Persuasion escrita por Eponine


Capítulo 3
Ato III




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O homem é a única criatura que se recusa a ser o que ela é

 

 

 

 

ATO III

 

 

 

 

 

SETEMBRO

1981

 

A porta do escritório de Frank Longbottom abriu-se abruptamente, revelando alguém de estatura baixa e risivelmente magra, fechando a porta em segundos após enfiar-se no local, de roupas comuns escuras e a touca de seu casaco escurecendo seu rosto. O cheiro de batata frita e groselha empesteou o local enquanto Frank largava sua pena e encostava-se em sua cadeira acolchoada, suspirando ao assistir Dorcas Meadowes sentar-se rapidamente na cadeira diante dele, colocando sua bolsa imunda em cima de sua mesa, sob seus papéis, a abrindo com as mãos sujas.

O homem ajeitou-se em sua cadeira, desconfortável com a imagem que vira quando a touca da garota simplesmente caiu para trás, revelando seu cabelo castanho chegando ao tom negro de tão seboso e sujo, as olheiras negras ao redor dos olhos esbugalhados e a boca com alguns vestígios do que ele chutaria ser um burrito.

Era decepcionante ver que a melhor Auror que o Ministério da Magia terá morreria antes dos trinta de um infarto fulminante.

— Aqui está as vinte e três cartas interceptadas da casa dos Malfoy essa semana. — ela jogou a pasta e continuou procurando algo dentro de sua bolsa absurdamente barulhenta, provavelmente com algum feitiço de extensão. Frank pegou a pasta exaltado, não se lembrando de ninguém ter dado aquela função a Dorcas.

— Vo-Você enlouqueceu? Os Malfoy? Eles podem pro-

— Processar o Ministério? Acho que não, ainda mais depois dessas cartas bem especificas de Narcissa Malfoy aconselhando o pai a mandar sua irmã, Bellatrix Black, para Rússia, para a poeira abaixar e não descobrirem a estadia dela em Salem com um “Você-Sabe-Quem”. — Dorcas sorriu feito uma maluca. — A não ser que ela esteja se referindo à Rodolphus Lestrange, nós sabemos muito bem que Você-Sabe-Quem é uma forma popular de chamar alguém que conhecemos como Voldemort.

Garota! — esganiçou Frank, alarmado. Aquele nome era maldito, ninguém o pronunciava. Você-Sabe-Quem se tornara quase um nome oficial para a identidade finalmente revelada do autor daquela guerra invisível de anos. A armadilha feita por Voldemort à Igor Karkaroff, o desmascarando propositalmente, o atraindo para um local em que ele sabia que o Ministério estava vigiando, na esperança de capturar o Lord das Trevas. Para o mundo, deixou escancarado que o Instituto Durmstrang estava completamente envolvido com as Artes das Trevas, fazendo com que as aulas fossem canceladas e mais de cem famílias fossem alvo de suspeita e investigação. Frank, não era tão bom quanto Dorcas, deduziu que ele planejara aquilo porque Karkaroff provavelmente o contrariou, mas ele não deixou os motivos claros. O homem também não parecia ser tão importante assim, já que ele o deixou vivo.

— E esse é o relatório que você me pediu sobre a Suprema Corte, eu ficaria mais que de olho no Lestrange. — ela fungou e focou os olhos esbugalhados em Frank. — Então, você sabe onde está Dumbledore?

— Não, por quê? — ela olhou todo o escritório, receosa e então colocou-se na ponta da cadeira, ainda fungando, com os olhos quase sem piscar. Frank sentiu constrangimento ao constatar que Dorcas estava realmente fedendo.

— Eu talvez tenha descoberto quem é o espião. Da Ordem. — o som de sua bota batendo repetidamente no chão estava começando a irritar o Longbottom. Ele suspirou enquanto a garota coçava a nuca, com seu cabelo pixie imundo sequer se movendo com o movimento.

— Quando? — perguntou ele, sem animação. Toda semana Sirius Black também “achava” o espião, melhor, todos os dias Alastor Moody achava o espião. Frank estava começando a achar que a Ordem se dissolveria pela desconfiança doentia de todos.

— Há um tempo... É, há um tempo. — ela cruzou os braços rapidamente e continuou balançando a perna, batendo a bota no chão, agitada. — Só que eu tinha essas coisas para resolver e...

— Meadowes, Me- — ele inclinou-se sob a mesa rapidamente, apertando o ombro da garota para ela parar de se mexer, e sentou-se, temeroso. — Meadowes, há quanto tempo você não dorme?

Ela ficou em silêncio e então assumiu uma feição irritada.

— O que isso tem a ver com o que eu estava falando? Este espião pode ser a causa da mo-

— Da morte de Marlene McKinnon. — concluiu Frank. Dorcas engoliu seco com o nome e pegou sua bolsa sob a mesa, apertando contra o corpo, desviando o olhar, ainda irritada. — Meadowes, nós sabemos que McKinnon e você eram próximas e talvez tenha sido injusto nós não termos dado um tempo a você... Suas notas não estão excelentes, parece que você tem feito apenas o básico para manter-se no programa, já estourou seus limites de falta, quando vem à aula, faz qualquer coisa que não seja o dev-

Eu já sei tudo! — interrompeu, em um grito. Frank ergueu as sobrancelhas e ela deu de ombros. — Eu já sei tudo. Não me escolheram para Cervo à toa.

— Com toda certeza não. — retrucou o Longbottom, tomando uma postura mais dura. Dorcas estava agindo feito uma desgovernada no último mês e ele sabia que aquilo podia ser uma forma de manifestação de seu luto, ela sempre fora introspectiva, mas era uma garota simpática e amigável. — Foram pela sua excelência, o que você parece ter perdido. A senhorita está com algum problema financeiro? Porque isso eu posso-

Dorcas riu de escárnio, esfregando os olhos, maneando a cabeça negativamente para baixo, como se já esperasse aquilo.

