Harry Potter e... escrita por VSouza


Capítulo 54
Capítulo 7 - O Beijo de Draco




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/700185/chapter/54

CAPÍTULO 7

Ela esqueceu que chegou ali com a vassoura. Quando desceu no corredor, teve que se apoiar às paredes e respirar novamente.

Quando soube que Harry era uma horcrux e que o próprio Voldemort teria que matar o amigo, a informação lhe causou uma dor física imensa, abriu um buraco em seu peito. Saber que Snape não era quem todos pensavam lhe colocou num total estado de descrença e perplexidade. Novamente, ela não queria acreditar nele. O diretor poderia muito bem estar jogando com seus pensamentos e sua confusão, mas algo dentro dela lhe dizia que aquela era a verdade: Snape sempre protegeu Harry. Algo lhe dizia isso há anos, mas tudo conspirava contra essa ideia.

Ela balançou a cabeça e voltou a seguir pelos corredores, em direção à saída. Não importava mais que ela estava em Hogwarts, que sentia saudades daquele lugar e que poderia tentar ver Luna, Neville e Gina e conversar com eles. Tudo o que ela queria fazer era sair, ver o céu e tentar digerir tudo aquilo.

 

Correu pelos jardins em direção à Hogsmeade, onde poderia aparatar para bem longe dali. Olhou para trás uma única vez, reparando que havia uma sombra observando na janela da sala do diretor. Com as roupas pretas e o fundo branco da neve, Snape observava sua saída de longe também. Ela se virou e continuou andando para longe do castelo, até chegar nos limites da propriedade e conseguir aparatar.

Não voltou de imediato para a casa dos Malfoys. O álcool ainda estava no seu organismo e ela não queria ter que lidar com os Malfoys naquela hora. Aparatou em Londres, perto do apartamento de trouxas que ficou hospedada meses atrás. Após verificar que nenhum trouxa a tinha visto, começou a andar aleatoriamente pelas ruas. Sabia que não aguentaria ficar trancada no quarto enquanto tanta coisa pipocava em sua cabeça, precisava colocar o corpo em movimento.

Snape me salvou… Salvou a todos nós…

A lembrança da noite em que Lupin se transformou em lobisomem perto do Salgueiro Lutador, no terceiro ano, e Snape se colocou entre a fera e os meninos, mesmo sem varinha, apenas barrando com o próprio corpo, voltou para a sua mente, assim como outras breves lembranças: ele a curando da magia negra da faca de Bellatrix depois da batalha no Ministério; ele a protegendo do impacto do feitiço da saída de Dumbledore quando o diretor ia ser levado preso para Azkaban porque tinham descobrido a Armada de Dumbledore; horas atrás na mesma sala, quando ele a puxou para a proteção de seus braços quando o vidro explodiu em uma chuva de cacos.

Isso tinha acontecido em tão pequenos momentos e ações que era impossível para ela desconfiar que Snape estava mentindo suas intenções naquela noite.

Caminhava por uma rua não tão movimentada agora. O barulho e luz dos carros e ônibus parecia apenas piorar sua dor de cabeça, então decidiu andar um pouco mais distante do centro para ver se o incômodo passava, pensando que teria que voltar logo para a mansão antes que os Comensais aparecessem em Londres e a levassem pelos cabelos, com várias perguntas sobre o que andara fazendo.

Ela poderia estar concentrada em seus pensamentos o mais forte possível, mas a voz que ouviu sair de uma rua lateral alguns metros à frente a trouxe de volta como uma queda sem paraquedas.

—Meu nome não está na lista! Me deixem ir!

Amy andou apressadamente, praticamente correndo, quando viu o que estava acontecendo. Rony estava sozinho, cercado por quatro Sequestradores que ela não conhecia, preso nos braços de um enquanto outro o interrogava.

—Como sabemos se está falando a verdade? -perguntou estupidamente o sequestrador.

Amy pegou a sua varinha, ajeitou a postura e andou até eles, a capa de Comensal voando confiantemente atrás dela.

—Talvez se não fossem tão estúpidos saberiam que ele é de uma ilustre família puro sangue, da qual o pai trabalha no Ministério da Magia. - ela disse superiormente, se aproximando do grupo.

Os sequestradores assim que viram suas vestes e seu tom, a olharam com medo e respeito, mas Rony arregalou os olhos azuis e abriu a boca, completamente surpresa.

—Soltem esse bruxo e deem o fora daqui. - ela ordenou, inquestionável.

—Mas, Senhora… - eles não a conheciam, mas a garota não deixava brecha para duvidarem de sua superioridade em relação à eles. De alguma coisa aqueles meses na mansão tinham servido para ela.

