Aokigahara escrita por Yennefer de V


Capítulo 2
Expedição Fênix


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos Lysander, Dominique e Victorie a Expedição Fênix, levando-os diretamente ao inferno HAHAHAH (que dramática).

Sério, gente, não sei qual a ideia dessas pessoas.

Boa leitura!



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Inglaterra, Cornualha (Tinworth, Chalé das Conchas)

 

Victorie

— É claro que eu vou.

Victorie observou Ted procurar e empacotar coisas febrilmente durante todo o dia. Molly fez o favor de lançar o Feitiço Indetectável de Extensão na mochila de todos eles, de modo que o peso nem a falta de suprimentos fossem problemas em Aokigahara.

Victorie, uma mulher de cabelos loiros muito claros, pele pálida e olhos azuis, quando casou prematuramente tentou ser jornalista no Semanário das Bruxas. Foi uma escolha juvenil de carreira errada para Victorie. Enquanto Ted estava satisfeito com sua escolha (auror), Victorie se viu desmoronar em espirais de infelicidade pelas matérias superfícies que teve que cobrir.

Além disso, teve diversas brigas com um Ted acomodado na rotina do casamento. Cansada, fez uma pequena viagem com a irmã caçula Dominique (deixou só um bilhete para Ted impulsivamente). Depois Victorie voltou ao Chalé das Conchas, casa que seus pais lhe deixaram quando foram morar na França, e fez as pazes com o marido.

Só não tinha encontrado a "carreira dos seus sonhos” ainda. Ela achava a ideia uma tolice, mas já tinha se demitido de pelo menos quatro empregos diferentes. Ou cinco.

Quando Quim Shacklebolt se aposentou ela começou a escrever por contra própria sobre Cole Coward, já que era o mais evidenciado n’O Profeta Diário. E conseguiu um bom material.

Ted nem fazia ideia.

— Eu vou cobrir essa expedição. – decidiu Victorie, passando para ele seu suéter preferido, com o brasão de T duplo estampado, do time de quadribol Tornados de Tutshill.

Ted pegou o suéter sem olhar para Victorie. Estava arrumando sua desorganização na mochila, listando mentalmente seus itens necessários.

— Você já tentou ser jornalista. – rebateu Ted distraidamente, a mochila em cima da cama, Victorie atrás dele, de braços cruzados no peito.

— De fofocas.— explicou Victorie. – Não uma jornalista investigativa. Você pode me ouvir?

Em geral, as primeiras brigas que eles tiveram e os separaram pelos meses que Victorie viajou foi o desdém que Ted dava à sua profissão “inútil”, gabando-se em deboche da profissão dele, “realmente importante” (e sua acomodação no casamento).

Ted sabia que seria preciso levá-la a sério. Ele sentou na cama de dossel dos dois, ao lado da mochila, virado para a abertura da varanda, fechada pelo vento gelado de fevereiro.

— Posso vender a matéria. Posso encontrar meu lugar. – os olhos de Victorie imploravam.

— Vic. Você seria...

 Ela respirou fundo.

— Inútil?

— Não! – Ted apressou-se a corrigi-la, sentando mais pra frente, de modo a ficar perto dela. – Rosa e Molly sabem se defender. – argumentou Ted. – E eu não amo tanto Rosa e Molly a ponto de me preocupar com elas. Nós não sabemos o que há de errado com aquele lugar. – suplicou Ted.

— É exatamente por isso que eu preciso ir. Porque Cole Coward fez questão de te dizer pessoalmente para não ir.

Ted pegou em uma das mãos dela, cansado.

— Qual seu interesse em Coward?

— Profissional. – respondeu Victorie.

Ted coçou a nuca, confuso e sem argumentos.

— Você não precisa me proteger do desconhecido. Não quero ir para ir atrás de você. Se você confia nas minhas primas, você tem que confiar em mim. Você casou comigo.

Ted se levantou e foi até ela. Victorie era tão linda. Sempre foi a garota mais bonita da turma dela. Ela tinha aquele brilho batalhador no olhar que Ted nunca viu em mais ninguém. Era completamente apaixonado por ela e precisava demonstrar todos os dias.

Abraçou-a. Victorie, surpresa por um momento, retribuiu o abraço. Ela era tão alta quanto ele e chegava ao seu queixo.

— Desculpe não demonstrar o quanto eu te acho incrível. Desculpe Vic. Vamos para Aokigahara juntos.

