Aokigahara escrita por Yennefer de V


Capítulo 7
Ninguém morre sozinho


Notas iniciais do capítulo

Voltamos à programação normal. Pedi pro Luc dar uma olhada no capitulo anterior e ele disse que está com uns errinhos. É porque eu betei doente, como betei esse aqui também. Vou dar uma revisada melhor quando estiver ok. Então, se acharem algo estranho, gritem no comentário, por favor!



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Japão, ilha de Honshu (floresta Aokigahara)

 

Lorcan

Eles estavam correndo. Victorie era lenta demais, então Lorcan estava praticamente a arrastando pela mão suada.

Lorcan teria enfrentado os Barretes Vermelhos, mas eram muitos e não estava sozinho.  Eram pelo menos dez demônios de um metro cada, com aparência de anões assassinos. Eles gostavam de assassinar viajantes para tomar sangue.

Tinham barba e cabelos lisos brancos, botas de ferro e peles grossas como couro, e as mãos tinham garras afiadas nos dedos pequenos. Usavam lenços amarrados às cabeças.

Victorie tropeçou. Lorcan aparou sua queda com os braços, praguejando.

Expulso! — mirou em duas criaturas que começaram a arranhar Victorie. Os Barretes voaram para trás. Victorie gritou. Lorcan a levantou agressivamente e a puxou pela mão. Ela estava chorando.

Lorcan virou o corpo mais uma vez, uma mão arrastando Victorie e a outra na varinha.

Immobillus!— atacou mesmo correndo e três Barretes se imobilizaram.

Estavam chegando à barraca. Não tinham ido tão longe e Lorcan havia marcado o caminho com um pequeno fio de luz esverdeado na altura de sua canela. Era só seguir o rastro de volta.

Trombaram com Ted e Dominique.

— VIC! – Ted berrou e viu os Barretes. - Alarte Ascendare!

ESTUPEFAÇA! — gritou Dominique ao seu lado.

Três demônios foram lançados ao ar. Outro foi estuporado. Ted aproveitou a bagunça para apoiar Victorie nele, que estava com a perna sangrando.

— Barraca! – praguejou.

Lorcan tinha outros planos. Sem Victorie em sua guarda, ele se virou para os Barretes.

BOMBARDA MAXIMA!

O ar ao redor dos demônios explodiu. A terra ganhou uma cratera do tamanho de uma escrivaninha e profundidade de dois metros. Os anões foram lançados para cima com a força. Alguns caíram mortos no chão. Os outros fugiram.

COFINGRO! — Lorcan ainda atacou um deles em sua fuga, furioso.

Ele teria perseguido os Barretes não fosse Dominique o puxar pelo ombro.

— Já foram! Acabou Lorc. CHEGA!

Lorcan se desvencilhou dela e deu passos enfurecidos até a barraca.

[...]

Rosa

Rosa acordou com a barulheira dos quatro entrando na barraca.  O relógio na sala marcava quatro horas da tarde. Ninguém tinha almoçado.

No que vocês estavam pensando? — a voz de Ted grunhiu. – Qual a parte de ficarmos juntos vocês não entenderam? – perguntou para pessoas que Rosa não identificou do sofá. Estavam fora de seu campo de visão.

Ted não obteve resposta.

Passos irritados entraram em um quarto e a pessoa bateu a porta com força. Rosa reconheceu os passos de Lorcan.

— E ele ainda age como se fosse uma criança! – Ted bradou.

Rosa ajeitou os cabelos rapidamente e saiu da sala. Encontrou Victorie sentada numa das cadeiras, com uma perna esticada para Molly que passava uma pasta em alguns ferimentos já limpos de sangue. Victorie tinha marcas de lágrimas nos olhos.

Henry, o inmágico, estava acordado e apoiado com a cabeça na mesa, observando o conflito.

Ted andava de um lado para o outro. Dominique desapareceu no quarto de Lys, não querendo participar da discussão. 

E tudo que vocês me deixam é um bilhete?! — continuou Ted, jogando um pedaço de pergaminho no chão.

Victorie não respondeu.

Rosa andou de fininho até o papel e o pegou.

 

Ted,

Eu e Lorcan fomos tentar nos comunicar com Nicholas Coward. O caminho está marcado em verde no chão.

Victorie

 

Lys, Henry e Escórpio quase morreram lá fora, Victorie. Como você foi ser tão irresponsável?! — Ted parecia tentado a berrar o resto do dia.