Poupe sua caridade. — ela levantou-se e pegou a garrafa d’água e o pacote de balas que Frank tinha na mesa, saindo do escritório sem incomodar-se de olhar para trás. A garota colocou sua touca novamente e abriu a garrafa de água enquanto se direcionava para o Hall do Ministério, enchendo a boca de balas em seguida. Ela precisava manter-se acordada até a noite.

 

 

 

LITTLE WHINING

04:07 PM

 

 

 

— Você viu Dumbledore? Sabe onde ele está? — a garota jogou a bolsa no chão e foi até a garrafa térmica que estava na mesa de centro entre os dois sofás da sala do Esconderijo da Ordem. Remus Lupin estava detonado em um dos sofás, fitando o teto, visivelmente exausto. Ela abriu a garrafa e tomou do gargalo, ignorando o olhar enojando e chocado do homem.

Não! — retrucou ele. — E eu ainda ia tomar esse café!

— Está ruim, pouco açúcar. — retrucou ela, jogando-se no outro sofá, ainda dando goles que queimavam sua garganta, enquanto ela vasculhava o bolso de sua calça, pegando um pergaminho imundo e mal dobrado. Ela pousou a garrafa no chão e abriu, observando os passos de Peter Pettigrew em sua própria casa. Pelo que ela viu durante aquelas semanas, Carrows pareciam frequentadores assíduos daquela casa. E também um homem chamado Tom Riddle aparecera uma vez, ela não faz a menor ideia de quem seja, então concluiu que fosse algum trouxa entregador, carteiro, ou algo do gênero.

Dorcas cresceu os olhos para o saquinho de açúcar na mesa e colocou mais de três cubinhos dentro da garrafa, enfiando um brioche relativamente grande na boca, ainda vigiando o pergaminho.

— Merlin... — murmurou Remus, assombrado. — Você sabe que vai morrer antes dos trinta, não?

Impossível. — retrucou ela, dando outra mordida, falando de boca cheia. — Estão avançando nas pesquisas de revitalização coronariana, se eu infartar, eu volto com um coração mais novo que o seu.

Ele a olhou, desacreditado, e então voltou a fechar os olhos, cansado, tentando dormir naquele sofá desconfortável e duro. A garota analisou suas roupas sujas e remendadas, pensando no quão desgraçada ia ser a vida daquele cara. Ele provavelmente nunca ia conseguir nada na vida, nem família. Terminou seu café e foi até a cozinha, preparando mais uma garrafa, tomando cuidado para não adoçar muito. Quando retornou à sala, ele roncava. Deixou a garrafa e fitou seu rosto machucado, em silêncio. Aproximou-se e tocou algumas mechas de seu cabelo sujo, arrancando. Esperou que ele acordasse, mas Lupin apenas roncou mais alto.

Saiu da casa enquanto guardava o cabelo de Remus em um compartimento de sua bolsa.

Escolheu o lugar certo para aparatar e apareceu no local de sempre, na chaminé da casa de frente para a de Peter, sempre tomando cuidado para estar com a transfiguração acentuada, sentada encostada na chaminé escura. Durante três semanas, Peter não saiu de casa. Saiu apenas para a única reunião do mês da Ordem, e Dorcas tinha que estar presente, logo, ela não teve a chance de vasculhar o local. Apesar de que dificilmente ela acharia algo ali, deduzia que Peter era inteligente até demais, já que conseguiu enganar à todos. As cartas interceptadas eram todas vagas, inconsistentes, sem reais provas e cheio de codinomes que Dorcas não conseguia concluir apenas com dedução. Ela precisava de mais. E de Dumbledore, o mais rápido possível.

Continuou observando o pergaminho deitado em seu colo naquele frio do anoitecer, dura no telhado, lutando contra os olhos. Há horas Peter estava parado no mesmo lugar, provavelmente vendo TV, já que ela conseguia ver a iluminação pela janela. Deu mais três piscadas e quando se deu por si, além de babada, a luz estava apagada e o pergaminho estava vazio, apenas com a planta da casa de Peter.

Dorcas desceu de cima da casa aos trancos e barrancos, caindo na grama dura do jardim, não se preocupando muito se acordada alguém ou não. Enquanto atravessava a rua, foi quebrando todos os possíveis feitiços de proteção que Peter pode ter lançado sob o local. Foi até o quintal da casa e abriu a porta dos fundos com um feitiço simples, batendo a cara no invisível e caindo para trás em seguida, com o nariz latejando.

Desgraçado. — xingou, irritada. Ela precisava ser convidada. Aquilo era um feitiço poderoso d’As Artes das Trevas, não tinha o menor jeito dela quebrar, nem ela cavando um buraco do jardim até a cozinha de Peter. Andou pelo local, ansiosa, roendo as poucas unhas que tinha, tentando pensar em algo, mas não vinha nada. Abriu sua bolsa e olhou a poção polissuco, certa que Lupin tinha permissão para entrar naquela casa. Acabou desistindo, aparatando a dois quarteirões de sua casa, uma tática ótima para prever-se de surpresas ou não quebrar os feitiços que colocou ao redor do apartamento.

Assim que desviara os drogados na escadaria de seu prédio e abriu a porta, sentiu a real exaustão de seu corpo, após três dias sem retornar ao lar e sem um banho ou cama. Viveu aquelas ultimas semanas de pequenos cochilos, não sabia como seu corpo não simplesmente desligou e a deixou jogada em alguma sarjeta tempo o suficiente para pensarem que ela estava morta. Mesmo cansada, olhou o local imundo e suspirou, começando a agitar a varinha. Os pergaminhos se enrolavam, as folhas retornavam à suas pastas de origem, os livros se empilhavam na mesa, as penas se alinhavam, a louça começou a se lavar sozinha, cuidadosa, não jogando espuma para fora da pia.  O chão, a sujeira desgrudava a força de seu carpete, se juntando em um grande bolo imundo e direcionando-se para a lixeira. O sanitário se auto lavava, o azulejo tirava a crosta de sujeira, a cama se auto arrumava e Dorcas agitava a varinha mecanicamente, como um zumbi, não sabendo o porquê exatamente de estar limpando tudo.