Victorie sorriu com a boca no queixo dele. Era a primeira vez, desde Hogwarts, que Ted demonstrava o quanto a considerava importante.

 [...]

Inglaterra, Devon (Ottery St. Catchpole, Morada Para Animais Fantásticos)

 

Lorcan

 

Não tinha sido uma decisão fácil para Lorcan falar com o irmão. Ele e Lysander passaram a infância juntos, até os onze anos viajando com os pais magizoologistas e estudando criaturas mágicas.

Quando foram para Hogwarts as coisas mudaram drasticamente. Lysander foi para a Corvinal como a mãe. Lorcan, inexplicavelmente, foi para a Sonserina.

Imediatamente um abismo se abriu entre eles. Eram gêmeos idênticos. Tinham os mesmos olhos castanhos de Rolf. A mesma estatura. Porém, era só isso. Lys era magro, usava seus cachos castanhos para cima e óculos finos.

Lorcan sempre pensou que ter ido para Sonserina o afastou da família inteira. Depois entendeu que foram as escolhas que fez ao longo da vida.

Lysander abriu com Dominique, a namorada, a chamada Morada de Animais Fantásticos, uma clínica para animais mágicos feridos. Lorcan se tornou caçador de recompensas de animais, matando-os e ferindo-os, recebendo recompensas tanto de bruxos quanto de trouxas atormentados. Ele foi foragido do Ministério da Magia por um longo período, já que sua profissão era ilegal.

Quando Molly ficou grávida, ele se entregou, foi preso em Azkaban, cumpriu sua pena e foi indicado por Rosa para o cargo de guardião.

Ao olhar nos olhos de Lys, idênticos aos dele, Lorcan tinha a certeza de se ver ao contrário. Por ter sido foragido, tinha pouca cumplicidade com o irmão, os pais ou qualquer conhecido.

Por vezes ele teve vergonha de si mesmo.

— Você devia vir. – pediu ao irmão a contragosto.

Estavam no pátio da Morada. Era um lugar amplo e quadrado, com uma cerejeira no meio, com os galhos sem as flores avermelhadas pela chegada do inverno. O pátio tinha bancos de dois lugares, desconfortáveis, como se fosse uma praça.

Dominique, a namorada do irmão, loura de cabelos mais escuros que Victorie, mais baixa, de olhos azuis mais escuros, com pequenas cicatrizes pelo corpo e nariz entortado também estava na discussão.


Benjamin, o garoto adotado por eles no ano anterior, de nove anos, cabelos castanhos quase loiros e um ar de atrevimento, os ouvia. Seu pelúcio cego estava aos seus pés, cheirando o chão.

— Eu quero ir. – teimou Ben.

— Vá ficar com a Holly. – mandou Dominique em tom autoritário. – Leve o Três com você.

Benji trocou um olhar cheio de faíscas com Dominique antes de obedecer. Pegou Três (o pelúcio) no colo e foi até a recepção da Morada ficar com Holly, a recepcionista.

Só então Lysander respondeu.

— Nenhum de vocês devia ir.

Lorcan abriu e fechou as mãos de nervoso.

— É o que eu acho também. Olhe para isso, Lysander. – pediu Lorcan, mostrando um caderno pequeno, com capa de couro avermelhado e folhas de pergaminho maltratadas.

Dominique chegou mais próxima deles para ler também.

Lysander entendia mais de animais mágicos que Lorcan, ele sabia disso.

— O que é isso? – perguntou Dominique, já enfiando a cabeça junto deles.

— O diário de um dos Inomináveis. – respondeu Lorcan. – Malfoy enviou todo o material que conseguiu antes de perder contato.

— Inteligente. – constatou Lysander e começaram a ler.

 

Dia 01

Minha intenção inicial era a de registrar certas memórias para serem examinadas mais tarde minuciosamente, longe desta atmosfera solitária, deste clima impiedoso e da paisagem opressora de Aokigahara. No entanto, há algo aqui que não estávamos preparados para encontrar quando nos dispusemos a fazer o trabalho de campo.

Eu me pergunto o que está acontecendo.

 (...)

É noite. Há algo entre as arvores. Luzes vermelhas, acesas como rodelas de fogo, erguidas no ar por criaturas invisíveis que não têm mais de sessenta centímetros de altura. Elas parecem nos chamar (...).

