Dimensional Adventure escrita por Projeto Alex


Capítulo 12
Relâmpago no Limbo


Notas iniciais do capítulo

Fugindo do que se passou um dia, relampejo,
Balançando as pernas sobre o nada.
A familiar imagem de outrora, tão vívida,
Mais uma vez desaparecendo, pelo vazio absorvida.
Agora, toque no espelho e observe o que eu vejo:
A espiral deste mundo em inevitável derrocada.



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A morena olhou para baixo, além dos objetos flutuantes que circundavam a colossal ilha em eterna rotação. Ela tentou distinguir algo que representasse chão, logo uma vertigem fez seu cérebro pesar.

Assustados, os meninos olhavam atentamente a cena, sem poder intervir. O que aconteceria com a menina ou mesmo eles caso realmente despencassem naquele abismo, o qual sequer tornava aparente sua profundidade.

“N-não tem fundo!” —GRAAAAAAAAAAH! —Ela gritou ao perceber o perigo em que se encontrava.

—Então este foi o caminho que você escolheu, Salye? —O rapaz misterioso falou novamente, visto que a garota claramente não escutara suas palavras de antes. Ele mantinha a mão de Salye abaixo do seu sapato, sem nenhuma delicadeza. —Eu te dei uma opção e então você põe tudo a perder... —Ele pressionou ainda mais o membro dela, fazendo com que esta prestasse atenção, nem que fosse a força.

—AIAIAIAIAI...! ...VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO! —Imediatamente, a morena respondeu a dor causada pelo homem com roupas de mordomo. —Por... Por que você esta fazendo isso? O QUE EU FIZ PRA VOCÊ? —Ela o questionou, ao passo que mares escorriam de seus olhos, caindo em gotas na vastidão.

Ela estendeu o outro braço, procurando encontrar algo em que possa se segurar a fim de escalar aquele precipício, contudo, assim que agarrou a borda da ilha flutuante, o mordomo chutou-lhe o pulso, deixando claro que não estava ali apenas para conversar.

—Isto... é! —O loiro segurou a lança diante do seu rosto, aparentando extrema apreensão para com o objeto colhido. —Wathmaker, seu maldito! O que você está tramando? —Ele pronunciou profundamente imerso em seus pensamentos.

—ARH! —A morena gemeu, sentindo o pulso deslocar-se lentamente ao repuxar-se preso aos escombros, sustentando o peso do seu corpo suspenso na imensidão do limbo.

Não suportando mais ver o desconhecido machucando a companheira, o Lucca se levantou, equilibrando-se com dificuldade sobre a limitada superfície.

—EI VOCÊ! —Lucca gritou, mostrando os dentes ao ver o estranho pisotear os dedos da amiga. —AFASTE-SE DELA AGORA! —Ele cerrou os punhos em tom de ameaça.

—Eu não tenho tempo para isso. —Com impaciência, o enigmático loiro desviou seus olhos azulíssimos na direção do gordinho, e esticando a palma da mão na direção do menino, ele ordenou: —Retroceder!

Imediatamente, o corpo do gordinho começou a se pixelar¹.

—O-O QUÊ ESTÁ ACONTECENDO COMIGO? —O jovem bradou atônico ai erguer a mão na altura dos olhos e perceber que esta estava se desfazendo.

 O corpo dele passou a dividir-se em bilhões de estilhaços. Estes iam se dissipando ao passo que se soltavam, levados pela atmosfera nublada.

—N-NÃ-!... —O grito do jovem fora abafado quando a boca desapareceu.

—Lucca?... —Embora Salye não conseguisse ver absolutamente nada daquele ângulo em que estava, ela sentia que algo havia sido feito ao companheiro. —LUCCAHHH! —A garota gritou com todas as forças ao sentir a sensação turbulenta se instalar em seu coração.

Mas quanto a Chan e principalmente Glads, eles sim assistiam o amigo transformar-se em cinzas lentamente, sem sequer poder fazer algo para conter o boss que naquela arena se estabeleceu.

—Ele...! —O asiático pronunciou atônito, mas conteve a fala ao decifrar o que deveria ter acontecido ao colega de sala. Nesse instante ele instintivamente olhou para o lado, para Glads, o qual dentre eles era o mais próximo do garoto que acabara de se desfazer.

Transpirou.

O moreno estava com a boca arregaçada, mostrando os dentes se trincando, ao passo que cerrava os punhos tão fortemente que as unhas cravavam-se na palma da mão, permitindo escorrer dela uma mistura de sangue e suor.

—VOCÊÊ! —O altão tremia por inteiro sobre uma das superfícies vagantes no espaço. —EU VOU TE PEGAR SEU DESGRAÇADO! VOCE VAI PAGAR PELO QUE FEZ COM ELE! —O rapaz urrou, atraindo a atenção do loiro, que os mirou como se estes fossem meros insetos.

Percebendo os orbes do desconhecido estavam sobre eles e que poderiam ter o mesmo fim de Lucca, Edu procurou acalmar Glads. Ele não era muito bom em bolar planos como o altão, mas a única coisa que podia fazer naquele instante era trazer o colega de volta a si, pois a respeito de Lucca... Não havia esperanças quanto a isto.

