Aokigahara escrita por Yennefer de V


Capítulo 11
Adeus Aokigahara


Notas iniciais do capítulo

CARAAAA não acredito que é o penúltimo capítulo e no próximo todos estarão bem (tirando os transtornos de estresse pós traumático que não sou a tia J.K e deixo tudo bem porque acabou a luta contra o mal). Não acreditooooooo que vou parar de plotar 7 da manhã, mandar mensagem pro Luc e debater sobre a fic, pesquisar coisas bizarras e inúteis tipo "morte por asfixia" e "quarto provincial" ... Não acreditooooooo!

Espero que vocês tb fiquem de luto, igual eu :'( Mas essa fic me perturbou pra escrever.

YEY Boa leitura!



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Japão, ilha de Honshu (Centro de Pesquisas de Aokigahara)

 

Margot

Margot e Cole estavam no salão principal do Centro de Pesquisas de Aokigahara.

Nick II flutuava fantasmagoricamente em seu tanque dentro do sabugueiro. Cecilé dormia inquieta em um cesto perto da arvore, já que o quarto dela e de Margot era no segundo andar e a mulher não confiava em nenhum dos prisioneiros para cuidar da filha.

Margot percebeu que Cole estava cada vez mais insano. Seus olhos eram obstinados. Ele não deixava ninguém participar dos experimentos em Nick, apenas ele e Margot.

Cole nem tinha avisado a Margot que ia sequestrar o primogênito. Ele estava fora de controle e o Centro de Pesquisas também.

— Cole. – a voz de Margot soou alta no salão vazio e iluminado pelos candelabros em intervalos nas paredes com as escotilhas fechadas. – Você tem certeza? O garoto quase morreu da última vez.

Cole estava tentando passar magia de criaturas mágicas para Nick, já que o filho era um aborto. Tentou com várias criaturas sem sucesso. Agora, numa pequena jaula ligada a arvore oca de Nick por galhos, estava uma elfa domestica de aparência deprimida.

Ela já havia implorado por sua liberdade por pelo menos meia hora, amedrontada. Seu nome, aparentemente, era Clava.

— Clava vai melhorar o chocolate quente da senhorita Orphée. – choramingou. – E trabalhar por dois turnos. Só não machuquem Clava.

Clava também tentou aparatar. Só que a jaula havia sido construída pela sagaz Margot. Margot não subestimava a magia das criaturas mágicas.

Agora Clava, a elfa acastanhada de olhos lacrimejantes e grandes como pomos de ouro e orelhas caídas, estava sentada na jaula, conformada com seu destino.

Margot não ligava para o destino de Clava. Ela estava preocupada com o rumo do Centro de Pesquisas de Aokigahara.

— Como você tem tanta certeza de que o garoto não é bruxo? Você o tirou da mansão antes da idade correta de receber a coruja. – argumentou Margot.

— Nunca demonstrou nenhum pingo de magia nas veias. – Cole rebateu. – Depois de tirá-lo dos mimos de Eleonore fui atrás dos matriculados de Hogwarts. Nick não está na lista.

Margot estava perdendo o controle. Precisava trazer Cole de volta à razão.

— Você ouviu sobre a fuga de Augusto Roockwood? Eles estão resistindo à maldição Imperius. Precisamos...

— Não precisamos fazer nada! A memória de todos eles foi alterada. Ele provavelmente achará que fugiu de Azkaban. É a história que contará se for muito longe. – Cole disse rispidamente.

— Cole. – Margot tentou novamente. – Todos eles conseguirão resistir à maldição depois de um tempo. E então, nada de escravizados. Eleonore quer a separação depois do sumiço de Nick. O que nós faremos sem o dinheiro dela?

Cole virou-se para Margot. Com os saltos ela ficava mais alta que Cole.

— A única coisa que me importa é dar a Nicholas a magia que ele tanto quis. Não me importo com as criaturas, com o Centro, muito menos com Eleonore.

Margot colocou as duas mãos nos ombros do amante.

