Dimensional Adventure escrita por Projeto Alex


Capítulo 2
Preciso retornar


Notas iniciais do capítulo

Se há algo neste mundo que prove que você é mais do que nada, trata-se daquilo que você sente, não estou equivocada. Estou aqui, essa é a verdade, estando dormindo ou acordada.



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—Vergonhosas, as notas de vocês no segundo bimestre. Não teve quem tirasse mais de 3.5. Estudem, se quiserem passar no fim do ano. Não vou perder minhas férias por conta de vocês. Estejam avisados qu-...

O sinal começou a tocar anunciando a chegada do intervalo e interrompendo sermão do professor. Todos os alunos começam a deixar a classe, a maioria quase correndo. Ninguém gostava de ficar naquela sala mais do que o suficiente. Todos se apressaram em sair para comer, conversar, e aproveitar o máximo dessa folga, às vezes mais do que era permitido, como aprontar algum ato terrorista, fumar no banheiro, e outras coisinhas, se é que vocês entendem.

—Moleques insubordinados! —Franco resmungou por entre os dentes ao arrumar seu material e sair também a fim de trocar de classe. Mas antes de se ausentar, olhou de canto para um dos estudantes que permanecia com a cabeça baixa. Contudo, como não deveria se intrometer nas coisas pessoais de seus alunos, ele continuou andando.

De fato, Salye continuava em sua cadeira, sem vontade de sair ou mesmo de fazer qualquer coisa. Ela fechava os olhos e só conseguia pensar naquele lugar onde estivera. Na sensação da queda, de flutuar de sentir e não sentir ao mesmo tempo. De estar finalmente longe desse ambiente desagradável, de desbravar e conhecer aquele novo recinto, como fazia em seus jogos favoritos. Sorriu avidamente.

—Eu quero voltar lá! —sussurrou para si.

—Ei, Selye! —Chan, um de seus companheiros de classe, pergunta enquanto a observa, curioso. —Você não vai sair pro intervalo? Sabe, comer alguma coisa, ver a galera duelando ou discutindo sobre aquele jogo novo, o Animon...

Ao ouvir esse nome, a garota que mantinha outrora a cabeça repousada sobre os braços, a levanta de supetão, perturbada, afastando a franja torta dos olhos, e exibindo uma expressão assustada, a qual foi notada de imediato pelo asiático.

—O que você tem Selye? Eu sei que você sempre fica quieta as vezes, mas hoje está exagerando, nem deu seus ataques de bipolaridade, quando do nada faz uma pegadinha com algum dos garotos.

Ela olha diretamente para o rapaz, com seus olhos negros enormes.

—Acho que estou ficando louca. —Ela lhe diz, numa voz repleta de preocupação.

O moreno a mira curioso, surpreso com essa fala inesperada da garota. Ele não era um dos mais antigos companheiros dela, assim como Lucca ou Glads, mas ainda sim, não conseguia deixar de se importar com ela.

Porém Salye, percebendo o que falara, desconversa: —Ahh! Eu estou com tanta fome, que estou começando a pirar! —Ela ri, mudando a expressão facial e cerrando os olhos negros. Levantando-se então, puxa o menino pela mão. —Vem! Senão as coisas gostosas vão acabar antes que a gente chegue.

Ela seguia a frente dele, guiando-o pela mão, impedindo-o assim, de fitar sua face. Dessa forma ela poderia permitir-se ficar com o rosto alterado, mas nunca se deixando ver naquele estado por seus conhecidos.

Sua tonta! Como foi falar uma coisa daquelas pro Chan? Ninguém pode saber que você está vendo coisas. Você quer acabar num manicômio como o Hospital Psiquiátrico do Juqueri¹?

Parando em frente a lanchonete da escola, ambos compraram  cada qual um pão recheado e bebida, a qual foi derramada quase que imediatamente por Selye, molhando a parte de cima do uniforme dela, deixando-o transparente e exibindo de leve, parte da sua roupa intima.

Desastrada!

Ela tentou secar-se rudemente com o guardanapo, sem grandes resultados, fazendo o garoto rir da divertida cena.

 Então, foram se juntar aos outros. Contudo, Chan continuava intrigado, não somente com aquelas palavras ditas anteriormente por Selye, mas também pelas outras reações como mudar de assunto assim, sem ao menos disfarçar e principalmente...

—Ah, finalmente vocês chegaram! —Disse Glads. —E... de mãos dadas? —O moreno espichou o canto da boca, num tom conviteiro. —Chan, meu garoto!

—TÁ DOIDÃO? —Salye berrou de olhos fechados, completamente envergonhada. —VOCÊ SABE QUE EU NÃO TENHO INTERESSE NESSAS COISAS! —Ela cerrava os punhos, ameaçando um soco que todos sabiam que não daria.

