Rainha Negra escrita por Anne P


Capítulo 2
Capítulo 2 • A partida


Notas iniciais do capítulo

Capítulo atualizado dia 04/06/2017
Betado por
kellycavalcanti (ID: 567863)



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 Passaram-se dois dias após a noite chuvosa, era uma manhã quente e abafada quando a jovem garota de vinte e um anos saia da velha casa de seus tios e ia em direção ao estábulo do pequeno condomínio de fazendas. Ela levava em uma das mãos um balde de alumínio antigo, dentro do mesmo um esfregão e maçãs. Usava, seu vestido de trapos na cor cáqui, cujo saia arrastava pela estrada de terra. A morena simpática sempre parava para cumprimentar seus vizinhos, às vezes com singelos sorrisos e acenos de mão, outras com um simples abraço acompanhado de um beijo estralado na bochecha.

 Quando chegará ao grande estábulo de madeira – que tinha enormes pilares segurando o teto, que era uma mistura de camadas de argila e grandes lonas negras – andou até o último lote onde estava uma grande égua negra, com pelo brilhoso e uma bela crina. June era a égua mais veloz daquele pequeno condomínio de fazendas beira a mar, era a égua do primo da morena, Hector, que se encontrava bem longe dali pelas próximas semanas e Hope, que sempre fora grata ao primo, se oferecerá para cuidar de um de seus bens mais preciosos enquanto ele estava distante.

 Ela abriu com custo a trava enferrujada da porta de madeira que a separava de June, em seguida, entrou no pequeno espaço que era destinado à égua e deu-lhe uma maçã. A égua rapidamente abocanhou o fruto e o mastigou ruidosamente.

 Hope, por mais estranho que isso possa parecer aos olhos dos outros, gostava de conversar com June mesmo que ela fosse uma égua. Durante a manhã, após a noite do pesadelo, Hope levará a égua para dar uma volta e durante o passeio desabafara com a mesma sobre o pesadelo. Quando se viu mais distante das casas se permitirá chorar baixinho abraçada a June.

 Durante os quinze minutos em que a garota de cabeleira negra penteava os pelos brilhosos da égua, contará a ela em como Maxxie, o filho do padeiro do condomínio, parecia interessado nela. Sempre lhe mandando sorrisos que demonstravam mais que simpatia. June, como boa ouvinte, sempre se manterá em silêncio enquanto devorava uma ou outra maçã.

 Foi quando ouviu as trombetas que parará de pentear os pelos de June. Hoje era o dia da semana em que os soldados da capital vinham à fazenda fazer a colheita, eles levavam a maior parte de tudo que era produzido ali para ser vendido no comércio da capital.

 Hope fechou a porta do lote de June, e conferiu se estava bem fechada, se algum cavalo se encontrasse em campo aberto após o entardecer viraria jantar de Dragão e após os incidentes dos últimos anos, a morena ficaria muito mal em perder a égua também. Ela andou rapidamente na direção da casa de sua tia, mas antes de chegar viu não muito longe Garner, um dos soldados que sempre vinha fazer a colheita, entregar a sua tia um pequeno saco marrom que continha moedas de magma.

 Hope particularmente odiava sempre aquele dia da semana, os soldados vinham e esfregavam na sua cara, durante o restante do dia, como era bom viver na capital, enquanto ela só tinha más lembranças.

 Após guardar o balde dentro da casa, a morena voltou até o lado de fora para ajudar sua velha tia Gretel a empacotar todas as mercadorias que seriam levadas ao final da tarde, para que fossem vendidas na manhã seguinte aos burgueses da capital. Era um trabalho que tinha que ser feito com muito cuidado devido ao fato de que a principal fonte de renda daquele condomínio de fazendas litorâneas vinha do comercial de frutos do mar. Não somente para a capital, mas também para todas as outras províncias.

 Após um almoço rápido e quase uma tarde toda de trabalho, Hope e sua tia acabaram de embalar totalmente todas as dúzias de peixe que seriam vendidos, a morena estava cansada e fedia, contudo, após alguns anos vivendo com seus tios, se acostumara ao cheiro de peixe, já não sentia tantas náuseas como antes.

A pedido de sua tia, a morena se encarregará de levar toda a mercadoria a carroça enquanto a mesma sentava em um banco de madeira não muito longe, a senhora estava cansada e mantinha os olhos fixos na sobrinha a avaliando, como se sentisse que ela iria fazer algo errado.

 Entretanto, o que veio a seguir não foi intencionalmente culpa dela.

 Hope era a única garota a pôr os objetos na carroça, o restante do condomínio já tinha contribuído com sua parte, faltava apenas a de seus tios para que os soldados partissem. Naquele fim de tarde, todos se encontravam em suas respectivas casas e alguns poucos homens ainda estavam em seus barcos à procura de mais peixes, logo, a morena e sua tia eram as únicas ali fora juntamente com os soldados pouco mais afastados que bebiam vinho e riam de maneira exagerada.

 O que acontecerá fora rápido e surpreendente para ambos os lados, não somente para as duas camponesas, mas também para os soldados que se encontravam levemente altos.

