Rainha Negra escrita por Anne P


Capítulo 1
Capítulo 1 • Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Hey guys!
Espero que gostem de Rainha Negra!
Boa leitura!

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Capítulo atualizado dia 06/02/2017
Betado por
Valentina Heartfilia (ID: 658769)



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Dizem que a vida é cheia de surpresas. Que nossos sonhos realmente se realizam, assim como nossos pesadelos.
                             —Gossip Girl

 

 Caía uma chuva densa do outro lado da janela de madeira. Era audível o chiar do vento e o som dos finos galhos das árvores se quebrando, devido à pouca resistência à forte ventania.

 A jovem garota de cabelos negros tremia e suava enquanto tentava, inutilmente, afastar da memória o terrível sonho que tivera naquela noite. Sua pele estava mais pálida do que já era, agora parecia um pergaminho branco ainda não utilizado, seus olhos azuis estavam assustados e ela dava um salto toda vez que um clarão inundava o céu escuro, acompanhado de um grande estrondo.

 Estava cansada e queria desesperadamente dormir, à procura de restaurar as energias para o novo dia de trabalho nas plantações, que viria assim que o sol raiasse.

 Prometera a si mesma que nunca mais incomodaria a tia durante a noite, principalmente porque o cansaço dela era o dobro do seu e por já ter completado seus vinte e um anos. Estava na hora de andar com as próprias pernas.

 Contudo, estava assustada, cansada e sua cabeça doía devido à enxaqueca, que aparecera misteriosamente há dois meses. Não pensou muito, nem ao menos tentou se convencer do contrário antes de se levantar da cama, pondo os pés descalços na madeira fria que estalava toda vez que dava um passo.

 Guiou-se pela escuridão da casa até o quarto já tão conhecido por ela. Bateu levemente na antiga porta de madeira negra que ali se encontrava e aguardou até que a velha senhora, com as rugas da idade, abrisse e a abraçasse como fizera na maioria das vezes.

 Demorou mais do que o habitual para que sua tia Gretel aparecesse na porta pondo a cabeça para fora, mostrando sua face cansada com os cabelos grisalhos despenteados. Ela olhou espantada para a sobrinha e lhe deu um doce sorriso. Saiu porta afora usando sua velha camisola de algodão e a fechou atrás de si para evitar acordar o marido, que dormia um sono profundo na antiga e pequena cama de casal.

 Gretel, mesmo cansada, acompanhou a sobrinha até a cozinha, reparando nos saltos assustados que dava toda vez que um clarão aparecia na escuridão e se preocupando com os olhos azuis chorosos e medrosos que estavam a sua frente.

 A velha senhora de cabelos grisalhos colocou água na chaleira prateada e gasta – assim como a maioria dos utensílios naquela cozinha – e a pôs no fogo para que esquentasse. Andou até a sobrinha, que estava sentada na mesa de madeira de quatro lugares, com seus passos calmos e mancos. Sentou-se de frente para a garota e segurou-lhe as mãos trêmulas sobre a mesa, fazendo com que a atenção da jovem, que antes olhava para as frutas que estavam sobre o movél, passasse para os profundos carvões que eram os olhos da tia.

— O que se passa, criança? — Hope adoraria responder a tia lhe dizendo que não era mais uma criança, tanto que chegou a enrugar um pouco o nariz com a pergunta. Contudo, as lembranças do pesadelo ainda a atormentavam e a enxaqueca estava piorando, só de se lembrar do sonho ruim.

 Puxou o ar algumas vezes com rapidez, à procura da coragem que tanto desejara para contar o pesadelo à tia. A menina tremia, forçando a voz para que saísse.

— Ela estava lá… usava o cabelo preso em um coque, como tanto gostava. Ela os servia e entregava-lhes tudo de mão beijada — nesse momento sua voz ficou rancorosa e falhou. — Mas ela apareceu de repente… cravou os dentes nela e… oh, tia Gretel, tinha tanto sangue e a realeza prateada estava lá… rindo e se divertindo enquanto a praga alada a devorava. Eu a vi desmembrando cada pedaço de minha mãe… eu senti na pele sua dor. Tudo parecia tão real… senti o calor emanando por seu sangue em minha face e seus gritos estavam mais altos do que os trovões… e, mesmo assim, eles não a impediram de matá-la.

 A tia olhava curiosa para sua sobrinha, há mais de três anos não tinha esses pesadelos. Entretanto, eles voltaram há cerca de dois meses, junto com a enxaqueca; estavam agora mais reais, a ponto de assustá-la. Hope segurava o choro e um forte soluço na garganta, seu orgulho evitava que chorasse. O que pensaria a tia ao vê-la chorar como criança?

— Está tudo bem agora, querida. Isso já aconteceu há muito tempo, não deixe os fantasmas passados lhe assustarem — Gretel deu um sorriso, em busca de acalmar a sobrinha, enquanto fazia um carinho delicado em sua mão. Estava dando certo até o chiar da chaleira assustar novamente Hope, fazendo com que desse um pulo e que seus olhos procurassem desesperadamente de onde viera o som.

 A senhora andou até a chaleira, tirando-a do fogo. Abriu-a fazendo com que o vapor viesse em direção ao seu rosto cansado, aquecendo-o e jogou dentro da água fervida algumas ervas medicinais, que plantava em seu jardim. Buscou pela cozinha uma caneca de alumínio, e quando finalmente a achou, encheu-a com o líquido, agora em tom rubro, que soltava fumaça devido a sua quentura.

 Com paciência, a senhora convenceu a garota a tomar a bebida fumegante. Mesmo que o gosto não fosse de seu agrado, a faria bem. Com grandes goladas e ignorando a garganta e a língua que ardiam pela temperatura elevada da bebida, Hope esvaziou a caneca, deixando somente um gosto amargo na boca.

 Ela e a tia ficaram no pequeno cômodo, vendo a forte tempestade que lhe dava medo se transformar em uma simples e fina chuva passageira que a acalmou. Quando suas pálpebras ameaçaram a se fechar, pediu licença à tia e dirigiu-se ao seu quarto, ouvindo o som da madeira estalando sob seus pés novamente.

 Puxou o ar fortemente, – como faziam as crianças com nariz entupido – e deitou-se na cama dura, com os cabelos negros espalhados pelo travesseiro. A dor em sua cabeça não fora embora junto com seu medo. Contudo, o chá de sua tia a diminuiu a ponto de ficar suportável para que ela dormisse o restante da noite.

 Fechou as pálpebras e relaxou, à procura do sono. Sentia-se ardendo, mas não sabia ao certo o motivo; era como se estivesse sendo queimada viva. O mais estranho era que essa sensação era prazerosa e relaxante. Parecia que não havia mais dores de cabeça ou medo de pesadelos, era como um abraço apertado e quentinho de sua mãe.

 Hope sorriu enquanto o sentia, achava que estava delirando. Nem se questionou de onde vinha esse prazer antes de mergulhar em um profundo sono.


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Notas finais do capítulo

Comentem ❣



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