Aokigahara escrita por Yennefer de V


Capítulo 6
Irmãos Coward


Notas iniciais do capítulo

Sinceramente eu achei esse capitulo deprimente por causa do primeiro pov e porque tá todo mundo down. Mas ele foi um PARTO, reescrito quatro vezes, e é extremamente necessário, então bora lá!

(espero que esteja bom apesar da deprimência!)

AH! OBRIGADA NOBLE E SUNSHINE pelas recomendações vou gritar no MP de vocês já já! ♥ ♥ ♥



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Inglaterra, Brighton

 

Nicholas

Nicholas planejou a viagem sentindo apenas anedonia. Quando Cole fosse para a casa no natal depois do sexto ano letivo no internato, ia convidá-lo.

Ele arrumou numa caixa várias fotos dos dois na Brighton Wheel, ingressos velhos para a roda-gigante que ele guardou sem querer num bolso da infância e páginas impressas sobre a viagem que ele planejou.

Nicholas tinha aprendido a usar a internet de uma biblioteca só para encontrar o destino da viagem com seu irmão Cole. Seus pais não se interessavam em aparatos de trouxas dentro de casa. Nem nada de trouxas em geral.

Era verdade que Nicholas não era mais o mesmo depois dos onze anos. Só que Nicholas não se lembrava de como tinha sido sua infância. Seus pais e Cole lhe falavam que ele costumava sorrir. Que ele tinha tido momentos felizes. Nicholas não se lembrava. Era difícil acreditar que ele já havia sido diferente.

Mas Nicholas lembrava-se dos sorrisos do irmão na Brighton Wheel. Cole tinha sido feliz.

Seus pais tentaram um pouco. Até seu pai, que Nicholas decepcionou profundamente por ser uma aberração, tentou.

Eles o matricularam em três escolas seguidas. Nicholas simplesmente cabulava as aulas, se drogava, ficava bêbado e fumava sozinho. Não queria amizade com os outros estudantes. Eles falavam de coisas que ele não entendia, gastavam um tipo de dinheiro que ele não tinha, ouviam músicas que ele não conhecia, possuíam objetos que ele não sabia manusear e riam dele pelo seu desencaixe.

Eles só não batiam em Nicholas porque Nicholas conseguia derrubar até cinco deles juntos de tanta raiva que sentia.

Nicholas aprendeu sobre as drogas pela necessidade de sobrevivência, assim como aprendeu sobre a internet.

Ele teve uma overdose de cocaína e os pais o levaram ao St. Mungus. O senhor Coward nunca pisaria em um hospital de trouxas. Os medibruxos ficaram confusos com a presença de Nicholas e sua enfermidade, mas o salvaram.

Tentaram aulas em casa. Nicholas e sua tutora iam para cama em vez de estudar. O pai achou que ele estava melhorando por isso. A mão rebateu que isso não era sinal de melhora.

As aulas particulares acabaram. Foi mais ou menos a época em que os pais desistiram de uma vez dele também.

Foi assim que Nicholas começou a procurar outro lugar. O lugar ao qual ele pertencia. O seu destino como alguém de lugar-nenhum.

Primeiro, no entanto, ele passou por talvez anos de insônia. Ele também gostava de quebrar as coisas em casa e gritar com os pais, mas se recusava a sair, mesmo quando Cole estava lá. Às vezes se trancava no quarto por semanas e emagrecia demais, esquecia-se de tomar banho ou comer, focando o olhar num ponto fixo, chorando por horas, batendo a cabeça contra a parede ou socando os moveis.

A mãe chorava. O pai decidiu ignorá-lo

Deve existir um lugar, Nicholas pensou numa noite insone, sem apetite e fedendo. Não devo ser o único no mundo a ser assim.

Nesse dias Nicholas ficava esperançoso.

— Ele está melhor. – às vezes a mãe constatava chorosa para o marido num café da manhã, enquanto o homem se preparava para ir ao Ministério trabalhar.

O marido dava de ombros, lendo O Profeta Diário.

— É um aborto. E o outro é um fracassado. Era melhor não ter tido nenhum.

Aborto, aberração, estranho, amaldiçoado, deformado, anomalia, monstro, repassava Nicholas na cabeça.

Rasgou uma mão ao acertar um espelho uma vez num dos acessos de raiva, mas não avisou a ninguém. Esperou curar sozinho. Os medibruxos iriam olhá-lo de novo daquele jeito torto, como todos seus colegas de classe o olharam no período escolar e como as pessoas na rua o encaravam quando ele passava.

