Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 20
Capítulo 20 — Má Fé


Notas iniciais do capítulo

E aí, galerinha do mal, beleza? Espero que sim.
Tá ficando meio enjoativo esse papo de "desculpe pela demora", então vou direto ao ponto. Feriado não tive tempo pra escrever e semana passada fui tratar de trâmites para meu emprego. Sim, provavelmente (com certeza), eu não terei tempo grande pra escrever, mas eu prometo não abandonar a fanfic, então não se preocupem que eu sempre vou postar, beleza?
Boa leitura! :)



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ALVO ACORDOU CEDO NA MANHÃ SEGUINTE. Embora ele e Tiago preterissem o Baile de São Valentim ao quadribol, os garotos iriam com a família ao Beco Diagonal. No caso dos primos, todos voltariam com trajes e vestidos novos para utilizarem no baile, ao passo que Alvo teria a oportunidade de escolher uma vassoura nova.

— Uma Cleansweep, o que acha? — sugeria Wayne, ladeando com Alvo e Tiago, os três escarafunchando a revista Qual Vassoura? — Não, não, que tal a Starsweeper XXI, parece boa.

Wayne não era um grande especialista quando se tratava de quadribol.

— A Firebolt Suprema... — disse Alvo enlevado. — Eu daria tudo por uma dessas.

— É uma vassoura de respeito, a Firebolt — comentou Tiago. — Contudo, meu caro irmão, você ainda é um mero aspirante, por que não escolhe uma vassoura mais razoável como a Turbo XXX? Ela é tão boa quanto as outras, melhor que a Thunderbolt VII do Dencourt.

— Por que será que Dencourt pediu demissão? — perguntou Wayne.

— Ele e o Glascott não se davam muito bem. — Tiago deu de ombros. — Ele foi ótimo no teste, mas péssimo durante os treinos. Sean acha que ele trapaceou, mas, cá entre nós, Dencourt tinha um cérebro tão grande quanto uma noz.

O Sr. e a Sra. Potter, assim como o resto dos tios e tias, apareceram logo de manhãzinha n’A Toca. Por mais que pontuassem alguns bocejos aqui e ali, todos estavam eufóricos com o fato de poderem comprar vestes novas para o baile. Como o convite não especificava o caráter das roupas, as crianças se sentiram ainda mais confortáveis — e agradecidas — de não usarem vestes muito formais. Os adultos pareciam mais eufóricos do que as crianças.

— No Baile de Inverno eu usei um vestido azul tão lindo — comentou tia Hermione, procedido de um suspiro. — Foi uma noite perfeita.

Tio Rony tingiu de púrpura.

Perfeita. — O bigode em seu rosto trepidou. — Só porque foi com o Vitinho, não é? Se tivesse ido comigo não teria sido?

Tia Hermione se esforçou muito para não rir.

— Rony, já faz vinte e três anos! — protestou contra o marido.

Tio Rony cruzou os braços.

— Mas parece que nada mudou para você. 

Rose, diferentemente dos demais, não se mostrava nem um pouco eufórica quando Dominique perguntava se ela já arranjara algum par.

Depois que todos comeram seus sanduíches de bacon e apanharam seus casacos, Vovó Weasley posicionou seus netos em uma fila em frente da lareira, segurando um vaso de flor.

— Acho que será suficiente para todos — afirmou ,espiando no interior do vaso. — Victoire e Teddy podem aparatar junto dos adultos. Louis, querido, venha primeiro.

— Hóspedes primeiro, querida! — disse Vovô Weasley com entusiasmo e dando uma palmadinha no ombro de Wayne.

Wayne parecia um pouco contrariado e nervoso com a escolha do meio de transporte. Alvo nunca ouvira o amigo mencionar se já tinha viajado pela Rede de Flu antes, mas resolveu não perguntar naquele momento — para um garoto inteligente como Wayne, poderia soar ofensivo.

— Lembrem-se, nos vemos todos na Madame Malkin — avisou Vovó Weasley. — Alvo, você vai logo depois então.