 A morena estava a pôr a última mercadoria na carroça, quando aquela sensação maravilhosa da noite chuvosa voltara fazendo-a parar. Se Hope a pudesse descrever, seria como um raio de sol na manhã fria. Contudo, a sensação se intensificou até que chegasse a certo ponto que não causava tanto prazer a morena como causava antes. Era como comer muito doce, por mais que gostasse do gosto do açúcar em sua boca, uma hora seus dentes começariam a doer devido ao excesso.

 A garota de cabelos negros cairá no chão de joelhos com a mão na barriga, ela mesma não sabia de onde vinha à sensação dolorosa. Simplesmente levou à mão a barriga tentando inutilmente parar a dor. Foi quando ela olhou para baixo e viu toda a vegetação ao seu redor morrer como em um piscar de olhos: flores, grama e mato estavam tudo morto e sem vida.

 Viu então surgir uma chama azul, tão azul quanto o olhar da morena, que se alastrou até formar um círculo em volta da natureza morta demarcando a separação da vegetação viva, a chama sumiu tão rápido quanto aparecerá deixando no chão apenas a grama queimada, provando a todos que nada daqueles acontecimentos era um sonho.

 Hope, em desespero, quis gritar. Até mesmo tentou ao abrir a boca, contudo nenhum ruído ousou sair. Ela tentou se levantar, mas seu corpo parecia petrificado. Estava tão apavorada que lágrimas brotaram em seu rosto.

— Bruxa! — Foi o que escutou antes de sentir a lâmina fria da espada de Garner em seu pescoço.

 O mesmo tinha uma das mãos puxando fortemente as madeixas negras do cabelo de Hope, o que só fez o choro silencioso se intensificar. A morena tentara com muito custo virar a cabeça e encarar sua tia, esse esforço fez com que a espada roçasse mais em seu pescoço fazendo com que filete de sangue rubro descesse pelo pescoço da jovem até parar próximo a seu busto.

 Conseguiu ver com muito custo a tia, que estava tão assustada quanto ela enquanto segurava o braço de Garner. Se não fosse o ato da tia, provavelmente, o soldado já teria decepado a cabeça da sobrinha. Ao lado da tia, era possível ver caído no chão o outro soldado, gordinho que segurava em uma mão a garrafa de vinho já a outra ameaçava a pegar a espada a qualquer momento.

— Por favor, Garner. Ela é só uma garota não fez nada de errado, você viu — implorava Gretel ao soldado. — Por favor, solte-a.

 Muito a contragosto o soldado a soltará, se afastará alguns passos da morena, contudo sua espada ainda estava em mãos pronta para atingir o coração de Hope se a mesma tentasse algo. Gretel se ajoelhou ao lado da sobrinha e a abraçou apertado, fazendo a morena enterrar o rosto em seu pescoço e chorar fortemente, um choro que partiria o coração de muitos.

 — Leve-a para dentro — ordenou Garner, mas quando a velha senhora se atreveu a levantar-se junto a sobrinha ele prosseguiu. — Irei conferi-la de uma em uma hora, não se atreva a fazer nada bruxa.

 O soldado realmente nunca havia visto uma bruxa, somente lerá a respeito durante a infância e o início da adolescência, acreditava que a nobreza prateada seria toda formada por bruxos, contudo também acreditava na lenda da bruxa e do dragão que sua finada avó lhe contará.

 A velha senhora levou a sobrinha aos tropeços para dentro da velha residência, as pernas bambas da morena mal conseguiam se manter em pé, devido a isso assim que chegaram ao quarto da morena, ela se permitiu desabar na cama então chorava ruidosamente, enquanto a tia tentava lhe consolar ao afagar seus cabelos. Foi quando escutaram vozes ao lado da janela que ficaram em silêncio, e até mesmo a morena segurou o choro para se permitir escutar a conversa.

— Você pegará o cavalo da carroça e cavalgará até a capital, irá contar a excelentíssima rainha, que tenha um longo reinado, tudo que viu aqui. Contará para ela todos os mínimos detalhes e depois quero que me envie um corvo com as ordens dela. Precisamos saber o que fazermos com aquilo.

— Não seria mais rápido cavalgar até Barne, e pedirmos ajuda ao Conde? Ele poderia resolver o problema e depois somente enviar um corvo a excelentíssima rainha, que tenha um longo reinado, lhe deixando a par dos últimos acontecimentos. E também não conseguiria chegar à capital antes do meio-dia.

— Sim, conseguiria. Somente precisaria cavalgar durante a noite toda.

— Você está louco! — Se fez ouvir a voz esganiçada do gordinho. Como um porco no matadouro. — Você sabe tão bem quanto eu que qualquer coisa que se encontra em campo aberto após o escurecer vira comida de dragão.

— Por isso que você tem de ir agora, enquanto ainda tem duas horas de sol para lhe acompanhar antes do escurecer. Se cavalgar durante a noite, evitando os campos abertos, chegará à capital antes do crepúsculo, antes mesmo de o sol estar completamente no céu você já se encontrará falando com a excelentíssima rainha, que tenha um longo reinado.

