CAPíTULO 3

Depois de colocar uma calça jeans, uma blusa de manga comprida colada ao meu corpo, e completar com uma jaquetinha, calcei minhas botas de cano longo sem salta. Olhei-me no espelho, olhos vermelhos, nariz inchado do choro. Eu estava há poucas horas em Forks e já sentia-me mais pálida. Doente.

Encontrei Edward na cozinha, sobre a bancada dois sanduíches bonitos, ele servia suco de laranja- ao julgar pelo cheiro no ar- em dois copos.

Quando me viu sorriu sem graça.

— Coma alguma coisa. Vai ter um jantar na casa da sua mãe, com os outros, e deve começar tarde. E você não almoçou.

— Como sabe que não almocei no avião? - o questionei sentando na cadeira da bancada. O cheiro do sanduíche de peito de peru fez meu estômago roncar.

— Você não vomitou o bastante na estrada. - Ele deu de ombros.

— Não tenho mais 16 anos e baixa tolerância ao álcool. - resmunguei.

— Podemos decidir isso no Moe’s Pub em Port Angels.

Ele falou despreocupado mordendo seu sanduíche.

— Os adolescentes de Forks ainda frequentam esse lugar?

— Não mesmo! Eles frequentam mais Seattle. Nós os veteranos que ainda frequentamos. Ele ainda tem a melhor cerveja e as melhores batatas fritas. Podemos ir lá depois do jantar?

— Você, Ângela e eu? Desculpe Edward, mas não seremos uma família feliz. Não vou fingir que esta tudo bem quando claramente não esta. E dona Ângela irá ouvir poucas e boa por esconder coisas tão importantes.

— Você ainda é a Bella. – ele falou mais para si mesmo.

— Você parece chocado com esse fato. - notei que ele me analisada desde o aeroporto. Cada mínima coisa que eu fazia.

— Eu esperava que você estive...diferente. Mas não de uma forma boa.

— Tenho novidades, Edward: não me tornei um monstro da cidade grande.

Eu estava cansada disso. Levaria tempo até que eu colocasse tudo em pratos limpos com ele.

— Você vem? Posso pegar seu carro se quiser.

— Claro que vou.

Ele colocou a pouca lousa na pia. Abriu a torneira e despejou detergente.  O velho costume Cullen; deixar a lousa de molho.

Logo que entramos no carro Edward se lançou num monólogo sobre sua família. Sua mãe tinha voltado a trabalhar como assistente social no hospital do qual era dona. Sua irmã mais velha, Alice, tinha aberto o restaurante em Seattle e estava sempre junto da mãe. Eu esperava não cruzar com Alice; nunca nos demos muito bem.

— Charlie tem se comportado com você? - meu pai nunca gostou do Edward.

— Ele me atura. - deu de ombros. - desde que foi morar com Sue...

— ..como assim foi morar com Sue?

Então Edward suspirou, e começou minha atualização.

—Foi há uns três anos... sua mãe estava bastante doente...Sue estava ajudando bastante. Nem eu nem Ângela entendemos muito bem. Um dia seu pai estava com ela. E sua mãe estava bem. Feliz. Eles não nos explicaram... Então deduzimos que

— Não era da conta de vocês. - completei. Típico de Ângela e Edward: não se meter em assunto dos pais.

Passamos o resto do percurso até a casa dos meus pais- agora apenas da minha mãe- em silêncio. Eu não queria arriscar mais assuntos com ele- poderíamos começar uma briga e eu não queria chorar.

Quando o carro parou em frente à casa amarela com branco, eu logo pulei para fora e fui em direção a porta.

Respira

Expira.

A porta estava destrancada  como sempre.

— Mãe? - chamei no rall de entrada. O cheiro de biscoitos enchia o ambiente e eu me senti transportada para uma época feliz. Quando as únicas coisas que eu entendia eram: mamãe esta feliz; fez biscoito. Mamãe esta triste; fez biscoito.

— Aqui na cozinha! - a voz alegre de Renée me alcançou.

Andei a passos lentos, me preparando para tudo “a Renée de sempre, ou uma Renée diferente pela doença.

— Ei princesa.

Renée sorriu da porta da cozinha. Usava avental, touca, Estava mais pálida do que eu me lembrava, mas os olhos azuis eram atentos e gentis. Não me lembrava dela me olhar com tanta ternura.

Foi de mais. Eu me lancei nos braços dela chorando e soluçando. E ela me abraçou como eu sempre sonhei.