Victorie tornou a chorar, apoiando a perna ferida e enfaixada no chão. Molly se levantou para enfrentar Ted. Rosa se antecipou.

— Ei! A floresta adora quando nós brigamos e não ficamos unidos. Cooperação. União. – argumentou Rosa. – Precisamos uns dos outros.

Ted lançou um olhar zangado para Victorie, mas relaxou a expressão.

— Você está ok? – perguntou para ela.

Victorie balançou a cabeça afirmativamente, ainda chorando.

Ted a puxou pela mão e a abraçou de leve.

— Não faça mais isso. Isso aqui não é lugar de se meter em confusão, Vic.

Victorie fungou no peito dele, mas não falou nada. Ted sabia que ela não estava arrependida.

Henry, que tinha saído no meio da discussão, voltou trazendo um prato cheio de waffles amanhecidos e o colocou na mesa.

— Por que a confusão toda afinal? - perguntou.

Ted se lembrou que Victorie tinha ido atrás de Nicholas Coward. Ele a afastou levemente de seu peito e perguntou:

— Vocês descobriram algo?

— Nós descobrimos. – Lorcan respondeu, saindo do quarto.

[...]

Lorcan

Mais uma vez eles se reuniram em torno da mesa. Rosa ajudou Escórpio a se juntar ao grupo, levando uma das poltronas até ele, fazendo-o se sentar. Ela ficou no braço da poltrona.

Molly, Henry e Dominique estavam sentados nas cadeiras em torno da mesa. Ted estava muito inquieto para se sentar. Lorcan percebeu que ele fazia esforço para não berrar. Victorie estava apoiada em seu ombro, mesmo com uma das pernas recém curada dos arranhões.

Lorcan estava bebendo o Rum de Groselha de Dominique, já que não conseguiu achar nenhuma garrafa em sua mochila, irritado como estava.

Lorcan sentiu falta de Lys na reunião. Os waffles que Henry tinha colocado na mesa já tinham evaporado. Lorcan percebeu que havia sido um dia tão agitado que se esqueceram de comer.

— Então... O que vocês descobriram com sua aventura? – Ted perguntou, ganhando olhares feios de Rosa e Molly. – Conseguiram falar com Nicholas Coward? Ele se matou aqui, certo?

Lorcan nem se interessou em perguntar como ele sabia.

— Sim. – a voz de Victorie fraquejava. – Mas era um aborto. Virou eco.

— E vocês foram tentar mesmo assim? – Ted se irritou.

Rosa levantou do braço da poltrona, tentada a frear o conflito.

— Desculpe. – pediu Ted. – Não vou mais interromper.

— Que bom. Podemos parar de enrolar com sua proteção excessiva. – Lorcan rebateu.

Ted fez um enorme esforço para não socar a cara de Lorcan.

— Não tínhamos certeza de que era um eco. – Victorie começou a falar depressa. – Eu quis tentar.

Lorcan aproveitou a brecha, desatando a falar, para que a dramaticidade de Ted acabasse. Queria comer. Queria dormir. Queria os braços de Molly.

— Encontramos o corpo de uma mulher morta há menos de um dia. E um Tengu perto dela que eu abati. Ela estava segurando esse frasco na mão. – Lorcan estendeu para Henry, porque era remédio de trouxas. – E havia duas garrafas, uma de vodca e outra de tequila, ambas vazias.

— Rivotril. – examinou Henry. – É um tipo de calmante sedativo.

— Ela se matou. – continuou Lorcan. – Durante a madrugada com certeza. Aokigahara não tinha mais corpos perdidos de suicidas trouxas há um tempo.

— Como...? – começou Ted.

— Eles foram transformados em Inferi e nos atacaram ontem à noite. Alguém os colecionou e os reanimou antes de chegarmos aqui. – explicou Lorcan. – Essa mulher chegou depois em companhia de um Tengu. Como Henry.

— Achamos que ela era um aborto. – Victorie completou. – É a única explicação que faz sentido.

Lorcan trocou um olhar de cumplicidade com ela.

— Depois fomos procurar o eco. Estava no meio das assombrações. Não falou conosco, nem quando mencionamos o irmão. Simplesmente flutuou por ai. Então Victorie pegou o Onióculos para ver mais de perto um prédio. Um lugar abandonado que tem pra lá. – Lorcan apontou a direção.

