Aokigahara escrita por Yennefer de V


Capítulo 9
Cobaia Zero


Notas iniciais do capítulo

Eu tenho duas reações para esse capítulo: aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa e SOCORRO.



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Japão, ilha de Honshu (Centro de Pesquisas de Aokigahara, “Boca do Inferno”)

 

Molly

Molly estava apavorada. A escuridão da noite não melhorava em nada seu estado emocional. Ela tomou uma Poção para Acalmar assim que o Testrálio pousou no telhado da Boca do Inferno. A lua cheia no céu era apenas uma esfera esbranquiçada, coberta parcialmente pelas folhas das arvores. Os fantasmas e ecos ao redor da construção pareciam brilhar numa procissão sinistra, os fantasmas lamentando num estado de inércia. Sem iluminação decente, as tochas dos Hinkypunks dançavam na floresta além, depois da placa enorme que sinalizava “Centro de Pesquisas de Aokigahara”.

Se tudo desse certo, seria o lugar do fim.

— Não encare as luzes. – Molly lembrou a Henry, que desmontou do Testrálio depois dela, quase tombando no chão.

Henry fixou o olhar em Molly propositalmente.

Dominique desmontou do mesmo Testrálio que Victorie e Rosa também desceu de sua montaria. A cobertura do prédio era plana como o chão. Molly não ouviu sinal da Cocatrice, do Erumpente ou outro ruído de perigo. No entanto, sabia que o silencio também era preocupante.

Victorie e Dominique estavam de mãos dadas, uma apertando a mão da outra.

— Vou começar. – avisou Molly.

— Queria ter uma espada agora. – falou Henry.

Molly conseguiu dar um riso fraco. Apontou a varinha para o alto e sussurrou:

Lumos Maxima!

Seu globo de luz branco atingiu a copa das arvores interligadas, iluminando tudo ao redor do prédio da Boca do Inferno, inclusive o Erumpente lá atrás.

Molly conseguiu enxergar o desmatamento causado para a construção do prédio. O terreno foi desflorestado para que o Centro de Pesquisas de Aokigahara ganhasse lugar na floresta. As luzes vermelhas dos Hinkypunks desapareceram aos poucos entre as arvores. Henry estava à sua frente, tão inquieto que abria e fechava as mãos freneticamente. Os Testrálios, pousados no telhado, também sentiam o perigo iminente.

Molly viu o Erumpente lá embaixo, na parte de trás do prédio, deitado de lado, os olhos fechados e o perigoso chifre destrutivo sobre o nariz.

— Parece um rinoceronte. – comentou Henry.

Molly não respondeu. Ela olhou para o alto, para encontrar sua bola de luz tão brilhante que lhe incomodou os olhos. Viu novamente a lua cheia no céu quase negro e sem estrelas. Lembrou-se de Pan.

Onde vocês estão?, perguntou-se.

Olhou para suas companheiras de jornada. Apenas Victorie tinha tido, como ela, dúvidas sobre ficar. Porém, elas ficaram, todas elas, como Henry. Era a Expedição Fênix, a expedição do renascimento, a expedição que não conhecia a morte. Aokigahara não iria matá-las.

Então ouviu o cacarejo enfurecido de um animal gigante e soube que o fim havia começado.

[...]

Lysander

Lys não sentia nada a não ser determinação. O Testrálio entre suas pernas também era corajoso. Não estava hesitando. Lysander o chamou de Agouro. Achou que era bom dar um nome para sua companhia. Ben gostava de dar nomes às criaturas mágicas.

— TUDO OK?! – berrou Ted voando ao seu lado, sem conseguir enxergá-lo, pois Lys estava desiludido.

Lysander não se deu ao trabalho de responder. Apenas balançou a cabeça, mas duvidou que Ted tivesse visto.

Estava concentrado. A adrenalina em seu corpo e os passos do plano formulado por ele passavam por sua mente como únicas verdades naquele momento.

Lys não sabia o local no qual a Cocatrice mantinha o ninho. Mas sabia que ela caçava perto da Boca do Inferno.

A noite não era problema para Lys. Ele não temia a escuridão. Pela primeira vez entendeu como era o trabalho anterior de seu irmão. Sentiu-se muito próximo de Lorcan.

Depois de voar por alguns minutos sem destino, ele montado em Agouro e Ted montado em outro Testrálio, viram o orbe de Molly iluminar a Boca do Inferno. Eles estavam acima da luz e acima das arvores. Mesmo assim, Lys percebeu a diferença quando o ar se clareou. Agouro era invisível para ele, mas as copas das arvores se iluminaram, parecendo um mar de verde não muito abaixo deles.