Com tudo impecável, tirou aquelas roupas e colocou na maquina de lavar, indo até o banheiro, já nua. Tomou um banho fervendo, passando minutos intermináveis observando a sujeira misturar-se a água, tornando-a cinza, sumindo pelo ralo. A iluminação forte do banheiro apertado, sua nuca vermelha pela água quente e ela assistia seus próprios pés, em silêncio. Após se secar e colocou o que parecia ter sobrado de pijama, rastejou-se até sua cama, levando menos de um minuto para adormecer.

 

 

 

CEMITÉRIO DE BROMPTON

02:12 PM

 

 

 

Dorcas tirou os olhos de seu livro por um segundo, olhando a lápide diante dela.

 

MARLENE MCKINNON

1956 – 1981

“tudo volta aos seus primórdios, tudo retorna ao caos”

 

Aquele se tornara seu local preferido para pensar ou ler. Às vezes, para manter-se em silêncio, quase tocando a morte com seus próprios dedos, se perguntando se deixar aquele mundo, da forma como estava, não seria um presente em vez de um castigo. E perguntou-se se a mulher estaria bem onde quer que estivesse, sendo em pó ou em corpo.

Um dia descobriria.

Estava revigorada depois de dezoito horas de sono interruptos. Ela sentia-se até mais leve, e não com a sensação costumeira de ter quase sessenta anos. Dedicou os últimos dias a pesquisa, leitura de jornais, acompanhamento do caso de Durmstrang e envios desesperados de cartas à Dumbledore, dando uma breve parada na Travessa do Tranco para comprar uma potente Poção Polissuco. Caso ele não aparecesse até o dia seguinte, ela ia revelar o espião à Moody, incerta do que aconteceria em seguida.

Entretanto, naquele momento, Dorcas queria mesmo saber era de onde saíra aquele nome, Voldemort.

Ela não achara a origem daquele nome em nenhum dicionário, nenhuma referência bíblica ou satanista, e definitivamente não havia ninguém com esse nome no banco de dados nem do Ministério bruxo ou trouxa. Procurou novamente no livro das famílias de sangue puro, mesmo quase o tendo na memória. Passou os olhos na página da família Gaunt, parando no nome Riddle que aparecia despretensiosamente.

“Morfin Gaunt assassinou todos os membros de uma família trouxa, os Riddle, em 1943, acabando com a linhagem Gaunt em Azkaban”.

Ela enfiou algumas bolinhas de chocolate na boca, confusa. Então aquele tal Tom Riddle não era um carteiro, e sim algum... Fantasma? Um sobrevivente? Muito idoso por sinal. E trouxa. Aquilo não fazia o menor sentido na cabeça de Dorcas. Recolheu suas coisas e aparatou no Cemitério, aparecendo em uma das redes que dava no Ministério. Precisava chegar o mais rápido possível no arquivamento de casos e achar a documentação de Morfin Gaunt. Colocou a touca de sua blusa quando entrara no elevador, nauseada pelo cheiro típico masculino impregnado no local. Assim que saíra no andar da biblioteca, não perdeu tempo se apresentando, apenas passou a mão pelo identificador e adentrou no local iluminado, com prateleiras que chegavam ao teto de tanta documentação. O cheiro de mofo e pergaminho era nauseante enquanto ela andava pelo local, a procura da letra G. Vasculhou entre as pastas manualmente até se tocar e chamar com a varinha uma pasta que estava estocada bem no fundo, na 5º fileira de caixas, quase se desfazendo de tão velho. Sentou-se ali mesmo e leu atentamente toda a ficha de crimes de Marvolo e Morfin. Naquele mesmo mês, em 1943, após anos sem causar problema, completamente isolado e miserável em Little Hangleton, assassinou friamente dois idosos e um homem de meia idade, seus vizinhos. Admitiu o crime sem nenhuma hesitação e foi sentenciado no mesmo dia.

— Faz sentido... — murmurou Dorcas, afinal, ele já mostrava uma vida inteira de desequilíbrio mental, provavelmente se desentendeu com os vizinhos. Ela leu o nome Thomas, Mary e Tom Riddle, curiosa.

Se ele está morto, como...?

Precisava checar os registros e saber se este não teve um filho, talvez aquele que apareceu na casa de Peter seja um Tom Riddle Jr. A questão era o porquê de um trouxa estar na casa de Peter dentre três bruxos... Pensou que talvez ele tenha algo dos Gaunt, já que eles tinham uma descendência muito próxima de Slytherin e isso pode interessar Voldemort. Precisava ver Morfin Gaunt e perguntar quem eram os Riddle, especificamente, e porque ele os matara, já que o Ministério sequer se dera trabalho de pesquisar aquilo. Guardou a pasta em sua bolsa e saiu à procura de Moody afim de solicitar um mandato de visita à Azkaban ainda naquele dia. Empurrou alguns estudantes uniformizados do Quartel, irritada por serem tão altos, dificultando seu acesso ao gabinete do General. Olhou para os garotos atléticos e suados, provavelmente cansados do treinamento físico, aquilo lembrou Dorcas que ela provavelmente teria que choramingar para seu professor de física pela falta. Bateu na porta algumas vezes e não esperou permissão ao entrar, não incomodando Alastor, que folheava uma pasta com Podmore e Dodge, que apontavam para o grande quadro que Moody tinha em seu escritório, com o Mapa do mundo, com todas as pessoas que tem possíveis ligações a Voldemort, mortes, ligações financeiras, tráfico de animais mágicos e outros.