— Tem uma placa na frente, como se fosse uma instalação. – comentou Victorie. – Diz “Centro de Pesquisas Aokigahara”.

— Fachada. – completou Escórpio com a voz fraca.

— Concordo. – falou Lorcan. – Está toda destruída. Foi queimada. Há mais fantasmas e ecos por perto. Há Barretes Vermelhos, que gostam de ficar onde tem numerosos corpos vitimas de tragédia por causa do sangue.

— Foi quando vocês foram atacados? – perguntou Ted.

Lorcan o ignorou.

— Eu reconheci uma fantasma. Não lembro o nome. Tinha um gêmeo quando era viva. Foram professores de Hogwarts quando Voldemort estava no poder. Minha mãe gostava de contar a história para que ficasse em nossas memórias e os erros da humanidade não se repetissem, pelo menos é o que ela dizia.

— Carrow. – Escórpio falou. – Aleto Carrow.

— Mas... – começou Ted. – Ela está em Azkaban com o irmão.

— Ela estava em Azkaban com o irmão. Agora ela está morta em Aokigahara. – corrigiu-o Lorcan.

[...]

Dominique

Ninguém tinha chegado a um consenso sobre o que fazer a seguir, mas a prioridade era que Lys e Escórpio melhorassem, fosse para investigar o Centro de Pesquisas Aokigahara (ou “Boca do Inferno”, como Lorcan passou a chamar o lugar) ou saírem de vez da floresta.

Eles entraram em uma espécie de rotina bizarra. Conseguiram ao menos descansar e comer direito, o que não tinha acontecido até então.

Victorie e Ted conseguiram fazer as pazes aos poucos. Ted ainda não falava direito com Lorcan, apesar da interação forçada.

Escórpio começou a se mover com eficiência e falar. Rosa era sua “medibruxa” particular. Molly e Lorcan se trancavam no quarto o tempo todo, o lobisomem cada vez mais sombrio pelo enclausuramento forçado.

Os dias acabaram aproximando Dominique e Henry pela preocupação com Lys.

Eles sofreram mais alguns ataques de criaturas das trevas durante o período. De duas mortalhas-vivas numa madrugada, que foram combatidas por patronos de Ted. O treinamento como auror o tinha preparado para se defender com patronos mesmo emocionalmente fragilizado.

Alguns Barretes Vermelhos bateram na proteção invisível num entardecer e Lorcan os explodiu com Ted. Isso gerou cumplicidade entre eles, não o suficiente para voltarem a se falar.

Um Tengu solitário também foi morto por Ted ainda em forma de corvo. Todos os dias Ted e Lorcan reforçavam os feitiços de proteção em volta da barraca. À noite Molly criava uma bola de luz no céu, não tão luminosa quanto a de Lys, mas boa o suficiente para manter os Hinkypunks longe e iluminá-los dentro da barraca. Ted também verificava se havia alguma criatura invisível dentro do ambiente pelo menos três vezes por dia.

Lorcan queria ir à Boca do Inferno averiguar o local mais de perto, mas Ted foi contra. Discutiram outra vez.

Lys acordou lá pelo quinto dia da vigília deles. Dominique estava enroscada nele na cama de solteiro, adormecida, ambos cobertos com uma manta. Já havia amanhecido.

— Oi. – chamou a voz rouca e estranha de Lys pela falta de uso. – Achei que ia morrer.

Dominique abriu os olhos de uma vez. Ela apertou o corpo dele contra o dela de forma brusca.

— Você se despediu de mim! Você se despediu de mim!

Lysander ainda estava de olhos fechados, fazendo caretas feias para cada movimento que dava, já que tinha ficado um bom tempo parado.

— Se lembro bem eu disse “eu te amo” e “sinto muito”.

— Em tom de despedida. – brigou Dominique.

— Não faço isso. Sou claro e direto. Eu não sabia se ia controlar o fogomaldito.

— Só um presunçoso igual você usaria um feitiço das trevas sem certeza de que ia dar certo! – Dominique surtou.

Lys a apertou bem forte, o mais forte que conseguiu com os braços fracos.

— Henry acordou. – ela o avisou, sabendo da preocupação de Lys com o amigo.

— Eu também. – Lys sorriu. Estava se sentindo enfraquecido por ter sido alimentado por poções tantos dias seguidos, mas Lys não era de reclamar. – O que mais aconteceu?

