Rainha Negra escrita por Anne P


Capítulo 5
Capítulo 5 • A futura rainha


Notas iniciais do capítulo

Olá, estavam com saudades?
Bem... depois de um longo tempo sem atualizar a fanfic, está aqui um cap novinho!
Os outros capítulos já foram betados e vou tentar postar um capítulo por mês, ok?
A história já tem um ano e apenas 5 capítulos, isso é triste (-_-')
Mais isso não irá acontecer mais!
Boa leitura!
PS: Os capítulos ficarão por um tempo sem imagem, devido ao meu notebook que quebrou, de novo.
—----
Betado por
kellycavalcanti (ID: 567863)



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Faye se encontrava no jardim do castelo ao lado de sua irmã mais nova, Gia. A prateada de dezenove anos usava um vestido verde-água com várias flores bordadas em dourado, que combinava com o seu colar e anéis. Seu cabelo branco – que parecia prateado devido à luz –, estava parcialmente preso para trás em uma trança bem feita e nela havia pequenas flores delicadas que enfeitavam o cabelo da princesa. Já a prateada mais nova, de apenas nove anos, usava um vestido cinza, com muitos laços e bordados em prata, seu vestido era mais curto do que o de sua irmã, que, por sua vez, se arrastava pelo chão com uma calda.

 O jardim do castelo era um espaço amplo com muitas árvores e flores, o chão coberto por grama e alguns caminhos de tijolos brancos, havia bancos espalhados por todos os lados e sempre próximos a árvores, que criavam uma sombra confortável, nele também se encontravam quatro chafarizes, um em cada extremidade do terreno e em cada um havia uma estátua diferente, que representava um dos quatro deuses. As princesas estavam sentadas em um banco de pedra de frente para um chafariz, o predileto de Faye, pois, fazia referência a Pryme, uma dos quatro deuses.

 Faye tinha em suas mãos uma flor exótica de Drokhani, suas pétalas eram laranja nas pontas e roxa próximo ao centro enquanto seu miolo era vermelho, a jovem olhava a flor distraidamente enquanto se lembrava de seu amado. Por onde estava? E quando retornaria? Ao seu lado, Gia lia um livro grande e velho, que como princesa era sua obrigação lê-lo.

— Esse livro é tão chato Faye. Tenho mesmo que saber sobre isso? Não me interessa saber como Gavin se tornou um grande rei.

 Faye tirou sua atenção da flor para se voltar a sua irmã.

— Lógico que você tem que saber sobre isso. Futuramente você irá se tornar uma Lady e tem de ser muito esperta, saber sobre o presente, passado e adivinhar o futuro.

— Não quero ser uma Lady, quero ser uma rainha — falou fechando o livro com força e olhando feio para a irmã mais velha.

 Instantaneamente alguns pássaros caíram mortos sobre o gramado que começará a morrer rapidamente também, a flor na mão de Faye murchou e suas pétalas caíram no chão uma por uma.

— Gia pare com isso! Já conversamos sobre isso e eu serei a futura rainha.

 A criança, desviou seus olhos dos de Faye e encarou a estátua à sua frente. Gia era nova e não sabia controlar seu dom da morte, só bastava um olhar feio, que tudo ao seu redor morreria, contudo além de não conseguir controlá-lo, era fraca e só conseguia matar plantas, insetos e alguns animais de pequeno porte.

 A irmã mais velha mandou um olhar de desaprovação a mais nova.

— Ser Lady não é tão ruim. — Começou Faye, olhando para as nuvens e chamando a atenção da pequena. — Você não terá total controle de tudo como uma rainha, mas poderá mandar e cuidar de assuntos de seu vilarejo. E também se casará com um lorde muito importante.

— Que tipo de lorde importante? — perguntou Gia pondo o livro de lado e olhando fixamente a irmã mais velha.