Assim que Wayne apanhou e atirou o pó na lareira, as chamas, antes laranja-carmim, ergueram-se num rugido e pintadas de verde. O menino entrou depressa nelas e gritou “Beco Diagonal!”, sumindo com uma crise de tosse.

— Será que ele está bem? — perguntou tia Audrey com um ar preocupada.

— Vou averiguar — disse o Sr. Potter, soltando-se do abraço da esposa.

 Com um rodopio e um estalo, o homem desapareceu no mesmo instante e lugar que realizara o movimento. Vovó Weasley voltou a atenção para os netos, um pouco atônita.

— Bom... Alvo, sua vez.

E ofereceu-lhe o vaso de flores, as mãos tremendo em torno do objeto. Sem pestanejar, Alvo ajeitou a bolsa de pele de briba no pescoço e se serviu do Pó de Flu; o garoto avançou até a margem da lareira e despejou o pó no fogo. Tonitruante, o fogo esmeraldino ergueu-se na frente dele, que recuou um passo para não ser crestado pelas chamas.

— Clareza, cotovelos colados, sem pânico — Alvo repassou as instruções baixinho para si.

Inspirando fundo e já sentindo as cinzas sendo introduzidas pelas suas narinas, Alvo adentrou na lareira e disse:

— Beco Diagonal!

Afogueado pela brisa morna, Alvo apropinquou os cotovelos nos seus flancos e foi atingido por uma rajada de fuligem e borralho antes da conhecida sensação de estar sendo aspirado por um enorme vaso sanitário. Girando rápido e descontroladamente, Alvo tentava fechar os olhos enquanto lembrava-se desesperadamente do último passo: não entre em pânico.

A Sra. Potter sempre fez questão de frisar aos seus filhos que era imprescindível que eles não movessem um músculo durante a viagem pela Rede de Flu ou cairiam na lareira errada. Um esturro alto encheu os ouvidos de Alvo, que desejava que aquilo acabasse o mais rápido possível para que o café da manhã se mantivesse em seu estômago. O vento frio massacrava o rosto dele, ao passo que milhares de lareiras difusas perpassavam diante de seus olhos; seu corpo começou a desacelerar suavemente até Alvo parar alinhado à uma lareira muito menor do que a d’A Toca.

Ele mal tinha posto a cabeça para fora quando foi surpreendido por um urro de prazer soltado por Neville Longbottom.

— Alvo! Que presença agradável! — Neville encarou o seu rosto cheio de fuligem. — Problemas com o Pó de Flu?

— Não, a viagem foi tranquila.

O lugar que Alvo desembocara já era conhecido por ele: o Caldeirão Furado, o popular bar e hospedaria bruxa chefiada por Neville e Ana Longbottom. Depois de ser ajudado e espanado pelo padrinho, Alvo viu a figura de Wayne acenando em sua direção, próximo aos fundos do pub.

— Seu pai veio me ver — contou Wayne. — Rá! Até parece que eu iria me perder.

Neville colocou as mãos nos ombros dos meninos e os guiou para fora do bar, saindo no pequeno pátio que daria acesso ao Beco Diagonal. Alvo já estava habituado com o que aconteceria naquele momento, logo não se surpreendeu com o fato de seu padrinho bater em seletos tijolinhos na parede com sua varinha. A cada toque, um ruído começava e os tijolos se retorciam até um arco se formar, enchendo-os com a visão das ruas tortuosas do Beco Diagonal.

— Boas compras, rapazes — desejou Neville. — Acredito que Harry já esteja a caminho da Madame Malkin, então não demorem para chegarem lá.

Alvo e Wayne agradeceram e se despediram do Professor Longbottom — como se acostumaram a chamá-lo.

