Aokigahara escrita por Yennefer de V


Capítulo 8
Boca do Inferno


Notas iniciais do capítulo

YEY voltamos com a ação!
E capa nova! Nicholas Coward e Nick II Burke-Coward na capa. Tá legal?

Boa leitura!



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Japão, ilha de Honshu (floresta Aokigahara)

 

Escórpio

 

Rosa parecia sentir que Escórpio precisava dela por perto. Mesmo durante a noite dormiram no sofá da sala, cobertos por mantas quentes.

Escórpio acordou algumas vezes, assustado, como se ainda estivesse sozinho na floresta em forma de lince. Rosa colava o corpo mais ao dele e então Escórpio adormecia novamente.

De manhã, o grupo estava levemente bem-disposto para o padrão expedicionário de Aokigahara.

Com Lys, Henry e Escórpio fora de perigo, descansados e em harmonia, a hora do café foi o momento perfeito que Ted encontrou para uma votação sobre ir ou não até o Centro de Pesquisas Aokigahara.

Boca do Inferno.— corrigiu Lorcan. Henry riu.

Ted meramente revirou os olhos e consertou:

— A Boca do Inferno. Podemos ir embora ou investigarmos até o fim. Meu voto é irmos até o Centro de Pes... Boca do Inferno. – terminou, fazendo uma careta.

Escórpio tinha medo da floresta. Não era arrogante a ponto de não reconhecer suas fraquezas. Ele pensou em votar não. Ele queria ir para casa. Dormir com Rosa em seu apartamento. Acompanhá-la todas as manhãs para o trabalho. Pedi-la em casamento. Encontrar a pequena Grace e Jessica para compartilharem o luto por Clif. Encontrar o pai e falar sobre a mãe. Falar com a avó paterna, Narcisa. Recuperar todo o tempo que perdeu em luto solitário.

Porém, ele votou sim por Clif. Com Rosa apertando sua mão por baixo da mesa, os dois reunidos com o grupo em uma reunião matinal, Escórpio quis continuar para dar respostas a Grace e Jessica.

Para que Clif não tivesse morrido sozinho.

— Nós devíamos fazer um reconhecimento antes. – sugeriu Lorcan, uma ideia que ele já tinha dado.

Ele estava numa cadeira com Molly em seu colo, dormindo enrolada em seu pescoço. Aparentemente, depois de curar seus três pacientes, finalmente Molly relaxou o suficiente para dormir bem.

Ted não foi contra a ideia àquela vez. Todos estavam surpresos e satisfeitos com a repentina parceria entre Ted e Lorcan.

— Como batedores. – Henry comentou.

Os bruxos acharam que ele estava falando de quadribol. Henry viu-se cercado de olhares intrigados.

— Como no exército. São soldados que vão reconhecer uma área, coletar informações sobre o inimigo, fazer reconhecimento de campo...

Henry continuou a ser encarado.

— Esqueçam. – bufou, indignado com a falta de conhecimento militar deles, e pegou uma torrada.

— Você tem um bom argumento. – Lysander considerou. – Nós devíamos checar antes de entrarmos lá para saber o que nos espera.

— Seria a primeira vez que teríamos um plano. – Dominique riu, tomando sua terceira caneca de café.

— É uma boa estratégia. – concordou Ted.

— Era minha ideia desde o começo. – Lorcan irritou-se.

Lys olhou para o gêmeo dando a entender que ele estava sendo infantil. Lorcan cruzou os braços, abraçado ao corpo adormecido de Molly.

— E quem é que vai ser batedor?— Rosa perguntou, estranhando usar a palavra fora do contexto do quadribol.

— Eu. – Lorcan se apressou a dizer. – Lys. Lupin. – listou as pessoas que tinham menos propensão a morrer caso houvesse algo perigoso lá.

— Vocês entenderam que batedores não são os soldados que vão atacar, certo? – Henry os aconselhou.

— Diga o que você tem em mente. – Lysander pediu.

— Como eu já disse, batedores são especialistas em coletar informações, observar, se infiltrar. Para que seja criada uma estratégia de ataque, defesa, cerco ou o que quer que seja.

— E alguém precisa ficar aqui para defender a barraca. Não podemos deixar os outros expostos. – Ted continuou.

— Eu tenho que ir. – Victorie falou. – Eu quem investiguei Coward desde o começo.

Ted quis contra-argumentar. Sua expressão se alterou levemente. Então, como uma vitória para Victorie e para a relação dos dois, ele confiou nela.

— Você vem conosco.