— Oh! Lordes muito importantes, primeiros da linha de sucessão. Como nosso primo Ferdinand, futuro lorde de Cassy Rose, e você sentaria ao seu lado no trono de Magnus, o incrível. Ou então com Hardy das ilhas Dracarys, vocês viveriam em Mingus Lumen, e o veria sentar-se no trono de Mingus, o destemido, e você seria conhecida como Lady das ilhas Dracarys… — Faye continuava a falar dos vários sucessores a lordes das redondezas, encantando cada vez mais Gia, que por ser criança, mudava rapidamente de opinião.

 Até que em certo momento, a mais velha avistou sua mãe andando ao longe, ao lado de Lorde Kai, eles aparentavam estar em uma conversa séria devido a expressão no rosto da rainha.

 Aeryn estava a usar um vestido vermelho contendo algumas partes laranjas, ele era volumoso, com muitos bordados em dourado e era longo como o de Faye, que se arrastava no chão quando a mesma andava. A rainha e o lorde ao seu lado, andavam pelos caminhos de tijolos brancos em direção as princesas.

— Acha mesmo que Faye está pronta para ser rainha, vossa excelentíssima majestade? — perguntou o jovem lorde de apenas vinte e cinco anos.

— Quando fui coroada rainha tinha apenas dezessete anos Kai, dois anos depois tive meu primeiro filho. Está mais que na hora de Faye assumir suas responsabilidades — respondeu sem desviar seu olhar, sempre olhando para frente, de cabeça erguida e postura totalmente ereta, exalando o poder que possuía.

 O lorde olhava para frente assim como a rainha, olhava especialmente para as duas princesas perto do chafariz, sua postura era igualmente ereta e ele segurava sua mão atrás das costas.

— Entendo minha rainha, contudo, permita-me dizer que acho que Faye não possui a mesma inteligência que a senhora para governar o reino ao lado de príncipe Alek.

 A rainha ignorou a fala do lorde e continuou a andar em direção às suas filhas, que a olhavam fixamente. Admirando o poder da mãe.

— Já terminou seus estudos Gia? — Parou frente as filhas, enquanto olhava do livro fechado no banco para sua filha mais nova.

 A pequena prateada se encolheu e abaixou o olhar.

— Não mamãe.

— Então vá até a sala de estudos, e não saía de lá até que sabia toda a história de Gavin — mandou rispidamente. — Uma futura lady tem que ser tão esperta quanto seu futuro marido, será você que irá construir impérios ou rui-los.

— Sim mamãe, mas os livros são tão velhos e chatos, e ainda há tantos para ler e decorar. — Gia vez birra com a mínima esperança de fazer a rainha mudar de ideia.

 A rainha olhou para o lorde que continuava ao seu lado antes de prosseguir.

— Lorde Kai irá com você e tirará todas as suas dúvidas.

 Gia olhou para Kai que lhe lançou um sorriso acolhedor, o jovem lorde adorava crianças, por mais que a natureza dos prateados fosse sempre séria e fria. A pequena se levantou do banco com o livro em mãos e acompanhou o lorde pelo caminho de tijolos até a entrada para dentro do castelo.

 Aeryn olhou os dois se afastarem até voltar sua atenção para sua filha mais velha, que continuava sentada no banco.

— Faye me acompanhe em um passeio pelo jardim.

 Faye sabia que não poderia recusar, então se levantou e caminhou ao lado da mãe, tentando deixar a postura mais ereta possível, como havia aprendido nas aulas de etiqueta.

— Seu irmão saiu hoje pelo crepúsculo para ir atrás da traidora, esse assunto anda me tirando a paciência, mas sei que seu irmão não falhará.

— Há boatos no castelo de que quando ele voltar será coroado rei.

 Aeryn parou por alguns instantes e olhou para sua filha.

— Sim, seu irmão se mostrou digno de se tornar rei, mas estou a observar se você minha filha, está apta de estar ao seu lado.

 A voz da rainha demonstrava desdém. Faye olhou abismada para a mãe, descrente das palavras escutadas, para a jovem, ela estava mais do que pronta para ser a rainha, era inteligente, bonita e mais do que tudo, sabia controlar bens seus dons.