— Moody, eu preciso de permissão para ver Morfin Gaunt em Azkaban. Hoje. — disse a garota, atraindo os olhos dos três. O homem ruivo uniu a sobrancelhas para ela, a medindo lentamente.

— Garota, quem você pensa que é para entrar no meu gabinete sem ser chamada? — questionou ele, mancando até Dorcas e arrancando a pasta de sua mão. Ela ignorou os olhos de Podmore grudados nela e tentou pegar a pasta.

Eu preciso ver esse homem, urgente! — insistiu. — Ele é de uma das famílias mais antigas do mundo bruxo... Eu... — ela ficou indecisa entre contar a verdade ou não. Se ela dissesse a Moody que estava vigiando Peter e ainda mapeou a casa do garoto, provavelmente seria expulsa do programa. — Eu acho que ele pode me ajudar em...

Te ajudar? — gargalhou Moody, jogando a pasta em Dorcas, voltando para seus papéis. — Esse homem é maluco, garota, ele já perdeu a sanidade há décadas. Andou faltando nas suas aulas de Direito? Pois se estivesse com uma boa frequência, saberia dos efeitos de Azkaban.

Ela manteve-se em silêncio, sem a menor paciência para praticar persuasão.

Entretanto, utilizou-se do bom e velho charme que lhe restava para abaixar a cabeça, cutucando as unhas, sabendo que o General Alastor Moody gostava dela, por mais que dedicasse a maioria de suas conversas com a garota para gritar e negar coisas. Ouviu o homem bufar e abrir uma de suas gavetas, pegando uma pena em seguida. Dorcas mordeu os lábios se impedindo de sorrir e esperou o General mancar até ela, lhe dando permissão escrita.

— Saia daqui, pare de me fazer perder tempo. E pare de faltar às aulas se não eu mesmo lhe expulso! — empurrou a garota para fora do gabinete e fechou a porta. Dorcas usou o vestiário do próprio Quartel para tomar banho e colocar o uniforme de estudante: A calça de carga, as botas de combate e a camiseta com ‘Auror’s Academy’ eram escondidas pela longa capa marrom com detalhes dourados e o símbolo go Ministério e do Quartel entrelaçados no peito em um bordado detalhado. Com o distintivo no bolso e bolsa pronta, ela roubou o chocolate e o que parecia ser o almoço de Podmore, após arrombar seu armário. Ela detestava seu nariz empinado.

Viagens à Azkaban tinham que ser acompanhadas de um Auror funcionário da prisão, sem exceções. Então Dorcas tinha que aguardar toda uma documentação ser feita e assinar uma série de papéis em que o Ministério não se responsabilizava por desmaios, tonturas e outros causados por Dementadores. Após duas horas, ela estava em Azkaban pela única sala onde aparatação estava liberada. O local era tão escuro e gélido que toda vez parecia a primeira vez. Os estudantes do primeiro ano faziam uma única visita a Azkaban para entender seu funcionamento, mas Dorcas sabia que era mais para dar um susto nas crianças que acabaram de sair de Hogwarts, ainda infantis e com síndrome de heroísmo.

— Ele está na C892, B54. — explicou o homem enquanto eles saíam do cubículo de pedra onde eles aparataram. Os corredores eram pouco iluminados e era difícil enxergar paredes ou as portas de aço, quando chegassem ao fim do corredor, ficaria mais gélido ainda por conta dos Dementadores. — Vou deixar apenas um no corredor onde você vai ficar, ele não vai te atacar, mas também não fique tremendo e essas coisas se não você desmaia. Outra coisa... — ele abriu o portão, fazendo um barulho horrendo e continuaram andando por outro corredor cheio de portas de aço. Dorcas tentou não olhar para os esqueletos encapuzados de dois metros flutuando silenciosamente perto das paredes, fazendo a garota suar de pânico. — Esses homens não veem mulheres há muito tempo, portanto, tente evitar que tenhamos problemas, ok?

Dorcas uniu as sobrancelhas, olhando para cima, mas tudo que conseguia ver era a espessa barba escura do homem.

— Como assim? — perguntou, irritada por sua voz ter saído trêmula. O pavor dos Dementadores a fazia andar perto demais do Auror.

— Ah, você sabe. Vocês, mulheres, costumam ter charme demais. — ele riu, abrindo outro portão. — Chegamos. Vou ficar aqui porque acho que isso vai ser breve, Gaunt não solta nada que não seja gemidos desde... Sei lá, 54?

A garota deu um último olhada no homem e reprimiu sua expressão de nojo, adentrando no corredor. Tinha o mesmo cheiro nauseante, masculino, que o Quartel de Aurores tinha, entretanto, acompanhado disto, tinha um odor inconfundível de algo podre. Tentou andar no meio do corredor, não encostando em nenhuma das paredes ou celas, assustada demais para olhar mais que um segundo para dentro de qualquer cela. Tudo que conseguia ouvir eram gemidos, apesar de ter alguns que falavam incansavelmente sozinhos, com alguns ocasionais risos. Não conseguia ver rostos, apenas alguns uniformes, pés ou mãos que seguravam firmemente as barras, choramingando.

Olhou um homem que se mexia rapidamente, gemendo e sentiu seu coração disparar ao ver que ele parecia estar se tocando.

Chegou a última cela e engoliu seco, abrindo sua pasta e pegando a pena que estava amassada entre ela. Limpou a garganta e lembrou-se que tinha que falar alto com os prisioneiros para tirá-los da inércia.

— Senhor Gaunt? — chamou, com a voz ridiculamente trêmula. Chutou a grade da cela. — Senhor Gaunt?