Amy virou o rosto para o homem que falou, desafiando-o a continuar. Ele se calou, depois olhou de canto para os amigos.

—Fora. - Amy disse num tom baixo e nos próximos segundos, eles desaparataram, restando apenas Amy e Rony ali.

Rony se levantou e olhou estupefato para ela. A confiança e superioridade da menina tinham sumido junto com os sequestradores: ela estava novamente exposta, esperando uma onda de raiva e incredulidade do amigo. Mas quando ele correu e a abraçou com todas as suas forças, ela não conseguiu evitar soluçar de alívio e o abraçar também.

—Ron! - sussurrou seu nome emocionada.

Era tão incrível sentir seu cheiro e seu calor novamente. Os cabelos estavam maiores que os dela, e uma barba rala pinicava o seu rosto, mas era o mesmo Rony de sempre, o amigo que amou todos esses anos.

—Você… eu não acredito que você me achou! -ele a segurou pelos ombros, depois voltou a abraçá-la - Ah, Amy senti tanta a sua falta!

—Eu sei! Eu também! - ela não conseguiu evitar disser. - É tão bom te ver! Onde estão Hermione e Harry?

Amy sentiu a postura de Rony se encolher e seu rosto mudar ficar um pouco mais sério e culpado.

—Ron? -ela perguntou nervosa.

—Eles… eu não sei onde estão. Abandonei eles umas semanas atrás. -ele disse arrependido e envergonhado.

Amy olhou incrédula para ele.

—O que? Mas… por que? - ela tinha motivos por ter se afastado. Qual seria os do amigo?

—A gente brigou uma noite… foi uma discussão boba, sabe, eu estava alterado por causa do medalhão… entende, nós achamos o verdadeiro e ele nos influencia de forma muito negativa. Quando voltei para tentar achá-los, não consegui por causa dos feitiços de proteção. Mas… agora podemos procurá-los juntos!

Amy ficou tão surpresa com a última frase que não falou nada, apenas olhou uma pequena esperança nascer nos olhos dele.

—Quando falaram que você estava com os Comensais da Morte eu não pude acreditar. Sabia que você nunca faria isso, que devia estar sendo mantida prisioneira ou forçada,  e hoje você me salvou… Agora que nos encontramos, podemos voltar juntos, tentar achá-los e…

—Rony, não, espera… -Amy afastou as mãos empolgadas do amigos.

O que falaria pra ele? Não podia simplesmente voltar… Como esconderia a verdade sobre a última horcrux, e agora, a verdade sobre Snape? E era tão injusto compartilhar esse fardo com o amigo quanto era ela carregar sozinha; Rony não precisava sofrer o que ela sofria. Além disso, tinha o rastreador. No momento que eles notassem seu real sumiço, Comensais iriam atrás do quarteto na hora.

—Eu não vou voltar. -ela disse firme. Os olhos dele fixaram-se confusos nela, e ela teve que ser forte para novamente abandonar ele. - Eu te salvei porque o amo e nunca iria deixar você nas mãos daqueles homens, mas… eu não posso voltar. Eu… estou com os Malfoys agora… é complicado…

—Amy….

—Por favor, não pergunte. Não fala nada. Vai ser mais fácil.

—Não! Não, como não falar nada? Tá querendo dizer que você realmente está amiga do Draco Malfoy agora?

Essa não era bem a verdade, mas quanto mais Amy tentasse explicar e esclarecer as coisas, pior seria. E se Rony encontrasse os amigos, era melhor acharem que ela queria estar na Mansão do que se arriscassem ou se preocupassem em querer resgatá-la.

—Sinto muito Ron. Muito mesmo. Mas eu não vou com você. - ela disse, se afastando.

—Amy… não… o que? -ele disse triste e surpreso, as lágrimas de indignação molhando os olhos azuis.

—Eu te amo, ok? - Amy disse sinceramente, antes de desaparatar para longe dali.

Aparatar na Mansão Malfoy foi quase um alívio.

Descobrir sobre a Espada de Godric Gryffindor, descobrir a verdade sobre Snape, ver Rony, numa única noite… era demais para ela, demais depois de tantos meses de nada acontecendo.

A casa estava vazia como ficava toda noite. Narcisa e Lúcio sempre estavam em seus quartos quando não havia visitas. Bellatrix é quem mais andava pela mansão, mas não estava ali naquele momento. Amy tinha visto Pedro Pettigrew e Luccas Smith, um comensal barra pesada que passou a acompanhar a família, poucas vezes. Draco também devia estar em seu quarto.

Já era quase meia noite quando ela entrou no banheiro para tomar uma ducha quente e demorada.