Victorie ficou tão feliz que sorriu.

— Lysander tem que vir também. Ele quem poderá explicar sobre qualquer criatura anormal. – Ted continuou.

Lys assentiu com a cabeça.

— Eu fico. – Lorcan anunciou. – Posso proteger as coisas por aqui.

A cooperação entre eles estava tão harmoniosa que Rosa deu-se conta de que Aokigahara podia ter dois efeitos: afastar as pessoas ou as aproximar. Seus colegas se tornaram amigos.

Eles se entreolharam, a maioria já finalizando a primeira refeição do dia. Pratos com migalhas e canecas vazias jaziam na mesa.

— Henry, você precisa vir também. – convidou Ted. – Foi seu conselho.

Henry, que estava acostumado ao lugar de aborto na sociedade, se sentiu acolhido.

— Vou salvar todos vocês. – riu Henry.

— Eu também vou. – disse Escórpio com firmeza.

Rosa quis impedi-lo. Provavelmente Molly também teria tentado, mas estava dormindo, exausta dos dias de única medibruxa do grupo.

— Você está se recuperando...

— Eu tenho que ver. Tenho que descobrir por Clif. E Oliver, Jack e Zac.

O grupo, embora não admitisse em voz alta, era extremamente zeloso por Escórpio. Principalmente Molly, Rosa e Ted.

Eles sabiam que Escórpio era quem tinha sofrido mais em Aokigahara e seu resgate tinha sido um conforto para todos eles que sentiram na pele o que era sobreviver na floresta.

— É justo. – Lysander aprovou. – E necessário.

— Necessário? – perguntou Victorie.

— Para que ele possa se recuperar completamente das perdas, dos dias assombrados que passou aqui e do luto. – Lys completou como se fosse obvio. Ele era tão certeiro em suas palavras que às vezes atordoava os outros.

Escórpio o agradeceu com o olhar.

— Então... Eu, Vic, Lys, Escórpio e Henry. Melhor nos prepararmos. Para chegarmos lá antes de anoitecer. – finalizou Ted, se levantando.

[...]

Henry

Eles caminharam por duas horas. Henry percebeu que todos eram lentos e sedentários.

Bruxos, pensou Henry rindo internamente.

Conforme eles avançaram durante a tarde, Henry não percebeu o quão sinistra ficou a paisagem próxima da Boca do Inferno. Henry não conseguia ver os fantasmas e ecos.

— Que inferno... – Lysander comentou, repetindo a gíria do irmão, os olhos semicerrados.

Eles pararam atrás de uma raiz de arvore particularmente grande, agachados. Victorie se apoderou do Onióculos. Porém, não era necessário o objeto para enxergar o recorte tenebroso que era a Boca do Inferno de perto.

Era uma construção retangular de dois andares. Era do tamanho de um estádio de quadribol. As paredes eram brancas e gastas. As janelas estavam quebradas. Não havia telhado, o teto era reto. Toda a pintura estava tomada por enormes manchas negras visivelmente consequências de um incêndio. A vegetação verde de Aokigahara crescia em torno do prédio, tornando-a parte da floresta. O portal de entrada, com duas portas, estava aberto, faltando uma das bandas, caída ao chão. Algumas partes da construção estavam quebradas, com seus escombros caídos. As arvores ao redor haviam sido queimadas também. O chão de terra estava remexido e tomado por pegadas humanas e outras irreconhecíveis.

A placa gasta e fincada ao chão anunciava: Centro de Pesquisas Aokigahara.

Ao redor do prédio pairava a maior concentração de fantasmas e ecos que eles já tinham vistos juntos em Aokigahara. Victorie localizou Nicholas Coward com facilidade através de Onióculos.

— Que bizarro. – Henry comentou, vendo apenas o prédio.

— Estou vendo Nicholas. – Victorie informou com as lentes nos olhos. – Não achei Aleto Carrow.

— Me deixe olhar. – pediu Ted.

Victorie passou o objeto para ele. Ted os enfiou nos olhos e observou a procissão de assombrações.

Ficaram quietos por alguns minutos.

— Por Merlin... – Ted comentou assombrado.

— Você a achou? – perguntou Lys.

— Não só ela. Mas... Pelo menos dez prisioneiros que deviam estar vivos e presos em Azkaban.

Ted baixou o Onióculos e os encarou.

[...]

Escórpio

Escórpio já tinha visto o Centro quando estava sozinho na floresta, mas não tão de perto. Seu instinto o manteve próximo dos lugares que os Inomináveis acamparam, por saber que o procurariam no caminho que ele demarcou quando conseguiu contato com Ted pela última vez.