Eles sabem, Nicholas dava-se conta. Sabem que não sou como eles. Que não sou daqui. Querem que eu vá embora.

Ele costumava se esconder dentro do armário com uma lanterna acesa até parar de sentir os olhares e as vozes falando sobre ele.

Até que ficou insuportável. Depois parou de sentir. Só sentia um resquício de gratidão por Cole. Cole que o tratava como igual e não era bruxo perto dele.

Mas Nicholas sabia que longe dele Cole era bruxo e iria embora de casa depois de se formar. Talvez demorasse alguns anos, mas Cole iria embora.

Nicholas tinha que ir para seu destino. A internet mostrou o fim e Cole o levaria até lá.

Cole era o único que se importava com Nicholas.

— Eu era criança. – argumentou Cole nas férias de natal, quando Nicholas lhe contou sobre a Big O, uma roda-gigante no Japão que queria visitar com o irmão.

— Estou fazendo um maldito esforço para te agradar! Você é a única pessoa que... – Nicholas deixou a frase morrer.

— Você nem gostava da roda-gigante. – Cole resmungou.

Só nós dois novamente. Como era quando eu sorria.— pediu Nicholas.

Os olhos de Cole ficaram melancólicos. O irmão era tudo para ele. Mesmo quando não foi estudar com ele. Mesmo quando quebrou o braço da mãe em um ataque de raiva porque ela gritava que Nicholas não se esforçava o suficiente. O pai o desmaiou com um feitiço nesse dia.

— Nós podemos ir. – Cole aceitou. – Você pode fazer aparatação acompanhada comigo. – terminou esperando um ataque de fúria.

Nicholas segurou a raiva, apertando tanto as unhas contra as mãos que chegaram a rasgar sua pele, como sempre acontecia quando Cole falava de magia perto dele.

Só que não ia estragar tudo.

A Big O ficava em Tóquio. E Tóquio ficava perto do fim.

O fim para Nicholas.

A mãe deles ficou tão feliz com o animo que Nicholas aparentava sobre a viagem que tirou uma ultima foto de família.

A última em que Nicholas apareceu vivo.

[...]

 

Japão, ilha de Honshu (floresta Aokigahara)

 

Ted

Ted passou outra noite em claro. Não conseguiu evitar. Tinha dormido durante o dia e estava preocupado. Lys estava numa espécie de coma induzido. Henry não parava de alucinar. Escórpio mal se aguentava.

Ele teria levado seus amigos ao encontro da Morte?

Queria ir embora de Aokigahara de uma vez antes que algo pior acontecesse.

Quando amanheceu Ted conseguiu ver o verdadeiro estrago causado pelo confronto com os Inferi.

Havia um rastro negro ao redor da barraca, com a largura de até dez metros, como se um pneu gigante tivesse derrapado em torno deles diversas vezes. Na verdade, foi uma águia de fogo que deixou o rastro.

Não havia nem sinal dos corpos dos Inferi. Todos transformados em fuligem. A substância preta, gordurosa e parecida com cinzas um pouco mais espessas tomava o chão ao redor da barraca também, como tinha sujado o corpo de Lysander. Ted percebeu que era possível deixar pegadas na camada de fuligem.

Aokigahara amanheceu nebulosa para eles. Ted tinha certeza de que o restante da floresta estava igual. Sem muita claridade, mas sem aquela nevoa cinzenta que cobria o ar, resquícios ainda do fogomaldito.

Victorie estava ao seu lado, gravando tudo e anotando. Estava tossindo alucinadamente. A maioria deles teve problemas com a fumaça.

Foi pelo ar tóxico e a visão deprimente da lembrança dos Inferi que Ted fez todos eles mudarem o acampamento de lugar, pelo menos um quarteirão dali.

Molly não ficou nada feliz.

Três enfermos. – ela argumentou.

— E o restante com o moral baixo, sofrendo com problemas respiratórios. – Ted contra argumentou. – Ninguém vai aguentar muito tempo se não estiver se sentindo bem, Molly.

Ela, como medibruxa, concordou.

Então, com muito esforço, Henry, Escórpio e Lysander foram movidos em macas suspensas por magia no ar, a barraca foi desfeita e eles andaram por meia hora até outro espaço aberto.

