Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 21
Capítulo 21 — A Bordo do Nôitibus Andante


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente! Beleza? Espero que sim.
I'M BACK! Desculpem a demora para postar, o trabalho está me deixando com pouquíssimo tempo para a escrita, mas aqui estou eu!
E não, eu nunca vou desistir dessa fanfic. Ia postar o capítulo no próximo sábado, mas a mensagem de um leitor me incentivou a adiantar a postagem. Obrigado, Pedro. :)
Até o próximo capítulo!



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O ENCONTRO ENTRE HARRY POTTER E DRACO MALFOY, entretanto, teve uma repercussão nem um pouco amigável. No dia seguinte, o Profeta Diário já estampava uma história assinada pela correspondente de fofocas, Rita Skeeter, contando o quanto tudo aquilo foi um golpe para conseguir publicidade e aliviar a barra do Ministério, desviando o foco da inusitada fuga de Rodric Hotwan. Depois de ler pela enésima vez a matéria, a Sra. Potter encontrava-se fora de si.

— Que megera... aquela vaca... como ainda deixam ela trabalhar lá? Quando eu voltar das minhas férias a Rita vai provar uma Azaração Ferreteante, nunca mais ela se atreverá a colocar aquele rosto horrível para fora de casa.

Para alimentar ainda mais a fúria da Sra. Potter, uma revoada de corujas pousava toda manhã n’A Toca, a maioria delas de jornalistas famintos por informações. A situação se tornou tão insuportável que, pouco tempo depois do Ano-Novo, tia Hermione sugeriu que as crianças voltassem para Hogwarts antes do fim das férias, assim ninguém os atormentaria na Plataforma Nove e Três-Quartos. Apesar de algumas caretas de desgosto, todos acataram a ideia.

Então, quando os primeiros raios de sol penetraram o quarto mais alto d’A Toca, Alvo, Wayne e Tiago foram despertados pela Vovó Weasley. Os garotos desceram para a cozinha onde tomaram um breve café da manhã sendo apressados pela avó, que já apresentava um mau-humor terrível devido à insistência que Vovô Weasley fazia para que ele levasse os netos de carro até a estação de Hogsmeade.

— Arthur, eu já disse não! — trovejou Vovó Weasley. — É muito arriscado.

Vovô Weasley tentava argumentar.

— Minerva entenderia perfeitamente, querida...

Porém, quando a esposa lhe perfurou com o olhar, Vovô Weasley se calou e começou a ajudá-la a levar as malas para o corredor da porta dos fundos. A correria continuou por um tempo, todos se trombando nas escadas, Louis perseguindo o seu pelúcio que apanhara sicles da bolsinha de Dominique. Alvo, que acabara de guardar orgulhosamente a Turbo XXX no seu malão, lutava para fazer Íris parar de piar.

— Dá para fazer essa coruja calar o bico? — reclamou Tiago vestindo sua jaqueta.

— Estou tentando — defendeu-se Alvo.

O menino enfiou alguns petiscos pela grade da gaiola de Íris, que se amansou. Assim que todos os primos desceram, tia Audrey despediu-se das filhas e do marido, desculpando-se cordialmente por ter de ir trabalhar.

— Tenho um relatório inteiro sobre Feitiços de Amortecimento para cumprir à Companhia de Comércio Comet. Mando uma carta assim que possível.

— Molly, querida, vamos logo então — disse Vovô Weasley. — Teddy vai escoltá-los até Hogwarts.

Teddy Lupin, que amanhecera com os cabelos verde-lima, içou o polegar, sorridente. Tio Percy aprumou suas vestes e cobriu sua careca com um chapéu coco.

— Eu também os acompanharei. É meu dever como Chefe do Departamento de Transportes Mágicos garantir que a viagem seja feita em um veículo seguro e devidamente regularizado com as normas do Ministério.

Alvo sentiu um aperto desconfortável no peito em ter que se despedir dos pais e da irmã, afinal, só iriam se reencontrar no verão (ele tinha prometido passar as férias de Páscoa estudando).

— Não se preocupe com a sua defesa em Hogwarts, estou tratando de tudo. — Tia Hermione parecia confiante.

— Até, Alvo, cuide-se — disse Vovó Weasley abraçando-o fortemente.

— Nos vemos em breve, rapaz. — Vovô Weasley apertou sua mão. — Fique atento com as fadas!

A Sra. Potter dera um beijo de despedia nos dois filhos.

— Bom retorno para vocês. Andem na linha.

Tiago riu pelo nariz.

