Os Jogos de Johanna Mason escrita por Nina


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!!!! Primeiro capítulo na arena, espero que gostem! - eu normalmente falo mais, mas hoje estou meio sei la, sem nada pra dizer hahah....
Ps: o capítulo 6 ficou MUITO curto, desculpa, eu nem percebi, se eu visse eu teria juntado 2.... ;-;.



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 Lá dentro, vejo que a metade dos tributos está sentada em bancos um ao lado do outro, escolho um lugar perto de uma menina que me parece inofensiva e perto da parede da aeronave. Eu quero fechar minha cara e olhar para a parede, mas continuo com a porcaria da estratégia de chorar e fingir que estou disfarçando quando alguém me encara. Muitas pessoas me encaram. Uma mulher instala o rastreador em meu braço, e eu finjo chorar de dor, quando não é nada comparado a ser chicoteada. Experiência própria. Quando a aeronave finalmente decola, as luzes se apagam e posso ouvir os carreiristas gritando coisas como " esse ano é nosso! Vamos vencer isso! ". Idiotas. Ainda não perceberam que só um sai vivo? A outra parte dos tributos já percebeu isso, pelo visto. Todos parecem apavorados. A não ser pelos gritos desses tributos idiotas, está tudo em total silêncio, e eu repasso minha estratégia. Correr como se minha vida dependesse disso ( depende mesmo, mas não penso nisso agora. Posso rir dessa comparação quando estiver em segurança. Correr e pegar um machado. E facas, se estiverem em meu caminho. Depois disso, uma mochila ou algo assim. Normalmente as coisas estão jogadas ao acaso, o mais importante mais perto da cornucópia. Meu machado estará lá. Se tiverem machados, é claro. Mas eles normalmente tem. Uma arma grande, difícil de utilizar e extremamente mortífera. A audiência vai berrar quando eu jogar um machado na cara de algum desses tributos. Eu talvez não me sinta confortável matando algum desses tributos, mas sei que o farei quando chegar a hora. No fundo, todos estão pensando nisso.

 

 Respire fundo.

 

Eu foco meus pensamentos de novo. Nós estaremos em distâncias iguais da cornucópia, entao eu correrei em direção a minha arma e então, sem me virar para tras, correrei em direção oposta a que usei para entrar na arena. Parece um bom plano.

Enquanto eu uso cada grão de concentração que tenho para me focar no agora, o aeroplano comeca a pousar e tenho certeza que meu coração perde uma batida. Eu queria fazer minha melhor cara fechada, mas já estou nessa estratégia idiota tem bastante tempo para jogar tudo no lixo agora.

 

 Respire fundo.

 

Quando descemos, minha estilista está me esperando na pista de pouso, e me acompanha para um lugar onde me dá uma roupa. Calça comprida bege escura, regata verde escura, casaco amarelo fluorescente. Tenho vontade de me matar ao olhar essa coisa brilhando em minha frente.

— O que devo esperar dessa roupa?

— Não sei. Esse modelo de roupa sempre foi usado em arenas, a não ser em lugares realmente diferentes. Mas eu acho que eles vão com o básico esse ano. Floresta, ilha, algo assim. Não se esqueça de camuflar esse casaco.

— Sim.

— Você tem alguma lembrança de seu distrito?

— Não. Pobres demais, deixei minhas jóias para minha mãe vender.

 

 Respire fundo.

 

Ela assente com a cabeça e começa a me preparar. Me ajuda a colocar a roupa e trança meus cabelos em um penteado que ela jurou ser " forte e que vai ficar muito tempo em seu cabelo ". Como se minha maior preocupação fosse a porcaria de uma trança. Ela me oferece comida, e eu experimento um pouco do ensopado antes de recusar e passar meu tempo bebendo água. Me assusto ao ouvir uma voz sem dúvida robótica informando que faltam 10 minutos. Eu engulo em seco e tomo mais um gole de água, tentando me acalmar. Meu plano vai funcionar, eu sou boa, eu posso fazer isso.

 

 

 Respire fundo.