Não era um dia bonito em Londres. Por mais que a neve já tivesse parado de cair, o chão continuava escorregadio e elfos domésticos com togas roxas do Ministério da Magia varriam as calçadas e tiravam os flocos de gelo acumulados. O céu, entretanto, ganhara um pouco de luz e agora estava em um branco leitoso e agradável, a ponto de tirar famílias do conforto de suas casas para realizarem compras no Beco Diagonal um dia após o Natal — quando os preços caíam abruptamente.

— Aquela ali é a loja do meu pai — disse Wayne com orgulho, apontando para uma espécie de bazar abandonado. — Ainda está fechado, é claro, meu pai ainda não voltou da Rússia.

Alvo se aproximou da Belchior Eviecraddle (“Artigos de Segunda para Gente de Primeira”). Os vidros embaçados dificultavam enxergar o que tinha lá dentro, mas Alvo conseguiu avistar a imagem de louças empoeiradas, roupas desbotando, quinquilharias e muitos caixotes.

— Parece bem interessante — disse Alvo com brilho nos olhos. — Quando vou poder conhecê-la?

— Assim que meu pai retornar — falou Wayne. — No caso, já estaremos em Hogwarts, então só nas férias de verão mesmo. Vamos andando.

Durante o caminho à Madame Malkin, Alvo e Wayne toparam com alguns colegas de Hogwarts, como Rufo Hopkins e Arnold Finch-Fletchey, que se limitaram em apenas dar um aceno para Alvo antes de perguntar a Wayne com quem ele iria ao baile.

— Já pensou em ir com Mandy Johnson? — sugeriu Arnold. — Lufa-Lufa, segundo ano.

— Ainda estou pensando — disse Wayne. — Talvez eu vá sozinho.

— A escolha é sua. — Rufo olhou para os lados. — Só não deixe o pessoal da Sonserina saber disso ou irão te infernizar.

Os dois amigos continuaram a atravessar a calçada de pedras, Wayne evitando tocar no assunto do baile a não ser para zombar dos colegas que estavam eufóricos com a chegada do evento.

— Ao que parece você é o único que vai e não está empolgado — falou Alvo parando à porta da Madame Malkin e espiando pela vitrine. — A loja está lotada.

— E não é à toa, as vestes de festas estão pela metade do preço.

Alvo e Wayne descolaram o nariz da vitrine e se viraram, deparando com Chloe Bridwell enrolada em um casaco e ladeada por um homem alto e de mãos e pés compridos com um semblante um tanto rijo, e uma mulher magra de nariz pontudo e de olhos grandes e castanhos — os quais Chloe herdara.

— Estes são meus pais — Chloe apresentou-os aos amigos. — Pai, mãe, estes são Wayne Eviecraddle e Alvo Potter.

O Sr. Bridwell olhava com um certo repulso para os garotos, mas apertou a mão deles.

— Conrado Bridwell.

A Sra. Bridwell, pelo contrário, mostrou-se muito mais simpática.

— Então vocês são Alvo e Wayne! — Seus olhos faiscavam de excitação. — Prazer, sou Anabela. Chloe me contou tudo sobre vocês e suas... aventuras... E onde está a garota, Chloe?

— Boa pergunta. — Chloe se voltou a Alvo e Wayne. — Rose não veio com vocês?

Alvo conseguiu se desvencilhar do olhar Sr. Bridwell.

— Está vindo. Na verdade, toda a minha família está vindo comprar roupas novas.

— Que excitante! — exclamou a Sra. Bridwell. — Ouviu isso, Conrado? Harry Potter está vindo nos conhecer.

O Sr. Bridwell soltou um ronco que soou mais parecido com um rosnado de um rottweiller. Para sorte de Alvo, a multidão foi abrindo espaço e ele percebeu rapidamente que se tratava de uma procissão que o Sr. Potter recebia em lugares públicos. Estava na cara que nem ele, nem Alvo, nem nenhum dos parentes estava confortável com a situação. Após algumas tomadas de aplausos, o Sr. e a Sra. Potter conseguiram alcançar Alvo e Wayne.