— Não se preocupe, mamãe, gostamos de levar uma vida pacata.

A Sra. Potter deu uma risada frouxa.

— Pelo menos tente não ficar detido neste trimestre.

— Não fique enrolando seu irmão — advertiu o Sr. Potter bagunçando os cabelos de Tiago. — E vençam aquela Taça de Quadribol, os dois.

Tiago estalou a língua.

— Isso seria fácil se tivéssemos um apanhador decente.

— E terão — acrescentou a Sra. Potter para Alvo.

Tiago fez uma careta e saiu resmungando algo como “queridinho da mamãe”.

— Tchau, Al — disse o Sr. Potter, e o filho lhe retribuiu um abraço. — Tome cuidado, foque nos estudos e fique longe de confusões.

— Pode deixar. — Alvo sorriu triste para o pai.

Lílian apertou os dois irmãos antes de saírem. Quando acabaram as despedidas, Teddy e Percy tomaram a frente do grupo, que arrastava malas e gaiolas até o povoado.

— Teddy, seus cabelos — lembrou-lhe Victoire.

Sem verificar se havia trouxas por perto, Teddy sacudiu a cabeça, alterando cada fio de sua madeixa para um laranja flamejante extremamente parecido com os Weasley em geral.

— Estão todos aqui? Não esqueceram nada? Perfeito. — Tio Percy esticou o braço direito.

BANG.

Dois pneus gigantescos materializaram-se do nada e frearam cantando onde o grupo estava, fazendo as crianças recuarem — Molly e Louis quase caíram de susto. Olhando mais atentamente, Alvo notou que era um ônibus de três andares violentamente roxo com letras douradas no para-brisa indicando: Nôitibus Andante.

Em todos esses anos no mundo mágico, Alvo nunca tomou parte da existência desse tal Nôitibus, mas, à primeira vista, lembrava ser apenas um ônibus comum que ele via constantemente transitando pelas ruas de Londres. Então, quando um rapaz, de cabelos longos e com franja cobrindo os olhos, trajado de roxo desceu, essa impressão desapareceu instantaneamente.

— Bem-vindos ao Nôitibus Andante, transporte de emergência para bruxos e bruxas perdidos. Eu sou Tony Cockburn, o condutor, basta subir a bordo e nós os levaremos para onde quis...

Tony parou de chofre e tirou o cabelo dos olhos, mirando tio Percy com o mais absoluto terror.

— Senhor Weasley... o senhor não nos disse que era dia de inspeção...

— Todo dia é dia de inspeção, Antônio Cockburn — disse tio Percy com severidade. — Entretanto, hoje estarei acompanhando a minha família.

Tony, que Alvo reparou ser um rapaz jovem, fez uma reverência exagerada. Teddy deu um empurrãozinho apressado nas crianças em direção aos degraus. O interior do ônibus era decorado com cadeiras em torno das janelas e bandejas flutuantes com xícaras de chá; Alvo notou que estava praticamente vazio, no momento que trouxeram a bagagem para a frente.

— Parece que você não resolveu o problema das cadeiras bambas, Cockburn — tomou nota tio Percy, quando um bruxo caiu xingando. — É a terceira vez que falo isso.

Tony, apesar do frio, suava profusamente.

— É claro, senhor Weasley, por que você e sua família não se sentam no andar de cima, nas poltronas de chintz?

Todo o grupo subiu para o último andar do ônibus, onde haviam poltronas comidas por traças, mas ainda assim, mais confortáveis que as outras. Alvo, Wayne e Rose se sentaram nas três últimas.

— Eu nunca tinha ouvido falar disso aqui — comentou Alvo.

— Eu já — Rose e Wayne responderam juntos.

A gaiola de Íris foi depositada no colo de Alvo, que começou a remexer no bolso do jeans para pagar o condutor.

— Quanto custa?

— Onze sicl...

Tony se calou abruptamente ao avaliar melhor o rosto de Alvo; lançou um olhar por cima do ombro, mirando Tiago.

— Eu já vi você antes, no jornal... V-vocês dois são filhos... dele!

Alvo sentiu seu rosto queimar e enrubescer.

— Onze sicles, não é?

Tony tirou os cabelos dos olhos e deu uma risada alta e anunciou para todos no andar.

— A viagem é por conta nossa!

As crianças soltaram um arroubo de alegria e bateram os pés no chão. Tony desceu a escada para o próximo andar gritando:

— Pé na tábua, Nicolau!