Mas ele já tinha visto a população de fantasmas, ecos e a placa. Só que em nenhum dos dias de sua estadia ele tinha visto os Testrálios.

Eram seis cavalos alados magérrimos, negros, com as peles finas tão coladas aos corpos que seus ossos se sobressaiam. Suas asas negras lembravam asas de morcegos.

Nenhum dos outros pareceram perceber os Testrálios.

Nenhum deles viu amigo nenhum morrer, constatou Escórpio amargamente. 

 Eles estavam próximos da placa a uns cem metros de onde o grupo observava. Pareciam à vontade em Aokigahara, como se vivessem ali.

— Tem um rebanho de Testrálios perto da placa. – Escórpio sussurrou.

— Que d...? – exclamou Dominique.

— Eles podem ser úteis. – Lys opinou, olhando para Escórpio.

Ted concordou.

— O que são Testrálios? – Henry soltou.

[...]

Lysander

Lys sempre estava preparado para lidar com as mais variadas criaturas mágicas. Ele tinha imensa paixão por elas. Só Dominique, Benji, Lorcan e seus pais ganhavam do fascínio que ele sentia pelas criaturas.

— Por que você anda com carne crua na mochila?! – Henry exclamou.

— Porque viemos por nossa conta acampar aqui. Porque trabalho com criaturas de cardápios variados. Porque meu irmão é um lobisomem. – Lys arqueou as sobrancelhas.

— Vocês podem parar com a falação? – pediu Dominique. – Está anoitecendo e temos mais duas horas de caminhada para voltar. Se vão fazer algo, façam logo.

Lys a beliscou no braço de brincadeira pela alfinetada.

— Vocês podem ir. – Ted falou para Escórpio e Lys, percebendo que se fosse também, deixaria Victorie, Dominique e Henry desprotegidos. – Esperamos aqui.

Lys meneou a cabeça.

— Eles só virão conosco com pessoas os montando.

Ted percebeu que todos teriam que ir.

Eles se levantaram e caminharam até a placa, Escórpio indicando o caminho.

Os lamúrios dos fantasmas ficavam mais audíveis. Lys percebeu que o menos apreensivo era Henry. Ele só via o prédio. O mais abalado deles era Escórpio.

Ted reconhecia mais e mais prisioneiros de Azkaban em meio aos fantasmas. Nenhum eco lhe era familiar, apenas Nicholas Coward.

Quando estavam a dez metros dos Testrálios, pela sinalização de Escórpio, a placa cada vez mais próxima, Lys ouviu o som de duas asas batendo no céu acima das copas das arvores de Aokigahara.

Ele achou que fosse um dragão. Olhou para cima, mas não enxergou nada a não ser um borrão enorme, com escamas e asas reptilianas sobrevoando o céu da tarde.

 — Que droga é essa? – perguntou Henry, se assustando pela primeira vez.

— Rápido! – Lysander os apressou. – Precisamos sair daqui!

Mesmo que fosse apenas um dragão, eles teriam entendido a mensagem.

Lys passou um pedaço de carne crua para Escórpio, que jogou às patas de um Testrálio invisível aos outros. Com urgência, ele sinalizou a localização de cada um dos seis cavalos alados para os companheiros.

Henry precisou da ajuda de Lys para montar, olhando para o céu, observando o borrão reptiliano aparecer e desaparecer entre as folhas do alto.

Que droga é essa?! – perguntou Henry, montado numa criatura invisível e ouvindo o som da besta lá em cima, uma espécie de cacarejo rouco e furioso.

Ted já estava montado. Escórpio conseguiu mais facilmente. Lys ajudou Dominique em sua montaria e desajeitadamente subiu na própria.

— Voem baixo. VOEM BAIXO! – alertou Lys. – Para o acampamento a dez quilômetros, sudoeste. – indicou para o Testrálio.

Os outros o imitaram. Henry pareceu atordoado em falar com um animal que não via. Continuava com a atenção no céu. O barulho que a fera voadora fazia arrepiava sua pele.

Ele entendeu o horror que era Aokigahara.

O rebanho de Testrálios abriu as asas (embora só Escórpio tenha visto) e foi na direção que Lys indicou. Espertos, evitaram a fera que sobrevoava Aokigahara, voando tão perto do chão que se Lys pulasse da montaria ainda sobreviveria.

