Certo. Em primeiro lugar, Lily não estava flertando. Ela estava tentando tirar uma maldita casquinha do seu lábio com os dentes, como era de seu costume. Não estava tentando parecer sexy para ninguém (por Deus, eles estavam em uma farmácia!, ninguém tenta parecer sexy em uma farmácia com uma prateleira de absorventes em suas costas). Sua expressão confusa ao receber o pedaço de papel com um número de celular não durou muito, pois ela logo estremeceu quando o moreno mordeu os lábios e piscou para ela. Foi automático: Lily corou. Sua pele branca como papel ficou de uma cor quase escarlate, para ela só então perceber que ainda segurava o lábio inferior entre os dentes. Seu coração batia como se a ruiva tivesse corrido uma maratona por horas.

Ela observou de olhos arregalados o rapaz se afastar, ainda vermelha e ofegante. Aquilo havia mesmo acontecido? Lily queria enfiar sua cabeça em um buraco e dar uma de avestruz, como sua melhor amiga Marlene costumava dizer. A garota, porém, não pôde ter seu surto por muito tempo, pois logo Dorcas, sua amiga e colega de trabalho, já estava de volta ao seu lado. Decidiu por não contar nada a ela, não ligaria para o homem nem morta, sequer pensaria em enviar uma mensagem. O que diabos diria? “Hey, cara da farmácia? Foi mal, mas eu não estava tentando parecer sexy pra você. Nem sei se você é bonito, eu nem tava te encarando. XX a ruiva que não estava querendo flertar.”  Isso seria horrível.

― Que cara é essa, Lily? ― Dorcas falou quando saíram da farmácia para o tumulto da calçada. ― Parece que viu assombração.

Lily engoliu em seco antes de responder.

― Estou meio ansiosa ― a morena riu ao seu lado.

― Quem deveria estar suando frio sou eu, não é você que provavelmente está carregando uma criança na barriga.

Lily riu, mais de nervoso do que pelas palavras da mulher. Dorcas estava com o pressentimento de que estava grávida. Nenhum sintoma, apenas a sua “intuição feminina”. Ela estava casada há quase um ano com Remus Lupin, que também trabalhava junto à elas. O rapaz provavelmente estava quase arrancando os cabelos na empresa, pois Dorcas não fora nada sutil ao dizer ao marido que iria comprar um teste de gravidez durante o horário de almoço e Lily a acompanharia. A ruiva lançou um olhar de pesar para o amigo antes de se afastar, no encalço da morena.

Durante os dez minutos de percurso de volta para a revista onde trabalhavam, Lily não parou por um segundo de pensar no ocorrido. Ela ganhara um número de um completo desconhecido! O papel provavelmente estava no bolso de sua calça, se não o tivesse derrubado com sua euforia. Mas ela sabia que ele estava lá pois era como se algo beliscasse seu traseiro, pedindo para que ela pegasse aquele maldito papel e o olhasse. Mas não podia, Dorcas estava ali ao seu lado tagarelando sobre a parte de fofocas da revista e como deveriam tirá-la de uma vez, sendo aquilo algo ridículo (Lily mordeu a língua para não comentar em como a colega sempre lia os artigos dos famosos, principalmente se falassem de alguma bandinha adolescente da qual ela era obcecada, mas sempre acabava por negar).

― Então, eu tenho que fazer xixi nisso aqui? ― Lily mal percebeu que já estavam no banheiro dos funcionários da revista. Sua mente estava tão no automático que nem percebera. Sentiu os olhos amêndoa da mulher a sua frente lhe encarando com animação.

― Sei lá ― suspirou, dando de ombros. ― Eu nunca vi alguém usar isso. Geralmente nos filmes eles cortam pra parte em que a mulher está se descabelando desesperada enquanto encara dois risqui...

― Entendi, deixa comigo ― e entrou numa cabine, deixando Lily sozinha encarando o vazio a sua frente.

Em menos de vinte minutos sua cabeça havia explodido. Estava com expectativa do resultado do teste de Dorcas, mas agora estava eufórica tentando manter aquilo da farmácia para si mesma até chegar em casa e trocar mensagens com Lene. As duas moravam juntas, mas a loira estava passando mais tempo na casa do novo ficante do que na própria. Lily queria conhecer o homem a deixar a amiga tonta ao ponto de lamber o chão por onde ele passava.

― Ai meu Deus ― o grito de Dorcas seguido pelo abrir da porta da cabine a tirou de seus pensamentos. Pelo sorriso rasgador no rosto da amiga, Lily teve certeza de que sua intuição estava certa. Agora sua missão era acalmar a mulher para Remus não ter um ataque, e antes talvez convencê-la de fazer os outros dois testes para ter certeza absoluta de que realmente estava grávida.