Lucca somente observava o acontecido, sentado á mesa de pedra enquanto embaralhava um deck de cartas. Com a sobrancelha arqueada, procurava não esboçar nenhuma reação. Erguendo a mão, então, o gordinho entregou a menina, o baralho, o qual ela recebeu com as duas mãos. —Aqui seu deck, Selye. Eu não olhei. —Ele pronunciou sem mirá-la nos orbes negros.

—Ah, obrigada... —Ela considerou o amigo um pouco estranho, mas sentou-se no banco de pedra também e começou a distribuir os cards nos locais correspondentes. —Então, quem vai ser o primeiro? —Desafia.

—Eu, eu! —Glads empurra Lucca, afastando-o bruscamente e senta-se do outro lado da mesa, oposto a garota. —Vamos decidir a ordem de jogo pela tradicional moeda ou...

Selye e Glads se encaram por alguns segundos como se lessem a mente um do outro e logo após um sorriso de cumplicidade, levantam os pulsos direitos. —JUNKEMPÔ!² —Os dois gritam baixando as mãos rapidamente.

A palma da garota é derrotada pelos dedos em forma de tesoura de Glads, que faz uma cara de satisfação.

—Eu perdi de novo? —A menina infla as bochechas, segurando o baralho, chateada.

—É claro... —Lucca exibe sua própria palma e a aponta com o outro indicador. —Você sempre começa com papel. Você sempre faz isso. —Ele encara a garota.

—Muito fácil! Eu já decorei suas jogadas. Você começa com a palma e depois a repete. Depois joga o que teria ganho a partida anterior. —Glads ressalta, ao passo que Chan cai na risada.

Selye fica avermelhada de raiva, por ser lida com tamanha facilidade e também, por seus amigos estarem utilizando-se disso para zoar com ela o tempo todo. Apesar de ela ser uma garota calma na maior parte do tempo, ela se irritava facilmente. A alteração de humor vinha a qualquer momento e de forma surpreendente.

—Mas isso revela uma coisa legal sobre você. —Chan se dirige a morena, mesmo debaixo do olhar intimidador de Lucca. —Você é uma pessoa transparente, Selye. Eu acho isso interessante! —Ele sorri.

—Eu... eu nunca tinha pensado dessa forma... —Selye tira a franja torta de cima dos olhos, mirando o garoto por baixo. Ao que parece aquilo tinha surtido um efeito reanimador para a garota. Embora ela não percebesse duplo sentido por trás disso.

Cansado de esperar, Glads bate a mão na mesa. —Como é? Eu já posso jogar? Antes de receber qualquer resposta, o maluco grita: —COME ESSE COGUMELO E CRESCE GENESECT³!

—EI ESPERAAAAHH! —A menina pede enquanto ainda termina de por as cartas nos lugares devidos.

Mas antes que ela tivesse chance de efetuar sua jogada, o celular no seu colo vibrou novamente e o clima daquele lugar começou a ficar estranho. Salye olhou ao redor e era como se aquela dimensão estivesse falhando. Seus amigos sentados a mesa, Lucca, Glads, Chan, que mantinham-se observando a partida, bem como os alunos que passavam por ali, ora estavam lá, ora sumiam, oscilando a própria existência. Forçando então a concentração, a garota conseguiu ver os feixes de luz que tocara mais cedo, dessa vez mais nitidamente. Eles tomavam forma semelhante a borboletas fosforescentes, voando ao seu redor e beijando seu nariz.

Era como se estivesse na escola e ao mesmo tempo não. A mesa e os bancos de cimento onde se mantinha, era demarcado por uma pequena clareira, a qual permitia chegar a luz de dois grandes Sois que pairavam na cúpula do céu. Havia gigantescas árvores de com raízes aéreas onde estavam as salas de aula e mais distante, a menina também pode perceber sombras correndo sobre as muretas, brincando, invadindo as ruínas e saltando pela beira do rio que corria próximo dali ... Maravilhada, a jovem se levanta do banco de cimento a fim de desbravar aquele ambiente recém descoberto.

De repente, uma sensação, um calor tocou em seu ombro e se espalhou por todo o seu ser, lhe causando tremores descomunais, como se quisesse expulsá-la daquele mundo novo.

Esse calor!

A jovem olhou para trás e eis que havia um homem, um rapaz trajando um escuro uniforme de mordomo. Seus olhos eram como safiras ao sol e seu cabelo como a juba de um leão. O sujeito lhe parecia estranhamente familiar. Ele se aproxima lentamente se Selye e se inclina levemente, nunca parando de encará-la fixamente nos olhos.

—Vá embora daqui! —O jovem se estica, lhe falando ao ouvido. —Para o bem de todos e o seu também, vá embora daqui.

Então, o homem a empurra num gigantesco precipício escuro.

Neste momento, a garota sente seu corpo chacoalhar e subitamente acorda do transe.

—HÔEH! SELYE! —Lucca a sacode bruscamente, segurando-a pelos ombros, a fim de que a jovem retornasse a si. —ACORDA, SELYEEEE!