—_

Dia 02

Ah meu Merlin, Zac desapareceu na floresta. Foi como se ela tivesse o devorado. Ele estava na barraca com Escórpio e Jack. Quando acordamos, nem sinal dele. Apenas passos pelo chão em direção a floresta voluntariamente.

Não há sangue, não há sinal de luta, sua varinha ficou na barraca.

E os fantasmas e ecos. Há fantasmas por todos os lados, como se aqui não fosse um tumulo de trouxas suicidas e sim de bruxos amargurados. Escórpio deixou claro que era um ambiente em que os trouxas cometiam suicídios quando formamos a Expedição Sinistro. Há ecos também, todos juntos.

Trouxas não viram fantasmas nem ecos. Precisamos sair daqui.

—_

Dia 03

Oliver está morto. Não há nada de errado com o corpo. Não havia nada de errado com a saúde. Seus olhos estavam fechados como se estivesse dormindo. Ele não quis dormir na barraca comigo. Quis vigiar. Ficou lá fora e agora está morto.

Oliver está morto. A floresta está matando um por um.

Escórpio fez um feitiço marcando nossa trajetória. Quando procuramos pelo rastro vermelho para voltar, havia desaparecido. É como se ela quisesse nos matar.

Recebemos um patrono de Lupin. Ninguém conseguiu responder. Ninguém tem uma memória feliz no momento. Não há animal vivo. As corujas não conseguem subir até o topo das arvores, que estão tão grudadas que é impossível ver o céu.

Escórpio está procurando uma brecha para pedir ajuda.

—_

Dia 04

ALGUMA COISA PUXOU JACK PARA DENTRO DA FLORESTA. NÓS VIMOS. NÃO ERA HUMANO. NÃO TINHA FORMA. ERAM MÃOS INVISÍVEIS.

AINDA ESTOU ESCUTANDO OS BERROS DELE.

NENHUMA AZARAÇÃO FUNCIONOU. NADA. NÓS VAMOS MORRER. ESCÓRPIO NÃO PARA DE GRITAR ENQUANTO DORME. SUA MÃE ESTÁ MORTA, MORTA, MORTA. SEU DESGRAÇADO!

—_

Dia 05

Escórpio achou uma brecha entre as copas e vai tentar pedir ajudar com a coruja. Ele quer enviar todo o material que coletamos.

Acho isso uma piada.

Nós vamos morrer.

Estou enviando o diário para que Grace saiba o quanto a amo. Eu não ligo para a Casa que você cair em Hogwarts, querida. Eu a amo, amo e amo. Obedeça a sua mãe.

Jessica, caso você leia isso, sei que estávamos nos distanciando. Você está certa, eu trabalhava demais. Nós devíamos ter dado a Grace um irmão. Talvez seja minha punição.

Eu te amei a vida inteira. Eu te amo agora. Eu amo vocês duas. Eu vou para o Véu, meu amor.

Clifton

 

[...]

Lysander

Lysander leu os relatos pelo menos três vezes antes de tornar a falar. Seu irmão, que já tinha quase decorado o diário e Dominique, de olhos arregalados, esperavam sua reação.

— O que aconteceu com ele? O tal do Clifton? – perguntou Lys, olhando para o irmão.

Lorcan fechou o diário e trancou-o. Colocou na mochila, já quase pronta para viajar.

— Não sabemos. Lupin perdeu contato com eles.

Dominique, assombrada, sentou num dos bancos do pátio. Os gêmeos ficaram em pé, se encarando.

— Onde você disse que eles estão? – perguntou Lys.

— Floresta de Aokigahara, no Japão.

Dominique, que depois de Hogwarts viajou por quase quatro anos inteiros pelo mundo, se intrometeu.

— Fica na base do monte Fuji. O monte é um vulcão. Tanto a floresta quanto o monte ficam na maior ilha do arquipélago japonês, a ilha de Honshu. É onde fica Tóquio.

Lysander olhou para ela, agradecendo-a.

— Estranho... – constatou.

Lorcan se inquietava pelos devaneios do irmão.

— O que é estranho?

— Olhe para a descrição que ele dá ao que está no meio das arvores. “É noite. Há algo entre as arvores. Luzes vermelhas, acesas como rodelas de fogo, erguidas no ar por criaturas invisíveis que não têm mais de sessenta centímetros de altura. Elas parecem nos chamar.” – recitou Lysander.

