Apenas feche seus olhos. escrita por Zenobia


Capítulo 1
Capitulo Único - Apenas feche seus olhos


Notas iniciais do capítulo



Boa leitura sz



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   Neve. Branca, gélida e inegavelmente bela cobria toda a cidade de South Park, claro que este já era um cenário comum na cidadezinha onde fazia frio nove meses por ano e mais frio ainda nos outros três. Mas aquele dia, aquele dia era especial, principalmente para as crianças, era 24 de Dezembro, véspera de Natal.

   Todas as crianças estavam em casa, bem agasalhadas, tomando um delicioso chocolate quente enquanto aguardavam uma magnifica ceia e ficavam imaginando que presentes iriam ganhar do bom velhinho.

   Mas este não era o caso do pobre Kenny McCormick, nascido em uma família miserável que sequer tinha dinheiro para dar meias aos filhos de natal. Sua ceia? Não teriam, comeriam enlatados enquanto assistiam algum reality show na pequena e velha Tv que custava a pegar sintonia.

  O garotinho de apenas sete anos, cansado do pai bêbado reclamando das programações natalinas, saiu da pequena casa e caminhou até a calçada onde se sentou. Por incrível que parecesse, Kenny não sentia fome, mesmo não comendo com tanta frequência ou em uma quantidade que pudesse saciá-lo.

   O garoto olhava pelas janelas das casas ao redor e tudo o que via lhe despertava a famosa inveja. Na casa à frente, duas garotas gêmeas e seus familiares cantavam músicas de natal.

   Na casa ao lado, um filho único atendia seus avós que haviam chegado para jantar em família, recebendo abraços, beijos e, é claro, presentes deles.

   Na outra, muitas crianças brincavam em volta da lareira com brinquedos aparentemente caros, provavelmente eram todos primos, enquanto os adultos conversavam sentados no sofá apreciando uma boa xícara de chá.

   Kenny não conseguia entender, por que logo sua família não tinha estes costumes? Por que nunca conhecera seus avós? Por que nunca ganhara carinhos ou presentes como aquelas crianças? Por que logo com ele?

   O vento àquela hora da noite estava mais frio que o normal, mas as lagrimas do garotinho solitário sentado na calçada esquentavam o rosto pela qual escorriam até caírem nas luvas surradas de Kenny que, naquele momento, implorou a qualquer força divina ou não que lhe desse algo para recordar, para que aquele não fosse só mais um decepcionante natal em sua vida.

    Faltando pouco para que Kenny desistisse e voltasse para dentro de sua casa, para “curtir” em família aquele dia tão especial, o som de paços vindo rapidamente em sua direção chamara sua atenção, quando o indivíduo se aproximou mais foi possível reconhece-lo. Era Kyle Broflovski.

    -Olá Kenny! –Sem demora, o ruivo sentou-se ao lado do amigo.

   Kyle e Kenny não eram os melhores amigos, apenas andavam no mesmo grupinho formado por eles e mais dois garotos. Para falar a verdade Kenny dificilmente conversava com ele. O motivo do garoto estar ali, ainda mais nessas condições climáticas e a essa hora, era um mistério para ele.

   -Olá

   -Por que não está lá dentro com sua família? –Os olhinhos cor de esmeralda fitavam inocentemente o outro garoto.

   -Porque... –Kenny hesitou em responder –Esses bundões não comemoram o natal...

   - Puta merda! A minha família também não. Vocês também são judeus?

   - Ahn... Não, apenas somos pobres demais para comer algo que não tenha saído de uma merda de lata. –Dizia decepcionado

   -Que droga, a minha família comemora o Hanucá mas ainda assim eu sempre quis participar de uma ceia natalina –O menino sorriu, aumentando o tamanho de suas bochechas que já eram enormes.

   -Entendi... E por que você está aqui?

   -Bom, eu queria te dar um presente de natal, é pouco estúpido duas crianças que não comemoram o natal trocarem presentes, mas eu queria muito te dar algo. – Suas grandes bochechas agora assemelhavam-se à dois tomates de tão coradas.

   -Não precisa! Eu nem tenho um pra você –Kenny desviou o olhar, agora sentia vergonha de não poder retribuir.

   -Não quero nada em troca! Apenas quero que aceite porra...

   -Tudo bem –Suspirou.

   -Okay, apenas feche seus olhos. –Dizia o pequeno ruivo euforicamente.

    Foi o que Kenny fez, fechou seus olhos e esticou as mãos para que Kyle colocasse ali seu presente, no entanto, não sentiu nenhum peso sobre suas mãos. Prestes a abrir os olhos, algo quente e macio tocara seus pequenos lábios. Assustado, arregalou os olhos no mesmo instante e encontrou os lábios do ruivo colados aos seus, nisso afastou-se bruscamente.

  -O-o que você está fazendo? – Agora fora a vez do loiro ficar de bochechas rosadas. – Você é bicha agora?

