Recebi alta. Graças a Deus!. Não aguentava mais.
Mas ainda terei que fazer quimioterapia em casa. Mas eu voltarei para a escola. Por um lado eu estou animada: tempo de maratona de futbol americano, rever Gabi, conhecer a nova rival. Por outro estou morrendo de medo: eu reverei Arthur; conhecerei esta nova garota; medo de que alguem descubra minha doença.
Quando chegamos em casa, uma sensação de nostalgia, me tomou.
Minha pequena desce as escadas correndo, mas para, quando me olha. Ela parece assustada e surpresa.
—Lena? - pergunta.
—sou eu, Lê.
—o que aconteceu com seus.... - se interrompe, olhando para mamãe. Se conheço bem minha mãe, ela deve ter mandando Lêticia calar a boca, em silencio.
Ela corre atê mim, se jogando em meus braços.
—esta bem, Leticia?
—estou. Mas... Lena eu... quando estava no hospital eu... eu, bem... - ela tenta arranjar um jeito de falar.
—fale logo.
—eu peguei sua maquiagens. - ela se encolhe no chão, com medo. - por favor não me bata! Pode gritar, mas não me bata!.
Olho confusa para os garotos.
Antigamente eu atê ficaria um pouco, quer dizer, muito irritada com isso, mas agora não.
—Lê, tudo bem. Se quiser, pode ficar com todas elas.
Levanta e me olha com brilho nos olhos.
—serio?
—serio. Pode ficar. Eu compro outras.
Me abraça.
—eu posso ir lá pegar?
—vá lá.
Sobe as escadas.
—eu batia nela? - os gemêos assente.
Ricardo e Selena descem.
—bem vinda de volta, Helena. - fala Ricardo.
Sorrio meio sem graça. Nestes 4 meses em que minha mãe e Ricardo estão casados, nunca conversamos. Apenas "oi; tchau; bom dia; boa noite; passa a geleia?"
Sei que ele tambem salvou minha vida, quando sangrei quase atê a morte. Então sou muito grata a ele.
—obrigada.
Olho para Selena.
Ela parece muito surpresa em me ver assim.
Ricardo dá uma cutuvelada de leve na filha.
—seja... bem vinda.
Agradeço com a cabeça.
—hãã... Selena como foi a escola hoje? - pergunta minha mãe, mudando de assunto.
—foi bem.
—será que pode passar a materia que estão estudando, para Helena?
—os garotos não podem passar?
Ricardo a repreende com o olhar.
—então, tudo bem. Eu passo.
Ela sobe as escadas correndo.
—querida esta na hora de comer. - mamãe me puxa atê a cozinha.
—meninos, levem as malas dela pro quarto.
—isto foi um pedido, mãe? - pergunta Guilherme, sentando no balcão e comendo uma maça.
—não. Eu mandei.
—por que nós temos que levar? As malas são da Lena. - reclama Gabriel.
—vocês como irmãos, tem que fazer a obrigação.
Ela começa a fazer uma salada, cheia de vegetais que não gosto.
—pode ser depois?
—não. Agora.
—o que vamos ganhar com isso?
—talvez uma chinelada na cara! - ameaça tacar seu chinelo, fazendo os dois sairem em disparada.
Viu? Até familias ricas tem seus problemas de pobres.
Começo a rir.
Do nada, me bate um cansaço. Tenho que sentar.
—esta bem?
—estou.
—filha coma. - ela me entrega o pote com a salada.
Encaro aquilo.
—cadê a carne?
—Helena, você tem que ter uma dieta saudavel.
—mãe, olha meu corpo? É perfeito.
—realmente. Seu corpo é lindo, filha. Mas são indicações do medico.
Resumindo, eu fui obrigada a comer tudo aquilo.
***
—Helena, seu pai esta aqui.
Avisa minha mãe antes de deixa-lo entrar.
Meu velho entra, como sempre muito galante. Seus cabelos loiros com fios grisalhos, estão como sempre arrumados. Seus olhos, apesar de enrugados, estão mais verdes do que da ultima vez que o vi. Papai realmente é um homem bonito.
—oi Helena. - fala apenas, antes de fechar a porta.
Antes de tudo (Arthur, cancêr e tal...) tivemos uma grande briga de familia. Como sabem, papai traiu minha mãe com Raquel, mãe de Arthur. Quando isso aconteceu, ainda não eramos nascidos, então não levamos em conta. Já tinhamos lá para os 2 anos de idade, quando mamãe tentou reatar o casamento. Outra vez, papai a traiu. Ok. Então quando tinhamos 9 anos, eles tiveram uma recaida e mamãe engravidou de Lêticia. Mamãe foi uma idiota? Muito. Papai veio morar conosco por 1 ano, depois fugiu para Ohio na Australia, com nossa babá. Tudo bem. Mamãe pode parecer a mulher mais feia do mundo, mas não é. Então, quando ela começou a se relacionar com Ricardo, papai voltou querendo voltar o casamento. Isto deu a maior briga, mas com ele. Não tinhamos nada a ver com isso. Mas quando ele quase obrigou, nossa mãe a isso, tinhamos que nos meter. Bem, ele foi embora, depois de o chingarmos muito.
—esta bem?
—pareço bem? - falo ainda ressentida.
—não. Perdão.
—eu queria agradecer por pagar o hospital e a quimio em casa.
—sabe que esse dinheiro é seu e de seus irmãos.
Se senta na cadeira de minha penteadeira.
—o que veio fazer?
—vim ver como estava. Ainda sou seu pai.
—pelo menos uma vez, veio fazer esse papel.
—eu faço esse papel. Olha a casa em que vivem. Com o dinheiro da pensão alimenticia dá pra pagar umas quatorze casas dessa.
—dinheiro é facil. Sabe como é viver sem um pai?.
—e sabe como é viver sem sua esposa e seus filhos?
—você escolheu isso. Quando traiu mamãe com Raquel. Quando a traiu pela segunda vez. E quando fugiu com Silvia, nossa Babá. - abaixa a cabeça.
—filha sei que não fui um bom pai. Eu sei, mas... me dê uma chance.
—só por que, percebeu que estou no fim de minha vida.
—eu me arrependo toda vez que vejo sua mãe, com Ricardo. Quando vi seu namorado, fiquei pasmo. Tinha que ser ele. Um VilasBoas. Toda vez que via sua mãe, perto dele, lembrava de tudo. Sua mãe foi o grande e meu unico amor. E meu deu você e seus irmãos. Foi uma benção. - fala com a voz embargada. - me deixe tentar outra vez? Prometo ser melhor.
Por um momento pensei. Os garotos iam me matar por isso, mas.... ele é nosso pai.
O abraço.