Aokigahara escrita por Yennefer de V


Capítulo 10
A encantadora de criaturas


Notas iniciais do capítulo

BOAS NOTICIAS! Terminei de escrever os últimos três capítulos, só falta betar!

Boa antepenúltima parte procês :)

PS: eu gosto do Clif (apesar de nem ter usado muito ele), mas eu adorei a Margot! (odeio Cole).



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Japão, ilha de Honshu (Centro de Pesquisas de Aokigahara)

 

Margot

 

Margot acordou em seu quarto maravilhosamente decorado. Cole não fez objeções quando Margot fez exigências sobre sua acomodação. Cole sabia que sem Margot seus experimentos seriam fracassos.

Ela se espreguiçou, colocou os pés no tapete iraniano feito a mão e se levantou. A cama dossel era gigantesca com cortinas avermelhadas. Sua penteadeira tinha um banco forrado com tecido branco e detalhes florais carmim e três espelhos. Do teto pendia um lustre de cristal. Havia um guarda-guarda provençal de três portas com espelhos, dois pufes com o mesmo tecido do banco e uma estante cheia de livros.

Dentro do guarda-roupa Margot guardava sua Penseira e seus frascos de diamantes com memórias.

Margot olhou pela janela gigantesca de seu quarto, com cortinas carmim amarradas. Aokigahara era tão bela vista do segundo andar do Centro de Pesquisas. Margot considerava a floresta um lugar maravilhoso. Era silenciosa e discreta, tomada por verde em todas as estações do ano, feroz e indomável pela natureza e pelos homens (bruxos ou trouxas).

Margot começou seu dia na sala de banho. Era um espaçoso cômodo com uma janela de cortinas drapeadas cor de sangue, um espelho de dois metros na parede e uma banheira de cerâmica branca no centro.

Margot tomou seu banho, lavou os cabelos ruivos e se vestiu no closet provençal. Depois saiu do quarto e encontrou o corredor. Tudo fora do quarto de Margot era decadente comparado ao ambiente sofisticado que era seu dormitório.

Trancou a porta com a chave feita de chifre de Arpéu que sempre estava em seu pescoço e seguiu pelo corredor precariamente pintado.

Não gostava de compartilhar o quarto com o corredor de alojamentos dos amaldiçoados, mas era o melhor andar. No térreo era o laboratório principal e nos subsolos ela não teria a vista magnífica de Aokigahara.

Ela chegou ao elevador, passando pelo corredor vazio, todas as portas dos alojamentos fechadas.  Apertou o botão de “térreo” e aguardou.

As portas se abriam pesadamente. Cole não tinha gastado muitos galeões com a construção daquele lugar. Quando chegou ao térreo, Margot andou com seus saltos altos pelo amplo saguão principal, passando pelas escotilhas fechadas que trancavam criaturas mágicas.

Viu a costumeira fila de pessoas uniformizadas com vestes vermelho sangue, todas com olhos desfocados e movimentos mecanizados. Um homem corpulento, de ombros largos, cabelos negros e olhos frios consultava um pergaminho velho enquanto lançava feitiços amarelados nas pessoas da fila. Amico Carrow parecia entediado.

Imperio! — ele reforçou o feitiço do dia anterior em Jan Scabior, depois deu uma olhada no pergaminho. – Vá recolher os corpos dos abortos que os Hinkypunks e Tengus atraíram na última semana. Precisamos aumentar a quantidade de Inferi. – ordenou para Scabior.

O amaldiçoado, libertado de Azkaban para ser escravo de Cole no Centro de Pesquisas, virou o corpo e saiu porta afora para a floresta.

— Dia cheio? – perguntou Margot para Amico.

Amico Carrow deu um sorriso de dentes feios e amarelados para Margot.

— Mesma coisa. Não posso reclamar. Esses idiotas estão enfeitiçados e estou ganhando meus galeões. Não estou mais preso. Estou amaldiçoando pessoas. Podia ser pior.

— Concordo. – Margot sorriu para ele. – Vamos tomar um café?

— Assim que eu terminar de reforçar as maldições. – Amico pediu.

Margot concordou com a cabeça.

Ela passou pelas escotilhas fechadas. Algumas delas tremiam perigosamente. Em outras os barulhos emitidos eram assustadores.

Margot parou na frente da escotilha de três metros que enjaulava os Tengus. O barulho lá dentro era de corvos grasnando. As criaturas não ficavam em suas formas de humanóides porque a prisão era muito pequena. Ela também escutava vozes (porque eram ventríloquos), mas já haviam parado de tentar aparatar lá dentro. Era impossível.