Algo semelhante a um homem rastejou-se até a cela, ficando mais claro para Dorcas, que afastou-se no impulso, assustada. Ele estava imundo e o rosto estava tão coberto de pelos que era difícil até mesmo ver seus olhos. A magreza era um sinal além de velhice, ele parecia desnutrido.

— O senhor consegue falar? — perguntou, ainda em tom alto. O homem gemeu um pouco e abriu a boca, sem soltar um som, deitando-se em seguida, lento, com as mãos segurando fragilmente as barras de aço. Dorcas sentiu-se uma idiota. Não ia conseguir tirar nada daquele homem. Podia pegar alguma memória sua, vasculhar sua mente, mas aquilo seria um crime e ela provavelmente viraria sua companheira de cela. Devia ter pedido para Alastor ir com ela, assim ele podia usar um método mais avançado.

— Não vai conseguir nada dele, mas pode conseguir de mim! — ela não sabia de onde vinha a voz, já que tudo era escuro demais. — Atrás de você, burra.

Ela virou-se para a cela de frente para a de Gaunt e ergueu a cabeça para olhar o homem de pé, com o rosto amassado entre as barras. Ele era jovem, mas seu rosto estava cadavérico. Ela sabia exatamente quem ele era. Olhou para o fim do corredor, sem conseguir ver o Auror ou o Dementador que vigiava, e sacou seu pergaminho, trêmula.

— O senhor tem algo a me dizer? — perguntou ela, incomodada com os olhos arregalados de Igor Karkaroff.

— Vai abaixar minha pena? Não posso esperar até Outubro para sair desse buraco, tenho que sair agora, antes de Outubro. — ele parecia nervoso, tentando olha para o fim do corredor. — Tenho que sair agora, antes de Outubro. Antes de Outubro.

O que tem Outubro? — perguntou Dorcas.

— Tem que ser antes de Outubro. Antes de Outubro, precisa ser antes! — ele apertou as barras onde se segurava. — Pode me tirar daqui antes de Outubro?

— Você o viu? — perguntou Dorcas. — Você sabe como ele é?

Karkaroff sorriu lentamente.

— Ninguém sabe. — respondeu, ainda mostrando os dentes amarelados. — Ninguém nunca o viu. Ele só mostra o rosto para quem vai morrer.

Ela sobressaltou-se com o barulho agressivo de uma onda que chocou-se contra o muro do prédio, dando alguns passos para trás e ouvindo um grande gemido do senhor Gaunt, assustando-se de novo e quase sendo pega por Karkaroff, que repetia que precisava sair dali antes de Outubro. O corredor estava começando a ficar barulhento demais, entre falas e gemidos.

Garota! Acabou seu tempo! — chamou o Auror, fazendo Dorcas tropeçar em sua direção. Um homem berrou em aflição e a garota soube que aquele barulho alucinante era o Dementador lhe sugando. Deu alguns passos apressados, ignorando Karkaroff a chamando, gritando Outubro, passando pela cela do homem que se tocava, agora pendurado nas barras, alucinado entre gritos.

EU CONSIGO SENTIR O CHEIRO DA SUA BOCETA! — urrava, fazendo os outros presos se agitarem. Dorcas estava tão apavorada que sequer sentia suas pernas enquanto quase corria para o fim do corredor, fechando os olhos com força ao desviar do Dementador que corria corredor adentro, arrancando gritos de pavor dos prisioneiros, fazendo aquele barulho enlouquecedor, pronto para se alimentar.

 

 

 

SHERBROOKE RD

11:01 AM

 

 

 

Dorcas estava na chaminé de sempre, dividindo-se entre olhar a planta da casa de Peter e a ficha de Igor Karkaroff. Precisava consultar uma Adivinha para saber quais eram as previsões para Outubro, não conseguia pensar em nada além de um grande ataque previsto para essa data. Contando com a última carta, Dumbledore deve ter recebido sete pergaminhos desesperados da garota, sentindo que estava guardando informação demais. De alguma forma, ela sentia-se cada vez mais próxima de Voldemort, só faltavam algumas peças fundamentais.

Naquela noite, ela imobilizar Peter, vasculhar sua casa e apagar sua mente, como se a invasão nunca tivesse acontecido. Dali ela ia para a casa de Moody e entregaria tudo que sabia, segura que eles iam conseguir fechar aquele caso.

Desceu mais agilmente de cima da casa e atravessou a rua, batendo na porta. Ficou em silêncio, fingindo não ver Peter espiá-la ao empurrar a cortina de sua janela por alguns segundos. Alguns passos e a porta fora aberta. Teve que olhar para baixo para fitar o homem gorducho.

Moony, o que faz aqui? — Dorcas utilizou-se do sorriso charmoso de Remus Lupin para olhar o Pettigrew e lhe apertar o ombro.

— Longa noite, Peter, longa noite. — entrou sem ser convidada, olhando ao redor atentamente. Teve medo de Peter desconfiar daquele terno de brechó, que não parecia tão velho assim. — Vim na esperança de me ceder um bom cochilo. O Esconderijo está muito movimentado...

— Eu... Olha, hoje não é um bom dia, preciso fazer... Uma ronda... — Dorcas o olhou tempo o suficiente para que ele ficasse nervoso. — Que tal a casa de Sirius? Ele está livre essa noite.

Ela assentiu lentamente.

— Não vou incomodá-lo. — sorriu e deu alguns passos em direção da porta, enquanto sua varinha escorregava pela manga de sua blusa. Em um giro ela já estava em mãos. — Stupefy!

Peter voou para trás, batendo em suas escadas, desmaiado. Dorcas segurou o riso e guardou a varinha, olhando a casa com curiosidade. Decidiu começar pela sala, pegando todos os documentos que conseguia tocar, vasculhando tudo. Tocava um revellium em todos os pergaminhos ou objetos, na esperança de achar algo significativo. Começou a ficar frustrada quando já estava no banheiro do segundo andar e não achava nada que não fossem revistinhas ou relatórios da Ordem, que Dorcas achava incrivelmente estúpido aquele idiota não guardar aquilo com mais cuidado.