Com um balanço sinistro, o ônibus começou a se mover, obrigando Alvo a se agarrar com todas as forças na arandela. Wayne foi atirado para trás, arrepiando seus cabelos castanhos e virando sua poltrona, ao passo que Rose foi amparada pelas paredes revestidas de painéis de madeira.

— Definitivamente, eu nunca mais reclamarei de usar Pó de Flu — comentou Alvo, enjoado.

Em torno de meia-hora depois, o ônibus deu um solavanco e Alvo espiou pela janela: havia um porto cercado por um mar esverdeado, onde uma flotilha à vela flutuava serenamente. Com um clangor, Tony tornou a aparecer empilhando bandejas com bules e xícaras, inundando o ar com o cheiro de chocolate quente. Rose olhava com um certo pânico para o condutor sobraçando aqueles objetos com a iminência de queda.

— Não é um pouco perigoso beber chocolate quente sob as condições do ônibus? — questionou Rose ao apanhar uma xícara da bebida fumegante.

— Estamos em Plymouth — explicou Tony. — As estradas costumam ser melhores do que as de Devon.

Contudo, quando o Nôitibus tornou a se movimentar com um estampido, Alvo foi o primeiro a derrubar o chocolate nas calças, fazendo com que a gaiola escorregasse e libertasse uma espavorida Íris, que saiu batendo asas até o ombro de Tiago. Agni, que estava engaiolada, piou indignada ao seu dono, que a libertou para subir no seu outro ombro. Com as coxas queimando, Alvo saltou da poltrona e começou a pular no mesmo lugar; a velocidade do ônibus era tanta que Alvo foi achatado contra a parede. Ele não era o único a ter problemas com a brusquidão do veículo: Teddy, que tinha sua atenção voltada a Victoire e seus lábios, possuía marcas borradas de batom pelo rosto.

Depois que todos já tinham se acostumado com as gingadas que Nicolau, o motorista, dava, foi mais fácil suportar a viagem. Para Alvo era fascinante observar a maneira que o Nôitibus corria pela rodovia, indo por dentro dos carros e saltando um quilômetro de cada vez.

— Melhor viajando aqui do que tendo que aturar os amiguinhos do Malfoy nos importunando — disse Wayne ante a reclamação de Rose.

— Não importa o que eles dizem! — protestou Rose. — Assim que Alvo provar ser inocente, todo o mundo vai pedir desculpas a ele. O que me preocupa é: o que aconteceu com Malfoy?

Alvo, que teve as calças limpas por um feitiço de tio Percy, deu de ombros à pergunta da prima.

— É um tanto previsível. Carver estava lá e o enfeitiçou para que ninguém soubesse que ele estava lá. Só que Chloe o viu, não é?

— Então Chloe está passando por grande perigo — disse Wayne. — Se aquele que está ajudando a Legião a entrar no castelo souber que Chloe viu Carver...

— Não é tão difícil listar os suspeitos — afirmou Rose. — Quem estava na ala hospitalar depois do incidente?

Alvo apertou os olhos, tentando lembrar das silhuetas que vira de sua cama quando acordou depois de ser resgatado por Chloe.

— Bom, Chloe, obviamente. — O menino contava nos dedos. — A Professora McGonagall... Copperfield... Ah! Madame Longbottom apareceu depois.

— Certo, então esses podem ser riscados da lista — disse Wayne, franzindo a testa para lembrar de algum detalhe. — Hum, quem poderia entrar na lista de suspeitos?

Alvo, só para extravasar seu descontentamento, murmurou:

— A Professora Sable, talvez.

Wayne e Rose olharam estupefatos para ele.

— Bom, ela me odeia... — justificou Alvo, acrescentando em seguida. — Brincadeira...

— E a Professora Monet? — sugeriu Wayne. — Ela é uma das únicas pessoas que poderia ter sabotado a poção.

— Que besteira, por que ela faria isso? — Rose deu de ombros. — Não há motivos para algum funcionário ter ajudado um assassino a entrar em Hogwarts bem embaixo do nariz da McGonagall e ela não perceber.

Alvo começou a ter uma desconfortável sensação de que a conversa chegaria a Boxe. Ele custava a não acreditar que o elfo doméstico tivesse alguma relação com um grupo das Trevas, afinal, ele sempre fora muito bondoso em seus encontros. Para sua sorte, o Nôitibus se enfiou em uma viela, desviando a atenção dos amigos.

