KATE.

SEMANAS DEPOIS.

A vida é marcada de surpresas. Umas boas e outras ruins. Eu já tive os dois tipos, mas agora eu não sei existe um meio termo. Uma notícia pode ser boa, mas vir em um momento ruim. Assim como um noticia pode ser ruim e vir em um momento bom. É controverso, eu sei. Mas nada parecia fazer sentido para mim agora. Eu não sei qual momento eu estou vivendo agora, mas eu vou torcer para que seja uma notícia boa em um momento maravilhoso.

Me encaro no espelho uma última vez e vejo uma lagrima cair. Como eu posso estar triste com uma notícia dessa? Limpo meu rosto e jogo no lixo o objeto que estava em minhas mãos depois conferir o resultado pela décima vez. Aquilo era real?

— Oi, meu amor. – Castle sorrir sentado na mesa do café e eu me aproximo, beijando rapidamente seus lábios. – o que foi? Você está séria...

— Nada, eu só tenho um monte de assuntos para resolver na clínica hoje e só de pensar minha cabeça já dói. As obras começaram e eu estou ficando maluca. – sento e começo a me servir. – onde está a Alexis?

— Está terminando de se arrumar. – ele diz me encarando. Eu sei que essa desculpa não foi a das melhores, mas não chegava a ser uma mentira. Eu realmente estava ficando maluca com as obras.

— Já estou aqui. – escuto a menina e me viro a ponto de vê-la se aproximar de nós dois. – bom dia, pai. – ela beija o rosto de Castle. – bom dia, mãe. – ela faz o mesmo movimento e eu sorrio.

— Bom dia, meu amor. – beijo seu rosto de volta e ela se senta ao meu lado. – dormiu bem?

— Sim. Mas você não passou no meu quarto ontem... fiquei esperando o meu beijo de boa noite. – ela fala triste enquanto começa a comer.

Meu peito se aperta e nesse momento eu me sinto a pior mãe do mundo por não ter ido lhe dar um beijo de boa noite. Ontem eu cheguei tarde e a menina já dormia, não queria acorda-la. Fui direto para o quarto e dormi com a roupa do corpo, estava cansada demais para vestir outra coisa.

— Desculpa, filha. – toca sua mão por cima da mesa. – eu cheguei tarde demais ontem e estava muito cansada. Mas prometo que isso não vai mais se repetir, ok? – a menina balança a cabeça e sorrir.

— Nós vamos no haras do tio Josh esse fim de semana? – ela pergunta com o sorriso que fazia uma covinha aparecer levemente. Com esse sorriso ela consegue tudo o que quer.

— Vamos ver, ok?

— Mas você está me prometendo isso a semanas, mãe. Porque não podemos ir nesse fim de semana?

Eu olho para Castle pedindo ajuda, mas ele simplesmente encolhe os ombros e sorrir. Desde que Meredith foi embora e eu vi a menina triste, eu prometi que nós iriamos para o Haras e eu ensinaria ela a andar a cavalo mais uma vez. Eu tentei várias vezes, mas estava ficando cada vez mais ocupada com obra do hospital. Passei minhas consultas para Lanie e comecei a me dedicar apenas ao hospital, assim eu teria mais tempo para minha família. Mas a verdade é que nos últimos dias minha disposição estava cada vez menor, e tudo o que eu queria do meu fim de semana era ficar deitada assistindo TV com eles.

— Kate... – Castle segura minha mão e eu o olho. Ele tem sido tão paciente comigo nesses últimos dias. A correria fazia com que a gente não se visse durante o dia como costumávamos fazer. Eu chegava tarde e cansada e não tínhamos tanto tempo assim para nós dois, mas mesmo assim ele estava me apoiando. – nós podemos ir no domingo... passamos o dia lá e depois voltamos.

— Mas sábado é a sua festa... vamos estar cansados.

— Nós vamos depois do almoço, que tal?

— É, por favor mamãe. – ouço a voz da minha pequena ruiva e eu finalmente cedo. Estava em falta com os dois, não podia negar um domingo em família.

— Tudo bem, vocês venceram. Mas nós vamos almoçar no haras... lá tem uma churrascaria ótima que abre aos domingos.

— Feito. – Castle abre o sorriso e leva minha mão até sua boca. – eu te amo.

— Eu amo mais. – me inclino sobre a mesa me aproximando dele, que faz o mesmo. Nos beijamos aos resmungos de Alexis dizendo que aquilo não era apropriado para o café da manhã. Eu rio da menina e depois me inclino na sua direção a enchendo de beijos. – Jenny pergunte se as meninas não querem ir com a gente. Eu estou em falta com todos vocês, então quero me redimir de uma vez só.

A loira concorda e volta para a cozinha.