Ele não precisa, pensou ela, aflita. Provavelmente Voldemort já sabia quem eram todos os membros. Arrumou toda a casa agitando a varinha, descendo para o andar onde Peter estava desmaiado, arrumando a sala, corredor, e cozinha. Vasculhou os bolsos do homem adormecido, inclusive por dentro do terno e das mangas. Quando tirou sua mão, sentiu algo molhado em seus dedos, como se Peter estivesse descamando. Olhou seu rosto, enojada, e tocou novamente seu antebraço, sentindo um relevo.

Dorcas empurrou a manga para cima, arregalando os olhos em choque.

A mesma tatuagem que Karkaroff e outros tinha no braço, Peter parecia ter acabado de adquirir. A garota tropeçou para trás, apavorada, precisava de uma câmera, de algo que pudesse provar aos outros. Olhou novamente a tatuagem de uma cobra saindo da boca de uma caveira, com medo de estar delirando pelas horas sem dormir. Por que ele fez aquela tatuagem se ele sabe que todo fim de mês, a Ordem fazia uma revista de braços, só para garantir? Mas hoje já é dia vinte e sete pensou Dorcas.

Andou pela casa, nervosa. Não fizeram no mês passado, Marlene morreu no fim do mês, todos estavam preocupados e atarefados demais para revista. Torceu os dedos, com uma súbita vontade de chorar. Uma sensação terrível de insegurança a apertou enquanto ela olhava para os lados, trêmula. Encostou-se na parede e apontou a varinha para Peter, apagando sua memória. Respirou fundo e pegou sua bolsa, saindo da casa. Precisava ir à algum lugar de segurança o mais rápido possível.

Pensou em viajar, mas precisava também achar Dumbledore ou Moody.

Não, preciso avisar a Ordem inteira, pensou, andando lentamente pela rua, com medo até mesmo de olhar para trás. Olhou a mão machucada de Lupin diminuir lentamente fechou os olhos, pensando se mandava um patrono ou algo do tipo à Moody, mas sabia onde encontra-lo.

 

 

 

MINISTÉRIO DA MAGIA

01:12

 

 

 

Dorcas andou apressada pelo Hall vazio do Ministério, com poucos guardas em pontos estratégicos, em silêncio.

Ela conseguia ouvir seus passos ressoando por todo o local até o elevador, onde ela chegava a transpirar tanto pelas roupas folgadas de Remus quanto pelo pavor que tinha de estar sendo seguida. Tirou o terno e jogou no chão, ofegante, subindo as mangas da camisa branca e subindo até a cintura a calça, apertando com toque das varinhas, pegando sua bolsa no chão quando finalmente chegara ao andar do Quartel.

Assim que a porta abrira, ela sentiu um alívio quase desvairado ao ver a luz do Gabinete de Alastor acesa. Andou pelo corredor silencioso mais aliviada e bateu na porta, abrindo e entrando em seguida. A sala estava vazia. Dorcas jogou sua bolsa no chão, voltando a sentir a palpitação, indo em direção do grande pote de vidro em cima de sua mesa, aparentemente com algo avermelhado em conserva dentro dele. Deu a volta na mesa de mármore, dando um grito de pavor ao ver a cabeça deformada dentro do pote, de olhos arregalados. Suas pernas fraquejaram e ela bateu na parede atrás dela, ainda assustada com a imagem.

— Meu Deus, meu Deus, meu Deus... — gemeu Dorcas, aproximando-se do pote. Olhou a tampa, enojada com a possibilidade de chegar perto demais. O pergaminho grudado na tampa dourada tinha uma caligrafia caprichada:

“Para Alastor Moody,

Seu velho amigo Fenwick.

Atenciosamente,

Lord Voldemort

Ela tapou a boca e a porta fora aberta.

Um homem alto e de meia idade entrou, tranquilo. Tinha vestes bruxas da mais alta qualidade, vestes do tipo que apenas a alta elite, nível Nicolau Flamel, teria acesso.

— Boa noite. — disse, educado. Ele tinha as maçãs do rosto proeminentes, a boca e os olhos finos, sendo que a coloração escura de seus olhos era tão intensa que parecia ser avermelhada. Sua pele tinha um tom claro tão bizarro que ele parecia estar passando por vitiligo, já que haviam alguns locais em que era branco em uma tonalidade parecida com a de Dorcas.

Os dois ficaram em silêncio e Dorcas não conseguia se mover.

— Creio que esta era a última peça — ele apontou para o pote diante de Dorcas. Ele parecia nunca piscar. Sua voz era distorcida, máscula, mas um pouco rasgada, rouca, como se ele estivesse gripado há muito tempo. Dava agonia. Dorcas olhou ao redor, sentindo a varinha vibrar na manga de sua blusa, onde sempre guardava. Não conseguia parar de olhá-lo, ainda sem conseguir se mover.

O homem sorriu. Seus dentes eram amarelados.

— Seu nome é Dorcas Meadowes, certo?

Ela prendeu a respiração, em completo pânico.

Meu Deus, meu Deus... Sentiu uma pontada lacerante em sua cabeça e soube que ele estava tentando fortemente entrar em sua mente. Assim que ele dera um passo, como se tudo estivesse em câmera lenta, Dorcas sacou a varinha e conseguiu jogar-lhe uma azaração, que ele, por algum milagre, desviara e arrancara a varinha de Dorcas apenas agitando a mão, repreendendo um pequeno sorriso em seu rosto. No desespero se transfigurou, mas não tinha saída, não havia nada a ser feito. Ele apenas agitou a mão em sua direção e ela sentiu seu corpo levar um choque, voltando ao normal. Estava em um pico tão alto de adrenalina que sequer conseguia se manter de pé.