Os Testrálios voaram entre as arvores, fazendo curvas perigosas para o grupo se segurar. Henry segurava a crina do cavalo alado com tanta força que teve medo que ele o jogasse ao chão, irritado.

De repente, Lys se desviou deles. Fez o Testrálio subir um pouco, retornando à Boca do Inferno.

— LYS! O QUE VOCÊ...? – Dominique tentou perguntar, mas ele já tinha sumido.

Lys queria ter certeza do que era aquilo. Não era um dragão. Ele voltou à Boca e voou por cima do prédio, as patas do cavalo alado quase raspando na construção. Ali não havia arvores. Ele estava totalmente vulnerável à visão da fera que sobrevoava acima.

Prestando atenção ao caminho, quando chegou ao final do prédio, Lys teve outro choque.

Um animal parecido com um rinoceronte, de pele grossa e cinza escura, com um chifre de osso pontudo e uma cauda parecida com uma corda estava parado no terreno atrás do prédio, visivelmente à vontade.

Lys se recuperou da visão rapidamente porque estava exposto. Tinha que ver a fera voadora.

Ele incentivou seu Testrálio a subir mais um pouco, mesmo que a criatura estivesse protestando por puro instinto.

Então a viu.

Acima das arvores de Aokigahara, a fera deu um rasante para baixo, contra um grupo de Barretes Vermelhos que corriam em fuga de seu predador.

O monstro tinha o tamanho de um dragão. Seu corpo tinha escamas reptilianas como as asas. A cabeça era de galinha e as patas também, com três dedos cada. Mas a longa cauda era parecida com um chicote que se afinava ao chegar à ponta, tão comprida quanto seu corpo.

Lys não perdeu mais tempo. Voltou sua montaria para baixo das arvores enquanto a fera estava ocupada investindo contra os Barretes e se colocou a caminho do acampamento, suando frio.

[...]

Dominique

— QUANTAS VEZES VOCÊ VAI TENTAR MORRER? – gritou Dominique enquanto Lys descia de sua montaria invisível.

Molly se adiantou até o Testrálio de Lys para junta-lo aos outros. Como era medibruxa, já tinha acompanhado a morte de alguns pacientes. Lorcan também os viu, já que tinha assassinado o lobisomem que o contaminou.

Lys estava tremendo e respirando com dificuldade. Ele colocou as mãos nos joelhos. Dominique percebeu que havia algo de errado. Lys nunca perdia o controle.

— Não podemos voltar lá. Não dá.

Ted, Henry, Lorcan, Dominique, Rosa e Victorie se juntaram em torno dele.

Escórpio e Molly estavam acomodando os Testrálios na parte de trás da barraca, alimentando-os e construindo um pequeno cercado com feitiços de proteção também (que Ted e Lys teriam que reforçar depois).

Lorcan ajudou o irmão a se erguer novamente.

— O que tem lá?

— Uma Cocatrice. E se eu não me engano, um Erumpente atrás do prédio.

Os olhos de Ted e Lorcan se abriram em pavor.

O Erumpente e a Cocatrice eram duas das criaturas mágicas mais perigosas do mundo.

 [...]

Lorcan

 

Rosa tinha feito o almoço, mas eles comeram pouco. Estavam apreensivos. Lorcan podia perceber Lysander fora do ar, com a cabeça longe dali.

Dominique e Lorcan dividiram uma garrafa de Uísque de Fogo. Ted aceitou um pouco também.

Estavam em torno da mesa novamente.

— O que tem de tão perigoso nessa Cocatrice?  – Victorie começou a perguntar. – É como um dragão?

Henry, que não conhecia nada de criaturas mágicas, mas que tinha ouvido o som das asas gigantes batendo e do cacarejar arrepiante, retrucou:

— Por Deus Victorie, você estava lá!

— Eu só quero dizer que nosso tio Carlinhos domina dragões com outros nove bruxos na Romênia. Não é impossível.

Lys olhou friamente para ela.

— Uma Cocatrice petrifica as vitimas com o olhar. Sua respiração é tão quente que queima tudo ao redor.

— Sem jorros de fogo?

Lys revirou os olhos.

— É uma mistura de dragão, basilisco e galo. Sem contar o suposto Erumpente cujo chifre explode ao menor toque. Não podemos voltar.— repetiu Lys.

Eles ficaram em silencio por um tempo. O animo da manhã tinha se esvaído do grupo.

— Nós podemos fazer isso. – Lorcan falou agressivamente.

— Lorcan... – começou Lys.