Dominique ouvia a barulheira na cozinha feita por Victorie, Ted e Henry preparando o café da manhã.  Rosa e Escórpio estavam conversando fora da barraca. Molly e Lorcan discutiam alguma coisa na sala. Ela trancou a porta com um feitiço para aproveitar Lys sozinha por um tempo.

[...]

Escórpio

Rosa estava tomando café. Não era o capuccino que Escórpio sabia que ela tanto gostava, mas a vida em Aokigahara era assim. Era necessário aproveitar cada resquício de normalidade, como o sabor de um café.

Escórpio já conseguia se mover normalmente. Ele não achou que conseguiria participar de uma batalha, mas estava melhorando aos poucos. Já conseguia falar, comer, ajudar o grupo com as tarefas e o principal, deitar a cabeça no colo de Rosa.

Não que ele estivesse muito comunicativo. Ele nunca fora. A estadia na floresta só piorou a situação. A morte de Clif, que era um amigo muito próximo, também não ajudou.

Seus cabelos loiros estavam com falhas, jogados nas pernas de Rosa. Eles ficaram em silencio por um tempo. Escórpio gostava de compartilhar seu silencio com Rosa e ela não se importava. Era uma maneira doce de demonstrar o quanto apreciavam a companhia um do outro.

— Sua expedição descobriu algo? – Rosa quebrou o silencio, pousando a caneca vazia no chão de terra. – Com a pesquisa.

A pesquisa... Era uma ideia tão vaga e distante agora para Escórpio. Uma realidade fora de foco. Como se tivesse sido um pesadelo realista demais.

— A Morte é solitária. – respondeu Escórpio, mas se referindo ao amigo Clif, que ele só reencontrou depois de morto. – Nós morremos sozinhos, como nascemos. Eu não estive lá por ele. Nem pela minha mãe.

O luto de Escórpio parecia permanente em sua vida. Ele nunca retornou do túnel frio no qual se escondeu depois da morte de Astoria.

Rosa juntou um punhado de cabelos loiros dele com uma mão.

— Olhe. – ela apontou para uma arvore difícil de enxergar lá na frente.

Escórpio teve que levantar para ver o que ela estava apontando. Havia um arranjo de flores aos pés da arvore. Também havia algumas revistas coloridas, com desenhos. Não pareciam estar lá há muito tempo.

— Os trouxas deixam presentes aqui para os parentes que morreram. – Escórpio deu de ombros, voltando a cabeça às pernas dela.

— Isso. Ninguém morre sozinho. Sempre tem alguém conosco. Clif estava com Grace, Jessica e você. Sua mãe estava com você, seu pai, os pais dela e Dafne. Somos seres sociais. Não sobrevivemos sozinhos. Ninguém morre sozinho.

Escórpio adorava quando Rosa tinha razão porque seu coração se acalmava.

[...]

Lysander

A primeira coisa que Lys fez depois de sair do quarto foi abraçar Henry.

O grupo ficou aliviado e animado em tê-lo de volta depois de tantos dias. Lorcan deu um soco em seu ombro, insultando-o pelo feito estúpido. Depois o abraçou também.

Lysander estava ansioso por notícias. Queria ouvir todos ao mesmo tempo. Depois do café da manhã (se sentindo mais forte com o estomago cheio) foi para a sala com Henry, Lorcan e uma recente grudenta Dominique, ainda não recuperada de sua quase morte.

Henry narrou sua estranha aventura até Aokigahara. Lorcan o detalhou com as informações sobre Cole Coward e o Centro de Pesquisas de Aokigahara (já popularmente conhecida como Boca do Inferno). Também contou sobre o corpo da mulher morta por overdose de remédios e o fantasma de Aleto Carrow (que devia estar presa em Azkaban) assombrando a floresta.

Lysander acompanhou tudo sem fazer perguntas. Aos poucos a sala foi se enchendo de gente, conforme a voz de Lorcan narrava os acontecimentos.

Rosa e Escórpio se espremeram em uma poltrona, Rosa tomando café. Dominique, Lys e Henry já estavam sentados no sofá de dois lugares (Dominique enroscada em Lys).  Lorcan estava num tapete no chão e Molly se juntou ao namorado. Lorcan deitou com a cabeça nas pernas dela. Ted levou duas cadeiras para o cômodo e ele e Victorie se acomodaram, ela com todo seu dossiê Coward. Ted ficou com a mão pousada em sua perna, ambos se reaproximando depois da briga pela investigação irresponsável de Victorie.