Por favor, não faça isso. — aconselhou o homem, impassível. Ele olhou para baixo, onde a bolsa de Dorcas estava e os papéis e pastas começaram a flutuar de sua bolsa direto para suas mãos. Ele a olhou novamente, ainda inalterável. — Acredito que isso me pertence.

Por mais que tentasse se acalmar, Dorcas estava em puro pânico. Sua respiração estava alterada, ela estava ensopada de tanto suor, tinha vontade de urinar, seu coração ia acabar se desprendendo de todas as veias e artérias e pular fora de seu peito, mais rápido que um cavalo de corrida. Passou a mão no cabelo enquanto ele lia atenciosamente as anotações de Dorcas. Horas pareciam ter se passado até ela conseguir tentar se mover, certa de que não conseguiria, mas conseguiu. Aquele tempo toda parada, pensou que ele tinha a enfeitiçado. Deu alguns passos para o lado, ainda ofegante.

— Confesso que venho a observando desde julho. — ele fechou a pasta — E gostaria de saber até onde teria ido sem minha interferência.

Ela continuou muda, pensando em tanta coisa ao mesmo tempo que sequer conseguia se concentrar. Ela estava com pavor de estar naquela situação claustrofóbica, e nem tanto assim dele. Ele não parecia tão ameaçador, apesar de ter feito o que fizera. Ele parecia um mago retirado das histórias da Idade Média, dos tempos de Merlin e Artur. Ela sabia que devia teme-lo, mas não conseguia ter essa preocupação. Ele só mostra o rosto para quem vai morrer, lembrou-se subitamente, acalmando-se em um segundo. Ela parecia ter entendido só naquele momento que já tinha o destino definido. Engoliu seco, quando ele passou os olhos no último pergaminho e o enrolou, o fazendo desaparecer assim como as outras pastas de Dorcas.

— Como ele está? — perguntou ele, colocando as mãos para trás, tranquilo. — Meu tio.

A garota uniu a sobrancelhas, não entendendo nada. Ele estava falando de Karka...? O estomago de Dorcas deu um sovalaco e ela arregalou os olhos, sentindo quase dor ao seu cérebro revisitar tudo que ela vira naquelas últimas semanas. O nome Tom Riddle na casa de Peter pareceu berrar em seus olhos.

— Sabe, sua amiga também chegou perto demais, entretanto, ela conseguiu informações por sorte, diferente de você. — ele deu alguns passos em direção de Dorcas. — Albus Dumbledore não pode lhe atender porque ele está atrás das informações que McKinnon deixou. Sobre Regulus Black.

Ela uniu as sobrancelhas, confusa.

— Além do mais, o que você sabe... Ele já sabe. — o homem sentou-se na cadeira e afastou o pote que continha a cabeça de Finwick, apontando a mão gentilmente para a poltrona de Alastor, para que Dorcas sentasse.  A garota deu alguns passos trôpegos até a poltrona e a afastou lentamente, com o pouco de força que lhe restava. Sentou-se, assustadoramente próxima do homem mais perigoso do mundo bruxo. — Você sabe por que ele fica tão impassível em relação às mortes dos membros de sua sociedade secreta?

Dorcas maneou a cabeça negativamente.

Porque ele não os acha importante. Sabe, senhorita Meadowes... Dumbledore não é um homem santo como parece. A história de Deus não é de todo divina. Deus é tanto mais Deus quanto mais inacessível for. — ele recostou-se em sua cadeira, completamente inabalável. — Ambos sabemos que algo está para acontecer, e por enquanto ele está ocupado demais com algo que me pertence.

 

WHEN SHE CAME BACK

 

Sustentou o olhar, sabendo que ele estava falando da bíblia. Mas Dorcas não sabia nada sobre Deus, apenas que ele aterrorizava aquele que o desagradasse. Ambos ficaram em um silêncio profundo, enquanto Dorcas se lembrava de Dumbledore em suas aulas, sempre interessado em seus relatórios semanais, com elogios e novas funções... Nunca partilhando, mas sempre recebendo. Seus olhos amaciaram a dor de mantê-los abertos com lágrimas que Dorcas segurou, sentindo um peso imensurável.

— Posso lhe dar misericórdia. Vou apagar meu rosto de sua mente e você trabalhará para mim, onde seu poder não será subestimado. — concluiu ele, paciente e resoluto. Uma lágrima acabou caindo e ele desviou o olhar, parecendo reprimir uma expressão de profunda ojeriza. Ela olhou Tom Riddle, com uma tranquilidade lhe afagando o peito como a mão de uma mãe. Ele sabia exatamente o que Dorcas ia fazer, pois lhe dera as falas como o diretor de uma peça. Não havia ameaça de uma varinha.

A serenidade dividida por uma mesa de mármore.

— Como vai me matar? — sussurrou, no tom mais jovial de sua voz.

E pela primeira vez, ele lhe esboçou algo que lembrava um sorriso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MAIS UM CRIME HORRIPILANTE: JOVEM É ENCONTRADA MORTA E MARCADA POR VOCÊ-SABE-QUEM

 “Não consigo mais dormir a noite, a imagem não sai da minha cabeça”, relata a bibliotecária do Ministério da Magia, Patrice Mapplethorn, de 78 anos, que reconheceu o corpo da estudante Dorcas Meadowes, de 24 anos, nesta quinta-feira.

A CENA DO CRIME

O corpo da jovem foi facilmente encontrado na manhã de quinta-feira, pela bibliotecária, que chegou para abrir a biblioteca do Ministério da Magia às cinco horas do dia de hoje. Assim que as luzes se acenderam, ela conseguiu ver a cena do crime, já que todas as prateleiras foram brutalmente empurradas para as paredes, e todos os livros e documentos foram entulhados um em cima do outro no formato de um grande trono, chegando quase ao teto da biblioteca.