  - Desculpe... Meus pais vivem fazendo isso. Minha mãe diz que eu só deveria fazer isso com quem eu gostasse –Dizia cabisbaixo e visivelmente chateado.

    Kenny percebeu que magoara o amigo e, então, colocou sua mão sobre a dele, que o olhou surpreso.

  -Você pode me dar mais um?- A vergonha que sentia com tal pedido não poderia ser descrita em palavras mas, mesmo assim,  ele o fez.

  -Sim. Feche seus olhos!

   A cena de Kyle sorrindo de orelha a orelha, aumentando aquelas bochechas bizarras antes que ele fechasse de novo os olhos ficou por muito tempo em sua cabeça. Quando fora dormir naquela noite de natal que se dera conta. Seu pedido se realizou, ele jamais se esqueceria daquele natal.

...

   O natal era uma época do ano muito aguardada no ano pelas crianças, era um dia onde poderiam ganhar muitos presentes, comer comidas gostosas que não comiam em nenhum outro dia e reunir toda a família por uma noite. Mas o que a data passava a significar para estas crianças quando elas se tornavam adolescentes? Certamente que festas agitadas com os amigos, bebidas, etc.

   Já para Kenny, o natal significava o mesmo que há dez anos atrás: Pai bêbado, enlatados, reality shows...ou seja, nada.

   Mas é claro, também lhe trazia a recordação do sabor da boca de um certo ruivo. Um ruivo que Kenny nunca imaginou que iria se apaixonar de tal forma com um simples beijo. Após aquele dia, o loiro sonhava com o dia em que o beijaria novamente, mas este dia nunca chegou.

   Mas naquela noite, Kenny estava determinado, ele tomaria Kyle em seus braços e enfim provaria de seu sabor mais uma vez.

   Novamente, era dia 24 de Dezembro e Kenny caminhava até a residência do Broflovski, apertando o embrulho em seu bolso.

    Ao chegar em seu destino, parado frente à porta de madeira, hesitou em tocar a campainha, mas mesmo assim o fez após engolir seco. Enquanto esperava ser atendido, ensaiava em sua mente o que diria e assim se encheu de confiança, que logo foi embora ao abrirem a porta e o rapaz se deparar com a figura ruiva em que tanto pensava.

   -Hey, como vai Kenny? –Sorria amigavelmente – O que faz aqui?

   -Anh... Eu te comprei um presente de natal, quer dizer, eu sei que você não comemora, mas mesmo assim...

  -Ah, muito obrigada! Você gostaria de entrar e jantar conosco?

  -Pra falar a verdade, eu estava pensando se você não gostaria de dar uma volta comigo agora.

  -Ah, sim, vamos, só me deixe colocar um casaco

    Assim que o ruivo reapareceu e, agora com seu casaco, Kenny o levou até uma parte afastada da cidade, onde praticamente só haviam árvores e uns malditos mosquitos. Kyle gostava daquilo, estar longe do barulho da cidade fazia bem para si, sentia-se em paz. Kenny não se conteve, e logo sentou-se encostado ao tronco de uma grande árvore e começou a observar as estrelas brilharem. Sem esperar muito o ruivo juntou-se a ele.

  -Aqui, isto é pra você –Kenny entregou o embrulho para o rapaz, evitando fazer contato visual, por mais que quisesse, não queria que Kyle percebesse que ele estava com vergonha.

  -Muito Obrigado –Com um sorriso nos lábios, o rapaz abria delicadamente o embrulho, sem rasgar desesperadamente como a maioria das pessoas costumam fazer, até mesmo nesses pequenos detalhes Kyle era perfeccionista. Ao retirar todo o papel de embrulho verde, encontrou ali um CD, mas não qualquer CD, era o álbum If You Were a Movie, This Would Be Your Soundtrack, de sua banda favorita.

   -Você gostou? –Perguntou, mesmo já sabendo a resposta que ouviria

   -Claro, mas como você sabia que eu gosto dessa banda?

   -Tenho meus contatos –Sorriu –E eu também sabia que a sua mãe nunca iria comprar pra você algo assim.

   -Oh, muito obrigado Kenny –Ele abraçou o loiro – Assim eu fico mal por não ter comprado nada para você.

   -Não precisa me dar nada.

   -Eu prometo que assim que acabarem as festas e as lojas estiverem menos movimentadas eu vou te comprar algum presente.

   -Kyle, não precisa me dar nada,porra–Suspirou –Aliás, eu tenho mais uma coisa pra você.

  -Mais um? Não precisava gastar tanto comigo!

  -Ora cale a porra da boca e aceite logo.

  -O-ok, cadê ele então?

  -Calma. –Kenny sorrira maliciosamente –Apenas feche os seus olhos... 


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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui, obrigada por ler ;u;
Sugestões ou críticas(construtivas) são muito mais que bem vindos.
Espero que tenham gostado ^-^



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