 

 Eu talvez não consiga, mas tudo bem. Minha vida foi razoável até agora, e assim não terei que me preocupar com cada centavo gasto. Eu tento me alongar para correr mais rápido, e com isso perco 5 minutos. Eu como uma colherada de ensopado e me alongo de novo. 2 minutos. Não pode ser tão ruim assim, essa história de morrer. Eu devo entrar na espécie de elevador agora, diz minha estilista. Boa sorte. Por favor, nunca deseje sorte a alguem colhido nos Jogos. Chega a ser irônico. Eu entro no elevador e a porta imediatamente se fecha, e meus ouvidos chegam a doer devido ao silêncio. Eu falo sozinha para quebrar o silêncio assustador, e também para fazer meu cérebro continuar a funcionar.

— Agora é a hora de dar meu melhor. Sorria para as câmeras. Você tem uma chance, uma chance real.

O elevador comeca a subir e eu continuo a falar para não entrar em pânico.

— Boa sorte. Por favor não morra. Eu sei que estou entrando em pânico mas por favor não faça isso com a gente. Me ajude a te ajudar.

Eu consigo ver a luz do sol e dar uma olhada nas árvores ao meu redor. Varios tipos de árvores, o clima é frio, tem gelo ao redor. Não aqui, posso correr sem escorregar. Eu estou em uma floresta, mas ao meu lado tenho uma montanha gigante. Ao pensar no que fazer quanto a isso, decido simplesmente me jogar e a escalar do melhor jeito que puder. Tem várias árvores lá, posso achar abrigo. Quando ouço a voz do narrador me desejando Feliz Jogos Vorazes, sei que tenho um minuto.

Minha prioridade maxima sempre foi achar um machado, entao é isso que procuro. Vejo vários espalhados pelo lugar, mas foco minha atenção em um que esta no caminho que pretendo seguir. Perto dele, uma mochila, assim como planejei. Eu me preparo para correr na direção deles, sem olhar ao redor. Se ver algum carreirista ao meu lado, com certeza perderei a coragem. Calculo ter trinta segundos, então me preparo pra realmente correr. 10 segundos. Merda. Merda. A unica palavra em que consigo pensar. Mas depois só consigo correr.

Eu realmente sou mais rápida que varios deles, e em pouco tempo alcanço meu objetivo. Só falto gritar de alívio ao pegar meu machado, e logo ao lado minha nova mochila. A coloco desajeitadamente em um de meus braços e comeco a correr de novo. Alguns tributos ja alcançaram as mochilas ao redor de mim e os carreiristas ja começam a atacar os outros tributos. Enquanto corro na direção oposta, me arrisco a pegar uma faca jogada no chão. Não olho para trás ao entrar nessa floresta.

Eu consigo escutar os gritos atrás de mim, mas só paro pra raciocinar quando já estou bem dentro da floresta. Alguns passos depois, eu vejo que a montanha já começou, e começo a subir o mais rápido possível. Eu paro por alguns segundos para colocar a faca em minha mão e guardar o machado em minha mochila, mas continuo a subir pelo que me parecem horas até me acalmar o suficiente para subir o mais alto possível em uma árvore e me acalmar. Eu confiro meus novos itens como uma forma de fugir da arena por alguns segundos.

Eu não sei que porra estou fazendo desde o momento que peguei o machado. Nunca realmente achei que fosse conseguir.

Pensamentos fora de ordem são um sinal que voce está com medo.

Eu não posso estar com medo.

Fósforos, um odre de água cheio, um frasco de iodo, meu machado, minha faca, outra faca que estava na mochila ( poderia ter morrido por uma faca desnecessária, idiota. ) um casaco extra, frutas secas, uma espécie de corda grossa e forte. Nada além do necessário pra sobreviver. Eu dou a mim mesma um segundo para respirar. Ok, eu consegui, eu passei pela pior parte. Quando desço da arvore, resolvo andar até achar uma fonte confiável de água, o que será difícil entre todo esse gelo, mas decidi me arriscar e comecar a trabalhar desde aí. Eu ando sem parar até achar uma menina. A menina do três, eu acho. Nós duas paramos por um segundo. E enquanto ela tenta correr, eu enfio a faca que estava em minha mão em sua garganta. Ela está morta antes de cair no chão. Eu pego minha faca de volta e, com nojo de mim mesma, sorrio para a câmera. Eu sussurro com minha melhor voz fingindo não querer me matar nesse momento.