— Nossa vai ser tão legal. – alexis começa animada. – pai lá tem vários pôneis, e eu posso andar neles. Tem um branco que é tão bonitinho, você deveria comprar, aqui só tem cavalos altos e eu não gosto.

Alexis começa a narrar o dia em que fomos lá a primeira vez. A menina se divertiu tanto que vivia me pedindo para voltar, e agora finalmente nós voltaríamos e eu tinha certeza que ela convenceria Castle a comprar um pônei. Escuto a gargalhada gostosa de Castle por algo que a menina disse e fico admirando os dois. Como é bom acordar todos os dias e saber que eu tenho eles para rir, conversar e fazer meu dia ainda mais feliz.

Castle nos acompanha até o carro, como sempre faz todas as manhãs. Alexis entra no banco da frente e eu jogo minha bolsa no banco de trás, me virando para Castle. Ele me analisa alguns segundos e seus olhos estão mais azuis que o normal. Tenho certeza que nesse momento ele conseguia enxergar até a minha alma. Sorrio um pouco envergonhada pela forma que ele me encara, nunca me senti tão exposta para ele.

— Você está diferente... – ele diz acariciando meu rosto e colocando uma mexa de cabelo para trás.

— Eu estou bem, meu amor. Hoje o dia vai ser cheio e isso já está me dando dor de cabeça, mas fora isso... eu estou bem.

— Sabe o que você precisa? – ele pergunta sorrindo, me fazendo sorrir também. – você precisa tirar um dia para atender seus pacientes, voltar a ser veterinária por algumas horas e não essa mulher de negócios que você virou. Apesar de eu ter gostado muito quando você brincou de empresaria comigo... – ele pisca e eu não consigo conter a risada.

Ele insistiu muito até eu finalmente ceder e vestir uma saia justa, uma blusa de botões sexy e usar um óculos. Nós estávamos sozinhos em casa, então seu escritório viu nosso ninho de amor. Não tenho do que reclamar, eu aproveitei tanto quando ele. E ver Castle me desejando de todas as formas era ainda melhor.

— Eu acho que você tem razão. Eu vou pegar alguns pacientes hoje pela manhã... na verdade eu vou roubar os da Lanie, acho que ela não vai se importar. – brinco e ele rir.

— Você sabe que pode me contar tudo, não é? – sinto meu corpo esfriar por um segundo. Ele sabia que tinha alguma coisa errada, ele me conhecia muito bem.

Sorrio e acaricio seu rosto.

— Eu estou bem. Não é nada preocupante... – minto.

— Tudo bem. Quando você quiser conversar eu estou aqui. – balanço a cabeça concordando.

— Eu sei... eu te amo. – fico na ponta dos pés e o beijo. Por algum motivo aquele beijo fez meu coração se apertar. Era como se fosse o último. Respiro fundo antes de entrar no carro e dar partida.

Alexis falava sem parar durante todo o caminho, mas eu confesso que não estava prestando muita atenção na conversa da menina. Minha cabeça estava girando em torno dos problemas que eu teria daqui para frente. No fundo eu sei que isso era para ser uma coisa boa, mas não vai ser. Pelo menos não no começo. Respiro fundo e escuto Alexis me chamar.

— Mãe? Mãe? – eu a olho por um momento.

— Oi, filha. O que foi? – tento sorrir e parecer normal, mas ela é esperta demais.

— Você não estava prestando atenção. Eu estava falando com você... – mais uma vez sinto meu coração se apertar. Hoje eu não estava sendo uma boa namorada e muito menos uma boa mãe.

— Me desculpe, meu amor... – dou um leve sorriso. – eu estava distraída, mas agora pode falar, eu estou te ouvindo.

— Minhas aulas de piano começam hoje. – ela diz abrindo o sorriso novamente. Ela estava animada com essas aulas e não falava em outra coisa.

— Eu sei... – abro um sorriso. – e eu não vejo a hora de ver minha pequena pianista tocando...

— Vai ser muito legal. Eu quero aprender todas as musicas... – eu rio da empolgação dela.

— Você vai meu amor. – encosto o carro em frente a sua escola. – eu vou te pegar depois da sua aula e a gente vai para casa, ok?

Ela balança a cabeça e tira o cinto. Alexis me dá um beijo antes de sair gritando que me ama e eu não consigo deixar rir. Ela tinha um jeito divertido único. Não lembro a última vez que dormi no meu apartamento. Castle sempre arrumava um jeito de me convencer a passar a noite na casa dele e no fundo eu não queria ficar longe de nenhum dos dois, então eu simplesmente ia. Levar Alexis para escola e busca-la as vezes já tinha virado parte da minha rotina. Fico olhando ela entrar na escola e só depois eu dou partida. Antes de ir trabalhar eu precisava passar em mais um lugar.