Ted e Rosa, os únicos menos perturbados, armaram a barraca novamente e acomodaram todos lá dentro.

Só então, respirando melhor e sem a vista negra e a neblina cinza que estavam em seu quintal antes, conseguiram tomar café.

[...]

Victorie

Depois do esforço que foi a mudança, Victorie não conseguiu dormir durante o dia. Ela era sensível demais a visões, cheiros e odores extremos.

Era quase uma da tarde pelo relógio na sala da barraca. Dominique finalmente conseguiu dormir depois de ficar bêbada. Lorcan tomava seu Quentão na cozinha, inquieto.

Rosa dormiu no sofá de dois lugares e parecia tranquila ao lado de Victorie, que estava numa das poltronas. Ted também se retirou para um quarto.

Molly ficou tão exausta que dormiu numa das cadeiras. Victorie viu Lorcan a carregar para uma das camas.

Victorie pegou seu Onióculos, a foto de Nicholas Coward e foi para fora da barraca, já guardada com feitiços de proteção.

Ela ficou um bom tempo observando os fantasmas, ecos e a construção cinza que estava mais próxima agora. Não viu nada de diferente.

Até que uma presença humana se revelou deitada no chão a uma distancia razoável. Talvez trinta metros. Victorie começou a tremer. Aparentemente era uma mulher. O botão do zoom in não conseguia focar mais perto.

Quem era ela? O que estava fazendo deitada em Aokigahara, sozinha? Não era uma Inominável. A Expedição Sinistro era composta de homens.

Devia acordar Ted?

Continuando a tremer, Victorie voltou sua busca ao fantasma. Demorou mais do que ela gostaria, mas Nicholas estava lá, talvez no mesmo lugar do dia anterior, pairando debilmente acima do chão junto de outras assombrações. Eram muitos. Quanto mais perto da construção, maior a quantidade deles.

Victorie precisava saber sobre Nicholas. Pelo que pesquisou sobre Cole talvez fosse sua única chance. Ted nunca a acompanharia até lá, a uns dois quarteirões deles. Ia falar sobre o papo de ficarem juntos e da ideia ser muito vaga.

Mas Victorie sabia de alguém que não ligava para regras.

[...]

Lorcan

Lorcan estava levemente bêbado. Não era fraco como Dominique. Estava acostumado a beber moderadamente. Tinha forrado o estomago com bastante comida no café só com esse intuito.

Estava perturbado com o ato “heróico” (estúpido!) de Lys e com sua condição frágil. Estava inquieto também. Ficar preso em uma barraca tão pequena, com muita gente e por um longo período não era bom para seu humor. Ele gostava de espaços abertos e liberdade. Tomou mais um gole da bebida quente, balançando freneticamente as pernas, sentado no balcão de pia da cozinha.

— Lorcan. – Victorie entrou na cozinha, afastando a porta de lona silenciosamente.

Ele estranhou seu comportamento. Victorie geralmente era mais expansiva. Ficou desconfiado.

— Preciso falar com você.  - Victorie continuou baixinho.

Lorcan apontou para o lado dele no balcão, tirando o caneco de lá. Victorie subiu desajeitadamente com uma foto na mão e o Onióculos preso ao pescoço.

— Fale. – Lorcan pediu indiferente.

— Tem uma mulher lá fora. Desacordada. – Victorie sussurrou com urgência na voz.

Lorcan estreitou o olhar.

— Como você sabe que não é uma trouxa suicida?

— Eu não sei. – respondeu Victorie. – Mas ela está muito limpa. Não deve ter chegado há muito tempo.

Lorcan bufou.

— Eu não ligo. – pegou a garrafa térmica e encheu mais uma vez o caneco.

— Você pode me ouvir, por favor? – pediu Victorie. – Sem essa rabugice.

Lorcan concordou com um grunhido. 

Abaffiato! – Victorie lançou no portal. – Eu preciso sair. Ted não aprovaria.

Lorcan a fitou, curioso.

— E você espera que eu vá junto?

Victorie pegou a foto de Nicholas Coward.

— Esse é o irmão do Ministro da Magia interino. Nicholas Coward. – entregou a foto para Lorcan.

Ele a examinou sem interesse.

— Ele morreu aos dezenove anos. Não há informação sobre a morte dele. Nunca esteve em Hogwarts como Cole. Pesquisei em Ilvermorny, Durmstrang, Beauxbatons, Castelobruxo, Mahoutokoro e Uagadou. Nicholas não esteve em nenhuma delas.