— Com licença, Sra. Potter, eu gostaria de ir ao Gringotes sacar alguns galeões que meus pais me deixaram para ocasiões como esta — disse Wayne.

— Não se preocupe, Wayne — tranquilizou-o a Sra. Potter. — Harry e eu estamos de acordo em pagar vestes novas para você, como um presente.

Wayne arregalou os olhos.

— Não, não, eu não posso aceitar — recusou.

— Acredite, é de coração. — O Sr. Potter sorriu.

Wayne sorriu de volta, corando as bochechas.

— Obrigado, então.

O Sr. Potter, pela primeira vez, notou a presença dos Bridwell.

— Ah, pai, mãe, ãh... estes são o Sr. e a Sra. Bridwell e esta é Chloe, minha eh... amiga... — Alvo fez questão de frisar o vínculo entre Chloe e ele antes que sua mãe começasse a bombardeá-lo com perguntas constrangedoras.

— Muito prazer. — A Sra. Potter apertou a mão dos pais de Chloe. — Alvo, por que não se junta a Tiago e os outros lá dentro? Se quiser pode escolher alguma roupa nova também.

— Eu também vou com eles, mamãe — disse Chloe.

O Sr. Bridwell estreitou os olhos.

— Claro, Chloe, vá — respondeu a Sra. Bridwell olhando com admiração os pais de Alvo.

As três crianças entraram juntas na lojinha. Como Alvo havia apurado, estava realmente bem mais cheia do que o comum, a maioria dos presentes eram alunos de Hogwarts caçando vestidos e vestes para usarem no Baile de São Valentim. A movimentação era tão incomum que Madame Malkin contratara elfos domésticos para auxiliá-la. Encontrar os primos foi algo bem mais simples do que eles imaginavam, uma vez que era necessário apenas localizar um aglomerado de cabeleiras ruivas reunidas. Dominique e Molly estavam com muitas peças penduradas no ombro, enquanto Louis procurava timidamente alguma roupa em meio das araras.

Sentada a um banquinho próximo dos provadores, Rose mirava cada peça de roupa com certa apatia.

— Alô — Rose cumprimentou-os quando os amigos se aproximaram.

— Por que não está escolhendo seu vestido? — questionou Alvo.

Rose acariciava o próprio braço.

— Não vou mais ao baile.

— Quê!

Rose estalou a língua.

— A época de provas já está chegando, não posso perder tempo com festas...

Chloe girou os olhos.

— Rose, pare de ser dramática — disse sem rodeios. — Você não pode deixar de viver o presente. Não é porque ninguém te convidou ainda que você deveria ficar assim.

Rose pareceu estupefata com a última colocação.

— Quê! Eu... nunca, jamais ficaria triste por isso. — Ela cruzou os braços. — Não preciso de ninguém para me divertir em um baile.

Chloe abriu um sorriso satisfeito.

— Esta é a Rose que eu conheço. — E estendeu a mão à amiga. — Vamos escolher nossos vestidos.

Segurando na mão da amiga, Chloe levou Rose até uma das araras, deixando Alvo e Wayne sem entender absolutamente nada. Os garotos ouviram um suspiro nas suas costas; eram Tiago, Carl e Alaric.

— Mulheres... — Carl balançava a cabeça.

— ... são malucas... — acrescentou Tiago.

— Mas o que seríamos sem elas? — Alaric lembrou.

Tiago riu de desdém.

— Eu não sei vocês, mas eu continuaria sendo alto, bonito, engraçado, atlético...

— ... e mentiroso — caçoou Alvo.

— Não me venha com ironias, irmãozinho — disse Tiago com um sorriso malicioso. — Você também está seguindo os meus passos. Detenções, notas ruins, saindo escondido à noite. Parece que o filhinho perfeito da mamãe não é tão perfeito assim, hein?

— Não enche — Alvo sentiu o rosto arder.

Tiago deu uma palmadinha no ombro do irmão.

— Só estou brincando, até parece que você é um menino rebelde. Sabiam que ele tem medo dos testrálios?