— E é aqui que eu começo.

Eu queria sair de mim mesma. Eu queria enfiar essa faca direto em meu peito. Eu sinto nojo de mim mesma, mas acima de tudo sinto ódio da Capital que me obriga a fazer isso. Eu tiro o sangue de minha faca em algumas folhas que lá estão, e ando sem seguir nenhuma direção em especial até começar a escurecer. Então, nos últimos minutos de luz solar, eu armo duas armadilhas meio mal montadas e subo em uma árvore para passar a noite. Subo o mais alto que ouso, escondida por folhas de outras árvores, e coloco a outra jaqueta, virada ao contrario para esconder esse amarelo berrante. Eu tomo um gole de água e depois disso arrumo todas as coisas de novo. Eu faço uma espécie de cama com essa corda, ficando praticamente pendurada nessa cama improvisada, e decido que estou segura o suficiente.

A luz está quase no final quando escuto os tiros de canhão. 10. Quase metade. Em seguida, quando já estou quase adormecida, vejo os tributos no céu. Ambos os tributos do 3, o menino do 5, a menina do 6, a menina do 8, o menino do 9, ambos os do 11, ambos os do 12. Eu penso em como foram os últimos segundos da menina do três, mas logo me contenho. Você vai ter tempo para pensar quando estiver salva, Johanna. Você não pensa nisso agora.

Depois de um tempo, consigo dormir. Tenho pesadelos onde a menina - nem ao menos sei seu nome! - me encara com aqueles olhos castanhos, típicos do 3, e morre em um mar de sangue. Depois, a assassina - porque é isso que sou, uma assassina - se vira contra mim. Acordo com passos lentos abaixo de mim. Alguém está ferido e se arrasta lentamente. Ele deve estar a 20 metros, julgando pelo som de seus pessos. Se está ferido e sozinho, não deve ser um carreirista. Eu não penso duas vezes antes de descer a árvore levando somente meu machado. Quase não faço barulho enquanto desço, e vejo uma cabeça masculina passar enquanto fico cada vez mais perto do chão. Quando já estou pronta para atirar meu machado, o garoto me escuta e lança sua faca, que corta meu braço. Ele não lança muito bem, mas não me dou ao trabalho de avisa-lo, já que meu machado já alcançou seu tórax. Seu canhão soa. Ele cai para a frente e eu mordo minhas bochechas para não gritar. A ardência em meu braço aumenta cada vez mais, mas eu me recuso a gritar. Eu me recuso a chorar. Me permito grunhir, e xingar em voz baixa. Ao andar rapidamente até seu corpo, para recuperar minha arma, percebo que meu braço está sangrando. Muito. Eu pego meu machado sujo de sangue e tento subir na árvore de novo, sem muito sucesso. Preciso de meu braço para escalar direito. Não me atrevo a olhar para baixo, sabendo que a altura da árvore deve ter se multiplicado graças ao lugar da montanha onde estou. Depois de praticamente me arrastar, estou na metade da árvore e meu braço dói mais que nunca. Eu sento por alguns minutos para respirar fundo, e vejo o que aconteceu no meu braço. As duas jaquetas foram rasgadas e não ofereceram quase nenhuma proteção. Eu as tiro, e vejo meu braço. Um corte que vai de meu pulso até quase meu cotovelo, sangrando sem parar. Parabéns para mim, primeiro dia na arena e já ganhei a porra de um ferimento sério. Eu engulo a dor e continuo a subir. Meu machado no braço que funciona, o outro braço lutando para se agarrar em galhos mais fortes. Depois de chegar lá em cima, finalmente respiro aliviada, mas não por muito tempo. A dor em meu braço está ainda pior. Eu corto um pedaço de corda e amarro em meu braço, improvisando um torniquete, e o fluxo de sangue para um pouco. Depois, eu tiro meus dois casacos e minha regata, ficando só de sutiã e arriscando morrer de frio, para usar minha regata como um pano e a apertar contra meu braço. Ela fica encharcada em alguns minutos. Eu estou quase entrando em pânico quando ouço um assobio fraco e vejo um paraquedas prateado pousando quase perfeitamente nos galhos ainda de mim. Fico em pé e pego essa caixinha, meu coração apertado por tamanha honra.