Ted olhava ao redor enquanto as mãos seguravam firmemente a crina de seu Testrálio, ele e Lys colados ao máximo no vôo, mantendo a mesma velocidade. Lys, que conseguia ver Ted, fazia esforço para não ficar muito atrás ou à frente.

— CADÊ?! – gritou Ted para extravasar a ansiedade.

Lys sabia que ela viria. A Cocatrice era considerada um réptil alado, cujos sentidos mais apurados eram a visão e o olfato, intrinsecamente ligados à sua capacidade de caça. E seus olhos petrificavam. A luminosidade repentina no ar a atrairia.

Lys estava certo.

Ele e Ted ouviram o corpo gigantesco da Cocatrice praticamente arrebentar as copas das arvores abaixo deles, aparecendo no ar apenas cinquenta metros atrás dos Testrálios. Primeiro surgiu a cabeça de ave, o bico grande e cacarejando roucamente, tão grande que podia engolir um deles inteiro. As asas abertas, que saíram de Aokigahara com dificuldade para ganhar a liberdade do céu possuíam escamas reptilianas como um dragão. A parte superior do corpo era vermelha, desde a crista até a ponta da cauda. A parte inferior era verde e as patas eram de galinha, com três dedos de unhas pretas cada.

Ted soltou um palavrão, assombrado.

A Cocatrice os farejou e suas asas planaram atrás deles.

Ted começou a xingar deliberadamente no ar.

— PREPARADO?! – perguntou ao Lys.

— SIM. – falou Lys, mais para sinalizar sua localização que para responder.

Ted incentivou seu Testrálio a voar mais rápido e à frente de Agouro. Lys ficou propositalmente para trás.  Não sabia se Agouro era invisível para a Cocatrice. Não possuía tanto conhecimento assim.

Ted soltou uma mão da crina de seu Testrálio e fez um corte particularmente comprido ao longo do braço com uma adaga de prata. O sangue escorreu para trás na velocidade em que estava voando.

A Cocatrice e seu olfato apurado foi atraída pelo petisco. Lysander se permitiu um gemido de alívio. A Cocatrice não o tinha visto desiludido nem Agouro.

Lys estava ao lado do monstro. Viu suas asas batendo para cima e para baixo, o corpo fazendo o movimento de uma onda, a cabeça e os olhos mirando Ted com concentração.

Lys e Agouro subiram para o alto acima da Cocatrice, Lys torcendo para que a criatura não os percebesse, e conseguiram voar acima dela. Estavam na mesma rapidez. Vista de cima, a Cocatrice lembrava um dinossauro. Suas duas asas abertas eram belíssimas de uma forma sinistra.

A esfera de luz de Molly já tinha ficado para trás. Lys não conseguia enxergar direito. Torcendo pela vitória, ele pulou de Agouro para cair em cima do corpo reptiliano da Cocatrice, que o sentiu imediatamente, freou sua investida contra Ted e deu um guincho agudo, irritada.

[...]

Lorcan

Lorcan estava aliviado que o Erumpente estivesse dormindo. Ou talvez fizesse parte do plano de Lys desde o começo.

Com a iluminação branca da esfera de Molly acima deles, Lorcan viu a criatura deitada de lado.

Pesava pelo menos uma tonelada. Era cinza escuro, com a cauda cheia de nós, lembrando uma corda. No nariz tinha um chifre espiral de um metro, também cinzento.

Era a arma secreta deles. O chifre do Erumpente era como um explosivo.

A pele do bicho era um couro grosso, tão resistente que nenhum feitiço a penetraria. Um Erumpente só atacava se sentisse dor. O que tornava extremamente difícil provocá-lo, já que ele não sentia feitiços.

Não para Lorcan em sua forma de lobisomem.

Lorcan andava em suas duas patas traseiras, como um homem, avançando devagar. O Erumpente possuía tanto o olfato como a audição aguçados.

Lorcan tinha um metro e oitenta em forma de lobo. Sua pelagem era negra e suas garras afiadíssimas. Sua audição era tão apurada que ele ouviu quando a perseguição entre a Cocatrice, Ted e Lys começou lá em cima. Ele também era capaz de enxergar muito melhor no escuro.

Ao seu lado, o lince Escórpio o acompanhava, muito mais discreto em sua forma felina que Lorcan.