Alvo ignorou a provocação de Tiago.

— Afinal, os dois cavalheiros vão ao baile? — perguntou Carl a Alvo e Wayne.

— Wayne sim, Alvo não — Tiago respondeu por eles.

— Jura, Alvo, por quê? — Alaric chegou no ponto em que Alvo não queria falar.

Tiago continuou a intermediar as respostas.

— É como disse, meu irmão está seguindo meus passos. — Havia um certo orgulho na voz de Tiago. — Glascott o convidou para fazer teste para apanhador mas a McGonagall impôs a mesma condição do baile que eu.

Carl e Alaric se demonstraram atarantados com a ideia.

— Então você foi convidado? — admirou-se Carl. — Glascott com certeza vai colocá-lo na equipe, você voou bem naqueles treinos.

— Obrigado — disse Alvo com humildade. — Mas terão alunos mais velhos do que eu, então não sei se tenho tantas chances assim...

— Ah, fala sério! — entrecortou-o Alaric. — Os únicos candidatos são Miguel Hammer e Ralph Butland, com certeza você consegue a vaga. Qual a sua vassoura?

— Ele não tem — Tiago refutou novamente. — Papai vai comprar uma nova.

— E já tem ideia de qual será? — Carl interpelou curioso.

Desta vez Tiago deu margem para o irmão falar.

— Uma Turbo XXX, provavelmente.

Alaric e Carl se olharam com espanto.

— Uh... — assoprou Carl.

— Uma Turbo XXX é realmente boa — comentou Alaric. — Para vencê-la só uma Firebolt mesmo.

Madame Malkin, uma bruxa baixa e gorda apareceu com um sorriso no rosto.

— Olá, queridos, já foram atendidos?

Alvo deu um passo para trás — ele não precisava de um traje para festas novo. Wayne, Alaric, Carl e Tiago acompanharam um elfo doméstico com orelhas de abano para ajudá-los a acertar o tamanho das roupas. O Sr. Potter apareceu logo depois para fazer companhia ao filho do meio.

— Onde está Lílian? — Alvo perguntou quando o pai se juntou a ele.

— Com a sua mãe — disse o Sr. Potter. — Estávamos conversando com os pais de sua amiga. Boa gente, os Bridwell.

— Hum — Alvo resmungou em resposta. — É, eles foram gentis conosco...

— O que acha de darmos uma escapada na Artigos de Qualidade para Quadribol?

Discretos, o Sr. Potter e Alvo saíram da lojinha, examinando com fascínio nos olhos as vitrines dos estabelecimentos. Era impossível não se encantar com as bizarrices do Boticário, como baços de morcego, misturados com coisas simples, como tabletes de manteiga. Uma das lojas que mais chamava a atenção do garoto era a Broomstix, um lugar bem ajeitado e frequentado pela mais alta classe. O mostruário estava estampado com o pôster de Noriko Sato, apanhador da Seleção Japonesa, voando no seu novíssimo modelo de Yajirushi.

— Pai, por que nós não damos uma olhada na Vassourax? — interpelou Alvo sem tirar os olhos da loja.

— Pelo mesmo motivo que nós fazemos compras na Madame Malkin e não na Talhejusto e Janota — falou o Sr. Potter. — É um lugar para almofadinhas.

Alvo deu uma risadinha frouxa. Afinal, a família Potter também era muito rica — talvez a mais rica e famosa do país –; isso não fazia dele um almofadinha? Possivelmente, Alvo pensou, mas ele nunca se comportou como um, apesar da maioria dos amigos de seus pais serem da elite da sociedade bruxa. O Sr. Potter sempre agira com simplicidade, mesmo com os olhares vidrados de admiração que recebia ou os cumprimentos inesperados no meio de lugares públicos. A fama e o sucesso nunca o fizeram abandonar sua essência, então por que o menino deveria deixar ser consumido por essa linha de raciocínio?