Cole sabia que sem Margot ele não teria sucesso em seu experimento de matar os abortos.

Margot o tinha acompanhado desde o começo. Ela era melhor amiga de Eleonore, aquela pobre mulher suscetível e ingênua. Margot só considerava a amizade de Eleonore uma boa forma de criar relações proveitosas através de seu rico sobrenome e as intermináveis festas e eventos sociais. Ela tirava proveito de sua carência afetiva para conseguir galeões, bens materiais ou apenas frequentar lugares de luxo (incluindo a mansão dos Burke).

A mordomia durou até Cole entrar na vida de Eleonore. Margot foi sorrateira. Ouviu sobre a paixão arrebatadora entre Eleonore e Cole, mesmo que a família de Cole tivesse aquele boato sobre o irmão aborto. Depois consolou a amiga quando o namorado não se tornou auror.

A situação ficou delicada para Margot quando Eleonore engravidou. A família Burke, de sangue-puro tradicional e riquíssima, não aceitou. Mas Margot lembrou à amiga que ela era filha única de pais já falecidos. Ela não podia ser deserdada.

Eleonore se acalmou e decidiu casar com Cole Coward. Margot teve que conhecê-lo. Eleonore era a peça mais valiosa em seu jogo imaginário de ascensão na vida e ela não queria um empecilho.

Quando conheceu Cole gargalhou internamente.

Eles viraram amantes, já que Eleonore fazia o que Cole queria e Cole fazia o que Margot queria. Cole conseguiu uma ótima posição no Ministério da Magia, “comprada” pelo sobrenome e doações de Eleonore.

Numa noite, quando Eleonore estava com o pequeno Nick II em sua mansão, tentando ser mãe, e Cole estava nu no apartamento que tinha comprado para Margot, foi que ele desabafou.

Cole já era um pouco roliço. Seu peito subia e descia com sua respiração, o óculos estava largado na escrivaninha de Margot e os cabelos já rareavam. Ele ainda não usava bigode.

Margot, ao seu lado na cama, parecia uma estátua grega. Era pálida, de cabelos ruivos e longos, olhos verdes claros e lábios rosados. Estavam iluminados apenas por candelabros de diamantes com velas, pousados aos dois lados da cama dossel.

Os dois miravam o teto.

— Os boatos sobre meu irmão... – começou Cole respirando alto.

Margot esperou. Conhecia o poder dos segredos. Quanto mais soubesse sobre uma pessoa, mais conheceria suas fraquezas.

— Nicholas. – contou Cole. – Era um aborto.

Margot virou o corpo e abraçou o amante.

— Sinto muito Cole.

— Eu tentei, sabe. – Cole começou o desabafo. – Depois que ele se foi. Eu fiz os exames para ser auror, para que meu pai não sentisse o vazio que Nicholas deixou. Mas...

— Eles o recusaram. – Margot incentivou.

Cole assentiu com a cabeça.

— Me casei com Ele para ter certeza de que nenhum filho meu seria assim. Ela é sangue-puro. Isso não pode acontecer.

— Claro que não, Cole. – Margot o apertou contra si.

— E vou cumprir o que Nicholas me pediu.

Margot arqueou uma das sobrancelhas.

— O que você quer dizer?

— Ele pediu para que eu nunca esquecesse. – sussurrou Cole. – Que é melhor não ter vida nenhuma do que viver uma vida abortada. Vou fazer isso por ele, Marge.

Cole e Margot foram amantes e colegas de trabalho por anos no Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Ele trabalhava na Divisão de Seres. Ela trabalhava na Divisão de Feras.

Cole compartilhava cada vez mais sua suspeita e desespero porque Nick II não demonstrava sinais de magia. E sua incapacidade de cumprir a promessa ao irmão o deixava cada vez mais deprimido.

Eleonore não aguentava mais a indiferença do marido e sua aparente falta de amor pelo filho. Foi quando Margot percebeu que era necessário mais um empurrão.

Com a recente aposentaria de Quim Shacklebolt, alguns movimentos de Eleonore e a boa reputação de Cole, ele conseguiu o cargo de Ministro da Magia interino.

Ele transferiu Margot para a Comissão de Registro dos Nascidos Trouxas. Margot e aquela guardiã justiceira da piada que era a Cúpula dos Guardiões registraram todos os abortos da Inglaterra. O projeto da Weasley foi implementado em boa hora.