— Acho que assim como Alek, sou digna — Faye falou enquanto olhava para as flores no chão, estava com um misto de raiva, pelas palavras da mãe e medo de se opor a ela. — Sou tão esperta quanto minha rainha, tenho a beleza para conquistar reinos e consigo controlar ambos de meus dons e, futuramente, acredito que conseguirei controlar mais. Serei uma rainha perfeita.

— Sim Faye, você será. Contudo ainda não presenteou Alek com nenhum filho, e vocês precisam de um herdeiro.

 A jovem abaixou novamente a cabeça e olhou os tijolos no chão, enquanto a rainha continuava com sua postura ereta sempre olhando para frente, como se nada a atingisse.

— Não é minha culpa, nós tentamos, estamos tentando há quase um ano e meio.

— Eu sei minha querida, deixe-me contar lhe uma história. Quando nossos primeiros ancestrais surgiram, eles eram perfeitos, eram mais fortes, bonitos e inteligentes do que os humanos normais, além de possuir dons especiais e conseguirmos domar dragões, nós também não ficávamos doentes, éramos as criaturas mais perfeitas que a mãe natureza criará, contudo os quatro deuses ficaram com inveja de tamanha perfeição e nos deram um único defeito, a dificuldade de nos reproduzir, até mesmo a mulher mais fértil de nossa geração encontra dificuldade de gerar uma criança. Por isso, você tem que querer mais. Querer é poder, e se você realmente não quiser vocês nunca terão um filho.

— Eu realmente quero ter uma criança e deixar Alek feliz.

 Algo que se podia dizer ser raro, era ver um sorriso de Aeryn, os mais próximos se atreviam a dizer que o único momento em que a rainha sorriu foi no nascimento de seu primeiro filho, outros já acreditavam que a rainha era incapaz de tal ato, sempre fria, séria e calculista. Entretanto, naquele instante Faye teve certeza, de que virá um sorriso na face de sua mãe, não era algo intenso ao ponto de ver todos os dentes da rainha, era sutil, um leve puxar de lábios, mas que mesmo assim era realmente raro vindo de vossa majestade.

 Quando a jovem princesa voltara a olhar para frente, viu que já haviam chegado ao seu destino. A trilha de tijolos as tinha levado até o chafariz em que se encontrava a estátua de Yoan, o deus do inverno, que se encontrava na outra extremidade do jardim.

 A estátua esbanjava masculinidade, Yoan era um deus alto, com cabelos lisos na altura dos ombros, sua face tinha um expressão séria que era bem representada na estátua, que era o total oposto de Pryme, sua estátua assim como suas feições, mostrava uma moça tranquila e calma, que possuía o sorriso de uma doce criança e o corpo da mais linda mulher.

 Ao ficar de frente para o chafariz, a rainha parou e virou na direção da filha que se encontrava perdida na face seria da estátua.

— Irei voltar para dentro. Tenho assuntos a tratar com Conde Iker, por favor, vá até a sala de leitura e veja se o imprestável do lorde Kai está ensinando bem minha filha.

 Tudo que Faye tivera tempo de fazer antes que sua mãe saísse fora balançar levemente a cabeça em concordância. A rainha voltou a andar com sua postura de soberana, em direção ao castelo, fazendo os poucos empregados que estavam ali se abaixarem em reverência.

 

Rainha Negra

 

 Fergus fora o primeiro a descer do cavalo, estava tão assustado quanto os demais por encontrar uma garota naquele estado, ela tinha as roupas sujas de terra e sangue, seu cabelo se encontrava um pouco bagunçado e com as pontas queimadas e por fim as mangas do vestido se encontravam com alguns rasgados, era uma aparência de certo modo assustadora, contudo o único que não possuía um olhar de pena era Alek. Já virá piores.

 Ele se aproximou devagar com uma adaga em mãos, tinha que pensar na possibilidade da garota ser apenas isca,  talvez verdadeiros saqueadores estivessem à espera para atacá-los. Tinha que se manter alerta.

— Qual o seu nome? E o que faz aqui?

 A morena olhou para o homem à sua frente, que parecia prestes a feri-la caso ela fizesse algum movimento brusco. Eu deveria contar meu verdadeiro nome a eles? E se eles estiverem me procurando? E se eles conhecem alguém que está me procurando? A mente de Hope estava em confusão, vendo que estavam à espera de uma resposta, mentiu.