 As janelas já estavam embaçadas quando Alvo obteve a visão de Hogsmeade, o povoado bruxo vizinho de Hogwarts. Bares, lojas e pessoas enroladas em capas perpassaram pelos olhos de Alvo como sombras difusas. O ônibus, com um tranco, parou cantando e Tony apareceu aos tropeços.

— Chegamos ao destino: Hogwarts!

Tio Percy e Teddy ajudaram as crianças a desembarcar com a bagagem e desceram para se despedir.

— Bom trimestre a todos! — disse tio Percy acenando o seu chapéu depois de beijar as filhas. — Ande logo, Teddy, temos que voltar o mais breve possível.

Teddy, rebeldemente, girou os olhos para o alto. Alvo e Tiago riram daquilo.

— Cuidem-se bem. — Teddy foi apertando a mão dos garotos até chegar em Alvo. — Você principalmente. Fique fora da reta de Malfoy e terá um ótimo período em Hogwarts. Inclusive você, Tiago. Ainda tenho esperanças de que vá se tornar monitor, como eu.

— É claro, a esperança é a última que morre. — E se aproximou do ouvido de Teddy, depositando um caramelo em sua mão. — Para tirar o bafo na hora de beijar a Victoire.

Teddy sorriu bondosamente ao garoto, que o deixaram a sós com a prima mais velha.

— Eles formam um belo casal — comentou Rose, dando uma última olhada em Teddy e Victoire.

— Um dia eu quero conhecer alguém que me ame tanto — comentou Molly. — Ninguém ainda me convidou para o baile, e vocês?

Então as garotas se envolveram em uma conversa — aos olhos de Alvo — muito enfadonha sobre vestidos, dança e baboseiras de meninas, após passarem os portões de Hogwarts. Todos já tinham começado a subir a estrada escorregadia em direção do castelo quando ouviram um ruído de alguém se engasgando seguido de um grito de Victoire. As crianças se viraram depressa e toparam com a cena cômica e terrível da prima dando tapas nas costas de Teddy, que cuspia uma coisa rosa e glutinosa: sua própria língua. Roxanne e Fred caíram na gargalhada ao passo que Alvo encarava aquilo tudo com os olhos arregalados de pavor.

Tiago, com um sorriso travesso de triunfo, parou ao lado do irmão e suspirou animado:

— Nada melhor do que um Caramelo Incha-Língua para ele se lembrar de que eu não vou ser monitor.

Se as crianças tinham achado que voltar mais cedo iria impedir que elas fossem canhoneadas com perguntas ou blasfêmias, elas se enganaram. Dias depois, os outros estudantes retornaram e, assim que tiveram o primeiro vislumbre de Alvo ou Tiago, fecharam a cara ou encostavam os lábios no ouvido do amigo mais próximo para cochichar algo a respeito deles. Como se não bastasse o artigo de Rita Skeeter, uma revista d’A Garota dos Segredos circulava com uma manchete escandalizadora sobre os Potter e o plano para tomar Hogwarts que deixou as gêmeas Goshawk dilaceradas de terror.

— Você não acha mesmo que alguém vai engolir essa, não é? — perguntou Wayne a Alvo enquanto caminhava ladeado por Rose, Chloe, Louis, Ravi e Fergus.

— Concordo — disse Ravi. — Você é tão mal quanto eu sou bom em Poções, Alvo.

A cabeça de Alvo estava prestes a explodir. Agora que tinham à disposição a biblioteca, Rose insistia que eles deveriam pesquisar algo sobre os treze tesouros que tio Gui mencionara no Natal; no entanto, o teste para apanhador aconteceria na tarde do dia seguinte e o garoto nem tinha se preparado. Somando a quantidade de deveres que os professores começaram a passar, ele viu seu tempo tornando-se cada vez mais reduzido.

— Use a capa, saia escondido — aconselhou Tiago durante um intervalo entre as aulas.

— Mas é errado, e se eu for pego? — rebateu Alvo.

Tiago estalou a língua impacientemente.

— Você é mais burro do que um caldeirão. Ninguém vai pegar você se estiver invisível e no campo de quadribol assim que todos estiverem dormindo.

A ideia de Tiago ficou presa dentro de Alvo pelo resto da tarde. Para o irmão, que tinha uma ficha enorme de detenções, aquilo parecia mais fácil que amarrar os sapatos, mas na cabeça de Alvo, o plano estava cheio de furos. Seu receio aumentou ainda mais quando o Prof. Longbottom anunciou no almoço:

— A Profa. McGonagall pediu para avisá-los que, para melhorar a qualidade e segurança da escola, foram contratados auxiliares ao zelador Filch e ao guarda-caças Hagrid. — Os alunos começaram a procurar os tais auxiliares em algum canto do castelo. — Não, não, eles não estão aqui, mas em breve vocês os verão pelos corredores. A Profa. McGonagall também pediu para informá-los de que o sexto andar está inteiramente acessível e livre de perigo.