Receber um presente no primeiro dia? Nem carreiristas conseguem isso. Eu devo estar dando um ótimo espetáculo. Ao abrir a caixinha, vejo duas seringas e uma agulha com fio, além de uma espécie de pomada. Com a luz do amanhecer, consigo ler a primeira seringa. "Morfina. Não utilizar mais de 1 ml a cada 12 horas." eu rapidamente injeto um dos 15 mililitros em meu braço, e a dor diminui em alguns segundos. Eu chego a suspirar de alívio. Depois de ler a outra seringa "antibiótico. 5 mililitros a cada 24 horas", eu decido costurar a ferida, afinal, o que pode dar errado ao costurar uma ferida sem ter experiencia, sem a maior parte da luz solar, se escondendo de assassinos, no meio da madrugada? Depois de jogar uma parte do álcool disponível em meu braço ( e ter vontade de gritar, apesar da morfina ) eu costuro ele do jeito que aprendi no centro de treinamento. Ficou realmente torto, mas acho que vai segurar. Além disso, tenho uma pomada branca para passar em cima das suturas. Eu enrolo tudo em gaze, não tendo a melhor ideia do que fazer. Finalmente, injeto 5 mililitros em minha coxa. Agora que a situação braço está controlada, eu leio o bilhete que estava no paraquedas.

"Johanna, isso foi uma grande idiotice. Felizmente, por conta dessa estupidez ( fique muito claro que vou puxar sua orelha quando você voltar ) você tem muitas pessoas dispostas a, literalmente, pagar por elas. Cuide bem de seu braço. Ps: tente ficar mais segura por alguns dias, esse presente foi realmente caro. Blight."

Eu sorrio lendo essas palavras, e me sinto um pouco melhor. Agora posso usar meu braço, já que o remédio o fez parar de doer. Segundo as instruções na pomada, ela vai ser absorvida e em três dias poderei usar o braço normalmente. Agora, se eu o usar não vai realmente doer, mas não estará forte. Por sorte não é o braço que uso para caçar. Eu descobri que sou péssima em caçar animais, mas pelo visto sou uma ótima caçadora de mamíferos de grande porte. Que merda. Eu sou a porra de um monstro.

Eu arrumo minhas coisas, recolho a corda e tomo um gole de água, junto com um pedaço de maçã desidratada. Eu normalmente adoraria comer algo assim, uma oportunidade rara no meu distrito, mas perto da comida da Capital isso não é nada. Eu arrumo tudo uma última vez, tiro um dos casacos e o guardo na mochila, seguro o machado firme em minhas mãos e desço tentando poupar o braço o máximo possível. Ao chegar no chão, não vejo ninguém nem escuto nada, e vou checar minhas armadilhas. Não peguei nada, mas recolhi a corda. Amanhã terei mais sorte, eu espero. Eu não sei exatamente o que fazer, a não ser esperar mais tributos. O jogo passa mais devagar do que imaginei. É óbvio que não achei que fosse terminar tudo em um dia, mas achei que não seria tão.... Confuso. Tenho neblina em minha mente de novo.

É por que eu matei duas pessoas hoje. Uma delas foi ontem, mas não tenho certeza se isso conta. Mas duas pessoas em menos de vinte quatro horas. Eu deveria me sentir triste? Eu sinto uma mescla de ódio e nojo. Ódio de Snow, mas não só deles. Ele é em quem culpamos por essa atrocidade por ser a figura pública que o representa. Mas eu odeio todos. Snow, sim, é muito, mas cada um que está por trás das câmeras. Seus ministros, seus game-makers, seus pacificadores nas ruas, cada pessoa que assiste isso e se diverte, todos eles. E tenho nojo de mim mesma por ser apenas mais uma dessas pessoas. Alguém que obedece. Alguém que mata sem pensar duas vezes por que "é o jogo e eu tenho que viver."

