I Can't Love You escrita por Mrscaskett


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!!

Como prometi, mais um capítulo de "I can't love you", o próximo, só semana que vem. Não está longe né? Mas, pra quem achar muito, vai valer a pena a espera.
Nesse cap vamos entender mais um pouco a dor de um homem que acabou deperder sua mulher. Não quero falar muito porque se não vai ser Spolier, mas espero que gostem.

Obrigada a todos que comentaram e que gostaram da ideia da história. Agradeço muito.
Obrigada também a CastleAlways e Aline, que já favoritaram a fic de primeira *-* Obrigada pela confiança gente.

Boa Leitura a todos :)



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— Você vai ficar aqui, meu amor. – digo ao colocar o jarro na mesa ao lado da cama, do lado esquerdo, era o lado que ela dormia.

Ela se foi a três dias. E eu não sei se foi a dor, que foi grande demais, ou o susto por tê-la perdido. Mas eu ainda não tinha me permitido chorar. As lagrimas se formavam em meus olhos, mas nada descia. Eu não me permitia deixar que os outros sentissem pena de mim, que me vissem fraco. Isso era só comigo. Só eu poderia ver minha própria dor! Era difícil, mas eu enfrentaria isso sozinho.

Hoje de manhã eu cremei minha mulher. E mesmo ali, sentado naquela cadeira, enquanto enfiavam o corpo dela num forno, e eu a via virar pó, eu não chorei. Eu nem sequer olhei para os rostos das pessoas que vinham falar comigo no velório, era sempre a mesma coisa. “Eu sinto muito.” “Ela está num lugar melhor.” “Pelo menos não sofreu quando morreu.” “Meus pêsames.” “Você está bem?” “Pode contar comigo para o que precisar.” “Deus sabe o que faz.” Minha vontade era de mandar todo mundo embora, e ficar trancado naquela sala com ela, só eu e ela, como sempre foi. QUEM É DEUS? Deus tirou minha mulher de mim, Deus fez minha vida mais amarga.

— DEUS NÃO EXISTE PARA MIM!!! – grito enquanto atiro a primeira coisa que vejo na minha frente na parede.

E como em câmera lenta, vejo o abajur se despedaçar até cair no chão. A raiva que eu sinto dentro de mim é tão grande, e cresce mais a cada minuto. Eu queria ter feito alguma coisa, eu queria poder ter trocado de lugar com ela, eu queria poder ter feito ela não sentir nenhuma dor. Mas ela era tão extraordinária, que mesmo nos seus piores momentos, ela se manteve firme e forte, e eu nem desconfiei de nada. Eu deveria dar apoio a ela, mas foi ela quem me deu apoio, que me disse para não desistir da vida, enquanto ela desistiu da vida dela.

Naquela cama de hospital ela foi a pessoa mais corajosa que eu já vi. Ela lutou até quando pôde, mas decidiu se entregar no último momento. Não quis um tratamento que poderia lhe dar mais alguns meses de vida ao meu lado, ela desistiu de mim enquanto eu implorava para ela não desistir de nós. E ela se foi, me deixando aqui, sozinho, amargurado, com raiva de Deus e do mundo. Mas mesmo assim eu não sinto raiva dela, a única coisa que eu sinto é sua falta.

Quero me afundar em choros e lamentos. Quero me permitir deixar essa raiva sair do meu corpo da melhor maneira possível, mas as lágrimas simplesmente não saem. Elas estão presas ao meu corpo assim como a dor de perde-la está. Nunca mais serei o mesmo, nunca mais serei o homem por quem ela se apaixonou, porque aquele homem morreu com ela. Gina levou tudo o que eu sou, e agora eu sou apenas um corpo, vagando por esse mundo, tentando viver os sonhos dela numa tentativa inútil de traze-la de volta.

Eu era alegre, brincalhão, amava ler, escrever, andar, namorar, viajar. Eu amava a vida. Mas agora não sou mais nada disso. Não escrevo mais desde que ela foi internada pela primeira vez, há um mês atrás. Não sorrio mais desde que a vi morrer praticamente em minha frente, não consigo ler, não consigo me concentrar em nada. Vir pra cá sem dúvidas foi uma das coisas mais certas que fiz, longe da piedade dos meus amigos e familiares. Eu não precisava de pena, eu só precisava esperar o dia em que ele me levaria também, assim como levou minha esposa.

— QUEM É?! – pergunto num grito. Já bateram na porta do meu quarto umas três vezes, mas eu não quero atender. Ainda estou aqui parado olhando os cacos do abajur no chão, eles formam o fim de alguma coisa, talvez o fim da minha vida.

A porta se abre um pouco, viro minha cabeça lentamente apenas para ver uma moça de jaleco branco entrar parcialmente no quarto.

— Senhor, só queria avisar que a égua pariu. Os dois estão bem. – a moça de voz doce me informa.

Isso não me interessa nenhum pouco, eu nunca soube andar de cavalo, nunca me interessei por nada daquilo. Na verdade meu plano era mandar todos embora, ficar apenas com alguém para cuidar da casa e outro para cuidar dos cavalos até que eu conseguisse vende-los. E provavelmente seria o casal que morava na casa ao fundo, e se eles deixassem as crianças longe de mim, poderíamos conviver bem.