 Alguns minutos de silêncio se fizeram presentes antes de a conversa retornar.

— Tudo bem, tudo bem, irei de cavalgar durante a noite, só por que o que vi agora pouco me deixará apavorado. Que os quatro deuses olhem por mim.

— Que os quatro deuses olhem por você amigo.

 Fora tudo que escutaram antes do trote de cavalo em direção ao leste, agora o choro da morena voltará ainda mais forte.

— Irão me matar tia, a rainha não tem piedade. Eles irão me matar.

 A tia se sentara na cama e pós a cabeça da sobrinha em seu colo, estava tão confusa quanto à mesma, contudo, isso não a impediu de consolá-la.

— Ninguém irá fazer nada com você, minha querida. — A tia prometeu.

 A morena estava assustada como no dia da tempestade, a enxaqueca que não sentia desde aquela noite voltara e estava forte, contudo o carinho da tia a acalmou. Estava tranquila em saber que tinha alguém que a protegesse. Foi quando se rendeu ao cansaço e dormiu.

 Depois de um tempo despertou com a mão da tia em seu ombro, ainda se sentia cansada e tinha dormido apenas alguns minutos. Foi quando olhou ao redor e se viu completamente no breu da noite e percebera que seus minutos de sono, na verdade, foram horas.

— Temos que nos apressar querida. — Gretel a puxou pela mão para que levantasse a morena contra sua vontade obedeceu.

 A tia a levou para o banheiro e ajudou-a a tomar um banho rápido da banheira de latão, ela vestiu a sobrinha com um vestido de tecido grosso na cor azul-escuro, e pôs por cima do mesmo uma grande manta negra que continha um capuz grande o suficiente para cobrir totalmente seu rosto.

— Tia o que está acontecendo?

 Gretel ignorara totalmente a sobrinha e andou até uma caixinha negra que ficava guardado no fundo do guarda-roupa da mesma, tirou da caixa um colar. Era simples, com uma corda negra que tinha como pingente uma pedra azul clara, mais clara que o olhar da morena.

— Era de sua mãe, é algo raro, vidro feito da chama de dragão. Seu pai comprou para ela quando você nasceu.

 A tia lhe deu um sorriso triste e arrastara a morena até a cozinha lhe entregando uma bolsa de couro negra.

— Aqui dentro tem tudo de que precisa, comida, vinho para beber caso tenha sede e uma raiz que pode ajudar em sua enxaqueca só precisa mastigá-la e…

 A morena interrompeu a tia.

— Tia Gretel o que está acontecendo?

— Oh, minha doce Hope, prometi a seu pai que cuidaria de você com a minha vida e é isso que preciso fazer agora, cuidar de você. Você precisa partir antes do amanhecer, caso o contrário, a rainha lhe fará mal. Seu tio está lá fora a preparar June, pus na comida do soldado erva sonífera, aproveite essa chance e fuja.

— Não posso fugir e deixar vocês aqui tia, a rainha matará você e meu tio caso eu vá embora.

— Já somos velhos minha querida, seu tio e eu já vivemos nossa vida. Temos um filho maravilhoso que está seguro em Barne, agora você precisa ir para viver a sua.

 Os olhos da morena se encheram novamente de lágrimas, não podia acreditar que essa seria a última vez que veria a tia, se recusava a acreditar.

— Tome — Gretel lhe entregará um livro pequeno e velho. — É o diário de sua mãe, prometi a seu pai que nunca lhe mostraria, mas acredito que tenha nele respostas para suas perguntas. Respostas que nunca poderei lhe dar. A morena cabisbaixa guardou o diário em sua bolsa e pôs a alça no ombro, e deixou ser puxada pela tia até o estábulo, onde viu seu tio, um homem já de idade com seu bigode e cabelo grisalho ao lado de June, que estava devidamente equipada para a cavalgada.

 O senhor deu um beijo na testa da sobrinha e a ajudou subir na égua.

— Mas para onde irei? Não conheço nada além das fazendas e da capital, que não vejo há anos — perguntou chorosa, enquanto as lágrimas rolavam por sua pele pálida.

— Não se atreva a ir para a capital querida, fique o mais longe de lá possível, evite a todo o custo. Vá para o leste, encontre a amiga de seu pai, Pandora, a líder da resistência. Ela lhe ajudará e irá te manter segura, algo que não posso mais fazer. Evite as montanhas e se mantenha sempre longe dos campos abertos. — A senhora fez uma pausa, assim como a sobrinha também estava a chorar, se abraçou fortemente ao marido antes de pronunciar as palavras presas em sua garganta. — Eu te amo Hope, cuide-se.

 A morena não queria, mas fez o que a tia pedirá: partiu. Partiu deixando para trás as únicas pessoas que amará após seus pais e tendo June como única companhia na madrugada.


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Notas finais do capítulo

• Se quer saber sobre a lenda da bruxa e do dragão que Garner citou no cap é só entrar no pagina da fanfic do facebook e ler
• Muitas coisas da fanfic não vou poder explicar completamente por aqui e estarão no facebook, curtam a pagina para não perder nada.
Comentem ❣



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