•••

Novamente eu estava em frente ao espelho. Minhas mãos apoiadas sobre a pia e minha cabeça baixa. Eu não queria acreditar que isso estava acontecendo. Não desse jeito. Não agora. Respiro fundo sentindo o enjoo voltar. Eu não aguentava mais sentir essas náuseas. Lavei meu rosto e sai do meu banheiro.

— Kate... – Lanie diz abrindo a porta antes de entrar. Agora nós dividíamos uma sala já que a dela estava ocupada com o pessoal que cuidava da obra. – nossa, eu vim aqui saber se ter roubado meus pacientes tinha sido bom, mas pela sua cara já vi que não. – ela me olha estranho e entra na sala fechando a porta atrás de si.

— Valeu muito a pena. – digo sorrindo e tentando parecer bem. – parece que fazia séculos desde o último paciente que atendi. – brinco, mas ela não rir.

— Kate você está pálida... seus olhos estão vermelhos. Andou chorando? – ela é direta.

Não falo nada, apenas fecho os olhos e encosto minha cabeça na cadeira. Não é preciso muito para as primeiras lágrimas descerem pelo meu rosto. Mas o que diabos estava acontecendo comigo? Eu deveria estar feliz, essa era para ser uma das notícias mais felizes da minha vida, mas ao invés de comemorar eu estou aqui, chorando e com medo.

— Kate eu estou ficando preocupada, o que está acontecendo? – Sinto Lanie próximo a mim. Ela segura minha mão e aperta. Crio coragem e abro os olhos encontrando o par de olhos escuros preocupados em minha frente.

Me movo o suficiente para pegar o papel dobrado em três partes iguais e lhe entrego. Ela era a primeira pessoa que iria ficar sabendo, e mesmo isso sendo errado, eu precisava que ela me dissesse que isso tudo era bom e que não tinha razão para ter medo.

Lanie me olha assustada sem saber se abre ou não o papel. Eu lanço um olhar de súplica e ela finalmente abre. Seu olhar passa por toda a folha e quando ela finalmente chaga na parte que interessa, seu olhar cai sobre mim. Sua boca estava aberta, mas tinha um pequeno sorriso ali.

— Kate isso... nossa. – ela rir e olha o papel novamente para ter certeza. – isso é grande.

— Sim, é. – fecho os olhos novamente.

— Eu não sabia que vocês estavam...

— Não estamos. – eu a corto e abro os olhos. – nós já conversamos sobre isso, mas nunca chegamos a nenhum acordo...

— Mas está aqui... – ela mostra o papel. – isso não precisa de acordo, isso é uma boa notícia.

— Lanie, nós duas sabemos que não é. – digo e torço mentalmente para que ela me convença do contrário.

— Ele já sabe? – balanço a cabeça e escondo meu rosto entre minhas mãos.

— Minha cabeça está explodindo. Eu acabei de descobrir... não sei como vou contar.

— E você está preocupada com a reação dele. – ela conclui e eu levanto meu rosto. Não precisava de palavras para confirmar o meu medo. Estava tudo estampado em meu olhar. – Kate, sinceramente eu acho que Castle vai amar essa notícia.

— Não, não vai. – sou direta. – ele não vai...

Minha voz parecia um sussurro. Lanie abre a boca para falar algo mas é interrompida por batidas fortes na porta. Viro meu rosto e vejo Castle parado na minha porta. Ele estava sério, tinha acontecido alguma coisa. Meu coração dispara. Ainda era cedo, não estava na hora de pegar Alexis na aula de piano. Eu tinha combinado que nos encontraríamos a noite, então só pode ter acontecido alguma coisa para ele aparecer aqui.

Lanie me encara e dobra o papel que eu lhe entreguei, colocando de volta sobre a mesa. Eu ainda não tinha conseguido dizer nenhuma palavra. O olhar dele estava fixo no meu, e por algum motivo meu medo aumentou. O que aconteceu? Ele pede para Lanie nos deixar a sós e ela sai, mas me avisa que estaria na sala ao lado se eu precisasse.

Castle fecha a porta e volta a me encarar. O silencio estava me perturbando.

— Rick, o que aconteceu? – me levando e ando em sua direção. – ainda falta uma hora para pegar a Alexis, ela está bem? Não gostou da aula?

As perguntas saíam rápidas, o nervosismo estava me matando.

— Não aconteceu nada ainda. – ele fala sério. Eu podia sentir a raiva vindo de sua voz e isso me causou arrepios.

— Então o que houve? – ele dá um meio sorriso irônico e tira a mão de dentro do bolso do casaco.

— Quando você ia me contar? – ele mostra o teste de gravidez que eu tinha feito mais cedo.

Sinto minha respiração falhar.

Abro a boca para falar, mas não saí nada.

Eu não tenho mais voz.

Não tenho mais forças para continuar de pé.