— Estou falando sério. Precisamos entrar naquele lugar. Nos arrastamos para esse fim de mundo para ir até o fim.

— Você está agindo como um trouxa suicida. – rebateu Lysander.

Dominique percebeu que a tensão entre os dois podia ficar séria demais para ser apartada mais tarde.

— Parem. Chega de amor fraternal. Vamos lidar com os fatos.

Lys e Lorcan evitaram se encarar a contragosto. Ted aproveitou a brecha.

— Não é só Aleto Carrow que está aqui como fantasma. Reconheci mais prisioneiros de Azkaban. Fenrir Greyback. Jan Scarbior. – Ted lembrou-lhes.

— O que eles estão fazendo aqui? – perguntou Rosa, sabendo que não ia obter uma resposta.

— Podemos ir embora agora com mais facilidade. Os Testrálios. – Lys os instigou.

— E Clif? Oliver, Jack e Zac? Não merecem uma resposta? E os inmágicos atraídos para cá por Hinkypunks? Seu amigo quase morreu, Scamander. – Escórpio argumentou de forma agressiva, olhando de Henry para Lys, surpreendendo a todos.

Victorie, Rosa, Henry, Molly, Dominique e Ted não pareciam ter uma opinião formada sobre o que fazer.

Ficaram mais uma vez em silencio. Os dedos de Lorcan batiam na viga de madeira do portal da cozinha inquietantemente. Eles evitavam se encarar. Era uma decisão difícil. Era como se Aokigahara os estivesse desafiando a escolher o suicídio ou a vida. A floresta ia escurecendo com a chegada da noite.

— Ted. – pediu Lys para o líder deles. – É muito perigoso. Os Inferi já foram suficiente.

Ted encarou Lys com culpa. Ele tinha quase morrido os salvando dos Inferi. Ele conhecia o perigo da Cocatrice mais que qualquer um ali.

— Você não consegue pensar em um único modo de enfrentar aquela coisa? – tentou Ted.

Ele queria ir até o fim. Lorcan estava certo. Ele tinha começado e queria terminar. Porém, não podia obrigar os amigos a ir com ele. Naquele momento não era um líder, era um membro de uma expedição que só funcionava se estivessem todos juntos.

Lys olhou para Henry. O amigo estaria morto se eles não estivessem em expedição no mesmo lugar em que ele subiu na arvore. Olhou para Escórpio, que perdeu todos os amigos na floresta, um seguido do outro.

— Vou tentar. – Lys respondeu secamente e se retirou para um dos quartos. Dominique o seguiu sem hesitar.

Os dois trancaram a porta.

Ted encarou o grupo, todos com olhares de dúvida ou apreensão (menos Escórpio e Lorcan que estavam determinados a continuar).

— Sugiro que todos pensem a respeito. – Ted finalizou, cansado.

Depois se retirou para a cozinha.

[...]

Molly

Eles não se reuniram para jantar. Pela presença tão próxima da Cocatrice no acampamento Lys sensatamente se recusou a iluminar o céu com sua bola de luz. Eles improvisaram uma proteção contra os Hinkypunks com muito Pó Escurecedor Instantâneo do Peru ao redor da barraca. Assim, era impossível enxergar as tochas vermelhas e também os camuflava.

A barraca ficou pequena para as nove pessoas. Todos estavam confusos e divididos, sem conseguir se comunicar. A maioria beliscou sobras do almoço ou qualquer petisco de suas mochilas e ficaram pensativos, trocando sussurros entre si.

Molly e Lorcan se trancaram em um quarto.

— O que isso quer dizer? – perguntou Lorcan, de pé no corredor estreito.

Molly, sentada na beirada da cama, olhou em seus olhos.

— Que isso foi longe demais.

— Molly. – implorou Lorcan.

— Nós temos uma filha, Lorc. Não quero que ela cresça sabendo que seus pais morreram numa floresta conhecida por seus suicídios.

— E o que você vai fazer? – Lorcan perguntou, sentindo vontade de pegar o Uísque de Fogo deixado na mesa lá fora.

— Você tem noção da loucura que querem fazer?

Lorcan olhou para o chão. Não estava surpreso. Molly não era ele. Ela calculava os riscos. Não era impulsiva. Ele a puxou pela mão, obrigando-a a ficar de pé.

— Eu sei. No entanto, se eu quase morrer novamente, quem irá me salvar?

— Você é um imbecil, Lorcan Scamander. Um imbecil.

 [...]

Rosa

Rosa nunca tinha visto Escórpio determinado daquela maneira. Era uma determinação tão obsessiva que parecia doentia.

