Série Lobos I - Hogosha (O Guardião) escrita por M Schinder


Capítulo 2
Parte II: A Seleção


Notas iniciais do capítulo

Cheguei com mais um! Espero realmente que estejam gostando da história do Katsuo que possam continuar nessa mesma linha! :3

Gostaria de explicar uma coisinha: não sei se todos sabem, mas os nomes orientais normalmente são formados por "sobrenome + nome", por exemplo, Toshio Katsuo. Isso é mais para quem não conhece rs.

Enfim, boa leitura!



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Silêncio. Foi tão bom ver a cara de idiota que meu irmão fez e minha mãe parecia que iria morrer sem acreditar no que estava acontecendo. E eu? Bem, depois que terminei de me divertir às curtas do meu irmão eu também quis morrer. Se ele estava atrás de mim, significava que eu teria que enfrentar provações e testes perigosos que poderiam me matar para ganhar o direito de proteger uma pessoa que eu nem conhecia.

Sem dizer nada, minha mãe apontou para mim. O homem soltou algo perto de uma risada com sua bocarra e me puxou pelo braço para que eu me juntasse ao resto do grupo. Minha casa era a última daquele lado do feudo, o que significava que o trabalho dele terminara por ali.

Gritando algumas ordens para que nós o seguíssemos, eu me virei e olhei para minha mãe, que ainda estava com a mesma expressão preocupada e decepcionada de antes. Uma tristeza ameaçou tomar posse de mim, mas eu voltei a repetir a história de nosso clã na mente. Precisava me acalmar.

~000~

Depois que nos foi dada a forma humana, o feudo teve que aumentar proporcionalmente ao crescimento da matilha. A cada ano mais filhotes nasciam, em grandes números, e enchiam o lugar de barulho. Eu, por exemplo, sou o mais novo de cinco irmãos, o número normal de filhotes que um casal podia ter, e diferente dos meus pais, a maioria dos casais optava por ter mais de uma ninhada.

Então, o local do recrutamento estava cheio, barulhento e agitado. A maioria tinha a mesma idade que eu, doze anos, mas alguns poucos eram mais velhos e pareciam muito mais poderosos do que nós, meros filhotes.

Eu sentara-me em um canto, cansado. Era um pouco difícil manter a forma humana quando não se estava acostumado – o que na minha idade já era uma coisa normal para a maioria. Observar os outros era algo a que eu estava acostumado e foi isso o que fiz enquanto a maioria competia entre si – com corridas, cabo-de-guerra, lutas e caças improvisadas, coisas que todos os jovens lobos gostam de fazer.

Passamos quase duas horas ali, soltos, sem ninguém nos observando. Aos poucos a tarde passava e a noite começava a aparecer de maneira preguiçosa. Eu me encolhi dentro do casaco que minha mãe fizera para mim e permiti que meu corpo relaxasse, voltando para a forma original. Diferente da maioria dos lobos-cinzentos (Canis Lupus, como eu expliquei antes), minha pelagem era de um tom de mel mais escuro ou, como minha mãe gostava de comparar, uma peça de bronze envelhecida. Ainda diferente dos outros, eu era menor e mais franzino que todos em minha forma humana, mas como lobo eu me sobressaia e muito. Eu era muito mais musculoso e habilidoso do que os outros, muito provavelmente pelo tempo que eu passava daquela maneira, e me orgulhava muito disso.

Meu sono, normalmente, era muito pesado e ninguém – a não ser minha mãe com um balde d'água – conseguia me acordar. Enquanto a noite passava, eu me aprofundava ainda mais em meus sonhos. Tudo parecia tranquilo. Estávamos em um lugar aberto, dentro da floresta que rodeava nosso feudo, e arejado. Já começava a perder completamente os sentidos quando o som de um tambor ressoando ecoou por todos os lados.

Saltei sobre minhas quatro patas, rosnando. Para minha audição superdesenvolvida, o barulho chegava a machucar e me desorientava, mas eu parecia estar em melhor forma que os outros. Pouco acostumados a ficarem em suas formas caninas, vários outros meninos pareciam não só incomodados, mas perdidos e batiam as patas e braços com força contra o chão. As batidas começavam a ficar cada vez mais altas e, tentando reunir alguns que estavam bem, uivei com força para sobrepor o som. Eu esperava uma resposta, mas nada veio.

Os mais velhos pareciam estranhar menos a forma animal, mas ainda assim não conseguiam responder ao meu chamado. Foi como se meu chão começasse a sumir com aquela inabilidade dos meus companheiros de matilha – se eu ainda pudesse chamá-los de matilha. O desespero começava a tomar conta de mim, pois eu não era nenhum líder e não sabia o que fazer, quando vários lobos, muito maiores do que eu e qualquer outro ali, nos rodearam e começaram a rosnar em desafio.

Olhei para os lados nervoso e rosnei de volta, em desafio. Eu sabia que eles não eram inimigos do Clã, pois ainda não haviam atacado, mas eu não conseguia prever o que eles fariam e, enquanto eu torcia para que não fossem tantos quanto parecia, eles começaram a uivar e eu pude contar quase quinze lobos de grande porte. O que eu pensei? Que estava morto, com certeza. O som do tambor voltou e eu quase me deixei ceder com o barulho horrível, mas me forcei a ficar em pé, assim como outros três.

Depois de quase cinco minutos de puro pavor e vários fins nada agradáveis se passando por minha mente, o barulho cessou completamente e os lobos sumiram. Olhei para os lados, confuso, mas nada acontecia. Ao meu redor, muitos dos outros haviam desmaiado e jaziam caídos na gramada molhada, apenas os outros três que aguentaram o barulho continuaram em pé. Do meio da floresta, alguns homens começaram a sair e o recrutador, que me chamara mais cedo, foi um deles. Com um rosnado de escárnio, o recrutador parou no centro da lareira.

— Fico surpreso que tantos tenham sobrado – comentou rindo.

Um dos meninos se encolheu ao som de sua voz, que parecia muito mais com um rosnado do que antes, e ele lançou um olhar irritado para o garoto. Todos haviam voltado para suas formas humanas, menos eu.

— Ande logo, garoto, não temos toda a noite – resmungou para mim. Voltei ao normal o mais rápido que eu consegui e acabei de quatro em frente a todos. Minhas bochechas coraram quando ouvi as risadinhas, mas me obriguei a ficar calado. – Ótimo. Muito bem. Quatro aguentaram a pressão de uma verdadeira matilha, mas quero ver o que mais conseguem fazer. Sigam-me.

Hesitantes, todos nós o seguimos enquanto outros homens saiam do meio das árvores e iam ajudar os garotos caídos. O caminho que tivemos que percorrer não era longo, nem cheio de obstáculos; apenas um morro ficava entre nós e o destino desconhecido para o qual éramos guiados.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam??
Deixem suas opiniões :33



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