Enquanto isso, o dinheiro de Eleonore começou a sumir, Azkaban perdeu seus prisioneiros e os aurores foram trocados por bruxos estrangeiros por ordem do Ministro da Magia interino. Um prédio começou a ser construído em Aokigahara também.

— O que você acha Marge? – perguntou Cole, os olhos brilhando de excitação, enquanto lhe mostrava o Nível Um, no subsolo, em uma das visitas.

À sua frente estava uma Penseira grudada ao chão do tamanho de um poço. De dentro dela saiam diversos galhos de carvalho. Cada galho chegava até uma gaiola pequena com um corvo dentro. Os corvos grasnavam. Margot não ligou para a barulheira. Havia uma alavanca de pé ao lado de Cole.

— E o cerne? – perguntou Margot, se referindo à essência dentro dos galhos de carvalho, que funcionariam como varinhas gigantes, canalizando magia para as gaiolas.

Cole meneou a cabeça.

— É melhor você perguntar ao nosso visitante russo depois.

Margot sabia que o “visitante russo” era um fabricante de varinhas sequestrado pelos ex-prisioneiros de Azkaban de Cole (amaldiçoados ou não pelo feitiço Imperius).

Cole puxou da mente, com a varinha, a memória de Nicholas se jogando da arvore em Aokigahara. Depois a misturou na Penseira.

— É o que os abortos verão quando sonharem. E saberão que é melhor...

Não ter vida nenhuma do que viver uma vida abortada.— completou Margot.

Cole empurrou a alavanca para transferir a memória aos Tengus. Deu um suspiro e olhou para Margot, enquanto uma luz alaranjada, um feitiço, passava por todos os galhos, da Penseira até as gaiolas. Os corvos grasnavam desesperadamente.

— Você acha que é errado, Marge?

Margot o viu hesitar. Ela pousou uma mão num ombro dele.

Você acha? – devolveu a pergunta.

Os olhos de Cole se tornaram frios.

— Por que essas criaturas irracionais podem ter magia e Nicholas teve que morrer por não ter? Por que até fantasmas podem deixar um rastro de existência aqui e Nicholas teve que morrer? Estou fazendo o que ele me pediu. Nenhum aborto merece uma vida. – Cole terminou.

Então puxou a alavanca de volta, finalizando o experimento. Margot ficou ouvindo os grasnos desesperados dos Tengus e sorriu para o amante.

Ela devaneou tanto que Amico terminou de amaldiçoar a fila dos prisioneiros com suas respectivas tarefas do dia.

— Terminei senhorita Orphée. – Amico chamou a atenção dela.

— Para que tanta polidez Amico?

Amico abriu o sorriso de dentes tortos.

— Você sempre inspirou respeito. O estúpido do Coward não.

Margot sabia que poucos respeitavam Cole. Ele era instável, agressivo e ficava mais em Londres do que em Aokigahara, já que era Ministro.

Margot e Amico foram até o refeitório. Ela não gostava daquele ambiente popular e tradicional, mas estava vazio. Os elfos domésticos estavam acostumados aos pedidos extravagantes dela. No caso dos outros, eles comiam lixo na concepção de Margot.

Ambos fizeram seus pedidos e comeram em silencio por um tempo.

— Posso perguntar uma coisa, senhorita Orphée? – perguntou Amico, dando uma bebericada no suco.

— Margot. – corrigiu ela.

— Margot. – repetiu Amico. – Por que você está aqui? Por que mora aqui? Você não era prisioneira, é livre... Não pode ser pelos galeões ou pelo amor de Coward. – Amico se atreveu.

Margot largou a caneca de chocolate quente com chantilly na mesa. Ela pensou por um tempo.

— Cansei de ser sombra de Cole. Ou Eleonore. – confessou para Amico, que não tinha para quem contar seus segredos.

— E matar abortos vai te ajudar como? – perguntou Amico.

Margot deu um suspiro. Azkaban fazia seus prisioneiros terem pensamentos tão simplórios.

— Não é sobre os abortos. Para Cole sim. Para mim é sobre as possibilidades.

— Que tipo de possibilidades?

— Imagine essas possibilidades. Domesticar um bicho-papão para ir até um inimigo e o enlouquecer sem chance de defesa. Ou reproduzir fênix o suficiente para ter uma grande quantidade de lágrimas, vendendo-as por um valor altíssimo. Usar um Tengu para plantar memórias falsas através de sonhos, alterar memórias, enlouquecer alguém com seu ventriloquismo, fazendo-o ouvir vozes ou sequestrar alguém com o poder de aparatação da criatura. E essas são apenas algumas das possibilidades.