— Esse não é Nicholas. É Nick. Eles não são o mesmo. – ela enfatizou.

— Então me foi dada uma segunda chance. – Cole deu de ombros, sem parecer distinguir o irmão do filho.

Ele apontou para o sabugueiro com a varinha.

Geminio Veneficium!

Margot viu todo o corpo de Nick se repuxar dentro da bolha com líquido dourado. Seu rosto se contorceu de dor, apesar de desacordado. Uma luz alaranjada passava entres os galhos da jaula com Clava, a elfa, depois iam para o sabugueiro. Margot semicerrou os olhos. Cole mirava seu experimento com fascínio. Cecilé acordou e começou a resmungar pela súbita iluminação.

Margot suspirou. Pegou a filha no colo e a balançou sem paciência.

Quando a luminosidade baixou e as faíscas pararam de jorrar, Clava estava morta. Nick voltou a flutuar em sua câmara, respirando com dificuldade, ainda desmaiado.

— Amanhã nós o acordaremos novamente. E ele soltará um feitiço. – Cole pareceu esperançoso.

Margot não tinha certeza. Cole não a envolveu no experimento, de modo que ela não acreditava ser possível essa transferência mágica. E Margot era quem tinha tido os positivos resultados anteriores, não Cole.

— O que você vai fazer com a tal expedição de Inomináveis que querem pesquisar a floresta? – perguntou Margot, cansada.

— Tirá-los do nosso caminho se conseguirem chegar até aqui. – respondeu Cole, admirando o filho no tanque. – Você tem seus meios, Margot.

— Por que eu tenho que cuidar da sua sujeira enquanto você brinca de feiticeiro, Cole? – Margot retrucou, irritada. – E se não der certo com o elfo? Você vai usar o quê?

Cole levou a pergunta a sério.

— Um lobisomem que é um humano contaminado. – deu de ombros.

— E depois um humano completo?— grasnou Margot.

Os olhos de Cole pousaram em Cecilé automaticamente como se ele já tivesse pensado nisso há muito tempo.

Margot abraçou a garota instintivamente.

Não. Minha filha.

Nossa filha. – corrigiu Cole.

A discussão teria continuado não fosse o alarme disparar. O som de um dragão que era o alarme, alto e claro, soou no saguão. Margot arregalou os olhos e apertou mais Cecilé contra si.

São eles. Eu disse que iam resistir à maldição!

Cole não pareceu alterado.

Ele colocou a mão num pingente no peito que tinha a forma de uma maçaneta de tamanho real feita de cristal e cobre.

NÃO! Você vai acabar com tudo! – berrou Margot desesperada.

— CHAME A FÊNIX! – Cole ordenou, enquanto jogava a maçaneta no chão.

O objeto se quebrou e de dentro saíram pequenos fios de névoa que voaram como cordões até as portas lacradas das escotilhas.

Uma por uma elas se abriram, revelando as criaturas dos experimentos de Margot.

Margot soube que era o fim do Centro. Ela assobiou com os dois dedos e uma maravilhosa criatura avermelhada, de olhos finos como rasgos, bico negro e asas abertas se materializou no saguão. Sua pelugem embaixo era dourada. Margot a chamava de Garuda. Era a única criatura apta a aparatar em Aokigahara.

O elevador de criaturas, que era capaz de acomodar um dragão de tão grande, abriu-se.

Margot viu pelo menos trinta dos antes escravizados saírem por ele, todos carregando tochas em uma das mãos e varinhas nas outras. Eles portavam varinhas porque as utilizavam para o trabalho. Todos em uniformes vermelho sangue.

Eles estavam lá embaixo. Estavam organizando o ataque há muito tempo, Margot deu-se conta. Subiram todos de uma vez.

Os bruxos foram para cima dela, de Cecilé, Cole e Nick dentro do tanque. Ao mesmo tempo, Tengus, Inferius, Hinkypunks, Barretes Vermelhos, Mortalhas-Vivas, Dementadores e tantas outras criaturas foram liberadas de suas escotilhas ao redor deles.