— Continue. – pediu Lorcan bebendo mais um gole do Quentão.

— Ele está aqui. – Victorie ofereceu o Onióculos para ele.

Lorcan pousou o copo no balcão e enfiou as lentes nos olhos. Viu a imagem do perolado Nicholas Coward assombrando Aokigahara.

— Ele mal se move. – comentou Lorcan. – É um eco.

— Não dá para ter certeza pela distancia.

— O que ele está fazendo aqui? – perguntou Lorcan.

— Não sei. Mas Cole Coward nos proibiu de vir para cá. Ele disse ao Ted que nenhum de nós iria voltar. – continuou Victorie. – Coward sempre foi discreto sobre sua vida pessoal. Ele falhou nos exames para auror. Consegui uma cópia dos resultados. Isso foi logo depois de se formar, ou seja, Nicholas morreu antes.

— Ok. – Lorcan a acompanhou, levemente interessado.

— Então Cole se casou com uma bruxa sangue-puro. Eleonore Burke. Ninguém sabe como foi o casamento dos dois, anunciado em uma pequena nota d’O Profeta Diário, apesar de Eleonore ser importante. Ela é descendente de Caractacus Burke da loja Borgin & Burkes.

Lorcan começou a ficar inquieto com as informações.

— Você acha que ele a enfeitiçou? Como um completo idiota como Coward atraiu uma sangue-puro? Geralmente elas são arrogantes e preconceituosas.

Victorie meneou a cabeça.

— Não acho que a tenha enfeitiçado. Eleonore é conhecida por seus muitos casos amorosos. Só que ela engravidou de Cole e talvez isso a tenha impulsionado a se casar. Pela ótima influencia do sobrenome da esposa e seus contatos, Cole teve uma rápida ascensão no Ministério, no Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Virou chefe aos vinte e dois anos.

— Ele não tem filhos. – Lorcan rebateu.

— Ele teve. Nick Coward, em homenagem ao irmão, desapareceu aos onze anos. Eleonore divorciou-se de Cole alguns meses depois. Enquanto esteve casado, Cole teve uma ótima ascensão na Divisão de Seres. Há boatos, consegui achar pouca coisa, a não ser propriedades e jóias da família Burke vendidas, de que Cole gastou toda a fortuna de Eleonore nos últimos anos de casamento.

Lorcan batia as juntas de um dos dedos freneticamente na bancada.

— O que Lupin acha dessa história?

— Não contei pra ele. Não tudo. – Victorie admitiu.

— E está me contando por que...?

— Quero tentar falar com Nicholas. E preciso que você vá comigo.

— Se ele não esteve em nenhuma escola de magia e parece um eco provavelmente nasceu aborto. - Lorcan argumentou.

— Você não está curioso em saber como o Ministro da Magia teve certeza de que íamos morrer aqui?

Lorcan estava. E precisava sair um pouco daquele cubículo.

[...]

Henry

 

Henry abriu os olhos de uma vez. Não reconheceu o lugar em que estava. Talvez fosse uma parte do St. Mungus que ele nunca tinha ido. Era estranho chamar aquele muquifo diminuto de hospital, mas não encontrou outra explicação. Talvez Roxanne o tivesse levado para examinar seus olhos e os medibruxos o tivessem colocado para dormir.

Por Deus! Que bizarrice!

Ele se levantou, percebendo que vestia seu blusão esportivo mais quente. Londres nem estava tão fria assim.

Que quarto estranho era o que ele estava. O corredor entre a cama dura e a cômoda miserável era estreito. E a parede era de madeira.

Ali não podia ser o hospital mágico de Roxanne.

Saiu pelo portal, extremamente confuso. Surpreendeu-se. Deu de cara com uma fileira de pequenos quartos aos lados do que ele tinha saído. À sua frente tinha uma mesa grande com várias cadeiras, uma abertura de lona amarrada a vigas que era entrada de uma cozinha e Henry também teve vislumbre do pedaço de uma sala.

Cautelosamente passou pela fileira de quartos. No primeiro em que a porta estava aberta, encontrou Molly dormindo na cama.

Henry entrou no espaço, devagar.

— Molly. – ele a balançou pelo braço delicadamente. – Molly?

Molly, que estava de costas para ele, virou-se. Os olhos dela se abriram em euforia quando viu Henry.

Ela se jogou em seu pescoço, o abraçando.