— O que eu achei estranho foi a rapidez com que cheguei aqui. – Henry comentou no meio do assunto. - Pela minha conversa com a Molly e um cálculo bem ruim de cabeça entre os fusos horários de Londres e Tóquio, foi praticamente no dia seguinte. Isso é ridículo, considerando que apenas dois vôos com uma conexão demorariam no mínimo vintes horas.

— Vôos? – perguntou Escórpio.

Henry se deparou com vários olhares de bruxos confusos.

— Aviões. Voam pelo céu levando gente dentro. – explicou, como se eles fossem idiotas, rindo.

Lysander e Dominique reprimiram uma risada.

Ninguém havia pensado nisso. Estavam acostumados à locomoção rápida. Nem Lorcan ou Rosa que entendiam de trouxas se deram conta. Eles nunca haviam utilizado aviões.

Lysander revirou os olhos como se ninguém se lembrasse do que ele ensinava (o que era difícil porque Lys tinha uma memória absurdamente boa).

— Você disse que a luz te chamou para Tóquio? – perguntou Lys.

— Sim. Comecei a recordar aos poucos depois do feitiço horripilante do Ted. – Henry suspirou. – A luz me guiaria até Tóquio, o corvo seria o transporte e a floresta o destino, o fim e outra porção de loucuras.

— E havia um Tengu com você. – Lys repassou. – A mesma criatura que eu avisei que era capaz de aparatar. Ela te levou de Londres a Tóquio, sem conseguir aparatar direto para Aokigahara. De Tóquio não é difícil chegar até aqui.

— Eu desconfiei de um Hinkypunk com um Tengu. – confirmou Ted.

— E havia um Tengu com a mulher também. – lembrou Victorie.

— O que é isso? – perguntou Molly, irritada com a falta de lógica. – Uma conspiração de criaturas para atrair inmágicos para a morte?

— É o que parece. – Ted confirmou.

— Essas criaturas não estão agindo normalmente nem estão em seus territórios naturais como Lys já tinha constatado. – Lorcan comentou preguiçosamente lá das pernas de Molly.

Lysander revirou os olhos por ter que explicar.

— Acromântulas vivem em climas tropicais, mais precisamente na Indonésia, e existe uma colônia delas na Escócia, na Floresta Proibida de Hogwarts porque um professor quis uma como bicho de estimação. Os dragões são criaturas aladas, provindas de várias partes do mundo, nascidas para o céu, mas há espécies como o Barriga-de-Ferro Ucraniano no subsolo de Londres, servindo de guarda para cofres no Gringrotes. – Lysander começou o discurso em tom frio. – O que eu quero dizer, resumidamente, é que as criaturas se adaptam pela sobrevivência. Elas são forçadas pelos bruxos que, egoístamente, os dobram às suas vontades.

— Como sempre tentaram fazer com os seres racionais. – comentou Rosa, cansada. – Sereianos, centauros... Como se fossem os donos do mundo.

Rosa percebeu que bruxos e trouxas não eram tão diferentes assim. Bruxos só tinham mais poderes e outros meios de exercerem sua falsa superioridade.

— Você está dizendo que há bruxos por trás disso? – perguntou Henry.

Lys os observou como se já estivesse claro.

— Um bruxo ou mais com experiência e conhecimento em criaturas mágicas o suficiente para domesticá-las. Ou escravizá-las, é o modo que gosto de pensar.

— Cole Coward. – responderam Victorie e Ted ao mesmo tempo.

— Obrigado. – Lys finalizou.

[...]

Ted

Todo o treinamento de Ted como auror gritava que era o momento de pedir reforços para enfrentar decentemente as criaturas das trevas, o Ministro da Magia interino e o mistério da Boca do Inferno.

Era hora de voltar. De avisar ao Ministério e se prepararem melhor para a investida contra a Boca. De investigar Cole Coward e afastá-lo do cargo.

Escórpio estava salvo. Eles desvendaram alguns segredos e Victorie tinha todas as provas registradas.

Por que ele estava hesitando?

Lorcan entrou no quarto em que Ted estava devaneando, visivelmente contrariado.

Ted se levantou da cama por impulso. Eles ficaram se encarando no estreito corredor entre a cama e a cômoda.

Lorcan estalou as costas.