O Erumpente estava tomado por Agoureiros em sua pele. Eram pássaros extremamente magros, como abutres, pretos esverdeados. Lorcan sabia que os Agoureiros se alimentavam de insetos que irritavam a carcaça do Erumpente.

Ele e Escórpio estavam a uma distancia razoável para não atrapalhar (ainda) o sono do Erumpente. Escórpio se tornou humano ao lado de Lorcan.

— Ainda não? – perguntou.

Lorcan prestou atenção à perseguição da Cocatrice com a audição. Balançou a cabeça negativamente.

[...]

Ted

O desiludido Lysander, que Ted não conseguia ver por seu corpo se contrastar com a escura noite, aparentemente já havia se jogado em cima da Cocatrice. O réptil parou de perseguir Ted de repente e começou a voar devagar, vociferando alto e fazendo movimentos bruscos com as costas. Ela abria o bico alucinadamente, jorrando um vento quente capaz de queimar um ser humano de raiva.

Ted também diminuiu a velocidade do seu Testrálio para observar a cena, cada centímetro de seu corpo torcendo pelo sucesso de Lys. Ele só não podia olhar diretamente, pois corria o risco de ser petrificado.

Ted não sabia o paradeiro de Agouro. Só podia torcer para que a montaria fosse fiel ao seu cavaleiro. A Cocatrice também não parecia ver o Testrálio.

Depois de alguns minutos desesperadores, Ted ouviu o berro perturbador da Cocatrice, indicando que pelo menos um dos olhos dela Lys tinha atingido com a adaga de prata.

A criatura alada soltou um cacarejo angustiado na escuridão acima da silenciosa Aokigahara, seu corpo se debatendo loucamente. Ted não sabia como Lys estava se segurando, mesmo que ele tivesse usado o feitiço Incarcerous e criado cordas no pescoço da Cocatrice para se sustentar.

Novamente a Cocatrice soltou um urro doloroso. Ela tornou a se debater, pairando cada vez mais devagar no céu.

Ted freou seu Testrálio, esperando a Cocatrice se dar conta de que teria que farejar sua caça, agora sem a visão. Com o braço já ferido, com um corte que ia do cotovelo ao ombro, ele preparou a adaga novamente para se cortar.

— FEITO! – ele ouviu a voz de Lys sinalizar ao seu lado e respirou aliviado.

O plano inicial de Lys era rolar do corpo da Cocatrice depois de cegá-la para as costas de Agouro. Aparentemente deu certo.

Ted olhou para a Cocatrice, enfurecida pelos seus olhos cegados, farejando o ar. Então se cortou mais uma vez e incitou seu Testrálio num rasante para dentro de Aokigahara.

[...]

Escórpio

 

— Estão vindo. – Lorcan avisou numa voz estranha. Era como um rosnado incompreensível que soou como latidos. Escórpio entendeu apenas “ão indo”. Mas pela urgência na voz do lobisomem, percebeu que era a hora.

Ele se tornou lince novamente, disparando em direção ao Erumpente. Escórpio passou ao lado do animal adormecido, se postando à sua frente. Ficou andando de um lado para o outro em seu campo de visão, como se o provocasse.

Lorcan colocou as quatro patas no chão. Com a proximidade do lince e do lobisomem, o Erumpente acordou assustado.

A criatura começou a arranhar o chão com os cascos, procurando sua presa. Lorcan pulou em suas costas de surpresa e enfiou as garras de lobo em sua couraça dura. O Erumpente rosnou, irritado. Não lhe causou tanta dor, mas o incomodou. Lorcan continuou atingindo-o, deixando-o furioso. Depois saltou para o chão.

Lorcan escalou o prédio da Boca do Inferno enfiando as garras na parede para sair de perto da caçada do Erumpente. Ele, como lobisomem, não seria tão rápido numa fuga.

Escórpio chamou a atenção da criatura com uma gritaria felina. Se o Erumpente atacasse Lorcan contra a parede do prédio perderiam seu chifre.

Ainda arranhando o chão com os cascos, o Erumpente baixou a cabeça, apontando o chifre para o lince e desatou a acelerar em sua direção. Os Agoureiros saíram de suas costas, dando cantos que lembravam soluços deprimidos.

Escórpio deu a volta no prédio, se encaminhando para a porta de entrada e o Erumpente foi atrás dele, enfurecido.

[...]

Lysander

Agouro e Lys acompanharam de perto a perseguição da Cocatrice contra Ted. Era seu dever proteger o auror caso algo lhe acontecesse.