— Você está bem!

Que estranho, pensou Henry. Ela estava com tanta saudades assim? Não faz nem uma semana que viajou.

Sem entender, a abraçou de volta.

[...]

Molly

Molly largou Henry, aliviada. Um deles ela tinha ajudado, um deles ela tinha salvado. Ele fez Henry tomar a Poção da Sagacidade pouco depois de ajudar Lysander, numa tentativa desesperada de fazê-lo parar de alucinar.

— Molly... – começou Henry, olhando ao redor. – Que lugar é esse?

Molly colocou os pés para fora da cama. Ela fez um gesto para que Henry a seguisse.

Eles foram até a cozinha. Molly percebeu que não havia mais ninguém acordado. Rosa dormia no sofá.

— Você não se lembra de nada?

Henry estranhou Rosa dormindo no sofá, mas ficou quieto.

— Eu estava preparando o jantar. Deitei na cama. Rox ia me levar ao St. Mungus.

Molly pegou duas canecas e as encheu de café. Henry preferia chá, mas ninguém fazia chá ali.

— Por que ela ia levá-lo ao hospital? – perguntou, sentando-se à mesa. Ofereceu a caneca para Henry.

Ele percebeu que estava com muita fome. Seu estomago reclamou.

— Por Merlin, você precisa comer...

Molly o deixou na cadeira e voltou à cozinha. Henry, intrigado como estava, a seguiu. Molly pegou um prato e colocou waffles nele, sobras do café. Voltaram à mesa no centro da barraca.

— Sem cobertura? – reclamou Henry.

Molly tinha se esquecido de como Henry era divertido.

— Coma. Beba. Vamos.

Ele suspirou e comeu.

— Por que Roxanne ia levá-lo ao hospital? – tornou a perguntar.

— Eu estava vendo uma luz vermelha o dia todo. E um corvo, mas ela acha que era um pombo. – explicou Henry de boca cheia.

— Uma luz... Corvo... Você se lembra de mais alguma coisa? De ter vindo para o Japão? De entrar em uma floresta? – perguntou Molly com urgência na voz.

— Japão? – Henry riu. – Você que estava no Japão. Numa floresta...

O corpo de Henry ficou tenso.

Ele se lembrou da imagem de uma floresta. Uma floresta que era um mar verde, silenciosa, gelada e solitária. E se lembrou da voz do rapaz repetindo na cabeça dele.

É melhor não ter vida nenhuma do que viver uma vida abortada.

Henry engasgou.

— Calma. – pediu Molly.

— Tinha uma floresta. E a voz de um jovem? – Henry falou sem certeza. – Talvez eu tenha sonhado.

— Venha comigo. – pediu Molly.

Henry a seguiu, com o prato na mão, sem parar de comer.

Eles saíram pelo portal da barraca. Henry não estranhou a barraca por fora ser pequena. Seus pais eram bruxos e ele estava costumado com as maravilhas da mágica.

Henry parou de levar o waffle até a boca, assombrado. Estava na floresta de seus sonhos.

— Uau.

— Bem vindo a Aokigahara Henry. – Molly anunciou melancolicamente.

— Isso é maluquice. Como cheguei aqui?

Molly o guiou para dentro novamente.

— Não sabemos. Te encontrei em cima de uma arvore tentando se enforcar. Agora me ouça antes que eu acorde o Ted. Se você vir outra luz, não a encare. Se você vir um animal na floresta, nos chame, porque essa floresta não tem animais normais. Se tiver algo de estranho, comece a gritar por nós, ok? Qualquer coisa.

Henry, cheio de perguntas na cabeça, concordou.

— São criaturas das trevas. – explicou Molly. – Eles quase mataram todos nós mais de uma vez. Lysander e Escórpio não se recuperaram ainda.

— Lys? Ele está bem? – Henry pareceu preocupado.

— Nós estamos bem por causa dele. Vamos acordar o Ted. Ele precisa ouvir isso.

[...]

Ted

Ted não conhecia Henry tão bem quanto Molly, Lys e Dominique. Porém, ficou grato de ele ter se recuperado.

Henry contava seu relato e comia waffles esfomeadamente. Às vezes bebericava café (e fazia careta, quis chá, mas Molly respondeu que não tinham).

— O que isso significa? – perguntou Molly.

— Um Hinkypunk e um Tengu. – Ted sugeriu. – Em plena Londres, atraindo Henry até aqui.