Amico sorriu novamente com os dentes amarelados.

— Gostei do seu raciocino. Mãos limpas de sangue e galeões no bolso.

— Exatamente. Os abortos são apenas testes. – Margot confidenciou. – Contudo, não vamos avisar ao Cole. Ele é tão feliz brincando de matar os abortos.

[...]

Japão, ilha de Honshu (Centro de Pesquisas de Aokigahara, “Boca do Inferno”)

 

Dominique

 

Dominique achou que os dementadores iriam matá-las. Ninguém tinha feito um patrono em Aokigahara antes, a não ser Ted contra as Mortalhas-Vivas, que tinha sido treinado para isso.

Os doze dementadores avançaram contra elas. O mundo ao redor de Dominique perdeu a iluminação branca de seu feitiço.

Ela observou as doze criaturas de três metros de altura, cobertas por mantos negros e rasgados, com mãos e corpos tão magros que pareciam cadáveres em decomposição e órbitas vazias de olhos flutuando até ela, Victorie e Rosa.

Dominique sentiu o ar esfriar muito mais do que em toda sua estadia em Aokigahara. Seu corpo começou a tremer involuntariamente e ela ouviu um grito de criança.

O grito de Benji quando perdeu os pais biológicos no incêndio, percebeu, delirando.

Ela tinha visto a cena quando Benji acidentalmente abriu um armário com um bicho-papão, pois era o pior medo do filho. Agora a cena se repetia através dos dementadores para ela. 

Não o deixem no fogo, pediu Dominique. Ele está assustado. Deixem Benji comigo. Ele é feliz comigo e com Lys.

Dominique caiu para trás. O grito de Benji continuava em sua cabeça, seus olhos amedrontados procurando por ela, por sua ajuda, por seu feitiço.

Dominique estava coberta por pingos de água no rosto.

Não é água, são lágrimas..., percebeu. Eu vou morrer...

Três dementadores tiraram os capuzes das cabeças, mostrando suas bocarras, grandes buracos que pareciam túneis negros. O ar ao redor de Dominique era sugado com força, o grito de Benji ficou mais alto e ela tombou todo o corpo para trás, fechando os olhos.

Ben... Lys... Vic... Lou... Mãe... Pai..., listou.

Uma mão firme agarrou a sua, caída no chão. Dominique ouviu a voz da irmã como se fosse um eco.

— DOMINIQUE! LEVANTE!

Ela não obedeceu de imediato, era impossível. Mas a mão a puxou para cima com uma força descomunal e Dominique fincou os dois pés no chão, tremendo de frio e fraqueza.

Percebeu Victorie ao seu lado, cercada de dementadores também. Ela não tinha caído para trás. Victorie estava assustada, mas implorava com os olhos por força.

— TEMOS... QUE FAZER ISSO! – Victorie a incentivou.

Ben, Dominique se lembrou. Ben brincando com o pelúcio. Lys embaixo da cerejeira na Morada, lendo. Louis e Holly namorando na sala administrativa sem trancar a porta. Victorie e ela bêbadas no Chalé das Conchas. Ben, Lys, Vic, Lou...

Secando os olhos com uma mão e segurando a varinha com outra, Dominique berrou:

EXPECTRO PATRONUM!

Ao seu lado Victorie também gritou. Tentou uma, duas e três vezes. Na terceira conseguiu.

Um falcão azul e um camaleão avermelhado explodiram no salão, fazendo os dementadores recuarem de imediato. As doze criaturas encapuzadas deslizaram por elas, seus mantos rasgados farfalharam em suas cabeças quando fugiram prédio afora.

A atmosfera fria e sombria se extinguiu do saguão.

Alguém havia acendido todas as velas nos candelabros. Dominique respirou fundo. As pernas ainda tremiam. O sorriso de vitória que Victorie deu foi o suficiente para lhe restaurar a esperança. Procurou Rosa com o olhar, mas Rosa não estava lá, nem aquela mulher ruiva e alta.

Cole Coward estava na frente do tanque de Nick como se não tivesse se movido. Ele pareceu irritado.

— Matem-nas. – ordenou aos três homens.

Os três homens uniformizados avançaram para Victorie e Dominique.

BOMBARDA!— tentou Victorie, mas sua mira foi péssima.

Ela acertou a jaula do lobisomem, que se abriu. O lobo saiu de sua prisão.

[...]