— Olhe, eu não queria estar aqui. Mas Rosa e Molly estão no meu pé para que a gente pare de brigar antes de tomar uma decisão sobre o que fazer. Então vamos conversar, dar as mãos e tudo estará resolvido.

Ted já tinha pensando nisso. Lorcan não tinha obrigado Victorie a ir para a floresta com ele. Foi o contrário. Victorie decidiu por conta própria e pediu a ajuda de Lorcan. Sem Lorcan, Victorie teria morrido nas mãos do Tengu ou dos Barretes Vermelhos.

Ted estendeu a mão para Lorcan.

— Obrigado por tê-la acompanhado.

Lorcan apertou a mão de Ted com força. Depois virou o corpo para sair.

— Estou pensando em irmos embora. – falou Ted para as costas de Lorcan repentinamente. – Mas estou hesitante e não entendo o motivo.

Lorcan virou-se para ele, um sorriso cúmplice no rosto.

— Porque é sua expedição. Porque atacaram pessoas que você ama. Porque você conseguiu respostas.

— Está dizendo que virou pessoal? – perguntou Ted, encarando-o seriamente. – Era assim que você enfrentava as criaturas das trevas quando era caçador de recompensas? Tratando cada uma como problema pessoal?

Lorcan meneou a cabeça.

— Estou dizendo que... Cada vez que eu aceitava um trabalho eu ia até o fim dele. Em Carcassona, na França, fui contratado por alguns trabalhadores de uma vinícola para dar cabo de um lobisomem. Só que o lobo já tinha mordido uma jovem. Eu quis resgatá-la, sabendo que ela estava contaminada. Dupliquei o valor da recompensa por isso.

— Você conseguiu?

— Eu quase perdi o braço da varinha. – lembrou-se Lorcan. – E fui contaminado. Perdi tanto sangue que quase morri. Meu amigo me salvou e me levou até Molly. Mas consegui. Matei o lobisomem e salvei a trouxa.

Ted esperou que ele concluísse o raciocínio.

— Isso é o que a gente sente quando ama o que faz. É necessário terminar, não importam as consequências. Eu lido com a minha até hoje em toda lua cheia. Minha filha nasceu com licantropia também.

— Você não se arrepende? – Ted perguntou.

— Todos os dias me arrependo por ter feito. E me arrependeria todos os dias se não tivesse feito também.

Ted não entendeu. O que ele estava tentando dizer?

— Tudo que você tem que fazer é uma escolha. Voltar ou continuar. Desistir ou matar. Qualquer escolha trará consequências.

— E como eu sei que é a escolha correta?

— É quando você sente que precisa fazer não importa o que lhe causará.

Ted respirou fundo. Olhou ao redor por um instante. Lorcan tinha razão. Ele saiu do Ministério sem autorização do Quartel-General e proibido pelo Ministro para liderar uma expedição. Ele tinha feito sua escolha há muito tempo. Desde que convocou a reunião com Rosa, Molly e Lorcan.

— Obrigado. – agradeceu Ted. - Vamos até a Boca do Inferno.

Lorcan riu com escárnio.

— Nicholas Coward estava certo.  Aqui é o lugar onde tudo termina.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo tem bastante nota, bora lá:

[1] A cena de Rosa/Escórpio conversando e "ninguém morre sozinho" foi tirada de um documentário sobre Aokigahara que eu assisti para escrever a fic. Um voluntario que entra na floresta para procurar corpos de suicidas acha flores e mangás embaixo de uma arvore e comenta com a pessoa que está filmando exatamente isso: "ninguém morre sozinho". Não lembro o nome do documentário, mas não aconselho a assistirem se não estiverem preparados para ver fotos de corpos achados na floresta, oka?

[2] O episodio que Lorcan cita sobre como foi contaminado na França está narrado totalmente na fanfic "Come Back Home". Dá pra achar no meu perfil.

[3] Tem alguém lendo que não veio falar comigo ainda? T_T digam o que estão achando mesmo "atrasados". Adoro conversar sobre as fics e receber feedbacks, ainda mais agora doente (drama). Sério, falem comigo ;D

[4] Estou escrevendo em ritmo mais lento porque tô doente. Não sei sobre post amanhã, mas darei meu melhor. Estamos na reta final já.

BEJOS ♥

PS: estava assistindo um dorama japonês romântico ontem e o casal foi na Big O (roda gigante)!!! Tá me perseguindo çajoça! ("Good Morning Call", no Netflix)