Vão todos morrer, percebeu Margot. E Cole vai destruir toda minha criação porque enlouqueceu.

Margot apertou a filha nos braços. Abraçou o sabugueiro junto de Cole. Garuda, a fênix, pousou num dos galhos da arvore. Juntos, sumiram do caos que se tornou o Centro.

Ela ainda ouviu os primeiros berros dos escravizados sendo atacados pelas criaturas sem aviso.

Foi naquele momento que Margot percebeu que tinha que assassinar Cole.

[...]

Japão, ilha de Honshu (Centro de Pesquisas de Aokigahara, “Boca do Inferno”)

 

Victorie

Victorie precisava de Dominique. Não era uma constatação banal porque eram muito apegadas ou porque eram irmãs. Victorie era a pessoa da vida de Dominique e Dominique era a pessoa da vida de Victorie.

Quando o casamento de Victorie estava em sua pior fase, quem a acolheu em sua viagem na Dinamarca foi Dominique. Quando Dominique estava em conflito com Lys sobre adotar Benji, quem acolheu a irmã foi Victorie. E esses eram só os últimos eventos em que uma foi o suporte da outra. Por toda a vida, Victorie não se lembrava de não ter Dominique ao seu lado.

Dominique era a pessoa de Victorie. Victorie era a pessoa de Dominique.

Quando o lobisomem saiu da jaula e foi em direção ao elevador, Victorie não percebeu sua intenção, mas suspirou aliviada que não teriam que enfrentá-lo.

Já bastavam os três capangas de Coward e o próprio Ministro da Magia interino.

Dominique apertou a mão da irmã.

— Podemos fazer isso.

Um dos homens era corpulento, tinha olhos negros e frios e pareceu hesitar em cumprir a ordem de Coward. Os outros dois as cercaram.

Avada Ked...! — o corpulento apontou para Victorie, procurando algo ao redor, sem mirar direito.

IMPEDIMENTA! — berrou Dominique e ele foi impedido de continuar por uma barreira invisível, voando alguns centímetros para trás.

Dominique não esperou os homens atacarem. Ela correu até eles, bravamente.

O homem corpulento se levantou do chão, olhou em direção aos elevadores e seu rosto adquiriu uma expressão de compreensão.

Cecilé. Ela foi atrás... — Dominique o ouviu dizer sem entender. O corpulento girou o corpo para o elevador, na mesma direção em que o lobisomem correra.

— CARROW! – Coward gritou autoritariamente para o corpulento. Era tarde demais, as portas do elevador se abriram.

O próprio Coward se irritou e empunhou a varinha.

Os três homens avançaram para as duas depois da movimentação inesperada. Victorie desgrudou os pés do chão para enfrentá-los.

BOMBARDA! — tentou Victorie novamente, mas errou o alvo. Acertou o aquário de Nick que se rachou. A bolha começou a trincar como se fosse feita de vidro.

Deprimo! – um uniformizado atacou Dominique.

Destruccio! – o segundo mirou em Dominique também.

PROTEGO! — Dominique conseguiu apartar apenas o primeiro feitiço, que lhe causaria uma explosão.

O feitiço do segundo homem a atingiu na perna. Victorie ouviu o barulho inconfundível de um osso se fraturando.

Dominique gritou. Seus olhos se encheram de lágrimas e raiva. Victorie precisava ajudá-la. 

Dominique deu alguns pulos para trás com a perna saudável. Os dois escravos e Coward as cercaram.

[...]

Rosa

— Rômulo Bennet. – entoou Rosa para o lobisomem que a focalizava com violência, indeciso sobre o que fazer.

Rosa estava com a varinha abaixada. O corpo de Margot jazia caído aos seus pés.

O lobisomem tinha apenas um metro e setenta. Tinha as costas encurvadas, como se não estivesse acostumado ao corpo de lobo. A pelugem cinzenta ficava mais escura no quarto não iluminado. Ele fazia uma careta horrível para o berreiro de Cecilé. Rosa sabia que sua audição era muito sensível.