Isso é idiota. Meu jogo. Se fingir de fraca. É humilhante. Eu decido andar em linha reta até achar água, mas começo a achar que não teremos nenhuma aqui. Não vi nem sinal de uma poça desde que cheguei, no máximo esse gelo que dificulta ainda mais a escalada, e também não achei nenhuma outra fonte por aqui, a não ser o rio que corre do outro lado da clareira da cornucópia. Suas águas parecem realmente geladas, mas sua correnteza é forte e sua água não está totalmente congelada.

Os outros tributos devem estar morrendo de sede, assustados demais para ir até lá tomar água. Eu ainda tenho o suficiente para não morrer de sede andando até lá. Eu tenho que ir pro perigo? Isso realmente não estava em meus planos. Bom, meus planos normalmente não funcionam, senão não estaria aqui. Estaria em casa, quase segura. Morrendo, mas lentamente. Não com a expectativa de vida de mais algumas horas. Isso faz sentido? Talvez. Eu nao consigo pensar. Eu resolvo parar por aqui e subir em uma árvore, já que não me sinto alerta o suficiente para voltar a andar.

A neblina está de volta. Como sempre ouvi para não sair do meu abrigo sem ter certeza do que fazer, ou se não estiver plenamente consciente de tudo ao meu redor, eu novamente acho um galho grosso o suficiente e me deito, com minha jaqueta em meu rosto. Me certifico de cobre toda parte visível e então começo a chorar. Eu simplesmente não consigo parar de pensar naquelas duas pessoas em que eu matei. Elas deveriam estar tão esperançosas como eu, pensando em como a pior parte passou e suas chances literalmente dobraram esse dia. E então eu apareci. E enfiei uma faca em seu pescoço, um machado em suas costas. E eu assisti seu pânico, suas últimas esperanças morrendo. Eu causei isso. Eu sou uma assassina, com todas as letras. Enquanto eu tento não soluçar, eu consigo me acalmar e tentar não mostrar a ninguém na televisão que eu estou chorando. Que eles achem que eu ainda estou dormindo. Foi um dia exaustivo, não? Eu estou bem aqui, dormindo. Ninguém acha que eu estou mesmo chorando, certo? Eu deveria ter o direito de não matar ninguém. Eu deveria ter o direito chorar pelas pessoas que matei.

Depois de algum tempo, o ronco em meu estômago fica mais alto e eu me obrigo a parar de chorar e a engolir as emoções. Quando você estiver salva você pode pensar nisso, Johanna. Foque em sobreviver. Depois de pensar assim milhares de vezes e a tirar sangue de meu dedo mindinho de tanto o apertar para parar de chorar, eu me acalmo. Eu espero algum tempo e depois, quando considero meu rosto bom o suficiente para descer sem levantar suspeitas, eu decido caçar passarinhos. Eu vi alguns por aqui, algum tempo atrás. Eles podem voar até algum lugar com água, e voltar aqui para seus ninhos. Eu vi alguma espécie de pássaro pousar em um ninho em cima de mim algum tempo atrás, e graças a isso decido escalar, ainda cuidando do meu braço, e ver se tem algo no ninho dele. Ao chegar lá em cima, sou recompensada com 3 grandes ovos. Sem pensar duas vezes, eu os pego para mim. Descendo com eles dentro do bolso da minha jaqueta que eu uso mesmo nesse calor, eu considero acender uma fogueira, mas isso é pedir para morrer. Eu então decido os comer crus, mesmo que tenha nojo disso. Em minha casa, raramente tínhamos ovos, e mesmo assim eu só os comia quando sua gema já estava praticamente cinza. Eu não conseguia me imaginar comendo isso duas semanas atrás. Eu não me imaginava matando ninguém duas semanas atrás. Esse pensamento poderia me levar as lágrimas de novo, mas sou ótima em conter emoções. Enquanto me deito de novo, começo a reviver os últimos segundos da vida de meu pai. Isso é inevitavel, eu o faço sempre que estou nervosa. Sua presença, mesmo em minha memoria, me acalma um pouco.

Não foi uma morte heróica. Foi uma injusta. É bastante simples na verdade. Depois de juntar dinheiro por anos, ele finalmente comprou um machado. Legalmente, temos o direito à material de trabalho, e se somos lenhadores podemos, portanto, comprar machados.

