Lily não respondeu.

Havia se passado uma semana e tudo o que ela fez foi encarar a mensagem e se segurar para não gritar com Marlene. Ela era uma mulher adulta e não faria escândalo. Inclusive imaginou que o rapaz não se importou, já que não recebeu mais nenhuma mensagem por parte dele.

O que importava agora era que ela estava prestes a conhecer o “ficante” da melhor amiga e estava ansiosa por isso (mas também nervosa, tinha certeza de que Lene a jogaria em cima do cara que estaria lá junto a eles). Havia posto um vestido confortável e agora esperava pela amiga, que estava pelo que pareciam horas no banheiro tentando passar delineador.

Quando a amiga finalmente apareceu, Lily agradeceu internamente. A demora ao menos havia valido a pena e Lene estava realmente bonita. As duas seguiram em silêncio no carro da ruiva para o tal lugar em que seria o encontro. Pelo que Lily entendera das palavras ansiosas da loira, era um restaurante italiano ― já que era o preferido do amigo do cara e ele queria deixa-lo para cima por conta do tal término.

― Se não gostar dele, por favor, guarde seus comentários e ironias para mais tarde, não me faça passar vergonha ― Lily encarou a amiga com a boca entreaberta. Ela nunca teria coragem para fazer algo assim, as duas se conheciam há anos e Marlene ainda não conseguia colocar em sua cabeça que Lily era, provavelmente, a pessoa mais tímida que ela conhecia. Resolvendo por ignorar o comentário, Lily continuou a dirigir, não demorando mais do que dez minutos para chegarem.

― Só lembrando: nem sonhe em tentar...

― Eu não vou dar uma de cupido! Por favor, Lily, confia em mim. Quem foi que te apoiou quando tínhamos dezoito e você quase molhou as calças quando fomos assistir-

Lily arregalou os olhos ao tapar a boca da amiga. Além de não ter nada a ver com o que estavam falando, era assunto proibido. Nunca comentavam sobre o pavor de Lily a filmes de terror, ainda mais daquela noite de anos atrás.

― Cala a boca e vamos de uma vez.

O lugar era tranquilo e isso imediatamente agradou a ruiva, que sorriu grandiosamente e respirou fundo ao sentir o cheiro de comida do lugar. Sabia que se não comesse logo seu estômago começaria a roncar. Lily apenas seguia a amiga enquanto olhava ao redor, apreciando a decoração e, mentalmente, escrevendo um artigo recheado cem por cento de elogios ao lugar ― apesar de ainda não ter provado da comida.

Lily só percebeu que Marlene havia parado quando ouviu-a cumprimentar alguém. Virou seu olhar para a mesa próxima e seus olhos se arregalaram. Se o homem de cabelos negros que iam até a nuca, pele extremamente clara e olhos acinzentados fosse o tal ficante da amiga, Lily beijaria os pés da loira por ter encontrado alguém tão bonito e gostoso como ele e estar mantendo, pelo que ela mesma percebia, um relacionamento estável, mesmo estando apenas “ficando”.

― Lily, este é Sirius ― o homem sorriu grandiosamente e Lily sentiu seu olhar ofuscar com tamanho brilho naqueles dentes brancos. Tudo bem, não era para tanto, mas a mulher estava maravilhada com a beleza simples do homem parado em sua frente. ― E esse é James, de quem eu te falei.

Só então Lily percebeu o rapaz sentado na cadeira ao lado do tal Sirius. Puta que o pariu, ofegou mentalmente ao perceber que ele era ainda mais bonito que o não-namorado da amiga. Cabelos negros bagunçados, óculos de armação grossa, um pouco mais bronzeado que o outro e com olhos que a deixaram hipnotizada por alguns segundos. Aquele tom de castanho esverdeado a matou e estava ali apenas de corpo presente, sua alma já não mais existia.

Certo, talvez, internamente, Lily estivesse desesperada por um relacionamento e qualquer ser do sexo masculino provido de uma beleza que a tirasse o fôlego era digno de uma reação exagerada.

Em dez minutos todos estavam devidamente apresentados e se tratavam como amigos de longa data; apesar de Lily ainda estar um pouco inquieta depois do pequeno surto pela beleza dos homens ao seu lado. James, Lily percebeu, mandava olhares nada discretos em sua direção de vez em quando. Lily não sabia flertar. A última vez, obviamente, fora um acidente. Com as lembranças da farmácia, a mensagem enviada por Lene e os olhares do homem ao seu lado, Lily estava suando frio. Seu nervosismo pareceu aumentar para noventa e nove porcento quando seu celular apitou com duas mensagens. Uma era da operadora, a outra de seu chefe, pedindo para ela encontra-lo na segunda-feira em sua sala.

Sr. Riddle só chamava seus funcionários em sua sala quando o assunto era sério. Demissão era o que se passava pela cabeça de Lily e, tomada pelo nervosismo, a ruiva bebeu duas taças de vinho num velocidade incrível, a conversa ao seu redor sendo abafada pelos próprios pensamentos.

Sendo alguém fraca para qualquer coisa alcoólica, na metade da primeira taça Lily já estava alegre. Agora ela conversava animadamente com James sobre a sua vida, sem perceber o olhar divertido no rosto do moreno (Marlene e Sirius estavam muito entretidos no próprio mundo para perceber a leve alteração da ruiva).

― E na semana passada, você nem acredita!, ganhei o telefone de um cara na farmácia. Ele deve ter achado que eu estava flertando, mas não! Pelo contrário, minha boca estava ressecada e eu ‘tava fazendo e de sempre, sabe?! Depois...

Lily ainda não sabia, mas se arrependeria de estar relatando essa história para James.