Ele falou ao rapaz ao seu lado: —Glads! ... A gente não pode partir pra cima dele de frente. Você precisa pensar em alguma coi-...! —Tarde demais! Transtornado, o moreno tomou impulso e começou a saltar desesperadamente sobre os relógios, na direção do seu alvo: o homem que reduzira seu melhor amigo em poeira.

Isso definitivamente não era nada bom! Ir de frente e sem um plano contra uma pessoa que tem a habilidade tão perigosa de desintegrar alguém, não era a idéia mais sagaz. Contudo, a única coisa a fazer era acompanhar o moreno e torcer para não serem mortos também. Assim, Edu também saltou sobre os objetos voadores até quem ambos, ele e o colega aterrissassem, embora aos tropeços, sobre a ilha.

—Vocês! Não podem simplesmente desistir? —O mordomo estendeu a palma da mão no rumo deles e pronunciou o comando novamente: —Retroceder!

Rapidamente, o altão empurra Chan para o lado, tirando-o da pontaria do homem de terno azul. Ele ficou esperando que algo lhe acontecesse, que ele pudesse servir de sacrifício para que Edu pegasse a amiga e ambos fugissem dali, mas nada aconteceu!

O loiro, surpreso com a falha do seu próprio bracelete, repetiu novamente a palavra de ativação: —Retroceder! —Disse chacoalhando o pulso, embora ineficaz. Aborrecido, ele trouxe o mostrador para perto da face e resmungou baixo, num sorriso murcho: —Droga... Parece que isso ainda é o máximo que eu posso fazer dentro do sistema... —O homem olhou para os garotos, um pouco desconcertado.

Falhou, otário!

Glads levantando as sobrancelhas e lambeu o canino esquerdo. —Vai lá ajudar a Salye! —Ele ordenou a Chan, estirando o braço e fazendo um joínha². —Eu vou arrebentar a cara desse babaca. —Ele disse sorrido, estralando os dedos da mão em seguida.

—Rraah... —A expressão saiu quase como um assopro irritado. —Parece que terei de fazer isso da forma antiga... —Segurando o item dado pelo Watchmaker, o inimigo brandiu-o, e logo o objeto transmutou-se numa lança elétrica, cuja energia emergia do ferro recém moldado na forma de perigosas labaredas azuis.

Embora preocupado em deixar o rapaz tomar conta de tudo sozinho, o asiático correu até a borda, onde a garota ainda estava pendurada, graças ao bracelete preso das fendas. A mão da garota estava completamente roxa e inchada. Ela estava desacordada. Com cuidado, ele agarrou-a pelo braço e desatando-o, ergueu a menina, puxando-a para cima de si, que despencou sobre os seu braços, junto a beirada do precipício.

—Vamos Salye! Acorde! —Ele estapeou a morena para que esta voltasse.

Mas a garota levantou o dorso de sobressalto, dando uma cabeçada do nariz do amigo, que foi ao chão em segundos.

—Bom te ver também, desastrada... —Ele pronunciou fanho, segurando o nariz para que este não sangrasse.

Ela colocou as mãos sobre ele, sentindo-se culpada. —Desculpa, Chan! —Mas quando o nervo da mão machucada repuxou, causou uma onda de dor que foi até a outra extremidade do corpo e então ela se lembrou: —O LUCCA! EDU, O QUE ACONTECEU COM O LUCCA? —Ela o indagou, já deduzindo o pior.

De repente um barulho estridente espalhou-se pelo ar. A morena e o asiático viraram os rostos imediatamente e viram Glads esquivando com dificuldade das estocadas de lança proporcionadas pelo mordomo.

O loiro girava a ferramenta com maestria, almejando causar o máximo de dano possível. Quanto ao altão, este havia tirado um dos relógios de sua órbita e estava usando-o como escudo, quando não conseguia ser rápido o suficiente para desviar. Mas mesmo assim, ele já fora acertado diversas vezes de raspão, exibindo marcas cauterizadas em seu rosto e também no corpo, entre os rasgões chamuscados das roupas. Ele estava com uma aparência cansada. Também pudera, cada vez que era acertado, a energia invadia seu corpo e o paralisava momentaneamente. Mas não podia parar! Não tinha o direito de parar. Aquele monstro matara seu amigo, sem remorso algum e tinha de pagar por isto!

—Lento! —O loiro encontrara outra brecha e desferiu uma estocada na direção do coração do garoto. Que embora tivesse sido capaz de recuar os centímetros necessários para não ter o peito perfurado, recebeu outra carga da eletricidade azul que circundava o ponteiro como relâmpagos.

O rapaz caiu de joelhos, tremendo, como se tivesse levado um tiro de taser³. Então, o boss caminhou até ele devagar e preparando uma intensa carga, mirou no peito de Glads e disparou. Como se estivesse prevendo a intenção do mordomo, Edu deixou Salye no chão e correu na direção do colega a fim de acudi-lo. Mas ele estava muito longe... Não ia dar tempo mesmo.

Nessa exata hora, algo como um vulto, atinge em cheio o rosto inexpressivo do mordomo, fazendo com que o relâmpago chicoteasse o ar e a lança fosse parar perto do centro do mostrador colossal.