“Tinha muito sangue, muito sangue mesmo”, contou Patrice, “mas só nos papéis, a garota estava limpa, em um vestido branco, parecia estar dormindo, então eu chamei, mas ela não respondeu”.

O corpo foi retirado e estava intacto, sem nenhum sinal de agressão. Foi levado para o Instituto Medibruxo Legal para análise, onde detalhes monstruosos foram constatados. Dorcas Meadowes foi morta por veneno, segundo o medibruxo legista Charles Petersbough, mas ela estava acordada quando seus olhos foram corroídos por ácido. A mão foi costurada à uma pena de repetição rápida que atacou os médicos quando tentaram mover o corpo de cima do trono.

“É uma pena muito cara, chilena, feita de pelo de corvo”, explicou um especialista.

No trono de papel, onde Dorcas fora colocada, estava uma citação distorcida de uma passagem do famoso livro religioso do mundo trouxa, a Bíblia Sagrada:

“Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez”

Citação original:

“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”

Analistas concluíram que talvez seja uma provocação direta à Albus Dumbledore, que não se pronunciou até o momento sobre a morte de Dorcas Meadowes, uma de suas estudantes mais promissoras quando estudara em Hogwarts. Alastor Moody, general do Quartel de Aurores, disse que lamenta o acontecido e que ela era, “sem sombra de dúvidas, uma das mulheres mais inteligentes que já conhecera”. Esta é a segunda estudante que o Quartel perde em semanas, no mês passado, Marlene McKinnon (23) também fora brutalmente assassinada.

A última vez que a garota foi vista foi no Ministério, na quarta feira, por volta das três horas da tarde, com um pedido de visita a um prisioneiro em Azkaban, cuja identidade o Ministério se negou revelar. Seus colegas foram procurados, mas ninguém a viu depois dessa hora.

Ivan Slavoj, um analista político russo que juntou-se ao Ministério Britânico no inicio deste ano, acredita que não há dúvidas que a morte da garota foi planejada e executada por Você-Sabe-Quem: “Ele tem a tradição de fazer grandes ‘obras de arte’ com suas vítimas”, relembre as mortes causadas por ele na pág.62

Além do corpo de Dorcas Meadowes, a última peça do corpo de Benji Finwick fora encontrado na mesa de Alastor Moody, em um pote de vidro de conserva, a cabeça do ex-Advomago da Suprema Corte dos Bruxos, fechando o caso de uma vez por todas. A família Finwick diz lamentar a morte de Meadowes e irá providenciar um enterro para Benji, com o corpo.

QUEM ERA DORCAS MEADOWES

A simbologia por trás de sua morte provavelmente seria mais um de seus alvos de estudo, já que a garota era especialista em interpretar anagramas, tendo sido selecionada como o Cervo de sua turma do 3º ano, estando muito próxima de se formar. Este posto é muito importante para o currículo de um Auror, já que o permite participar de algum caso real e ter a experiência de colocar em prática tudo que sabia.

Annelise Meadowes acredita que isso fora o pontapé para a morte de sua filha: “Eles colocam os alunos nessas furadas e não se responsabilizam por nada. Quem vai devolver a minha filha agora?”, a dona-de-casa trouxa de 41 anos estava muito emocionada. O Ministério está providenciando segurança para os Meadowes, para garantir que não sejam alvos de algum possível ataque.

JUSTIÇA

A mesma revolta popular que acontecera pela morte de Marlene McKinnon levantou-se para Dorcas Meadowes, sendo a garota a segunda pessoa mais jovem a morrer na mão de Você-Sabe-Quem. A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts ainda não se pronunciou sobre o temor dos pais em deixarem que seus filhos retornem ao colégio após esse recesso de Natal, por conta das mortes em série que tem acontecido e a ausência de Albus Dumbledore no colégio.

Todas as despesas do enterro de Dorcas foram pagas comunitariamente, uma vez que a família Meadowes vive em situação quase miserável em um bairro trouxa de Brixton, conhecido por ser um palco de guerra de gangues e pobreza extrema. Frank Longbottom, quem estava providenciando o epitáfio de Meadowes, baseado com os escritos que ela deixara, acredita que a morte da jovem será vingada.

Não tente”, contou Frank Longbottom sobre a frase que será gravada no epitáfio da jovem, “Não consigo pensar em nenhuma explicação, mas acredito que essa era a intenção de Dorcas. Ela sempre foi muito boa em simbologias”.

A garota será enterrada no Cemitério Bruxo de Brompton, ao lado de Marlene McKinnon.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

*Todas as referências à Deus foram tiradas do Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Saramago.
*Eu sei que Karkaroff não era diretor de Durmstrang nessa época, mas vamos fingir que sim.

"Sou um cara enrolado, estou sempre atrasado
Quando não tardo, eu falho" esse é meu lema.

Peço perdão pela demora, você ainda estão aí? Eu sempre quis fechar essa história e nem acredito que eu consegui. Não acho que ficou perfeito, e nem do jeito que eu originalmente planejei, mas chegou perto. Queria ter feito um jogo de sedução e manipulação do Voldemort para com a Dorcas que além d eu não ter conseguido, eu não consegui pensar em nada que ele podia querer tirar dela kkkkk Ainda mais com o real interesse dele, a Profecia, acontecendo ao mesmo tempo.

Não estou tirando a importância dela, mas eu gostei de ter a colocado como mais um cordeiro que Dumbledore jogou no deserto, se é que me entendes...

Espero que gostem.

Obrigada por ter lido.


— Quando eu estava procurando coisas, eu achei essa linha do tempo maravilhosa que ajuda muito, tem a versão em inglês que é mais completa, mas eu n achei: http://wiki.potterish.com/index.php?title=Caso_Tiago_e_L%C3%ADlian_Potter:_24h



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