Fazia tempo que não chorava no banho, e aquela vez valeu por todo o tempo sem choro. Abandonar Rony lhe doía novamente, mas sabia que tinha feito a coisa certa. Se lembrou de Dumbledore falando que Harry só poderia saber a verdade quando a hora estivesse próxima, se lembrou da verdade sobre a morte do ex diretor… como poderia conviver com os amigos e não contar aquilo? Era muito maior do que esconder o plano de Malfoy como fez no sexto ano.

E Snape… todos esses anos, todo aquele tempo fingindo e recebendo a fúria dos meninos, quando na verdade só estava protegendo todos. Amy sabia que ele não era a melhor pessoa do mundo: devia ter feito o que fez por conta da culpa que sentia de ter entregado a profecia à Voldemort. De um jeito ou de outro, a morte dos Potters era culpa dele, ele estivesse arrependido ou não. Além disso, tinha o fato de Snape saber várias coisas, mas Dumbledore não lhe contara tudo, e Amy percebeu isso quando ele falou do anel que era uma horcrux e de Harry ser uma espécie de horcrux… ele não sabia sobre as sete partes da alma de Voldemort, e provavelmente não sabia que Harry estava caçando-as.

E a espada… Amy foi tão burra todos esses meses… inclusive aquela noite. Poderia simplesmente ter perguntado ao retrato de Dumbledore, mas estava tão focada em Snape que tinha esquecido isso completamente.

Desligou o chuveiro e colocou as confortáveis vestes de linho para dormir. Sabia que se tivesse ido com Rony, se tornaria novamente uma fugitiva, e ali com os Malfoys ela tinha privilégios como mandar nos sequestradores e conseguir visitar Hogwarts. Era mais estratégico e inteligente ter ficado com esse status, mesmo isso revirando seu estômago todas as noites.

Amy não percebeu o quão cansada sua mente estava, mas dormiu quase doze horas naquela noite. Quando acordou, demorou para perceber que tudo na noite anterior não fora um sonho. Ela estava no banheiro fazendo suas higienes quando ouviu alguém bater na porta.

—Entre. - ela disse, passando a toalha para secar o rosto.

Draco abriu a porta e entrou desajeitadamente. Amy o observou por alguns segundos, pensando que ele estava certo na discussão que tiveram do dia anterior.

O rapaz não andava mais com um ar superior e arrogante de sempre. Não implicava com Amy ou queria o seu mal, como em todos os outros anos que passaram na escola; ele parecia mais maduro, mais humano, menos cruel e mais consciente de qual era a realidade à sua volta. Ele afinal, a salvou desde a noite em que os Comensais invadiram Hogwarts. Se quisesse acabar com ela, teria segurado a menina na Sala Precisa, e não falado para ela fugir; também não a teria segurado para não cair metros de escada abaixou durante a batalha, e nem lançado o feitiço de memória no Comensal ou corrido desesperadamente atrás dela naquela floresta. Teria deixado os comensais fazer o seu trabalho e não precisaria lidar com ela todos esses meses. A conversa com Snape na noite anterior abriu seus olhos para perceber que aquela guerra não era feita de zeros e um, que por mais que não parecesse, as intenções de Draco poderiam realmente ser verdadeiras e boas.

—Oi. - ele disse relutante.

—Oi.

—Amy, eu… queria me desculpar por ontem. Não quis dizer aquilo, não quis te magoar com o que falei…

—Não, Draco, você não precisa pedir desculpas. Eu fui injusta com você. - ela andou para próximo dele. - Você está certo, você mudou e em todos esses meses eu não quis reconhecer isso. Eu poderia achar que você só salvou minha vida porque quer me usar para atingir Harry, mas eu sei que você me ajudou porque…

Amy vacilou um pouco, com dificuldade para achar as palavras que completavam aquela frase.

—Porque, apesar de tudo, eu me importo com você. -ele completou por ela, e Amy o olhou surpresa e sem palavras - E, eu acredito, que você quis me ajudar a não ser morto ano passado porque, no fundo, também se importa comigo.  

Amy assentiu meio sem reação. Era difícil admitir que essa era a verdade, afinal. Ela deu um leve riso.

—Estranho, não? Seis anos de rivalidades infantis, desprezo e raiva, para, no final, todo mundo ficar com medo de morrer e perder as pessoas e começar a se ajudar. - ela disse.

Draco abaixou os olhos, parecendo não concordar profundamente com isso.

—O que? -Amy perguntou, confusa com sua ação.

—Nada. Você está certa. É verdade, mas… - ele se aproximou dela. - Você poderia ter contado ao Potter sobre o que sabia, mas não contou porque se importou com o que aconteceria comigo, não é?