Ted guiava o Testrálio com firmeza, apesar de não vê-lo. A Cocatrice, cega, o seguia através do cheiro. Ted mergulhou para Aokigahara, entre as copas das arvores. O Testrálio bateu num galho, Lys percebeu. Ele abafou um grito. A enorme Cocatrice os seguiu, fazendo um estrago ao retornar para a floresta em seu rasante. Ela levava folhas, galhos e até troncos de pequenas arvores junto de si, mas estava tão furiosa que não pareceu notar. Suas asas se colaram ao corpo enquanto ela e seu bico desciam para o chão de Aokigahara com o intuito de engolir Ted inteiro.

As cordas que Lys passou por seu pescoço estavam frouxas e se perdiam no vôo do réptil alado. Lys os seguia com dificuldade. Ele não via Agouro e era difícil desviar das arvores em Aokigahara, tão juntas que um Testrálio se tornava grande para manobrar entre elas.

De repente ele viu Ted diminuir perigosamente a velocidade sem razão aparente. A Cocatrice o ia alcançar.

O impacto contra o galho, Lys percebeu. O Testrálio se machucou.

A Cocatrice chegou perto de Ted. Iluminados pela esfera de Molly, Lys conseguiu avistar o monstro abrir o bico para abocanhar o Testrálio e Ted. Antes disso, soprou um jato de ar quente em ambos.

Lys deu um grito de alerta desnecessário.

[...]

Ted

 

Ted percebeu o hálito quente da Cocatrice próximo dele. O bico dela aberto era tão largo que o devoraria inteiro.

Sem pensar duas vezes, se jogou do Testrálio, deixando seu cavalo alado com a asa machucada para trás. Ainda foi queimado pela baforada que recebeu antes da queda.

Caiu, sentindo o corpo bater em galhos e troncos de arvore por toda a queda, um braço já cortado duas vezes, um lado do corpo cheio de queimaduras. Seu corpo parecia mais pesado à medida que chegava próximo ao chão. A cabeça ficou tão confusa que foi difícil lembrar o feitiço.

Aresto Momentum!

O corpo de Ted bateu na terra de Aokigahara. Acima dele, só havia alguns fios de luz da esfera de Molly, as copas das arvores e o corpo da Cocatrice, que após devorar o Testrálio, passou a perseguir outra coisa com a mesma fúria.

O desiludido Lys e Agouro invisível.

[...]

Lysander

 

Lys estava finalmente apavorado. A Cocatrice nem parou para mastigar o Testrálio. Lys se colocou à sua frente, rasgando um ponto abaixo da axila aleatoriamente e o sangue jorrou no ar.

Lys quase caiu, manobrando entre as arvores. Deixou a adaga despencar para o chão de Aokigahara sem querer.

Agouro parecia sentir o mesmo que ele. A necessidade de chegarem ao prédio.

Voaram tão rápido e com tanta concentração que Lys não ouvia mais nada.

A Cocatrice estava cada vez mais enfurecida. Isso era um ponto positivo. Ela batia em troncos de arvores, se atrasando e ferindo, enquanto Lys conseguiu uma boa distancia à frente da besta, evitando seus jatos de ar.

Finalmente chegaram à Boca do Inferno. Lys deu uma leve freada em Agouro para se lançarem para baixo. A Cocatrice veio desembestada em sua direção.

O ar estava tão claro ali que parecia dia.

Lys não teve tempo de averiguar se Escórpio estava sincronizado com ele. Não teve tempo de ver os olhos arregalados de Molly, Henry, Dominique, Victorie e Rosa em cima do prédio com um Lorcan lobisomem os acompanhando. Não teve tempo de nada.

Apenas levou a Cocatrice até a placa numa perseguição enlouquecida.

[...]

Escórpio

Escórpio ouviu a Cocatrice antes de vê-la. Estava correndo há alguns minutos, desviando-se do Erumpente e o levando em voltas desnecessárias pelo terreno da Boca do Inferno.

Não estava cansado. Sua forma animaga o permitia um fôlego melhor que a forma humana. As curvas rápidas e desvios que fazia na frente do Erumpente também não eram difíceis.

Difícil foi levá-lo até a placa no momento exato.

Ouviu as asas da Cocatrice, batendo tão rápido e levantando a terra para o ar na floresta. Escórpio viu o Testrálio, mas Lys estava desiludido. Estranhou a falta de Ted, que originalmente era quem guiaria a Cocatrice até o chifre.