— Me chamo Eleanore Ericry. — Se arrepiou ao dizer em voz alta o nome de sua falecida mãe, contudo ninguém ali pareceu perceber. — Sou de Cassy Rose e estava a ir para Barne, quando um grupo de saqueadores me parou próximo a ponte.

 Hope não era uma garota de mentir, sempre fora muito honesta e sincera e dizer tais palavras pesava-lhe a consciência, principalmente ao usar o nome de solteira da mãe, isso sem dúvida foi o que mais a machucou por dentro.

 Fergus olhou para o príncipe que continuava sério encarando a garota, voltou sua atenção para ela e a analisou bem, ainda não acreditava em suas palavras.

— Prove que está falando a verdade Eleanore.

— Eu estou a falar a verdade! — O medo de não acreditarem nela era enorme, ela naquele momento se sentia tão perdida e confusa, necessitava da ajuda de desconhecidos.

 Naquele momento tudo na cabeça de Hope pesou, a morte de sua amada tia, que a educara desde a morte de sua mãe, a morte de seu tio, que mesmo não demonstrando amor pela mesma, ainda sim sempre tentou a deixar feliz de algum modo, a morte de sua mãe, que agora, após anos, mal conseguia se lembrar de seu rosto, o desaparecimento de seu pai que provavelmente estava morto, a morte de June que mesmo sendo uma égua, era sua mais fiel amiga e, por fim, a noite de terror que tivera ao lado da besta alada. A vida da pobre garota estava cercada de morte, e isso fez que, inconscientemente, as lágrimas descessem e seu corpo começasse a tremer.

— Eles me cercaram e quando tentei fugir, mataram minha égua. — Foi audível um soluço. — Me sequestraram e estavam a me levar para algum lugar, disseram que iriam fazer coisas terríveis comigo. Quando finalmente consegui escapar estava perdida, não sei aonde estou. Eles devem estar atrás de mim!

 Mesmo se comovendo com a situação da garota, Fergus ainda mantinha a adaga em mãos, pronto para acertar Hope a qualquer momento. Ele não podia ignorar o fato que estavam a procura de uma garota que lembrava distantemente essa a sua frente, e que ao seu lado se encontrava o príncipe e futuro rei, não podia deixar que nada acontecesse a ele.

— Ora Griffith, abaixe essa adaga. — Após a ordem de Alek, Fergus contragosto, baixou a lâmina.

 Olhou para o príncipe que havia descido de seu cavalo e andava em sua direção.

— Por favor, tire sua manta — pediu enquanto apontava para a mesma. Fergus arqueou uma sobrancelha mais nada disse, apenas fez o que o príncipe mandou e colocou a manta em sua mão estendida.

 Ele mandou um sorriso para o comandante antes de andar em direção a morena, que ainda chorava enquanto abraçava a si mesma.

— Não se deve apontar uma adaga para uma moça tão bela, principalmente quando ela precisa de nossa ajuda. — Pôs a manta ao redor dos ombros de Hope que a segurou fortemente para que não caísse. — Iremos te ajudar a ir para Barne.

 Ele lhe deu um sorriso, que para Hope foi como uma luz na escuridão. Seu plano inicial não era ir para Barne, mas talvez pudesse procurar seu primo Hector e com ajuda do mesmo continuar sua jornada para a resistência.

 A morena estava tão feliz que não aguentou e simplesmente caiu no chão de joelhos, enquanto agradecia ao moreno a sua frente.

— Por favor, se levante, não precisa agradecer a isso.

 Foi tudo que ele disse antes de retornar ao seu cavalo enquanto era encarado por Fergus, que desaprovava a ação.

— Por favor, posso saber o nome de meu salvador? — pediu Hope se pondo de pé.

 Nesse momento Fergus olhou significativamente para Alek, esperava que o mesmo menti-se e não contasse seu nome verdadeiro, entretanto seu olhar foi ignorado pelo príncipe.