— Você se lembra de mim? Rosa Weasley, a guardiã. Eu o procurei com Lorcan Scamander. Nós te registramos. Suas duas primeiras transformações foram no St. Mungus. – Rosa lembrou-lhe.

Ela gostaria que Cecilé parasse de chorar, mas tinha que fazer contato visual com os olhos lupinos de Rômulo. Ele era uma vítima de Margot e Cole. Foi sequestrado para um experimento.

— Podemos sair da floresta. É impossível aparatar, mas sei como sair. Estamos do mesmo lado.

O lobisomem hesitava parado no portal. Ele encarou o corpo de Margot e virou os olhos, visivelmente perturbado por tê-la assassinado. 

Rosa o distraiu. Não era fácil para os inocentes, principalmente os jovens, lidarem com atos de violência brutais cometidos impulsivamente.

— Você é da Grifinória. Vamos sair daqui. Você vai voltar para Hogwarts. – Rosa sorriu.

Rosa não sabia como lobisomens choravam, mas soube que Rômulo estava assustado.

Rômulo abriu a bocarra de focinho longo e suja de sangue, mas não falou nada. Ao contrário de Lorcan, ele ainda não sabia conviver com sua existência de lobo.

Ele relaxou. Rosa soube que ele estava cedendo.

— Margot?! – alguém gritou fazendo a curva no corredor.

O lobo se assustou. Sua expressão se alterou para pavor e Rêmulo se virou, saiu do quarto e colocou as quatro patas no chão.

Rosa gritou:

— Não! Rômulo!

Quando chegou ao corredor só viu o corpulento Amico Carrow sendo atacado, Rômulo pulando com duas patas em cima dele. Carrow deu um berro, surpreso.

Rosa pegou a varinha. Não podia deixar o jovem carregar mais aquele peso em sua vida. Com Cecilé berrando às costas, ela abriu espaço entre o corpo do lobisomem e a parede.

Depulso! – Rosa atacou Carrow, que deslizou corredor afora para longe do ataque de Rômulo.

Rômulo se preparou para ir atrás de Carrow.

— Não! – pediu Rosa. – Não mate mais ninguém. Isso marcará sua vida para s-s-sempre...

Rômulo hesitou. Carrow começou a levantar.

Expulso! — Rosa o impediu.

Carrow ganhou ferimentos no corpo todo. Tantos que caiu no chão desacordado e o sangue que era despejado aos poucos manchou o azulejo branco do piso.

— Deixe-o. – pediu Rosa. – Ele não vai sair da floresta de qualquer forma.

Rômulo estava mais confiante da companhia de Rosa. Ele se preparou para voltar ao salão principal.

— Espere! Preciso pegar as memórias de Margot. Assim teremos provas do que eles fizeram aqui.

O lobo retornou ao quarto com Rosa. Cecilé parou de chorar e sorriu para ele, estranhamente.

[...]

Dominique

Sua perna pulsava em dor. Não conseguiria ficar de pé por muito tempo. O líquido na bolha de Nick escorria para o chão conforme o aquário se trincava aos poucos. Nick não estava consciente.

Victorie, ao seu lado, tremia e soluçava. Parecia com medo de soltar outro feitiço pela péssima mira. Dominique não estava em humor de levantar o astral de Victorie.

Os três homens cercaram-nas, as varinhas em punhos. Dominique ia morrer combatendo.

EXPULSO! — berrou para o mais próximo. Feridas se abriram nele, estilhaçando todo seu corpo, desfigurando-o, desmontando-o.

Coward pareceu insanamente perigoso. Avançou contra Victorie, que tinha destruído o tanque de Nick.

Sectus...!

PROTEGO! — Dominique protegeu a irmã.

AVADA KEDA...