Os alunos deram assovios e aplaudiram a notícia, mas os três amigos mantiveram-se calados. Rose, com um ar atarantado, empurrou suas torradas goela a baixo e saiu correndo pelas portas de carvalho do Salão Principal.

— Vejo vocês na aula! — gritou.

— Mulheres... — Suspirou Wayne desanimado. — Aula dupla de Poções, eh?

Alvo massageou os olhos.

— Eu não estou muito preocupado com isso agora. — E explicou a ideia que Tiago havia dado sobre treinar à noite.

Wayne se acendeu com a história do amigo.

— Eu sei como ajudar! Mas vai exigir mãos mais habilidosas que as nossas.

Os estudantes começaram a se levantar e caminhar para suas respectivas aulas; Alvo e Wayne, que se esforçaram para ficar nos fundos do tropel de alunos, conversavam em prestações e aos sussurros.

— Como eu vou treinar com o pomo de ouro se eu posso perdê-lo de vista à noite? — questionou Alvo.

— Enfeitiçando outro objeto para substituir o pomo — disse Wayne com um sorriso glorioso no rosto. — Eu não sei fazer, Rose com certeza sabe.

— Ficou doido? — Alvo cortou Wayne. — Rose jamais faria uma coisa dessas, ainda mais quebrando regras em prol do quadribol.

Wayne pareceu desconcertado.

— Então vamos ter de aprender algum feitiço até o jantar — falou sem convicção nenhuma.

Os meninos sentiram um bafo quente na nuca e foram puxados à força por duas manzorras gordas e pesadas. Eles se viraram e ficaram defronte de uma garota corpulenta, sem pescoço e de cabelos negros e oleosos.

— Eu posso fazer isso por vocês. — Sua voz era mais grave que o normal. — Adelaide Runcorn, segundo ano, Sonserina, prazer.

Alvo e Wayne se entreolharam com espanto. Desde quando ela estava ouvindo a conversa dos dois?

— Pode? — Alvo certificou-se de que ouvira bem.

Adelaide Runcorn deu um sorriso que revelou seus dentes da frente anormalmente grandes.

— Posso. — O sorriso desapareceu de seu rosto. — Entretanto, terão de seguir minhas condições.

— Que seriam...? — perguntou Alvo com medo do que viria.

— Eu enfeitiço umas bolas de golfe e você, Potter, terá de ir ao baile com minha amiga, Vera Flint. — Adelaide apontou para uma garota ameaçadora e com cara de trasgo escorada na parede.

Alvo engoliu a seco, mas já tinha a desculpa na ponta da língua.

— Não posso, detenção — falou rapidamente. — É com o Prof. Longbottom, não tem como desmarcar.

— Eu posso resolver isso também. — Adelaide deu de umbros. — Quanto a você, garanhão — continuou fazendo uma carícia nos cabelos de Wayne — terá de ir comigo.

O lábio de Wayne tremeu.

— Eu também não poss...

Wayne, porém, não conseguiu terminar de falar depois de Alvo pisar no seu pé.

— Ele topa — Alvo disse com um sorriso forçado.

— Ótimo! — exclamou Adelaide ameaçadoramente. — Encontrem-me na estátua de Lachlan, o Desengonçado, às oito horas. Façam isso ou eu conto para todo o mundo o que vocês farão.

E assim que Adelaide Runcorn saiu mexendo os quadris no sentido oposto dos garotos, Wayne disparou contra o amigo.

— Que ótimo — disse ironicamente. — Por que eu tenho de ir com aquele brutamontes?

— Porque eu não posso garantir que irei com a amiga dela — explicou-se Alvo. — E se eu furar o encontro, além de sermos delatados, ela irá me esmagar como um inseto!

Mesmo de acordo com a situação, Wayne ficou de cara fechada com Alvo durante as duas aulas de Poções. A maioria dos alunos da Sonserina — que já eram acostumados a zombar de Alvo — também ficaram de cara amarrada com o garoto, todos, obviamente, influenciados pelas notícias de jornais. De quebra, Alvo foi o que obteve melhor resultado novamente preparando uma Poção do Sono Simples que fez a Profa. Monet dormir nos últimos minutos de aula, sendo despertada pela sineta.