— Pode me chamar de Alek por hora, senhorita. Meu amigo Griffith, irá te levar em seu cavalo. Teremos que ir a um lugar antes de te levar para Barne, mas te dou a minha palavra de que será rápido.

Dito isso Alek olhou para o rastreador, o mesmo logo voltou a procurar pelo rastro que Hope fizera no dia anterior, contudo mal sabiam eles que a garota que procuravam estava logo ao seu lado.

 O príncipe cavalgava mais a frente enquanto atrás do mesmo estava os três espadachins e atrás de todos estava Fergus, montado em seu cavalo com Hope na garupa.

 O corpo da morena estava próximo ao de Fergus, seu rosto estava de frente para suas costas e ela via toda vez que ele olha para trás para encará-la desconfiado, às vezes ela curvava a cabeça para olhar Alek mais a frente, sentia imensa gratidão por tê-la ajudado.

 O jovem príncipe mantinha seus pensamentos na morena enquanto cavalgava, ele se recordava do desespero nos olhos da jovem, da doce voz que tinha um tom suplicante pedindo por ajuda, ele pensava seriamente também em parar os cavalos e mandá-la descer, deixá-la ali a própria sorte para que encontrasse o caminho para Barne sozinha.

 Seu eu dominante era mesquinho, egoísta, ambicioso e arrogante, e após o teatrinho de bom moço que fez frente a Hope, somente esse tipo de pensamento inundava sua mente, mas Alek possuía – mesmo que tentasse reprimir – um lado bom, amoroso e carinhoso que era direcionado somente a sua família, e que ele conscientemente recusava demonstrar para outras pessoas.

 Ele tentava esconder de todos o seu lado realmente bom, o deixava trancado no fundo de seu ser e deixava que as características negativas o dominassem, fazia isso por tanto tempo que sinceramente passou a gostar de ser mau, Alek tinha consciência de que, de certo modo, era uma contradição ambulante. Seus dois lados travavam uma luta dentro de si. Ele queria abandonar a garota e ao mesmo tempo ajudá-la, e o lado bom estava ganhando, pois, algo nos olhos azuis dela lhe passavam a sensação de lar. Seu olhar estava perdido no horizonte a sua frente, tanto que não se deu conta quando Thomas parou.

— O que houve?

 Thomas se aproximou do príncipe enquanto olhava na direção de Hope e Fergus.

— Posso conversar com o senhor mais a frente, em particular? — disse baixo, mas o suficiente para Hope escutar, estava óbvio que era uma conversa que ela não deveria ouvir.

 Alek desceu de seu cavalo e caminhou mais a frente com o rastreador, não estava longe, ainda era possível os ver pelas árvores, mas não era possível escutá-los.

 Griffith desceu do cavalo e olhou para os três homens em seus cavalos.

— Fiquem de olho nela — falou apontando para a garota, que engoliu a seco. — Volto logo.

 Fergus seguiu em direção a onde se encontrava o príncipe e o rastreador.

— Por que paramos?

— Estava a falar para o príncipe que algo muito estranho aconteceu mais a frente — falou Thomas olhando do príncipe para Fergus.

— Mostre-nos — falou Alek.

 O rastreador assentiu e andou pelas árvores sendo seguido pelos dois homens, até que chegou a um campo aberto, próximo ao começo das montanhas Avalan.

 O problema era que, aquele não era um campo aberto comum, as árvores que deveriam estar ali, estavam caídas, com seus troncos partidos e grandes pegadas no chão.

 Alek olhou bem para aquele campo e sabia o que tinha feito aquilo, o que era grande o suficiente para fazer aquilo. Ele continuou a seguir Thomas até o meio do campo, quando inesperadamente pisa em algo duro que quase o faz cair, ele olhou para o chão esperando ver uma pedra, contudo o que encontrou foi a metade do crânio de um animal. Que na verdade era o crânio de June.

 Alek olhou ao redor e depois para Thomas que logo se pôs a falar.

— Creio eu que a traidora foi encurralada neste local por um dragão.

— Ela está morta? — Griffith fez os pensamentos de Alek suas palavras.