Ele saiu de casa até o trabalho, pronto para testar seu novo produto. Pacificadores o acharam, e o acusaram de crime contra a paz. Um pelotão de fuzilamento foi convocado, e fomos obrigadas a assistir aquilo. Eu não me lembro, honestamente. Mas me lembro de quando minha avó paterna correu para tentar o ajudar e foi acusada de traição. Dois assassinatos em um só dia. Eu tinha cinco anos, na época. Minha mãe foi chicoteada, não sei exatamente o motivo, e até hoje seus braços não funcionam plenamente. Graças a isso, fomos considerados mal exemplo a todos. Por isso minha única amiga é Maple. Por isso, só falamos com vizinhos. Quando fui chicoteada por jogar machados em árvores, isso piorou. Meus vizinhos trataram de mim enquanto minha mãe trabalhava para pagar a comida, e eu fiquei meses sem sair de casa. Quando sai, era como se eu estivesse com a peste. Se antes ninguém me ajudava, agora menos ainda. Os habitantes do 7 normalmente se ajudam, no possível, pelo menos. Já eu? Eu poderia estar morrendo de fome em frente a uma frutaria e ninguem me daria uma maça podre.

Eu penso nisso e isso não me destrói, como achei que aconteceria. Eu era muito nova, acho. Mas eu espero que ajudem minha mãe, depois disso tudo. Eles sempre dão uma ajudinha as famílias dos tributos mortos, se não financeiramente eles ajudam a se reerguer. Eu espero que minha mãe não fique tão chocada com minha morte. A única coisa que espero quero é abraçar ela que nem uma criancinha. Eu deveria ter abraçado mais na minha vida. Principalmente minha mãe. Quem mais? É. Minha mãe. Talvez Maple. Sinto falta de falar com ela. Não que fossemos realmente amigas, mas ela era a única que falava comigo e ela me emprestou dinheiro para comprar algo para comer naquele inverno onde quase morremos de fome depois que minha mãe se machucou. Ela é bastante rica, na verdade. Seus pais vendem joias para o distrito. Não que eles vendam muitas, mas algumas por mês são o suficiente para se sustentar melhor do que toda a minha vizinhança. Eu devolvi o dinheiro assim que pude. Nunca gostei de dívidas.

E Blight. Ele acha que eu posso vencer e me ajudou bastante. Ele pode ajudar com dinheiro. Ele tem bastante dinheiro. Vencedores tem bastante dinheiro. Eu pedi pra ele ajudar, e quem sabe, se ele realmente se apegou a mim, ele vai ajudar minha família.

Enquanto deixo minha mente correr, termino de comer dois dos ovos e guardo o terceiro em minha mochila em um lugar onde ele não seria facilmente esmagado, e depois me deito novamente. Esses Jogos estão confusos. Minha mente está um pouco confusa, mas começo a achar esses jogos.... Entediantes? Eu não estou calma, estou morrendo de medo que a qualquer momento terei que lutar pela minha vida, mas eu esperava algo mais rápido. Mais ação, eu acho. 24 horas de luta pela vida. E ao mesmo tempo quero que continue assim, relativamente seguro. Minha mente voa para longe da arena de novo e antes que eu perceba eu havia caído no sono, de novo. Eu me sinto perdida em mim mesma e não sei se quero descobrir onde estou.

 

 Respire fundo.


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Notas finais do capítulo

Eu estou me controlando para não perguntar aqui GOSTARAM? GOSTARAM? COMENTEM!!!!!!

* se acalma *

Bom, hoje quase não lembrei de postar, mas graças a pessoa mais maravilhosa do mundo - Sr Douglace que por sinal tambem fala comigo pelo facebook - eu lembrei!!!!!!!!

Estou muito animada para um capitulo triste? Estou. Mas hoje eu estou meio feliz então vou aproveitar, ne?

Ok, ultimo comentario: eu estou muito insegura sobre esse capitulo, então por tudo que voce acha mais sagrado comentem aqui, senão eu vou achar que ficou ruim e ficar deprimida o dia todo ;-;



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