— Shi meu amor. Vai ficar tudo bem. Edward, pode nos dar um tempo?

Eu não ouvi a resposta de Edward. Renée me conduziu para a pequena mesa da cozinha. Eu tentava enxugar os olhos.

— Minha pequena... Eu Não queria que fosse desse Jeito. Achei que teria mais tempo para lhe contar a verdade, mas Ângela tem me pressionado muito.

— Por que mãe? Eu devia estar aqui com você!

— Não, Bella! Eu precisava de você longe. Isso aqui não faria bem algum para você.

— E não saber o que se passa na minha casa fez?

— Você se formou. Tem um bom emprego, fez amigos... Era tudo que eu queria para vocês.

— Mãe, você me tornou uma pessoa horrível. Eu...eu pensei que Vocês não se importassem comigo! Porra! Eu fui…

Engasguei-me com a volta do choro.

— Bella, bebê, me escute: quando percebi que estava doente... Foi como se uma venda fosse retirada dos meus olhos: eu pude ver tudo! As coisas que eu queria e deixei para trás por uma paixão, o que deixei por engravidar de você, da sua irmã... E entendi minha missão ; fazer com que minhas filhas tivessem o melhor que eu nunca tive. Você tinha que sair de Forks meu bem. Sua vida não era aqui. Eu não poderia permitir que voltasse. Por isso proibi a Ângela de lhe contar o que acontecia. E o Charlie... Bom Sue me ajudou muito e eu percebi um sentimento entre eles. Dei toda a força. Nossa família se ergueu.

— Renée olha pra mim; minha família se transformou em algo irreconhecível pra mim.

— Mas você se tornou a mulher que eu esperava sem a influência negativa nossa; sem o “grude” com o Edward…

— E juntar Ângela e ele? Era parte do seu plano?

— Não. - Não havia como decifrar seus olhos azuis.

— Escute filha; não tenho muito tempo, não vou ficar me desculpando por salvar você de uma monótona vida em Forks.

— E Ângela merece a monótona vida em Forks?

— Ângela é uma pessoa completamente diferente, Isabella, ela nunca teve sua ambição.

E dizendo isso ela saiu em direção ao andar de cima, me deixando com Biscoitos de chocolate perfeitos.  Tão perfeitos quanto a vida nessa casa parecia estar.

(...)

Algumas horas depois a chuva que caia com força sobre a cidade abrandou para uma suave garoa.

Eu estava no quarto que dividi boa parte da minha vida com minha irmã. Havia vestígios meus por todo lado; fotos na parede, bichos de pelúcia, roupas que deixei que com certeza Ângela usava, meu velho violão. Minha cama estava perfeitamente arrumada imagino eu aguardando minha chegada.  

Havia fotos de Ângela e Edward agora. Cinema, sorrindo, mãos dadas, natal... Deus! Como eu fui tão ingênua? Ela sabia o quanto eu o amava e cada vez que eu desabafava a falta que sentia dele, ela mudava de assunto e enfatizava que era ele quem deveria me procurar. Mal sabia eu que ela estava fazendo jogo duplo; mantendo-me afastada de Edward; mantendo Edward afastado de mim.

— Bella? - Renée bateu a porta, colocando a cabeça para dentro.

— Pode entrar. -resmunguei.

— Escute, eu passei anos horrível de tratamento. Agora eu estou melhor; tenho um câncer que irá me matar, mas posso viver mais dois com sorte. Ou mais. Eu já aceitei meu destino, estou feliz pelas coisas que realizei… Agora, por favor: entenda que foi para seu próprio bem.

— Não quero mais discuti com você.

Renée era minha mãe. Se eu nunca consegui tirá-la das loucuras dela, nunca consegui que ela fosse forte por nós... Eu não iria mudá-la agora. Eu só poderia aproveitar o tempo que tinha da melhor maneira Possível.

— Quero deixar claro que não concordo com a sua decisão. Eu devia ter estado aqui. Com vocês. Mas respeito que você acreditou ter feito o melhor. Eu te amo, mãe.

— Oh bebê. Eu também te amo.

Renée me abraçou e beijou meus cabelos.

— Sua irmã chegou. Foi direto para o banho. Eu vou começar a arrumar a mesa para o jantar. Seu pai vem com Sue e os filhos dela.

— Seth e Leah?

— E o noivo dela Sam. Ah e Jacob e Bily.