— Não sei dizer, tudo que encontrei foi alguns ossos de animal e um rastro feito pelo dragão que vai para oeste, não encontrei ossos humanos e nem uma trilha que mostre para onde ela foi, caso esteja viva.

— Acha que devemos prosseguir? — perguntou Fergus.

 Alek não percebeu que a pergunta fora feita a ele, sua ficha somente caiu quando viu que os dois homens estavam olhando para ele, aguardando sua resposta.

— Tem chances dela estar viva?

— Sim, se tiver conseguido usar as árvores como esconderijo ela pode ter se escondido do dragão, e seguindo mais a oeste temos a estrada que vai para Barne, se estiver viva ela provavelmente estará lá.

— Então iremos para Barne, caso não a encontrarmos, daremos como morta.

 Alek virou de costa e seguiu em direção ao seu cavalo, para seguir em direção a Barne.



Rainha Negra

 

 A sala de estudos era ampla, com grandes estantes, que iam do chão ao teto, elas estavam abarrotadas de livros em suas prateleiras. Em um canto mais afastado se encontrava uma grande mesa do lado da janela, sobre ela haviam alguns livros abertos, mapas e alguns pergaminhos antigos, frente à mesa se encontravam duas cadeiras estofadas onde se sentavam Gia e Lorde Kai.

 A garota estava indiferente, olhando para a janela a maior parte do tempo, enquanto Kai tentava falhamente explicar para a garota a antigas histórias de Drokhani.

— Isso é muito chato — reclamou batendo a mão na mesa, Gia não gostava de estudar. — Quero ir brincar!

— Brincar é algo muito importante para sua idade, mas não será criança toda a vida, pequena princesa. Precisa aprender hoje o que irá usar no futuro.

— Eu posso muito bem apreender essas coisas mais tarde, não vejo motivo para aprender sobre um cara morto. — Gia cruzou os braços e olhou para o teto.

 Kai deu um sorriso se lembrando da época de que teve que aprender os mesmos ensinamentos que hoje eram passados para Gia, no começo ele era obrigado a estudar, com a ajuda de seu mentor os assuntos ficaram mais emocionantes até que chegou a certo ponto que ele queria estudar por conta própria.

— Gavin é muito importante, pequena princesa. — o lorde pegou um livro mais afastado e o abriu, passou os olhos pelas páginas até que achou aquela que procurava.

— Ele está morto, assim como meu avô. Pessoas mortas não são interessantes.

— Você está enganada. — Kai pegou o livro a sua frente e o pôs em frente a Gia, que desviou sua atenção do teto para o livro.

 O livro estava muito desgastado, suas folhas estavam numa coloração escura que parecia laranja e algumas páginas se encontravam parcialmente rasgadas. Na página que Kai mostrava a Gia se tinha um desenho de um homem muito jovem, que provavelmente tinha a mesma idade de lorde Kai, ele possuía uma barba rala que o deixava com uma aparência levemente mais velha, contudo ao olhar bem seus traços se notava a pouca idade.

— Este é Gavin, ele viveu a muito tempo atrás, em uma época de que as coisas não são como atualmente. — O lorde fez uma pausa para ver se Gia prestava atenção — Ele era o filho mais velho do conde de Barne, que antigamente se chamava Bardnessy, seu destino era se tornar um mero conde assim como o pai, viver em uma cidadela pequena e sem qualquer interesse do rei. Contudo, Gavin era diferente do pai e dos irmãos, ele era muito poderoso, ele foi o primeiro e único prateado que conseguia controlar cinco dons diferentes.

 Os olhos de Gia brilharam e a boca abriu levemente em surpresa, de repente as histórias antigas já não pareciam tão entediantes.

— Está brincando?!

— Não, Gavin foi o primeiro e único que já conseguiu controlar cinco dons, à lendas de que com mais alguns anos conseguiria controlar mais um, contudo ele morreu misteriosamente, beirando os quarenta e um anos.

— Como é possível alguém nascer controlando cinco dons?