Coward não conseguiu terminar o feitiço. Três criaturas encapuzadas de três metros de altura, cobertas por mantos negros o cercaram, fazendo-o cair. Coward se debateu em desespero.

Os dementadores o estavam torturando, sugando toda sua felicidade, fazendo-o reviver suas piores lembranças. Eles abriram as bocarras, preparados para sugar a alma de Coward.

As luzes nos candelabros se apagaram com a invernia que os dementadores trouxeram.

Lumus Maxima! — alguém iluminou o salão no portal de entrada.

Dominique reconheceu a voz e a poderosa esfera de luz branca. Era Lys. A voz e a bola luminosa de Lys, que adentrava o salão com Lorcan já em forma humana e Molly.

O último combatente de Coward percebeu que estava encurralado.

OPPUGNO! – ele apontou para o aquário de Nick.

ASCENDIO! — Lys o atacou, vindo na direção de Dominique e Victorie.

O homem foi lançado para cima e para trás. Bateu a cabeça na parede e escorregou ao chão, desacordado. Ao mesmo tempo seu feitiço arrancou o tanque de Nick da oquidão do sabugueiro com velocidade e o aquário se lançou contra Dominique, que já estava caída no chão por conta da fratura na perna.

Carpe Retractum! — tentou Rosa que apareceu vinda do elevador com um jovem, mas estava muito longe. Suas cordas de energia não alcançaram o aquário.

O tanque bateu no corpo de Dominique com força, o peso dele jogando-a contra a parede. Dominique ouviu os gritos de Victorie, Rosa, Lys e Molly. Lorcan soltou um palavrão. 

O tanque se espatifou inteiro contra ela. Dominique fechou os olhos, protegendo-os. Mesmo assim sentiu cortes se abrirem em seu rosto e sua cabeça. Seu corpo estava protegido por roupa, mas Dominique sentiu feridas se abrindo nele também. O líquido dourado se derramou nela junto com o corpo do inconsciente Nick Coward.

Enquanto isso Cole Coward teve a alma sugada pelos três dementadores controlados por Lysander.

[...]

Rosa

Rosa foi até a cena com o peso de Cecilé às costas, horrorizada. Havia estilhaços de algo mais fino que vidro cobrindo o pequeno Nick, pálido e magro, jogado em cima de Dominique e o líquido dourado encharcando-os.

Victorie já tinha chegado lá. Rômulo as observava, em duvida sobre o que fazer.

Molly e Lorcan se ajoelharam perto delas. Lys ordenou aos dementadores que saíssem. Depois se juntou ao grupo.

Wingardium Leviosa! — ordenou Molly para os cacos, a carcaça do aquário, os galhos e os tentáculos nos corpos de Nick e Dominique.

Tudo levitou precariamente sobre suas cabeças. Lorcan pegou o garoto com facilidade nos braços e o posicionou no chão.

Lys abraçou a namorada mesmo molhada.

— Você está bem?

— Perna quebrada. – Dominique avisou e percebeu que o próprio Lys estava com uma tala no braço.

Eles começaram a rir.

Rosa, Victorie, Molly e Lorcan se ajoelharam em torno de Nick, que não parecia bem. Ele não estava respirando.

— Faça alguma coisa! – desesperou-se Lorcan.

Rosa o empurrou. Cecilé reclamou do movimento brusco.

Você está atrapalhando!

Molly ignorou o desespero do namorado. Pegou seu condão de medibruxa, que funcionava melhor com feitiços de cura:

Enervate!

Nick não demonstrou reação.

— Acorde! – gemeu Victorie.

Anapneo! — tentou Molly.

Nick tossiu alto, cuspindo aquele líquido dourado e gosmento para fora de si. Ele vomitou no cão. Abriu um pouco os olhos e Victorie se surpreendeu com a semelhança entre ele e seu tio Nicholas. Depois voltou a ficar inconsciente.

Molly deu um suspirou aliviado.

— Ele vai ficar ok.