Rosa

Quando os dementadores avançaram para Rosa e as primas, uma mão firme a agarrou e a arrastou salão adentro. Estava tão frio e escuro pela falta de luz do feitiço de Dominique e pela investida dos dementadores que Rosa só reconheceu a mão de Margot pelos seus inúmeros acessórios de ouro e pelo fraco brilho vindo da varinha da mulher.

Rosa começou a se debater. Coward parecia entretido com os homens, a alavanca e o lobisomem preso. Rosa reconheceu vagamente o lobisomem. Tinha ajudado Lorcan a registrar todos eles para que o Ministério enviasse a Poção do Acônito aos lobos mensalmente.

Alguma coisa Bennet, Rosa lembrou inutilmente.

Seu pulso doía. Ouviu Victorie gritar alguma coisa lá atrás, mas estava longe demais.

Margot a arrastava pela mão da varinha e Rosa tentou por instinto, sem saber se mirava corretamente:

Estupef...

Expelliarmus! — Margot se defendeu.

Rosa sentiu sua varinha escorregar da mão e ir até a traidora. Ela puxou o braço com agressividade, preparada para correr.

Para sua surpresa, Margot a largou de repente.

— Espere! – Margot pediu, colocando as duas varinhas no chão, a dela e de Rosa, com urgência. – Pegue-as.

Rosa parou, desconfiada. Margot deu passos para trás, indicando que não era um truque.

Preciso da sua ajuda.— Margot foi direta.

Rosa agachou até o chão e tomou as varinhas na mão. Empunhou uma delas mirada em Margot.

— Diga-me como uma traidora precisa da minha ajuda. – perguntou Rosa com desprezo. – Você me fez registrar os inmágicos para assassiná-los.

— Eu e Cole tivemos uma filha. Ele quer fazer com ela o que fez com Nick. – argumentou Margot. – Preciso tirá-la daqui.

Rosa não era boa em duelos ou feitiços de azarações. Porém, ela era boa com seres vivos. Ela sabia quando as pessoas estavam mentindo.

Tire-a daqui.— pediu Margot.

Rosa levou apenas um segundo para tomar sua decisão. Então seguiu Margot.

Elas chegaram ao fim do salão. Havia dois elevadores. Um era enorme, tão grande que era possível colocar um dragão lá dentro. Rosa viu a placa “APENAS CRIATURAS” acima do elevador.

O elevador ao lado era de tamanho normal. Margot socou o botão. De repente, as luzes dos candelabros se acenderam. Os dementadores sumiram e Rosa percebeu, com alívio, que Victorie e Dominique estavam bem.

Até os três homens se adiantarem contra elas. Rosa quis ir ajudá-las.

— Não! – pediu Margot. – Ela é só um bebê.

As portas do elevador se abriram com estrépito e com a indecisão de Rosa, Margot conseguiu empurrá-la para dentro. Antes das portas se fecharem, Rosa viu a jaula do lobisomem se quebrar por um feitiço perdido.

Rômulo Bennet. Dezesseis anos, a cabeça de Rosa registrou.

Rosa observou os botões dos andares que o elevador acessava: A1, Térreo, N1, N2, N3...

Nível 1, nível 2, nível 3, o prédio continua no subsolo, deu-se conta.

— Eu não estava fazendo pelos abortos. – Margot falou para Rosa. – Eu estava fazendo pela inovação. Estava aperfeiçoando o que outros bruxos já começaram. Cole estragou tudo. Cole sempre foi o insano.

O elevador abriu sua porta no “A1”. Andar 1.

Elas saíram em um salão menor, todo branco, Margot à frente, Rosa com a varinha apontada para a colega. Rosa acendeu sua varinha e o caminho ficou mais claro.

— Você precisava assassinar tantos inmágicos pela inovação? – Rosa perguntou com nojo na voz.

— A única pessoa que eu tenho o real desejo de assassinar é Cole. – Margot disse conclusivamente. – Só não sou hipócrita. Nunca liguei para as mortes dos abortos. Eram testes.

— Por que sua filha não pode ser um teste? – perguntou Rosa. – Por que ela é mais especial?

— Você é quem considera todos iguais. Você pode salvar ao menos ela? – pediu Margot.

Elas seguiram pelo corredor. O corredor precário era preenchido de portas iguais. Todas eram marcadas com “Alojamento 1”, “Alojamento 2”, “Alojamento 3” ...

— Eu sabia que os galeões acabariam um dia. – continuou Margot sem olhar para trás, como se devaneasse sozinha. – O dinheiro de Eleonore não seria eterno. Meu plano era me livrar de Cole em breve. Só que Cole endoidou antes.