Lorcan aproveitou a oportunidade para mostrar uma das fotos que Ted tinha pregado em sua divisória no Quartel-General dos Aurores. Ele tinha, de bom grado, emprestado a Lorcan, entendendo que Lysander podia agregar algo ao desconhecido que eles iam enfrentar.

— Isso? – perguntou Lorcan. Dominique se levantou para espiar a foto.

— Sim. – respondeu Lys com certeza na voz. – São Hinkypunks. Mas eles são animais nativos da zona rural da Inglaterra, não do Oriente. E eles não vivem em bandos, nem ficam rondando grupos. Eles atraem pessoas perdidas e sozinhas. E só quando avistam as vitimas que acendem suas tochas. Eles não vagueiam por ai com elas acesas, como o relato e a foto... – Lysander continuou a pensar.

Dominique sabia que a cabeça de Lys estava a mil por hora.

— E os outros? Você sabe o que são? – perguntou Lorcan, sentindo seu corpo se carregar de euforia por estar fazendo progresso.

— Não tenho certeza. – Lys balançou a cabeça. – Provavelmente o tal de Zac foi atraído por um Hinkypunk e se perdeu. Talvez não esteja morto. Mas por que é que as criaturas estão no Japão...? Por que estão agindo assim? – Lys se perguntou.

Dominique estava ansiosa. Não via Lys tão empolgado com um quebra-cabeça (como ela chamava tudo que dava trabalho ao Lys de resolver) desde seus N.I.E.M.s (que nem foram tão difíceis para ele).

— Por isso seus colegas não reconheceram os sinais das criaturas. – Lys deu-se conta. – Elas estão agindo anormalmente.— falou para si mesmo.

Lorcan guardou a foto na mochila novamente.

— Você devia vir. – tornou a falar. – Precisamos de você. Não é fácil para eu pedir sua ajuda. Eu sei quando preciso fazê-lo.

— Você sempre se virou muito bem sozinho. – Lys retrucou.

— Você devia vir. – repetiu Lorcan.

Lysander, ainda invadido por devaneios, olhou para Dominique. A namorada, que entedia pouco de animais mágicos (apesar de trabalhar na Morada) parecia tão indecisa quanto ele.

— E o Ben? – perguntou Lys.

— Eu tenho uma filha também, Lysander. – Lorcan foi acido, como se Lys se importasse mais com Benjamin do que Lorcan com Pandora.

— Nós podemos deixá-lo com Holly e Louis. – tentou Dominique, já que a recepcionista namorava seu irmão mais novo. – Ou com Roxanne e Henry?

Lysander não pareceu convencido. A ideia era maluca.

— Você entendeu que temos poucas chances sem você? – argumentou Lorcan de forma quase agressiva. – Você reconheceu as criaturas por uma descrição e uma foto desfocada.

Lysander cruzou os braços.

 – Como eles poderiam ter se livrado dos Hinkypunks? – perguntou Lorcan.

— Qualquer azaração fraca. – respondeu Lys. – Não olhar diretamente para as tochas por muito tempo. – ele deu de ombros.

Lorcan riu de nervoso.

— Você tem que vir. Os Inomináveis teriam chance se soubessem disso. Nós também.

Dominique apertou a mão do namorado, como se tivesse tomado a decisão de ir e o estivesse convencendo silenciosamente.

Lysander olhou para o irmão. Ele tinha virado lobisomem e Lys não estava lá. Tinha sido atacado por inúmeras criaturas e Lys não estava lá.

Dessa vez ele veio pedir que Lys estivesse.

— Dominique... – Lys começou.

— Eu sei falar japonês com sotaque. – ela se animou. – Estou dentro.

[...]

Inglaterra, Cornualha (Tinworth, Chalé das Conchas)

 

Ted

 

O céu não tinha amanhecido ainda. Eles se encontraram no Chalé das Conchas no dia seguinte às cinco horas da manhã.

Ted ficou aliviado pela presença de Lysander e pelas novidades de Lorcan sobre as criaturas de luzes avermelhadas. Também ficou intrigado.

Não se incomodou com a presença de Dominique. Constatou que cada um teria seu papel de importância depois da conversa com Victorie. A esposa estava animada, carregando uma câmera fotográfica e um Onióculos que gravava as imagens que capturava. Também se armou de pergaminhos e Pena de Repetição Rápida.

Ted achou, depois dos relatos de Clifton Cooper, o Inominável desaparecido, e das descobertas de Lysander posteriormente, que registrar a Expedição Fênix não era uma má ideia.