A moça de cabelos castanho escuro e longos, levemente ondulados nas pontas, me contava sobre como tinha sido o procedimento do parto da égua. Eu não quero saber e nem entendo disso, na verdade nem escuto o que ela me diz, eu só quero saber porque ela está aqui.

— Eu não quero saber disso! – corto sua fala. – quem é você?

— Desculpe senhor. Sou Kate Beckett, veterinária responsável pelos animais daqui. Pensei que fosse gostar de saber que você tem mais um animal no rancho.

— Pensou errado. Quanto eu devo pelos seus serviços? – pergunto já tirando meu talão de cheques do bolso do meu casaco grosso, que não combina em nada com o clima quente daqui.

— Não me deve nada. Eu cuido desses animais de graça.

— Eles não precisam da caridade de ninguém. Eu posso pagar, me diga seu preço.

— Não tem preço. Eu cuido deles porque eu amo os animais.

— Certo. – guardo meu talão de cheques. – mais alguma coisa?

— Não senhor. – ela já ia sair do quarto quando eu a chamo.

— Nós não vamos mais precisar dos seus serviços, Doutora Beckett. – ela para e me olha. – os animais logo estarão longe daqui.

— Como assim longe? Você vai vende-los?

— Sim. Não quero animais nas minhas propriedades. Então você não tem muito o que fazer aqui! – aponto a porta e ela me olha, com um sorriso irônico nos lábios, até sair andando a passos largos pela minha casa.

Tiro a roupa e jogo em qualquer lugar do banheiro. Tudo o que eu quero agora é tirar esse cheiro de cemitério de mim, me sentir limpo, e quem sabe, um novo homem.  O rancor e raiva que existem dentro de mim me transformaram, do dia pra noite, em uma pessoa amargurada. Conheci duas pessoas até agora, e eu tratei as duas com indiferença. Algum tempo atrás eu certamente teria ido acompanhar o parto da égua, mas hoje, tudo o que significa uma nova vida, uma nova esperança, um novo motivo para sorrir, me magoa.

Nada mais me fará feliz novamente, e eu vou me tornar um velho amargo, sozinho e que ninguém suporta. E eu não ligava para isso, quanto mais distante as pessoas se mantiverem de mim, mais eu agradeceria. Esse era o único fio de felicidade que ainda existia em mim, viver sozinho e sem ninguém para sentir pena de mim.

A agua quase cobria a banheira toda. Meu corpo nu ali dentro era como um pedaço de caco solto no espaço, não tinha razão para estar ali. Afundo minha cabeça na água, sem me preparar antes, sem respirar, apenas me afundo, querendo me livrar desse mundo que eu não pertenço mais. O pouco de ar que eu tinha em meu corpo começa a acabar, e meu corpo começava a pedir por mais ar. Eu me nego a sair de dentro d’água, então aperto minhas mãos com resto de forças que eu tenho na beirada da banheira, me impulsionando mais pra baixo. Tudo começa a ficar agoniante, a necessidade de respirar é maior, meu corpo começa a se debater contra a minha vontade, então eu levanto, sentando na banheira e procurando o máximo de ar que eu puder.

Eu nunca fui assim, eu sempre gostei de viver, eu amava minha vida. Mas a vida foi tão injusta comigo, que eu estava a ponto de me entregar e acabar com toda a dor que eu estou sentindo. Os soluços saem do meu corpo compulsivamente, sem que eu saiba explicar o porquê de eu estar chorando. Apenas deixo que saia. Encolho minhas pernas junto ao meu corpo e escondo meu rosto entre elas. Meus abraços abraçando minhas pernas e me movendo para frente e pra trás, fazendo com que a agua da banheira caísse pelo chão do banheiro, molhando-o inteiro. O nome dela saia baixo de dentro de mim, eu me sentia tão sozinho, com frio, e não tinha os braços dela para me aquecer. Não tinha seus beijos para me acalmar e dizer que vai ficar tudo bem. Eu queria seu cheiro doce, que eu sentia a quilômetros de distância, mas que naquele momento, eu não conseguia mais sentir. Tudo o que eu sentia era cheiro de rosas, como as que tinham em seu velório. Cheiro de rosas de cemitério, cheiro da lama que estavam presas ao meu sapatos. Eu sentia cheiro de tudo. Menos o cheiro dela.

Quando desço para jantar já está tarde. Já passam das dez da noite, provavelmente não tem mais ninguém acordado. Pelo menos o que eu ouvia dizer era que na vida do campo, as pessoas dormiam cedo e acordavam cedo. Mas para meu relógio biológico ainda é cedo. Então passo pela luxuosa sala, que quem a visse por dentro, jamais imaginaria que por fora, seria apenas um rancho, uma fazenda, ou qualquer coisa que se chame isso aqui.