Sem tempo de analisar a situação, Escórpio fez uma última curva. O Erumpente o seguiu, mudando de direção rapidamente para uma criatura tão pesada. Escórpio correu de frente para o Testrálio, que vinha numa altura muito baixa.

Então, quando Lys fez Agouro subir seu vôo repentinamente, Escórpio também fez uma curva ríspida e desajeitada para o lado, bem na frente da placa que indicava “Centro de Pesquisas de Aokigahara”.

A Cocatrice veio no rastro de Lys, voando tão baixo que as asas quase tocavam o chão ao pegarem impulso para seu ataque.

Ela e o Erumpente se colidiram bruscamente. O chifre do Erumpente penetrou o pescoço da Cocatrice quando ambos se chocaram. As criaturas explodiram, causando o barulho de muitos trovões, o chão tremeu e o ar foi tomado por terra, escombros da placa e pedaços das criaturas.

[...]

Dominique

Todas as mulheres e Henry sentiram o prédio tremer um pouco quando a Cocatrice e o Erumpente colidiram. Dominique viu Victorie e Rosa taparem os ouvidos. Victorie olhou para o outro lado, não querendo ver a tragédia.

— NÃO ERA O TED! – Victorie berrou.

Dominique também percebeu que a pessoa que guiou a Cocatrice até a placa estava invisível aos seus olhos, como o Testrálio. Ela não viu o que aconteceu com ambos, mas sabia que só podia ter sido Lys.

Victorie estava em pânico. Dominique não podia entrar no pavor da irmã.

Molly desviou o olhar da catástrofe entre as duas criaturas e olhou para Rosa, Dominique e Victorie.

— VÃO! – ordenou para as três.

Dominique quis protestar. Ela sabia que era parte do plano de Lys. As três teriam que entrar no prédio.

Porém, nem Victorie, Dominique ou Rosa quiseram deixar os outros para trás sem saber se estavam bem. Molly sabia que elas hesitariam.

— Vocês serão inúteis lá embaixo! – Molly as lembrou com urgência. – Se algum deles estiver... Ferido.— deu ênfase na palavra, para não falar “morto”. – Só eu posso ajudar.

Victorie estava chorando abertamente, ainda apertando a mão da irmã. Um brilho decidido se abriu nos olhos de Dominique. Era o plano de Lys. Lysander nunca estava errado.

— Vamos! – incentivou as outras.

Rosa aceitou com mais facilidade. Victorie parecia prestes a surtar.

Dominique, Victorie e Rosa levantaram vôo em dois Testrálios. Elas pousaram no enorme portal de entrada. Estavam a pelo menos cem metros da placa destruída. Uma das bandas da porta, totalmente negra, estava caída ao chão.

Dominique saltou do Testrálio. Ela estava acostumada com cavalos alados. Victorie praticamente se jogou e ralou os joelhos. Rosa desmontou graciosamente.

Victorie enfiou o Onióculos desajeitadamente nos olhos, tremendo, para averiguar a situação da explosão entre a Cocatrice e o Erumpente.

— Por Merlin... N-n-não...— a visão a chocou e ela colocou a mão na boca.

Quem está lá?— Dominique a chacoalhou.

— Lorcan... Acho que é, tem forma de lobo. Molly e Henry acabaram de desmontar do Testrálio... Onde está Ted?! – perguntou angustiada.

Nada de Lys, Ted ou Escórpio, percebeu Dominique. E isso supostamente deve nos tranquilizar.

Victorie estava tremendo, o Onióculos preso ao pescoço.

— Vamos, vamos, vamos! – Dominique as acordou de seu torpor.

— N-n-não dá. Não consigo. – Victorie choramingou.

Nós conseguimos. — Dominique rebateu com a varinha em punhos.

Rosa concordou com a cabeça. As duas pegaram Victorie pelas mãos e a guiaram.

Então adentraram na Boca do Inferno.

[...]

Rosa

Lumos Maxima! — Rosa ouviu Dominique gritar na escuridão do salão. Seu feitiço não era tão poderoso quanto o de Lys ou Molly, mas foi o suficiente para iluminar o saguão de entrada.

Rosa prendeu a respiração. Era um ambiente sinistro.

No meio do salão havia um sabugueiro anormal em suas proporções. Seu tronco era tão largo que caberia um Armário Sumidouro dentro. E era oco. Seus poucos e finos galhos eram enrolados uns aos outros caoticamente e não havia nenhuma folha.