— Ele não nasceu controlando cinco dons, ele os foi conseguindo com o tempo. — A criança demonstrava dúvida então Kai continuou a explicação. — O nosso povo é diferente dos outros, por isso conseguimos controlar dons. Todos nós nascemos com um dom específico, ele começa a aparecer fraco e desajeitado, contudo treinando você consegue deixá-lo mais forte.

— Treinando como?

— Com paciência, determinação e foco.

— Isso me parece tão demorado e chato — reclamou Gia voltando a cruzar os braços.

— É como um cavalo, quando nasce é pequeno e fraco, mal consegue ficar em pé, mas com o tempo, um bom treinamento e alimentação, ele se tornará o cavalo mais veloz e forte.

— Quer dizer que futuramente meu dom ficará mais forte?

— Muito mais forte, se o treinar bem, futuramente conseguirá matar muito mais do que vegetação e insetos, conseguira matar pessoas, tropas inteiras ou mais.

 Os pensamentos de Kai se focaram em quão poderosa Gia ficaria, provavelmente se tornaria rainha ou até mesmo tomaria o trono dos futuros filhos de Faye, isso é claro, dependeria dela mesma, ele sabia o quão difícil é treinar um dom para torná-lo mais forte, levava esforço físico e mental, devido a isso poucos prateados conseguiam chegar a controlar dois dons.

— E como faço para conseguir outros dons?

 Kai apontou para folha ao lado do desenho de Gavin, nesta se encontrava um texto que ele começou a explicá-lo para a criança.

— Primeiro o seu domain prime, ou seja, o dom com qual você nasceu, tem de estar com seu poder máximo, você tem que aprender a controlá-lo perfeitamente caso o contrário seu corpo não suportará dois dons indomáveis dentro dele. Segundo, seu físico e seu psicológico tem de estar em perfeita harmonia, se o seu psicológico estiver fraco, você ficará louca ou então se seu físico estiver fraco, seu corpo ficará tão cansado que não consegue se mexer por dias.

 Gia engoliu a seco, ela se lembrava de algo parecido acontecendo com sua irmã, ficou sem ver Faye por semanas e quando voltou a vê-la, ela aparentava estar esgotada.

— Terceiro, nunca tente controlar um dom que seu corpo não aguenta, a vários tipos de dons diferentes, mas com alguns seu corpo será compatível, com outros não, se você tentar obter um desses pode acabar morrendo.

— Isso parece muito complicado — falou desanimada, sua ideia era ficar poderosa como Gavin, contudo agora via que não seria tão fácil.

— É complicado, entretanto você conseguirá e tenho certeza que ficará tão forte quanto a rainha.

— Você acha que posso me tornar rainha? — O brilho nos olhos de Gia voltaram imediatamente.

— Claro, com certeza se tornará mais forte do que sua irmã.

— Te deixo alguns minutos com minha irmã e você já põe idéias conspiratórias na cabeça dela, Lorde Kai. Será que devo informar isso a rainha?

 Faye apareceu no cômodo juntamente com sua voz estridente, fazendo o lorde e sua irmã olharem para ela.

— Não vejo motivo para informar isso a rainha, princesa Faye. Estava apenas explicando a sua irmã como conseguir outros dons — falou calmamente e recebeu um olhar mortal de Faye.

— Não se faça de tonto, sei que estava falando para ela que ela pode se tornar rainha um dia, mas não vai! A futura rainha serei eu, e minha primeira ordem será te matar por traição à coroa.

— Não faça isso, minha princesa. Posso ser de grande ajuda, um dos seus melhores aliados.

— Dispenso sua ajuda. Saía.

— Como quiser, minha princesa. — Kai fez uma leve reverência antes de se levantar e sair da sala.

 Ao deixar o cômodo ele deu um leve sorriso, agora tinha mais do que certeza que Faye não estava pronta, ela era imatura, e nunca teria maturidade suficiente para se tornar rainha.

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram do capítulo? Deixem comentários sobre o que acharam ❣
Espero que tenham prestado atenção na explicação de Kai sobre os dons dos prateados, isso ainda vai render muitos mistérios ;)



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