Molly pareceu mais confusa do que antes. Henry continuou comendo.

— Podemos acordar o Lysander? – perguntou Ted.

Molly lhe fuzilou com o olhar. Ted entendeu que a resposta era não.

Ted ficou pensativo por um momento.

— Você disse que ouviu a voz de um jovem?

Henry concordou com a cabeça.

— Você realmente respondeu algo assim para o Lorcan quando ele foi te tirar da arvore. Que era melhor não ter uma vida a ter vida de aborto.

É melhor não ter vida nenhuma do que viver uma vida abortada.— entoou Henry. – Essa droga ficou gravada na minha cabeça. Que deprimente.

— Você viu o rosto de quem estava falando isso?

Henry franziu o cenho.

— Ele nem se lembra de ter chegado aqui. – Molly resmungou.

Ted se levantou.

— Henry, eu vou ter que entrar na sua mente por um momento.

— O quê?

— É só um feitiço. Para eu descobrir mais detalhes.

Henry olhou para Molly de canto de olho. Ela assentiu levemente com a cabeça.

— Esse dia fica cada vez mais estranho. – resmungou Henry. Pousou o prato na mesa e ficou encarando Ted.

Ted apontou a varinha para ele.

Legilimens!

 

Não devia ter viajado com Nicholas. Ele o havia enganado. Prometeu que iriam a Big O, mas Nicholas o fez ir até aquela floresta estranha e saíram da trilha.

— Nick! – berrou Cole. – Estamos muito longe! Vamos voltar!

Nicholas virou o rosto para trás com um sorriso determinado.

— Não vou voltar Col. Aqui é meu destino. É o lugar em que tudo termina.

Era noite agora. Cole viu o irmão subir na arvore. Ele estava assustado com o comportamento de Nicholas. Estava cansado, com fome, sede e frio. Mas Nicholas desaparataria com ele em breve, Cole sabia. Voltariam para Brighton. Cole nunca devia ter aceitado aquela viagem. Devia ter desconfiado que Nicholas não estivesse melhor e não tinha planejado se divertir em uma roda-gigante. Ele nem gostava de rodas-gigantes.

Talvez Nicholas tivesse ficado bravo porque Cole aparatou com ele. Nicholas se enfurecia com a magia.

— O que você está fazendo? – berrou Cole para o irmão. Ele queria acender a varinha, mas Nicholas provavelmente teria um ataque de raiva e pioraria a situação. Cole não conseguia enxergar bem. Apenas Nicholas tinha uma lanterna, como se já soubesse que precisaria dela.

— Col. Lembre-se do que eu vou te dizer. – a voz de Nicholas chegou do alto da arvore. – É melhor não ter vida nenhuma do que viver uma vida abortada.

Então o corpo de Nicholas caiu da arvore preso numa corda e Cole gritou.

 

A cena se apagou na cabeça de Ted. Ele soltou um palavrão, sobressaltado. Henry tinha deslizado um pouco da cadeira. O acontecimento também tinha se passado em sua mente.

— Que droga você fez comigo? – perguntou Henry.

— Nicholas Coward se suicidou aqui! Cole Coward viu tudo! – Ted deu-se conta. – Victorie. Onde está Victorie?

Ted se levantou, procurando nos quartos freneticamente. Foi até a sala, a cozinha, o banheiro e para fora da barraca, dando a volta nela.

Victorie não estava lá. Nem Lorcan.


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Notas finais do capítulo

YEY! Agora que acabamos a deprimência podemos voltar a programação normal de monstros, assombrações e quase mortes!

Eu realmente não acho que Nicholas tinha algum distúrbio psiquiátrico grave. Quando criança, era só influenciado pelos valores do pai. Depois apresentou sintomas de depressão, ansiedade, psicose e neurose. Tudo consequência dele ser um aborto e como os pais dele trataram isso. Ele não nasceu com nenhuma doença como esquizofrenia. Ele não era louco.

Alguém tem alguma teoria sobre Aokigahara? O/

[PRÓXIMO CAPÍTULO]: pessoas lindas, eu sempre deixo um capítulo a mais escrito pra só betar no dia seguinte e postar, mas dormi doente e acordei pior :( Ou seja, hoje não vou escrever, mas tentarei betar o que já tenho p/ postar se o remédio ajudar. Se não conseguir, aguardem minha cura :( É Aokigahara me fazendo isso HAHAH. BJOS!