Ele batizou de “Expedição Fênix” porque, aparentemente, “Expedição Sinistro”, uma brincadeira daqueles Inomináveis que pesquisavam a Morte, não tinha dado muita sorte.

Todos eles estavam com mochilas às costas esperando a coruja que o imperador bruxo japonês ia enviar com a chave de portal. Também estavam bem agasalhados. Era inverno no Japão e talvez a temperatura chegasse a 1 grau. Não que fosse o desejo de Ted.

Rosa parecia melhor conversando com Molly num canto da praia. As ondas batiam na areia e voltavam serenamente.

Lorcan e Lysander trocavam ideias sobre as fotos e o diário. Victorie ajustava o Onióculos.  Dominique lançou uma coruja para o filho Benjamin no ar.

— Olhem! – Dominique apontou para o céu.

Uma coruja enorme, muito maior do que as usadas pelos ingleses, vinha na direção deles.

As asas abertas dela chegavam a dois metros de comprimento. Tinha listras negras ao redor das asas abertas e do corpo, mas a penagem era marrom clara e de um amarelo aguado. Ela tinha uma expressão furiosa.

Lysander pareceu impressionado.

Bubo blakistoni.— sussurrou. – Está em extinção.

Só Dominique entendeu que era a espécie da coruja. Ela era gigantesca. Não chegou a pousar na areia. Soltou uma lanterna japonesa redonda para eles, de cor branca, e sumiu no céu.

A luminária desceu de forma graciosa até os pés de Dominique e Ted, que estava ao seu lado.

— É isso? – Dominique arqueou as sobrancelhas.

— Creio que sim. – respondeu Ted. – Vamos?

Eles formaram um círculo em volta da luminária e se agacharam para toca-la. Os ombros se encostaram porque era um grupo de oito pessoas.

Com os dedos grudados na lanterna foram sugados para o além.

[...]

Japão, ilha de Honshu (Yamanashi, estação de Otsuki)

 

Dominique

 

Nenhum deles pousou em pé. Dominique não se surpreendeu. Estavam dentro dum vagão de um trem em movimento.

O vagão estava vazio. Dominique supôs que foi mais uma cortesia do imperador junto com o Primeiro Ministro Japonês. Eles estavam realmente assustados com a bagunça em Aokigahara.

O trem estava saindo da estação de forma lenta. Não era o Shinkansen, conhecido como trem-bala. Era um trem antigo, quase risível pela lentidão.

Dominique não conseguiu ler os Kanjis ou Hiragana que eram as escritas japonesas parecidas com desenhos. Ela não era tão fluente em japonês assim. Para sorte dela, a maioria das estações tinha placas com informes em alfabeto segmental, o que estavam acostumados.

A estação era Otsuki. O corredor do vagão tinha bancos duros e virados para as janelas de dois lugares cada, de modo que a viagem era feita “de lado”.

Lorcan ajudou Rosa a se levantar e sentou ao lado dela. Victorie e Ted já estavam recuperados, tinham recolhido algumas porcarias que caíram no chão e se acomodado. Molly estava num banco solitário de costas para frente do trem, perto do namorado Lorcan e Rosa.

Lysander estava em pé floreando um mapa das estações. Dominique se ajeitou e andou até ele tortamente, segurando nas barras de ferro.

Ela sabia, só por conhecê-lo há anos, que Lysander era a pessoa mais inteligente do grupo. Também sabia que ele não era bom em apenas uma coisa, como Molly, que era ótima em medibruxaria ou Lorcan, que era ótimo em combater artes das trevas. Lys era bom na maioria dos feitiços e de todo conhecimento que ele se dispôs a aprender ao longo da vida.

Provavelmente Lorcan sabia disso também, apesar da relação conturbada com o irmão.

O trem chacoalhava irritantemente para Dominique. Pela janela, o cenário era de casas com telhados inclinados, terrenos vazios, unindo a paisagem urbana e a paisagem rural num mesmo lugar (ela se encantava com isso no Japão), e plantações apodrecidas pela neve.

 - Quanto tempo de viagem até a última estação? – perguntou Lys observando o mapa das linhas do Japão, tão intrínsecas e caóticas que dava medo a um iniciante.

Não dava medo em Lys.

Dominique não se lembrava de todas as informações sobre estações e linhas. Principalmente porque eram muitas e ela tinha aparatado bastante em suas viagens.