A Artigos de Qualidade para Quadribol estava decorada com manequins com a grife dos times da Liga Britânica e Irlandesa, destacando-se o União de Puddlemere, os Pegas de Montrose e os Morcegos de Ballycastle (atuais campeões da liga). O bruxo vendedor, ao ver a entrada do Sr. Potter com o filho, quase caiu para trás.

— Seja bem-vindo, Sr. Potter — disse enquanto sacudia a mão do homem. — Veio comprar algum kit para o senhor?

— Não, hoje não, Silas, preciso de uma vassoura para meu filho — falou o Sr. Potter abraçando o ombro de Alvo.

O bruxo fitou Alvo.

— Gárgulas, estão cada dia mais parecidos. — Silas abriu um sorriso que mostrou seus dentes amarelados. — Os filhos são uma bênção mesmo... Bom, que modelo de vassoura o senhor está atrás?

Alvo olhou de soslaio para o pai, que deu um aceno recatado.

— Uma Turbo XXX — Alvo entoou.

Os olhos bonachões do vendedor faiscaram e ele foi direto ao depósito da loja. O Sr. Potter e Alvo ouviram um sussurro às suas costas.

— Vamos embora, não vale a pena.

Os dois giraram os calcanhares, encontrando uma pequena família parada à porta. O homem, alto, de rosto pontudo, estava ao lado da mulher, de linhas de expressão draconianas, segurando nos ombros de seu filho, uma criança pálida, de cabelos louro-brancos e olhos cinzas. Alvo conhecia o garoto: Scorpius; entretanto, ele nunca o vira num estado tão ruim quanto aquele. Havia perdido alguns quilos, as olheiras estavam mais fundas e escuras, dando-lhe um ar descarnado. Era uma das visões mais tristes e assustadoras que Alvo já tinha se deparado, nem o cadáver de Yancey era tão desalmado quando o que restara de Scorpius Malfoy.

A Sra. Malfoy e o Sr. Potter se encararam por alguns instantes.

— Algum problema? — O Sr. Potter se manteve calmo. — Draco?

O Sr. Malfoy, que era tão claro quanto sua esposa era morena, não conseguia mirar diretamente no olho do Sr. Potter, de modo que Alvo pôde sentir o medo em torno do homem como um fedor à quilômetros de distância. Ainda assim, o Sr. Malfoy segurou nas vestes da sua mulher.

— Astoria... seja razoável... você tem certeza...?

A Sra. Malfoy olhou o marido como se o amaldiçoasse por dentro. Instantaneamente o Sr. Malfoy parou de falar.

— Na verdade, há. — A mulher chamada Astoria dirigia-se ao Sr. Potter. — E você sabe qual, Potter.

O Sr. Potter não se deixou abalar pelas palavras da Sra. Malfoy.

— Não sei do que está falando, contudo, acredito que seja um grande problema para fazer com que vocês saiam atrás de mim.

Astoria tartamudeou ofendida. O Sr. Malfoy tomou as dores da esposa.

— Potter, não estamos aqui para brincadeiras. A situação é grave. — Então o Sr. Malfoy mirou nos olhos de Alvo. — Você tirou a memória do meu filho, não foi?

Alvo, entretanto, estava fitando Scorpius, que parecia estar com os pensamentos paralelos à discussão.

— Não, claro que não.

— ESTÁ MENTINDO! — berrou Astoria, com lágrimas nos olhos.

— Astoria, acalme-se — apaziguou o Sr. Malfoy abraçando a esposa. — Potter, diga ao seu filho que fale a verdade!

Silas, o vendedor, tinha retornado apressadamente com a Turbo XXX em mãos. Não só ele tinha se reunido, como um pequeno amontoado de pessoas apareceu na porta da loja para descobrir o motivo da gritaria. O Sr. Potter observava aquela cena com repúdio nos olhos.

— Depois de tudo o que houve, Malfoy, você ainda tem coragem mesmo de duvidar da minha família? — Então o Sr. Potter soltou uma risada de cruel ironia e ergueu o punho direito, revelando uma cicatriz. — Está vendo isso aqui? Não devo contar mentiras, Draco, uma lição dolorosa que parece que você ainda não aprendeu.