Se vendo novamente na escola, no banco de cimento, Selye nota que todos ali estão a observando confusos. —O que foi? —Ela esfrega os olhos e boceja, fingindo cara de sono para não despertar curiosidade nos amigos.

—Ei, você tava dormindo de novo, sua esquisitona? —Glads fala brincando, ao cruzar os braços.

—SÓ ESTOU COM UM POUCO DE SONO, ME DEIXA! —Ela replica, deixando transparecer o nervosismo. —Agora, deixa de besteira, vamos continuar o nosso duelo!

Todos meio que inclinam a cabeça para o lado e Lucca toma a frente. —O combate já terminou, esqueceu? —Inclinando a sobrancelha. —Você perdeu. Você queria equipar uma Capa Gigante num Weedle³.

—Sério? —Selye cobriu os lábios, atônita. Ela conhecia o fato de que jogava mal, mas esse nível de erro estava além da conta.

Que vacilo! Eu não posso mais dar mancada! Se eles descobrirem sobre isso... isso que está acontecendo comigo...

—Deixem ela. A garota está apenas com sono, né? —Chan passa a mão na cabeça dela, assanhando seu cabelo negro.

Não aguentando mais ter que esconder o segredo a garota bate as mãos na mesa, num tom sério. —Pessoal, eu tenho que mostrar uma coisa pra vocês.

Ela tira pega o celular, que outrora repousava em seu colo, e o coloca sobre a mesa. Lucca, achando se tratar de mais um pervertido a perseguindo, logo pegou o aparelho. —Francamente, Selye! Eu não sei o que você tem pra atrair tantos pedófi... —Ao desbloquear a tela o garoto quase cai do banco. —CACETE!

—Que merda mandaram pra ti dessa vez? —Glads, completamente tomado pela curiosidade, toma o celular das mãos do amigo. —CACETEEEEEEHHHH! —O cara cobre a boca com a mão para se impedir de continuar exaltando sua surpresa, porém em vão. —CACETE, CACETE, CACETE, CACETE, CACETE...

—Nossa Selye! —Chan aproximou-se dos garotos para ver de que se tratava. —Uchiha Itachi⁴ como proteção de tela?

—NÃO É ISSO! —Os três responderam em coro.

—Ah, ta! —Ele abana as mãos. —Espera! O que é esse íconezinho brilhando, no descanso de tela dela? É o que eu estou pensando? —O asiático finalmente fizera “a pergunta”.

—É o jogo do Animon! Cacete! Como... como você conseguiu isso, menina? —Glads pergunta sem olha-la, ao passo que já ativa o Bluetooth dos celulares para copiar o aplicativo para os aparelhos dele. —Sapoha só ia sair em Setembro, como lançaram antes? Será um beta?

Ela abaixa a cabeça, escorando-a com as duas mãos. —Eu não faço idéia! —Sem saber como explicar.

—Você não é de sonegar informação. Tu sabe de alguma coisa! Vamos, pode falar! —Lucca ordena, sério.

—Macho...Foi hoje... durante a aula do Franco. —Selye procura separar o que pode falar do que não pode. —Alguém me enviou e o jogo instalou sozinho. Alguém deve ter hackeado meu celular ou algo assim.

—Deve ser aquele malware novo, o Mazar⁵. Agora eu entendo o porquê de você estar mais estranha do que o normal. —Lucca se encosta na árvore. —Será que a gente deve mesmo copiar o jogo, mesmo sabendo que alguém pode estar mexendo nos nossos celulares a distância e roubando nossas informações?

—QUEM SE IMPORTA? É O ANIMON! —Glads grita, levantando os braços para o alto e os balançando insano, completamente enlouquecido com o aplicativo.

—Eu também estou nessa. —Chan vai para o lado de Selye, dando um leve empurrão no ombro dela.

—Vocês estão doidos. —O outro balança a cabeça. —Passa o Animon pro meu celular também. Alguém tem que ficar de olho em vocês.

Assim, depois de todos terem copiado o arquivo e instalado, ambos se preparam para abrir o jogo em seus celulares pela primeira vez.

—Finalmente! —Chan não se contém. —Vamos ao mesmo tempo. Você está pronta Salye?

—Estou pronta desde que sapoha foi anunciada! —Dizendo isso, todos inicializaram a aplicação.


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Notas finais do capítulo

¹ Hospital Psiquiátrico do Juqueri: uma das mais antigas e maiores colônias psiquiátricas do Brasil, localizada em Franco da Rocha (antigo município de Juqueri), na região metropolitana de São Paulo.

² Junkenpô: Tradicional jogo "pedra, papel e tesoura".

³ Genesect e Weedle: personagens do famoso anime e jogos de Pokémon, no caso, o card game Pokémon TCG.

⁴ Uchiha Itachi: Ninja renegado, personagem do anime Naruto, bem popular entre os fãs.

⁵ Mazar: Malware móvel, um software malicioso que tem como alvo os telemóveis ou habilitados para wireless pessoais assistentes digitais, trazendo o colapso do sistema e vazamento de informações confidenciais.



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