Era Lucca. Ele estava bem vivo e nem um pouco amigável.

—Luc... ca! —Salye e Chan pronunciaram, um após o outro, com exceção a Glads, que estava apagadão. Mas como era possível? O garoto havia se fragmentado e desaparecido!

—Você me transferiu na forma de dados para o começo dessa arena né? Aquilo não foi legal. —Lucca apontou para o loiro, que o encarava friamente. —Quando meus pedaços se juntaram de novo não tinha nada embaixo de mim. Se eu não tivesse me segurado nos relógios que iam passando por acaso, eu estaria lascado! —Pareceu uma piada, mas o gordinho falou com muita raiva.

—Ah, veio! A gente achou que você estivesse mortinho! Até estávamos pensando em tatuar seu rosto nas nossas bundas. —Chan esfregou a testa ao se aproximar do garoto.

—Ele machucou bastante o Glads. —O gordinho mirou o amigo sem mover a cabeça para o lado. —O que acha de dar uma trégua e vir me ajudar a fazer esse idiota cuspir os dentes pelo caneco?

O loiro se estabilizou, alongando o dorso. Mas percebendo que suas mãos estavam sem o ponteiro havia sido produzido pelo relojoeiro, ele o procurou com os olhos, deparando-se com Salye, andando arrastado em busca do objeto lançado ao chão.

 O homem impulsionou seu corpo no intuito de ir até onde a garota, no entanto, os dois meninos se colocaram em seu caminho, impedindo-o.

Finalmente o loiro demonstrara alguma emoção. Preocupado, ele deu um passo para traz. Agora seriam dois oponentes e ele estava desarmado.

—O plano era somente destruir o ponteiro e expulsa-los daqui! —Aparentemente ele estava tentando se explicar aos garotos. —Este lugar não é para vocês!

—CALA A BOCA! —Lucca bradou. —É melhor você se defender!

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Dizendo isto, os dois meninos se colocaram contra o boss lançando nele socos e chutes, de modo incansavel. Mas o loiro era mais rápido. Ele mantinha-se desviando e defendendo os golpes de Lucca e Chan com habilidade, contudo, pelos garotos estarem agindo tão sincronizadamente, o mordomo não encontrava brechas para revidar. Além disso, sua mente estava voltada para a garota e ela não podia de jeito nenhum chegar até o núcleo da planície.

—Isso está se demorando demais! —Ele esperou o momento certo, e quando o asiático desferiu um soco torto, o loiro agarrou-o pelo pulso e o jogou para cima de Lucca, se desvencilhando deles. Então correu velozmente no rumo de Salye.

Mas era tarde, a morena estava exatamente no centro da ilha, erguendo a lança.

As densas nuvens que cobriam o firmamento começaram a tronar-se turbulentas, girando sobre eles, formando uma assustadora tempestade elétrica.

—É isso o que você estava tentando evitar, não é? —A morena mirou o loiro com raiva, envolvida pala decisão. —Você nos machucou, logo vamos fazer exatamente aquilo que você veio evitar!

O boss ainda tentara saltar sobre ela a fim de pará-la, no entanto a morena já havia descido o ponteiro com toda a força, fincando a lança no meio do mostrador. Nesse instante, as labaredas azuis do objeto geraram um impacto tão violento que lançou o loiro para longe, para além do precipício, sem que este pudesse segurar-se em nada para impedir-lhe a queda.

A própria energia contida na lança atraiu um poderoso trovão, o qual desceu desde os céus, envolvendo tudo ao redor do ponteiro cravado verticalmente no relógio, inclusive a garota, que sentiu a carne arder com tamanha carga.

O relâmpago pareceu mudar algo na atmosfera do lugar. Agora, os objetos circulando entorno da ilha pareciam mais rápidos e um vento furioso castigava os rostos daqueles que ainda se mantinham sobre o relógio colossal, tanto que quase não conseguiam manter os olhos abertos.

“Então, o Watchmaker estava certo! O ponteiro é um upgrade para Animon!”: era o que se passava pela mente deles, enquanto estes moviam as cabeças, admirando a transformação brusca do ambiente.

No núcleo do mostrador, os relâmpagos azuis tomavam conta dos membros da menina, entrelaçando-se por suas mãos, até naquela que havia sido ferida pelo mordomo. Mas ela não parecia com medo, ou mesmo se importando com a dor que com certeza estava sentindo por conta do choque. Ela mirava os dedos, fascinada com aquele brilho incomum, impossível se ser apreciado de perto em circunstâncias normais.

 

De olhos cerrados, enquanto caia de cabeça para baixo no limbo, o loiro pronunciou como um lamento: —Ah, Salye, o que você fez?!

 

 


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Notas finais do capítulo

¹ Pixelar: Transformar-se em pixels. Pixels são pontos luminosos do monitor que, juntamente com outros do mesmo tipo, formam as imagens na tela.

² Joínha: é uma gíria usada para se referir ao símbolo de afirmativo com o polegar, usualmente utilizado em diversas redes sociais.

³ Taser: Arma de choque.



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