— Que cara horrível — comentou Rose a Wayne após serem dispensados.

Alvo lançou um olhar do tipo “coopera-por-favor” ao amigo.

— Duas aulas de Poções, ninguém merece — mentiu Wayne.

Rose, no entanto, parecia ansiosa para contar algo aos meninos.

— Vocês não sabem o que eu descobri — anunciou.

— Não mesmo, você sempre sai sem dizer aonde vai — reclamou Alvo.

Rose ignorou-o.

— Fui ao sexto andar — sussurrou para os garotos. — A Sala de Espelhos não está mais lá.

Alvo e Wayne franziram a testa sem entender nada.

— Significa que foi destruída? — perguntou Alvo inocentemente.

— Não, tenho certeza — afirmou Rose. — Acredito que ela foi disfarçada para que ninguém tente entrar nela até que seja a hora de destruí-la.

Alvo abriu a boca para contrariar a prima, mas foi interrompido por Wayne.

— Faz sentido — disse. Alvo ficou revoltado. — Lembram o que Tiago nos contou durante as férias? A Sala de Espelhos estava cercada de armadilhas, como um forte. O próprio Copperfield que montou. Isso quer dizer que a Profa. McGonagall não quer que ninguém entre .

— Foi o que acabei de dizer — falou Rose com impaciência.

— Não, você não está entendendo — Wayne balançou a cabeça. — Na noite em que a Sala apareceu para Alvo e eu, foi estranho, como se topássemos com um corredor fantasma, não é? — Alvo confirmou. — Então vieram os corvos e Malfoy. Por mais que tenha havido toda essa confusão, ninguém fez nada para tentar destruir a Sala de Espelhos, pelo contrário, aurores foram trazidos para nos manter longe dela até que uma fortaleza fosse suficientemente boa para evitar que alguém chegasse perto.

Rose mordeu o lábio, pensativa.

— Você está insinuando que a Sala de Espelhos nunca fora algo das Trevas, mas um plano da McGonagall?

A ideia toda ecoava como algo absurdo na cabeça de Alvo; Wayne, em contrapartida, assentiu.

— É uma questão de lógica — continuou Wayne. — Hotwan estava atrás do Antaglifo no Gringotes, porém não conseguiu arrombar o cofre. Anos depois, ele some sem ninguém saber como e se entrega às autoridades. Coincidentemente, um inominável começa a trabalhar em Hogwarts a mando do ministro da Magia e, mais coincidente ainda, ocorre toda essa história da Sala de Espelhos. Estão entendendo?

Alvo ficou boquiaberto quando um pensamento atravessou sua mente.

 — Então no momento em que Hotwan saiu da prisão, o Ministério ficou com medo de que ele fosse ao Gringotes novamente, por isso enviaram Copperfield para cá: para esconder o Antaglifo.

Wayne balançou a cabeça em concordância.

— Genial — surpreendeu-se Alvo.

Rose ainda não parecia cem por cento convencida.

— E quanto ao Espelho de Apate? — questionou. — Se Hotwan pode viajar pelos espelhos, estão levando-o direto ao ponto.

— Não exatamente — disse Wayne. — À princípio, sim. A Sala estava totalmente desprotegida, ainda em fase de testes, se assim posso colocar. A principal falha foi escancarada quando Chloe viu Carver, o espião da Legião, no castelo. Então eles criaram a fortaleza, impedindo que alguém se infiltrasse lá. Não é à toa que, quando Carver voltou, deve ter tentado entrar na Sala e foi embora no momento em que se deparou com o nível de proteção. Se fosse fácil entrar na Sala através do Espelho de Apate, Hotwan já teria feito. Contudo ele é esperto o suficiente para saber que, se ele tentar invadir, algo terrível estará esperando por ele. Lembram do que estava escrito em Mitologia trouxa na perspectiva bruxa? Apate é o espírito do engano, ou seja, McGonagall e Copperfield usaram a Sala como armadilha para Hotwan ou qualquer outro. Ao invés de achar o Antaglifo, encontrará algo muito ruim.

Alvo sentiu um calafrio percorrer a espinha. Precisava falar com Boxe — urgentemente.


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Notas finais do capítulo

E aí, gente o que acharam do capítulo? Bom, ruim? Expressem-se, eu quero lê-los. :)

Curiosidade do capítulo: A cena do Caramelho Incha-Língua foi inspirada num trecho do livro Cálice de Fogo.

Espero vocês nos comentários!

Até o próximo sábado!