Dominique deixou a cabeça descansar na parede. Victorie procurou Ted com o olhar. Rosa tirou o Canguru das costas e pegou Cecilé no colo. Rômulo estava em pé atrás deles, sem jeito.

— Ted? – perguntou Victorie, passando o olhar pelo grupo.

— Bem. Todos bem. – Molly resumiu.

— Quem...? – Dominique perguntou, olhando para Rômulo e Cecilé.

— Um amigo e uma ... Longa história. – respondeu Rosa.

Ferula! — Molly imobilizou a perna de Dominique com uma tala. – Consegue levantar?

Victorie ajudou a irmã a ficar de pé. Dominique fez várias caretas, estava cheia de cortes e hematomas recentes.

Lorcan pegou Nick no colo.

Então saíram da Boca do Inferno, o céu visto pelos buracos entre as copas verdes das arvores de Aokigahara já com a luminosidade da manhã.

[...]

Japão, ilha de Honshu (Tóquio, Shibuya)

 

Molly

Molly não soube exatamente como o grupo saiu da floresta. Semanas depois, quando tentou se lembrar, tudo parecia vago e as lembranças eram borrões.

Molly soube, ainda em Aokigahara, que apenas ela seria insuficiente para cuidar dos feridos.

Enquanto Dominique, Victorie e Rosa estavam no prédio da Boca do Inferno os outros enfrentaram alguns problemas. 

Por ter guiado a Cocatrice até a placa, Lys quebrou o braço pela manobra que fez com Agouro para fugir da colisão entre a Cocatrice e o Erumpente. Ele havia caído do Testrálio. Escórpio estava bem, mas Ted se encontrava perdido no meio da floresta.

Com o faro apurado de Lorcan transformado em lobisomem, procuraram Ted, para não deixá-lo desprotegido e machucado. O encontraram consciente, queimado e com os dois cortes que fez propositalmente em um dos braços, além de muitos machucados no corpo.

Molly e Lorcan os reuniram na entrada da Boca do Inferno. Escórpio e Henry foram juntar os três Testrálios que o primeiro grupo usou para pousar no telhado, esperando o enfretamento entre a Cocatrice e o Erumpente.

Mais tarde, já com uma Dominique com a perna quebrada, uma Victorie extremamente nervosa e uma Rosa com uma criança a tiracolo, além de um rapaz de olhos melancólicos, Molly fez com que os mais feridos voltassem ao acampamento voando nos Testrálios disponíveis. 

As outras duas criaturas aladas estavam lá. Assim, Dominique, Ted, Lys (com o desacordado Nick) e Escórpio (com a pequena Cecilé) voaram até o acampamento.

Molly, Rômulo, Victorie, Lorcan, Henry e Rosa fizeram a caminhada de duas horas até a barraca.

No acampamento, Molly nem pensou duas vezes para tirá-los de lá. Ela não ficaria mais nenhum minuto naquele lugar. Apenas Nick estava muito mal, mas ninguém ia aparatar.

Fez alguns primeiros socorros, usou algumas poções e feitiços e avisou que estavam dando adeus a Aokigahara.

Nós só precisamos chegar até Toquio, pensou Molly. E conseguiremos ajuda.

Foi assim que, sem planejar, ela liderou o último passo deles para fora da floresta.

Em Agouro ela colocou Lys, o descordado Nick e Lorcan. No segundo Testrálio foram Rosa, Escórpio e Cecilé. Montados no terceiro voaram Dominique e Victorie. Henry e Rômulo dividiram o quarto. Ted e Molly foram no quinto. Molly não quis se separar de Ted porque ele era o mais machucado (sem contar Nick).

Em Tóquio, pousaram no meio do caos que era o cruzamento mais lotado do mundo. Eram oito semáforos juntos, com pessoas atravessando faixas de pedestres, carros acelerando, muito barulho e fumaça.

Havia prédio muitos altos ao redor deles, todos com anúncios chamativos, muitas cores e pessoas se amontoando num vai e vem organizado, saindo e entrando das estações de trem e metro.