—Draco… - ela não sabia onde ele queria chegar.

—Tão difícil assim admitir isso? Ou que você ficou desesperada quando me viu numa poça do meu próprio sangue naquele dia do sectumsempra? E que você ficou um tempo me observando na enfermaria e vendo minhas novas cicatrizes. É, eu não estava tão desacordado, senti sua mão.

Amy inspirou profundamente, confusa e pega de surpresa por aquela conversa, depois olhou para ele.

—Você quer que eu admita que me preocupo com você? Isso… Ok, me preocupei… -Draco deu mais um passo em direção à ela, e Amy colocou sua mão em seu peito para pará-lo, mas sua mão mais repousou ali do que o advertiu. Talvez ela não queria pará-lo. - Me preocupo com você… - ela logo corrigiu o tempo do verbo.

Ele a olhava tão intensamente que Amy paralisou por um segundo, totalmente vulnerável à ele. E novamente, como aconteceu na noite da enfermaria, ela percebeu como o achava bonito e elegante e como seu cheiro era excêntrico e agradável também.

—Draco - ela sussurrou incerta, olhando naqueles olhos cinzas intensos e desejosos.

Seu nome saindo num sussurro pelo lábios dela foi um convite para ele, que acabou com a pequena distância entre os dois e a beijou. Ele sentiu o corpo da menina se contrair surpreso no primeiro instante, mas assim que ele a beijou de novo, ela relaxou e correspondeu, e ele percebeu como desejava isso há meses. Talvez desejou no primeiro momento em que os dois ficaram tão próximo, quando Snape quase os achou no box daquele banheiro, mas naquele dia ele tinha rancor e raiva demais para admitir o que queria.

Amy subiu a mão que estava em seu peito para a nuca dele. Ele percebeu que existia uma hesitação nos movimentos dela, mas que ia ficando para trás a cada momento que se passava. Draco a puxava para si, ao mesmo tempo que os dois caminhavam até a parede. Amy finalmente pareceu aceitar o que estava fazendo, o que queria naquele momento, e o puxou também, enterrando seus dedos nos cabelos loiros e macios.

Eles não sabiam quanto tempo teriam ficado ali, se duas batidas suaves na porta não tivesse tirado os dois daquele momento. Amy empurrou Draco para longe, que recuou quase tropeçando. Se olharam atônitos, ela surpresa com o que tinha feito, ele surpreso que aquilo realmente tinha acontecido. Amy passou a mão pelos cabelos, antes de conseguir falar.

—Pode entrar. - disse um pouco rouca.

Draco se afastou mais no mesmo instante, levando a mão à cabeça também e dando meia volta no quarto.

O pequeno elfo entrou  com a bandeja do almoço em mãos e se deparou surpreso ao ver o mestre ali. Amy jurava que Draco teria acabado com a vida da pobre criatura por ter entrado naquele momento se Narcisa não tivesse aparecido no corredor e olhado para dentro do quarto naquele instante. Amy paralisou por um momento com o gelado olhar que a mulher lhe lançou, antes de dirigir a palavra ao filho.

—Draco. Seu almoço está na mesa e sua família o espera.

Draco tentou não parecer nervoso, mas ela achou que nenhum dos dois estavam sendo bons atores naquele momento.

Amy segurou a porta enquanto o garoto saia, depois a fechou assim que os dois se afastaram e o elfo saiu do quarto. Quando fechou a porta, encostou a cabeça na madeira cara, tentando respirar normalmente.

O que tinha acabado de fazer?

A euforia enchia o corpo de Amy, e ela teve que respirar várias vezes.

Tinha acabado de beijar Draco? Draco tinha acabado de beijá-la? Ela tinha que ter afastado ele, falado não, mas não conseguiu. Não conseguiu resistir ao seu contato, seu calor, sua pequena paixão que demonstrou naquele momento.

Isso não estava certo. Ela já tinha virado sua vida de cabeça para o baixo o suficiente. Tinha abandonado a Ordem e virado uma Comensal da Morte, devido às circunstâncias. Tinha deixado Rony novamente na noite anterior, e agora tinha beijado Draco com uma vontade semelhante à que beijou Cedrico e que beijava Harry. Mas ela amava Harry, não amava Draco. Tinha sido totalmente sincera quando disse que se importava com ele, mas eram sentimento diferentes, totalmente diferentes.

Amy mal tocou no almoço aquele dia. Desejou poder esquecer os  acontecimentos do último dia e daquela manhã. Rezou para Draco não voltar em seu quarto tão cedo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguém mais esperava por ansiosamente por isso? Já estava na hora aaah



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Harry Potter e..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.