— São... Catorze estações. – murmurou Lys. – A ultima é Kawaguchiko.

Repentinamente Dominique se lembrou. Ela ia escalar o Monte Fuji para ver o por do sol, mas decidiu pegar o trem-bala para sentir a sensação do trem mais rápido do mundo sob os pés. Ela pediu informações a um trouxa sobre as experiências na época.

— É uma hora de viagem. Talvez mais. E depois teremos que pegar uma carona.

— Que tipo de carona? – perguntou Lys, de pé ao lado dela, segurando na barra de ferro acima, sacolejando, com o mapa na mão livre.

Dominique esqueceu o nome. Virou-se para seus amigos sentados. Molly estava dormindo.

— Alguém lembra o nome daquela coisa com rodas que... Damos dinheiro e eles nos dão carona?

— Carros? – tentou Lorcan, que tinha vivido por muito tempo com trouxas.

— Isso! Mas os que dão carona.

— Táxi.

— Acho que é isso. – Dominique pareceu confusa. – Alguém tem ienes?

Ted, que tinha se preparado para a viagem seriamente, tirou do bolso da jaqueta um punhado de notas.

— Você acha que dá? – pareceu preocupado.

Dominique pegou o maço da mão dele e desatou a contar. Depois riu descaradamente.

— Essa nota de dez mil deve ser suficiente. – informou e devolveu o restante ao Ted.

Ele pareceu aliviado. Lys, que tinha guardado o mapa na mochila, apertou a mão dela, como quem avisasse que estavam perto de se aventurar no desconhecido e queria estar junto dela.

[...]

Japão, ilha de Honshu (Yamanashi, estação de Kawaguchiko)

 

Lorcan

Dominique começou, instintivamente, a liderá-los na estação de Kawaguchiko. Ela balançava a mão dada com Lysander, compartilhando informações sobre o Japão, enquanto os encaminhava ao pátio externo da estação.

Lorcan, afastado de todos, não conseguia parar de se perguntar no que eles estavam fazendo ali. Entendia a amizade de Molly com Malfoy e o romance entre ele e Rosa. Entendia a fidelidade profissional de Lupin para com ele.

Não era falta de empatia. Só que Lorcan, ao contrario de todos eles, passou bons anos de sua vida lutando contra criaturas das trevas. A pior situação foi aquela na França em que quase morreu contra dois lobisomens. Ele acabou sendo contaminado.

Mesmo Lys que era tão conhecedor das criaturas, já que enquanto Lorcan se tornou caçador de recompensas, ele passou a viajar com os pais e virou magizoologista e posteriormente Cuidador na Morada, não sabia como era na pratica lutar contra as artes das trevas.

Ninguém sabia o que tinha acontecido em Aokigahara. Trouxas se suicidavam pela sociedade doente que eles tinham. Dinheiro, consumo, trabalho, tecnologia, doenças mentais e tantos outros conhecidos por Lorcan quando ele trabalhou para eles. Também não era novidade que abortos eram deslocados. As grandes questões para Lorcan eram: por que os abortos estavam morrendo em Aokigahara? Por que bruxos estavam morrendo em Aokigahara?

E Lysander explicando sobre o comportamento anormal dos Hinkypunks...

Eles já estavam num dos táxis quando Molly o chamou baixinho. Rosa estava ao lado dela. Dominique deu algumas instruções ao taxista pela janela, que respondeu “daijoubu, daijoubu”, impaciente, aceitando a nota de dez mil ienes.

— Eu só estou pensando no que aconteceu lá. No que vamos encontrar. – falou Lorcan para a namorada, com Rosa ouvindo.

Lys, Victorie, Ted e Dominique dividiram outro táxi.

— É pra isso que estamos indo. – Molly pousou a cabeça no ombro dele. Rosa ficou abatida. Lorcan, seu amigo e colega de trabalho mais próximo, sabia que ela estava preocupada com Escórpio. – Nós vamos descobrir e trazê-los de volta.

O carro começou a andar.

— Gaijin. – resmungou o motorista, abrindo a janela e dando uma cuspida para fora.

Lorcan sabia que era um insulto, mas não estava com paciência para brigar com um trouxa.


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Notas finais do capítulo

YEY! No próximo capitulo (já tô na metade dele) temos finalmente Aokigahara! E ação! E coisas medonhas.

O que estão achando?

m/