A Sra. Malfoy se libertou dos braços do marido.

— Não fale assim! — vociferou. — Você não sabe o quanto que nós sofríamos e ainda sofremos por erros que não foram nossos.

Uma ruga surgiu entre as sobrancelhas do Sr. Potter.

— Sofrer por algo que eu nunca escolhi viver? Sei bem como é.

A Sra. Malfoy alisou os cabelos de Scorpius.

— Olhe bem para o rosto dele, querido... Tem certeza de que foi este garoto que lhe atacou?

Scorpius pareceu ter despertado de um sono profundo. Estreitando seus olhos, mirou Alvo com um brilho demente. Depois de alguns segundos, o menino voltou-se para a mãe com a voz revigorada, a voz que Alvo estava habituado a ouvir nos corredores do castelo.

— Tenho. Foi ele.

Alvo sentiu o ódio viajar pelo seu corpo como um veneno irrevogável de uma serpente pronta para dar o bote. A Sra. Malfoy sorriu satisfeita e acolheu o filho num abraço amoroso.

— Você não acredita nele, não é, pai? — Alvo estava à beira do desespero.

Com toda a certeza do mundo, Harry Potter respondeu:

— Não. Acredito em você. — O Sr. Potter examinou as expressões dos Malfoy. — Draco, confie nele também.

O Sr. Malfoy fechou a mão ao lado da coxa.

— Contra fatos não há argumentos — Astoria protestou. — A Veritaserum, a poção da verdade mais poderosa, foi usada nele. Não tem como meu filho estar mentindo.

O Sr. Malfoy silenciou a sua esposa. Pela sua fisionomia, estava perto de começar a gritar, inspirando fundo várias vezes com o olhar fixo no Sr. Potter.

— Desde o final da guerra eu venho perdendo tudo. Amigos... dinheiro... — comentou brandamente. — Até eu conhecer minha esposa e ter meu filho. Foram conquistas que me deram disposição para mudar, de reescrever uma história para os Malfoy. Uma história digna.

— Eu posso ajudá-lo... — disse o Sr. Potter com clemência.

— Não, não pode — falou o Sr. Malfoy com firmeza. — Somente eu, minha esposa e meu filho podemos fazer algo em nome da família. Não queremos mais problemas, queremos justiça, Potter, uma nova chance. Se o seu filho diz ser inocente, prove. Mas jure por tudo, para mim, que encontrará a pessoa que está tentando tirar o bem mais precioso que eu consegui.

O Sr. Potter se aproximou de Draco Malfoy.

— Eu prometo que vou encontrar.

Ele estendeu a mão para apertar a de Draco, mas o Sr. Malfoy não a apertou. Dando as costas ao Sr. Potter, os três Malfoy avançaram para a saída, onde as pessoas começaram a se dispersar.

Alvo pensou que o seu pai estaria rubro de tão furioso com o que tinha acontecido; no entanto, quando o encarou de novo, encontrou um sorriso no canto de seus lábios.


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Notas finais do capítulo

E então, que acharam desse reencontro marcante entre Harry e Draco? Eu, particularmente, estava muito ansioso para escrever essa cena. Enfim, quero saber o que vocês acharam. Sem timidez! Podem chegar metendo o pé na porta sem dó. Vamos criar teorias juntos! Quem atacou o Malfoy? O Alvo vai ser inocentado?

Ah! Tenho que fazer um anúncio importante: a fanfic vai ganhar um... um... um... Não vou falar agora. Vou deixar vocês curiosos, mas já adianto que é um surpresa que será anunciada nos próximos capítulos, hein. u_ú

Curiosidade do capítulo: O título deste capítulo é uma referência à tradução do sobrenome do Draco. Malfoy, em francês, significa "má fé".

Até o próximo capítulo!

Att,
Tiago



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