeu — O que aconteceu com você?

— Não tem como explicar agora — a mesma se afastou e sorriu — Sabe onde me encontrar.

Então a mesma se afastou, seguindo lado a lado com o irmão e Ângelo e se perdendo em meio a floresta.

 Cerys estava sentada com os pés dentro do lago em frente a mansão dos guerreiros faltava uma hora para o jantar, mas a mesma não estava sentindo muita vontade de ir, ela não teve tempo para falar com sua mãe, sua tia e sua irmã adotiva, apenas se limitou a sorrir e receber um sorriso de orgulho em sua direção. As dores do passado vieram quando o viu novamente, tudo o que tinha evitado de sentir, toda a dor que havia aprendido a bloquear com seus treinamentos, todavia, nem todos os treinamentos do mundo a preparariam para quando o encontrasse.

Sua mente a levou até quando tudo começou, a setenta anos atrás...

Seu coração deu mais uma batida desenfreada em quanto corria, seu rosto manchado de lagrimas, tudo o que ela queria agora era fugir, ir para longe.

A única coisa que ela pensou foi fugir para a casa de seu melhor amigo enquanto ainda ouvia os gritos de sua casa ficando cada vez mais distantes. As cenas passavam tão rapidamente em sua mente que a mesma se não estivesse tão focada em bloqueia, não se daria conta.

O sangue manchava a parede da cozinha, assim como a do corredor e a da sala, tornando a casa em um verdadeiro filme de terror, deixando qualquer um de cabelo em pé. Ela pode avistar sua mãe deitada, respirando com dificuldade, mas um de seus ataques de asma, seu irmão de apenas dois meses estava dividido entre a sala e a cozinha e seu pai, ah! Seu pai olhava tudo aquilo com um enorme sorriso no rosto, ele estava satisfeito com a obra de arte macabra que ele havia criado, mas faltava ainda uma peça e ela estava lá, olhando horrorizada tudo o que acontecia pela janela da cozinha e ele agora a queria.

Ela jamais deveria ter decidido faltar a aula de física para voltar mais cedo para casa naquela tarde, ela sabia disso agora.

— Miguel — gritou.

O mesmo abriu a porta correndo, ele havia acabado de chegar em casa e mal pode sair do corredor de entrada quando foi chamado e ao abrir a porta se deparou com sua melhor amiga em prando, então correu para a amparar.

— O que houve, Haille? — o garoto perguntou preocupado.

— Ele surtou de novo — ela respondeu entre soluços.

— Todos estão bem? — o menino perguntou assustados — Sua mãe já deu a ele os remédios?

— Ele matou o Toby e provavelmente a ela também — respondeu — Quando ele me viu, eu corri, ele vem atrás de mim, Miguel.

— Tudo vai ficar bem — o menino falou a abraçando.

— Não vai, Miguel — a mesma desfez o abraço e deu um beijo na bochecha do garoto que estranhou — Eu sinto muito, mas eu preciso ir. Nos vemos por aí garoto de Ares.

E logo se pós a correr, mesmo sobre os protestos do garoto que corria atrás dela até a perder de vista. Haille só finalmente parou quando se bateu em alguém e seu corpo foi de encontro ao chão, a garota olhou para cima preparada para se desculpar, mas se deteve ao ver a figura parada em sua frente com a mão estendida.

— Haille Campbell?

— Sim — a mesma respondeu aceitando a mão estendida.

— Sou Caos e tenho uma proposta para lhe fazer — o homem então sorriu.

— Eu deveria ter adivinhado que vocês ficariam perto de um lago — ela ouviu a voz dele a desperta dos seus pensamentos e se virou sorrindo.

— Gosto da água — falou divertida — Sente-se.

O garoto sentou ao seu lado e a olhou.

— Como ainda está viva? — perguntou curioso.

— Eu que deveria perguntar isso.

— Fui colocado no cassino Lotus, dois dias depois que você desapareceu, fui retirado a algumas semanas — respondeu e a olhou sorrindo — Sua vez.

— Fui viver na cidade de Chaos, o tempo lá passa mais rápido — respondeu e logo tratou de explicar pela careta confusa que ele fez — Aqui na terra se passa uma semana, em Chaos, se passa um mês.

— Confuso — falou.

— Também achei quando cheguei lá — falou rindo.

O alarme do jantar soou, a porta da mansão foi aberta e Cerys se virou para ver quem saia de lá, o primeiro que passou pela porta foi seu irmão e logo em seguida Ângelo, ambos a olharam e depois se olharam e os dois caminharam até onde a loira estava com Miguel, fazendo a garota revirar os olhos.

— Maninha — James falou fazendo a loira o olhar e sorrir ironicamente — Quem é o seu amigo?

— Miguel esses são James e Ângelo — Cerys os apresentou — Ignore eles, são a maior parte do tempo idiotas ciumentos.

— Não somos ciumentos — Ângelo resmungou.

— Imagina se fossem — a loira deu de ombros fazendo Miguel rir — Vamos jantar?

— Sim — os meninos responderam.

Cerys se levantou com a ajuda de James e logo os quatro seguiram lado a lado, a garota ficou surpresa com a rapidez que Miguel havia conquistado seu irmão e por mais que ele não quisesse admitir, Ângelo.

 — A que chalé você pertence? — Ângelo perguntou curioso.

— Ares — respondeu.

— Ele me odeia — James falou fazendo Cerys rir.

— Até eu te odiaria, James.

— Eu não tive culpa de derrotar ele aos doze anos — James falou em sua defesa.

— Se você diz — Cerys deu de ombros ainda rindo.