Eles estavam na sala, no sofá. Havia um pequeno vão entre os dois e pela primeira vez o silencio era incomodo.

— O que você está pensando? – perguntou Escórpio de maneira aflita.

— Em quantos bruxos morreram aqui. E inmágicos. No que você passou. Em Clif. Em Henry e Lysander.

Escórpio levantou do sofá e ficou de frente para ela. Encostou a testa na dela, seus olhos azuis mirando-a com melancolia.

— É muita coisa para se pensar de uma vez.

Rosa se aproximou levemente dos lábios dele e o beijou. Depois afastou a cabeça. Ele continuou em pé à frente dela.

— Não quero deixar o culpado sair impune e nem continuando a fazer isso. Mas estou com tanto medo. – a voz de Rosa fraquejou.

— Você não está com medo sozinha. – Escórpio respondeu.

[...]

Lysander

 

— Chega Dominique. – Lys extravasou sua tensão na namorada, pegando a garrafa de Uísque de Fogo da mão dela.

Dominique não retrucou. Aokigahara não era um lugar para começar brigas superficiais.

Ela estava sentada no balcão da pia da cozinha. Lys estava andando de um lado para o outro, enquanto Henry estava de braços cruzados, apoiado em uma das vigas em que a lona era amarrada.

— Ei. – Henry parou o movimento repetitivo de Lysander colocando a mão em seu ombro. – Se acalme.

Lys apoiou o corpo contra o balcão ao lado de Dominique, que estava sentada acima dele.

— Tem algum jeito? Mesmo que seja uma ideia maluca? – perguntou Henry.

— Algumas. – respondeu Lys, tomando o uísque do gargalo, aflito. Colocou a garrafa no balcão.

— E por que você está tão nervoso? – perguntou Henry.

— Eu quase morri. Por causa de um exército de Inferi. Você quase morreu. Nós somos apenas humanos. E o Ben... Estamos com ele há apenas um ano...

Dominique pulou do balcão e abraçou Lys. Ele fechou os olhos, imaginando que estavam em seu apartamento, sozinhos.

— Conte alguma de suas ideias. Vamos tentar juntos. Você não precisa salvar todos nós.

— O que você quer fazer? – perguntou Lys, apertando-a contra si.

— Vou te seguir em sua decisão.

Lys ficou mais tenso ainda.

— Vou começar com a mais sensata. – Lys anunciou. Dominique o soltou aos poucos.

Lys começou a contar algumas de suas ideias mirabolantes contra as criaturas mágicas mais perigosas do mundo.

[...]

Ted

— Você sabe que eu não quero que você fique. – Ted falou, observando a escuridão causada pelo Pó Escurecedor Instantâneo do Peru fora da barraca.

Victorie estava sentada à sua frente, ele a abraçando por trás.

A escuridão em Aokigahara estava pior àquela noite pela falta da luz de Lys e pelo pó. A proximidade com a Boca do Inferno não melhorava em nada o clima. Os gemidos dos fantasmas eram mais audíveis, finalmente acabando com o silencio da floresta. Ted podia jurar que escutava as asas da Cocatrice batendo ao longe, ou podia ser só sua imaginação. Os Testrálios na parte de trás do acampamento também estavam agitados, mastigando carne, remexendo as asas e pisando no chão de terra.

— Achei que você tinha entendido que a escolha sempre será só minha. – Victorie retrucou.

Ted passou as mãos pelos cabelos quase esbranquiçados dela.

— Eu entendi. É por isso que não vou te dizer o que fazer.

Victorie não sabia o que fazer, na verdade, mas não respondeu nada a ele.

— O que você vai fazer?

— Aqui é onde tudo termina Vic. Eu vou ficar.


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Notas finais do capítulo

Notasssss.

[+] O sequestrador Scabior (que no filme RdM sente o perfume da Mione através dos feitiços de proteção e é o primeiro a correr para Hogwarts na batalha final, em direção à ponte que o Neville explode) não tem primeiro nome (pelo menos não achei). Dei o nome de Jan porque é o nome do homem cujo crime inspirou a Síndrome de Estocolmo (em que as vitimas se apegam aos sequestradores e tals).

[+] Capa nova ou velha? Eu gosto do Nicholas na capa! Afinal, ele quem deu inicio a tudo. E Nick II já vem no próximo capítulo.

ALIÁS O PRÓXIMO CAPÍTULO T_T tem luta, gente voando, gente caindo, explosão Ç.Ç ♥