Eles fizeram o cruzamento parar de repente. Nenhum carro se atreveu a acelerar e nenhum pedestre se atreveu a atravessar. Os japoneses eram muito solícitos e responsáveis.

Mesmo assim, se assustaram. O grupo ouviu gritos, buzinas discretas, expressões de surpresa, bicicletas se desviando, flashs fotográficos, ligações de celulares e insultos.

— Temos que sair da rua! – avisou Lorcan desnecessariamente.

— Para a estátua de Hachiko! – berrou Dominique para se sobrepor ao barulho.

Eles, cansados e confusos, conseguiram que seus Testrálios chegassem até a estátua de Hachiko. Era uma escultura em forma de cão de cor amarronzada. Dominique conhecia a história do monumento, mas não conseguiu se lembrar. Também não era importante.

Eles ainda estavam atraindo atenção, mesmo pousados na área circular em torno da estatua que era como uma praça. Japoneses fumavam, sentados, observando o estranho grupo.

Nenhum deles se preocupou. Alguns desmontaram dos Testrálios e sentaram nos bancos, com os traseiros doendo. Lorcan e Dominique beberam Hidromel direto da garrafa.

— Graças a Deus. Ou Merlin. Que droga de floresta negativa! – suspirou Henry.

Ted teve que resgatar um último resquício de força:

Expecto Patronum! — sua raposa avermelhada surgiu, sobressaltando de uma vez os japoneses. – Aqui é Ted Lupin. A Expedição Fênix foi bem sucedida, mas precisamos de ajuda. Estamos com feridos. Nossa localização é...

— Shibuya, na estátua de Hachiko. – ajudou Dominique.

— Shibuya, na estátua de Hachiko. – repetiu Ted. – Para o imperador japonês bruxo.

A raposa sumiu no ar, deixando-os para trás, lidando com os curiosos trouxas. Alguns se atreveram a fazer perguntas. Dominique respondeu grosseiramente.

— Damatte! – ela se irritou com um casal cujo jovem tinha os cabelos descoloridos e amarelos.

O casal saiu muito contrariado.

— O que você lhes disse? – perguntou Lys.

— Para que calassem a boca.

Lys tornou a rir com ela.

Quinze minutos depois a mesma coruja gigante que os encontrou no Chalé das Conchas apareceu no céu e deixou cair outra lanterna japonesa aos pés deles.

Lorcan carregou Nick. Rosa apertou Cecilé contra si. Os outros se espremeram num circulo. Rômulo não soube o que fazer.

— É ajuda do Ministério da Magia Japonês. – explicou Rosa. – Isso vai nos levar embora daqui. É só colocar o dedo. Chama-se chave de portal.

— Entendi. – Rômulo falou pela primeira vez.

Àquela vez a lanterna ficou pairando no ar na altura do peito da maioria deles. Espremidos num círculo, tocaram o objeto.

Mais uma vez eles sumiram para o além.

Depois disso, Molly só se lembrou de ter virado paciente pela primeira vez na vida, aos cuidados de bruxos japoneses num templo budista por duas semanas até voltar para casa.

Nick acordou. Lys mandou uma coruja para Roxanne contando sobre o sumiço de Henry.

Com alivio, deram adeus definitivo a Aokigahara.

O Ministério da Magia Japonês entendeu com tranquilidade a bagunça que eles fizeram em Shibuya.


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Notas finais do capítulo

Notas:

[1] O feitiço que Cole usou no experimento não existe! Juntei o "Geminio" (que existe, é para duplicar objetos) e "Veneficium" (poder mágico em latim). Feitiço inventado por Cole, não pela Margot, porque Margot não acreditava que era possível tal transferência de magia.

[2] O nome da elfa (Clava) vem de "sclavus" (escravo em latim).

[3] Muito provavelmente Amico se apaixonou pela Margot. Fica ai a polêmica.

PS: tem alguém lendo "atrasado" quem ainda não chegou por comentário? Diz ae o que achou da fic! ;D