— A sala de jantar ficará Abarrotada. - murmurei.

— Gosto de estar cercada da família. Seu pai esta ótima Bella! Você irá amar.

E ela saiu do quarto deixando uma energia vibrante no ar.

— É isso ai Bella; não fique irritada com o que você não pode mudar.

— Foi o que eu disse para mim mesmo quando troquei sua cama de lugar.

Ângela, na soleira da porta com uma toalha de banho rosa em volta do corpo.

— Vai me matar agora ou posso me vestir?

Apesar de ter soado irônico sua frase eu podia sentir o tom de medo. Minha irmã sempre fora medrosa e seu maior medo era me perder. Bom costumava a ser antes de eu descobri que ela havia pegado meu melhor amigo e amor Edward Cullen, e transformado ele em seu noivo.

— Você parece estar levando bem as coisas com a Renée. – ela falou entrando no quarto e fechando a porta.

— Eu quis te contar, Bella. Eu malditamente quis te contar todos os dias.

— sobre a mamãe ou sobre Edward?- sussurrei

— Ambos.

— Por que não contou? Eu poderia ter estado aqui e te ajudado!

— Ela não queria! Não queria estragar a vida perfeita da filha favorita!

— Não sou a filha favorita!

— É sim! Sempre foi e sabe disso! - Ela gritou.

— Acho melhor mantermos essa conversa em tom baixo. - observei controlando a fúria que crescia dentro de mim.

Ela bufou e se jogou na própria cama. Tirou a tolha dos cabelos negros molhados.

— Charlie e eu achávamos que ela não iria aguentar. Chegamos perto de te contar uma vez... Até que ela teve uma melhora, e percebemos; manter você longe disso, era o que a dava forças para lutar pela melhora. Estávamos radiantes quando ela melhorou... Iríamos te contar pelo o que passamos você ficaria com raiva, mas nos perdoaria... Então veio esse outro câncer. Eu me senti horrível por esconder isso de você!

E então ela estava chorando, e isso acionou aquele lugar especial reservado para irmãs mais velha; aquele em que você quer tirar a dor da sua irmã caçula e tomá-la para si.

Mas dessa vez ela merecia a dor que sentia.

Mantive me sentada onde estava na cadeira de balanço perto da janela.

— Onde Edward entra nisso?- Questionei mantendo a voz baixa, controlada.

— Era madrugada. Estava dormindo no hospital há três dias, divido-me entre plantões e cuidar da mamãe. Ela estava muito mal, na UTI... Eu achava que era a hora. Eu estava na capela, rezando, pronta para ligar para você... E ele me achou. Bella... Ele me abraçou, e me deixou chorar. Apenas isso. E eu não liguei para você nessa madrugada. E Sue apareceu no dia seguinte, e colocou Charlie na linha. E Renée começou a apresentar melhoras... E Edward estava ali. Comigo.

— E de repente você estava na cama dele.

— levou um bom tempo até que esse dia chegasse.

Ela me olhou ácida através das lágrimas.

— eu não agi sozinha Bella. Todos concordaram em fazer as vontades da Renée e manter você longe.

— Edward concordou?

Ela engoliu em seco.

— Ele não fazia ideia. - admitiu

— Porra Ângela! Eu pensei coisas horríveis da minha mãe! Do meu pai! Achava que ninguém se importava comigo, e vocês estávamos passando um inferno!

— Eu sinto muito! Nada que eu diga vai mudar o que fiz, mas eu queria que você estivesse aqui!

— Mentira! – Agora nos duas gritávamos.

— Se me quisesse aqui teria dito a verdade ao Edward; que eu sentia falta dele, que eu queria falar com ele. Teria dado meu número de celular a ele! Não um falso!

— Como sabe disso?

Eu sorri incrédula.

— Eu não sabia. Estava apenas tendo uma ideia... Então você deu um numero falso a ele para que ele não se comunicasse comigo?

— se Edward fosse atrás de você, você saberia a verdade sobre nossa mãe.

Ela disse de vagar, como se tentasse acreditar na mentira que inventara para si mesma.

— Tenho novidades, irmã; estou aqui agora, e não irei a lugar algum. Ficarei com minha mãe aproveitando o máximo dela. E quando ao Edward; conte a verdade, ou eu mesma contarei. Conte que fez tudo o que pode para que ele não tivesse contado comigo todos esses anos.

Sai do quarto batendo a porta.

Eu iria recuperar o que me foi tirado.