As caixas que eu trouxe no meu carro estão na sala. Eu pedi para que as trouxessem pra cá. Eu mesmo iria desembalar elas, não hoje, não amanhã, mas um dia, quando essa dor tivesse diminuído. Quando o fato de não tê-la mais perto de mim não fosse tão angustiante como está sendo agora. Se eu as abrisse agora, se eu tirasse tudo o que tinha dela de dentro dessas caixas, eu iria desabar novamente. Então apenas as deixo lá, no mesmo local. Amanhã, quem sabe, eu as levasse para um dos quartos sem utilidades e as deixassem lá, e depois transformaria ele em uma espécie de quarto de lembranças da Gina.

Caminhei até a cozinha, que tinha algumas luzes acesas. Não percebi que tinha alguém até chegar mais perto. A grande coluna no meio da sala escondia parte da mesa, e nela, estava uma mulher. Loira, ainda muito jovem, e vestida com um avental. Assim que percebe minha presença ela levanta, ficando de pé na minha frente.

— Eu sou Jenny, Senhor Castle. Eu cuido da casa.

— E o que faz aqui até essa hora? Não está tarde?

— Bom, sim. Mas o senhor não desceu para jantar. Então fiquei esperando para saber o que o senhor queria.

— Não estou com fome. – passo por ela e abro a geladeira, pegando uma garrafa de agua. – Pode ir descansar. Mas avise aos outros, que amanhã bem cedo quero uma reunião. Haverá algumas mudanças aqui. Ela assente e sai, desaparecendo na escuridão que existia fora daquela casa.

Tomo um longo gole de água e volto para sala, pegando as caixas e as levando para cima, uma de cada vez. Eram pesadas, continuam objetos, roupas, livros, joias... tudo o que ela mais gostava, e que me fariam lembrar dela só de olhar. Abri um quarto, bem ao lado do meu, onde eu deixei as caixas ao lado da cama. Sentei, na tentação de abri-las, mas me contive. Não precisava me afundar mais no buraco em que já estou. Então levando e as deixo lá, tranco o quarto e vou em direção ao meu, não sei quando vou abri-lo novamente. Talvez nunca, porque a dor que eu sinto nunca vai passar, nunca vai diminuir.

Entro no meu quarto e abro uma única gaveta com tranca, na mesa ao lado da minha cama. Não tem nada nela, era de se esperar, então eu coloco a chave do quarto ao lado lá, segura para que eu não perca, e ninguém a ache.

O dia amanheceu rápido, mais rápido do que eu gostaria. A noite se arrastou por horas e horas, e tudo o que eu conseguia fazer era ficar sentado na poltrona do meu quarto, olhando por aquela enorme janela de vidro a lua cheia, que fazia meu quarto inteiro brilhar com sua luz. Mas diferente de antigamente, a lua não tem mais nenhum brilho aos meus olhos. Era apenas mais uma parte do céu, o inverso do sol, o outro lado do dia. A lua e as estrelas não tinham mais aquele ar romântico, como as noites que eu passava deitado na grama de minha casa nos Hamptons com a Gina. A lua não consegui mais chegar ao meu coração, porque ali, recobrindo todo aquele meu órgão vital para me manter vivo, estava um muro. Não um muro de pedras, um muro de aço, que não se quebra e não se desfaz fácil. Era um coração de ferro, que ninguém jamais conseguiria toca-lo. Eu nunca mais amaria, eu nunca mais seria quem eu sou.

E quanto os primeiros raios de sol alcançaram minha pele, eu levantei da poltrona. Não dormi e não parecia cansado. Apenas tomei um banho longo de chuveiro e me arrumei, hoje eu teria uma conversa séria com todos os funcionários daqui. Quando chego na cozinha Jenny já está lá, terminando o café. Na mesa tinha pão, queijo, leite, frutas, bolo. Era uma mesa farta, Gina iria gostar daqui, pena que eu não tenho fome.

— Apenas um café. – digo quando ela começa a me servir. – Avisou ao pessoal?

— Sim, Senhor. Estarão todos prontos em trinta minutos.

— Quinze. – digo bebendo meu café. Ela assente e sai para dar o recado.

Tomo aquele liquido quente que me acompanha durante anos, e sei que não vai abandonar nunca. Levanto da mesa, com a grande xicara na mão, e vou em direção a sala, que já está tomada pela claridade do sol. Tenho que lembrar de mandar colocarem algumas cortinas aqui, não quero todo esse clarão entrando em casa.

Paro de frente a porta de vidro. Tudo nessa casa é de vidro, e me incomoda um pouco, mas isso também mudaria em breve. Olho para a imensidão de verde a minha frente. Um enorme jardim, cheio de flores e grama, muito bem aparada por sinal. Sempre tive paixão por jardins, gosto do formato das flores e cuidar para que elas crescem cada vez mais bonita. Pena que não tenho experiência nenhuma nisso, mas trataria de aprender. Eu cuidaria do meu jardim, e deixaria ele com cada vez mais vida. Ele seria a marca da Gina naquela casa. Enquanto houvesse uma rosa sequer naquele jardim, Gina estaria comigo.


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Notas finais do capítulo

Coitado do Rick :(
Alguém vota em Kate ajudar a derrubar esse muro que existe nele? o/

ps: tivemos apenas um pouco da Kate hoje, mas isso vai melhorar daqui pra frente.



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