Rosa sentiu nojo de Margot, mas não a deteve. Ela estava falando. Estava confessando. Viraram para a direita, dobrando o corredor. Margot puxou uma chave em seu pescoço.

— Cole decidiu que assassinar abortos não era o suficiente. Ele precisava dar magia ao filho. Mesmo depois do ataque dos amaldiçoados, de libertar todas as minhas criaturas, de... Ele continuou. – Margot tentava fazer sentido, falando muito rápido.

Rosa e Margot pararam na porta que finalizava o corredor. Ao contrario do prédio acabado, a porta era sofisticada. Margot destrancou-a com a chave e virou a maçaneta.

Entraram em um quarto magistral. O que mais chamou a atenção de Rosa foi uma das portas do guarda-roupa aberta, com uma Penseira dentro e frascos de diamante com memórias.

Provas. Detalhes. A história de Aokigahara, Rosa percebeu. Preciso pegar os frascos.

Margot não se deteve no quarto principal. Estava apressada. Foi até a porta de um quarto anexo. Rosa a acompanhou, mirando a varinha para suas costas.

Margot entrou primeiro falando com alguém lá dentro. Rosa parou no portal, desconfiada. Até perceber que ela falava com uma garotinha num berço.

Margot pegou a bebê sem cerimônia do berço para o colo. A garotinha tinha cabelos negros e olhos castanhos. Ela fazia festa para a mãe. Margot enfiou a menina em um Canguru (uma espécie de mochila para carregar bebês) e pediu com um gesto para que Rosa ficasse de costas.

— Você tem que colocar! – avisou, aflita.

Margot ajudou Rosa a colocar a mochila, desatando a falar:

— Quando a gente começou, Cole não quis fazer nada com Nick. Eram só os abortos. Quando os experimentos com o filho começaram a dar errado, Cole decidiu que Cecilé seria a Cobaia Um. Foi quando eu decidi matá-lo. Só não podia deixar Cecilé em qualquer lugar depois de me tornar foragida.

Rosa estava com a criança às costas. Margot fez um sinal para que Rosa saísse porta afora. Em vez disso Rosa se virou para Margot.

Estupefaça! — Rosa atacou Margot e o corpo da mulher desmontou no chão. – Nenhum dos inmágicos merecia ser cobaia.

Rosa se preparou para ir até o quarto pegar os frascos de memória.

Foi quando uma forma peluda entrou no quarto agressivamente, fazendo-a dar alguns passos para trás de susto. 

O lobisomem pulou em cima da desacordada Margot e mordeu diretamente sua jugular. Rômulo continuou rasgando o pescoço de Margot, que tinha os olhos abertos em surpresa pelo estuporamento de Rosa. O sangue começou a esguichar na boca do lobo.

Rosa não fez som algum. Cecilé, no entanto, começou a berrar pelo susto. Rosa empunhou a varinha.

O corpo de Margot ficou imóvel no chão, seu sangue escorrendo pelo tapete aveludado, manchando o bege de vermelho vivo. O lobisomem ergueu a cabeça, ereto em quatro patas, o focinho pingando sangue. Ele encarou Rosa com os olhos furiosos e lupinos. 

Rosa baixou a varinha. Cecilé continuou chorando.


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Notas finais do capítulo

Notassssss:

[1] Sobrenome da Margot (Orphée) vem de Orfeu em francês, poeta e médico na mitologia grega, descrito assim: "quando tocava sua lira que seu pai lhe deu, os pássaros paravam de voar para escutar e os animais selvagens perdiam o medo". Margot, pra mim, é a verdadeira encantadora das criaturas. Ela sim é uma sociopata.

[2] A cena que Dominique vê sobre o Benji e o bicho-papão está na fanfic "Mãe?Eu?!" (no meu perfil).

[3] Talvez eu não tenha que explicar isso, mas Vic não foi tão afetada pelos dementadores pelo mesmo motivo que o Harry sempre foi mais afetado que os outros: ele tinha mais coisas deprimentes no passado. No caso da Dominique, pra mim, ela saber o que o filho dela sentiu num incêndio é terrível. Vic nunca passou algo assim.

PS: mano tô de TPM e chorei betando a cena da Vic e da Dominique??? HAHAAU

O que acharam do que meu amigo Luc (Humbert) chamou de "Girl Power"? Ele quem deu várias ideias, aliás. Só que o capitulo não podia chamar GIRL POWER.