Lily só queria sua cama.

O resto do seu dia se resumiu em uma curta comemoração pela gravidez de Dorcas e Remus (a morena se recusara a fazer mais um teste) e em terminar a revisão final de alguns artigos para a edição do dia seguinte da revista. Com toda a correria a ruiva sequer se lembrou do pequeno papel em seu bolso, ele parara de belisca-la finalmente.

Depois de uma rápida despedida e mais um parabéns ao casal Doremus (fora ideia de Emmeline chamá-los assim, com o argumento de que era mais fácil para se referir aos dois), Lily correu para seu carro e agradeceu aos céus quando sentou-se no banco do motorista e começou a dirigir para o seu apartamento e não-tão-mais-de-Marlene.

Durante o percurso de pouco mais de vinte minutos, Lily se viu cantando músicas pop de sucesso que ela nem fazia ideia de que sabia a letra. Resolveu desligar o rádio quando Taylor Swift começou a tocar. Não queria ficar resmungando a letra de Blank Space pelo resto do dia. A esperança era de que quando abrisse a porta encontrasse uma Lene descabelada reclamando das colegas da loja de roupas em que trabalhava. Não era segredo para os mais chegados que Marlene odiava o emprego e só estava nele pois havia perdido seu cargo como assistente numa odontologia após quase sair no tapa com uma paciente após algum comentário feito pela mesma sobre os cabelos da loira (que na época estavam com as pontas azuis). Lily resmungou consigo mesma ao apenas se deparar com o silêncio do apartamento, enquanto fechava a porta e acendia as luzes da sala, para então se jogar no sofá e gemer de satisfação.

Não ficou cinco minutos naquela posição abençoada para seu celular começar a tocar.

― Maldito seja quem ainda usa o celular para ligações ― praguejou enquanto arrastava a mão pelo chão a procura da bolsa. Estava enrolando com esperança de que quem quer que fosse que estivesse a ligando desistisse, mas para seu desespero de alguém que tem vergonha de falar ao telefone, a pessoa era insistente. Depois do que se pareceram horas aos ouvidos de Lily, que anotou mentalmente que deveria mudar o toque padrão do aparelho para algo mais agradável, ela enfim pegou seu celular e resmungou ao ver a foto na tela antes de atender. ― Não podia ter mandado uma mensagem, Marlene?

― Não me chama de Marlene. Só queria ligar pra avisar que não vo...

― Não vai passar a noite aqui. Eu não estou nada surpresa ― Lily cortou a amiga num tom monótono e quase pôde ver a loira revirando os olhos do outro lado da linha, muito provavelmente deitada na cama do moreno misterioso.

― Não tem nada a ver com o meu cara! ― o grito sussurrado de Marlene fez com que desta vez Lily quem revirasse os olhos. ― Tudo bem, tem sim.

― É gratificante saber que você está me trocando por um cara que eu nem conheço.

― Eu juro pra você que você vai conhecê-lo. Daqui a alguns dias nós vamos jantar juntos.

― É a décima vez que você me fala isso só esse mês. Olha ― continuou, antes que a amiga a interrompesse ―, eu não me importo que você esteja saindo com alguém, só é uma merda eu não conhecê-lo e você não aparecer mais por aqui. Se está achando que desse jeito vai fugir de pagar sua parte do aluguel, está mais do que enganada.

― Eu vou pagar, relaxa. Eu falei pra você que no fim do mês ele tem uma viajem de negócios, estou aproveitando meu tempo com ele pra depois dar todo o meu tempo pra você.

Lily sorriu, tentando mandar embora o pensamento de que Marlene passaria o tempo todo colada no celular falando com o cara que ela nem mesmo sabia o nome. Não sabia o porquê de tanto mistério sobre ele, não é como se Lily fosse procurar sobre o sujeito na internet para ver se era confiável. Ela só fizera isso uma única vez quando tinha quinze, e estava certa sobre Kendall, o namoradinho da amiga na época. Ele estava sim sendo procurado pela polícia. Lily praticamente salvara sua vida e ela só sabia reclamar, mesmo quase dez anos depois.

Foi enquanto falava sobre a gravidez de Dorcas que Lily lembrou do número de telefone em seu bolso. Engoliu em seco antes de contar à amiga.

― O que você tá esperando? ― ela exclamou do outro lado da linha. ― Você não saiu com mais ninguém depois que terminou com o Amos... Quer saber, tô indo aí. Meu moreno pode ficar um dia sem mim.

A ruiva se arrependeu por ter tocado no assunto.