Dentro do tronco oco havia uma bolha transparente com líquido dourado. Havia um garoto de uns doze anos lá dentro, flutuando no líquido. Ele estava tomado por tentáculos e galhos que se grudavam ao seu corpo de maneira coordenada. Seus olhos estavam fechados e a boca tomada pelo feitiço Cabeça de Bolha, de modo que Rosa percebeu que ele estava vivo. Os fios de cabelos negros flutuavam fantasmagoricamente para cima, como todo seu corpo.

Ligada a arvore por galhos havia uma jaula de grades prateadas com um lobisomem dentro. Ele tinha pelagem acinzentada, olhos cheios de fúria e estava de quatro. Ele as observou entrar com olhar raivoso. Rosa soube que ele estava consciente com a Poção do Acônito.

À direita e à esquerda delas havia portas que lembravam escotilhas de várias cores diferentes, de pelos menos três metros cada. A maioria estava aberta.

Uma dúzia de dementadores alcançava o teto cheio de candelabros com velas apagadas. Um patrono vermelho em forma de lagarto se arrastava pelo chão, sua presença afastando os dementadores de seu conjurador.

À frente da oquidão da arvore, de costas para elas, olhando o garoto desacordado, estava a figura de Cole Coward. Ao seu lado havia uma mulher alta, de cabelos ruivos muito compridos, olhos verdes e frios, segurando uma prancheta com um rolo de pergaminhos que ia até o chão.

Ao redor dos dois havia três homens de uniformes vermelhos sangue.

— Margot? – Rosa reconheceu a antiga colega de trabalho, surpresa.

— Coward. – sussurrou Victorie ao mesmo tempo.

Dominique ficou em silencio. Seus olhos miravam o garoto no tanque de água, cuja idade se aproximava de seu filho Benji.

Cole Coward se virou para elas. Margot, a mulher ruiva, entregou a prancheta para um dos homens. Os três as miraram também. Um deles estava com a mão em uma alavanca ao lado da arvore.

— Vocês deviam ter ido embora. – os olhos de Coward demonstravam indiferença. – Vocês até conseguiram roubar nossos Testrálios.

Rosa contou os membros da equipe. Três homens, Coward e Margot. Cinco. Seis com o lobisomem enjaulado.

— É Nick, não é? Seu filho. – Victorie deu alguns passos para frente, apontando para o garoto no tanque, demonstrando uma coragem admirável.

— Para Eleonore foi Nick. Agora ele é a Cobaia Zero. – respondeu Coward com a voz sem emoção.

— Por que você fez isso com seu próprio filho? – perguntou Victorie indignada.

Coward não saiu de perto do salgueiro. Não parecia sentir nada. Ele olhou para o bizarro Nick, flutuando no líquido dourado. Depois para Victorie.

— Para que ele não tenha uma vida abortada. Para que tenha uma vida completa.

Victorie arqueou as sobrancelhas.

— Do que você está falando? Nick é bruxo.

Coward meneou a cabeça.

— Nicholas, Nick... Vidas abortadas. E vocês têm que morrer agora.

Com um gesto de varinha atiçou os dementadores contra elas.


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Notas finais do capítulo

FIRST:

"Mas Yennefer, como o Cole produziu um patrono?"

Yen diz: da mesma forma que a Umbridge! J.K responde: "Apesar de Harry ser incapaz de conjurar um Patrono enquanto usava o Medalhão, devido à presença maligna de um pedaço da alma de Voldemort, Umbridge conseguiu fazê-lo. Rowling explica que, como Dolores já era maligna antes de usar o Medalhão, o objeto piorou o seu temperamento, o que justifica o fato do Patrono dela ser tão poderoso."

Cole Coward não era mal. Ele não NASCEU mal. Ele nasceu bem influenciável (dá pra perceber na admiração que ele tem pelo Nicholas e depois no que acontece só pq o Nicholas diz pra ele nunca esquecer a frase "é melhor não viver vida nenhuma do que viver uma vida abortada".

Cole simplesmente se tornou uma pessoa deplorável.

—//-

Sobre o capítulo:

YEY! Que medo!
E olha que eles são os personagens bons de briga. No próximo temos briga com os personagens "ruins de briga", o que tá me ferrando

Acho que só faltam no máximo 3 capítulos, mas estou tentando finalizar em mais 2. Veremos.

Como o próximo tem briga + cenário novo (dentro do prédio) + revelações + 3 personagens novos (MARGOT ♥) tem muita coisa pra pensar, não sei se dá pra postar amanhã, mas vou dar meu melhor! Enquanto isso, gritem nos comentários o que estão achando? :)