Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 13
Capítulo 13 — O Estigma da Morte


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente, tudo bem? Espero que sim.
DESCULPEM PELO ATRASO. Eu não abandonei a fanfic nem nada, só estava com a internet ruim para postar. Mas está tudo resolvido e aqui está o capítulo que, na minha opinião, está bem empolgante. :)
Muito obrigado pelo apoio que você vem me dando, estamos quase chegando aos 100 comentários!
Bom, chegou a hora de saber as consequências do artigo da Garota dos Segredos.
Boa leitura!



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A PERIPÉCIA DE ALVO E WAYNE SE TORNOU uma lenda naquela mesma semana em Hogwarts. Apesar de muitos alunos acreditarem veementemente no artigo publicado pela Garota dos Segredos, Fred e Roxanne sempre estavam lá para contradizê-los com uma versão modificada dos fatos. Até mesmo Rose se divertia dividindo as luzes da ribalta com os amigos, reiterando sempre o esforço que tiveram para obter informações sobre a Sala de Espelhos (como foi apelidado o misterioso aposento no sexto andar).

O tempo esfriara muito nos últimos dias, mas o clima em Hogwarts estava acalorado com a chegada da temporada de quadribol. No sábado a Grifinória enfrentaria a Sonserina em seu jogo de estreia. Sean estava completamente absorto, passando a maior parte de seu período livre debruçado sobre uma maquete de um campo oval enquanto discutia com Matilda Mumps quando ela deveria realizar o rebate falso — um movimento extremamente complicado, segundo o capitão.

— Ei, Alvo, quando vir o seu irmão, diga a ele que estou procurando-o para discutirmos sobre a cabeça-de-falcão — pediu animadamente Sean, no momento em que Alvo se preparava para descer às estufas.

— Ãh... claro — mentiu Alvo. Não porque queria, mas porque Tiago vinha o evitando desde o dia que contou sua história para o Salão Comunal inteiro.

O menino saiu depressa, aferrolhando o fecho prateado de sua capa sem nenhuma desenvoltura. Quase aos tropeços, topou com Chloe Bridwell no saguão de entrada, o fogo dos archotes faiscando em seus olhos grandes e castanhos. Houve um silêncio constrangedor até o menino dizer:

— Alô.

Alô? — Chloe caçoou. — Você não quer dizer obrigado?

Alvo teve a sensação de que um ovo de avestruz havia entalado em sua garganta. Ele nem havia agradecido a menina por tê-lo ajudado, sequer mencionou-a em suas narrativas. Seu rosto corou de vergonha com o assombro de ser a pessoa mais ingrata no mundo naquele momento.

— Bom... obrigado. — Visto que não havia sido convincente, acrescentou — Por ter salvo a minha vida. Eu não faço ideia o que teria acontecido comigo se não fosse você.

Chloe continuou fitando-o com repugnância.

— ‘Tá — falou. — Me encontre na Torre Oeste depois do jantar. Vá sozinho.

Alvo abriu a boca para questionar, mas Chloe não lhe deu a oportunidade.

— Torre Oeste. Não se esqueça. Agora tenho que ir.

Antes mesmo que o garoto percebesse, Chloe já tinha saído de seu caminho e seguido em direção da escadaria de mármore. Biruta, pensou Alvo consigo. Com receio de se atrasar, atravessou correndo o saguão e a horta coberta de gelo até as estufas, onde uma fila de crianças enfiadas em cachecóis aguardava o Prof. Longbottom.

— Onde você estava? — perguntou Wayne, esfregando as mãos enluvadas.

— Explico mais tarde — respondeu Alvo ao notar que não teria privacidade.

O Prof. Longbottom surgiu chapinhando os pés no gelo, o rosto redondo resplandecendo um sorriso. Piscou para Alvo e tirou um molho das vestes, procurando a chave da estufa número um. A maioria dos colegas gemia de frio.

Depois que todos se aconchegaram, os três amigos tentaram ficar o mais longe do cavalete do professor, mas ele se esforçava exaustivamente para que toda a turma se agrupasse o mais perto para poderem enxergar o tabuleiro fundo de onde rompiam cachos e ramalhetes de flores rosas e brancas.

— Valerianas — explicou o Prof. Longbottom. — Alguém sabe uma propriedade dela?

Como de praxe, a mão de Rose se ergueu.

— As plantas da valeriana são ótimas para combater a insônia — disse, como se tivesse engolido Mil ervas e fungos mágicos. — Elas têm um efeito sonífero e são encontradas na forma de infusões, principalmente.

— Ótimo, Ros... digo, Srta. Weasley — corrigiu-se o Prof. Longbottom. — Mais dez pontos para a Grifinória. Agora, nunca usem esta plantinha em excesso, ela causa alucinações e pode levar à morte. Mas isto é raro — apressou-se em reforçar com o horror dos alunos.

A próxima meia-hora da aula foi dedicada aos estudantes catalogarem todas as características mágicas da valeriana; era o momento ideal para Alvo contar um pouco sobre Chloe — por mais que tivesse que falar em cochichos e prestações.

— E o que será que ela quer? — perguntou Rose, estendendo um legume à valeriana.

— Não faço ideia — respondeu Alvo, encolhendo os ombros.

— Seja lá o que for — disse Wayne —, acho que você deveria confiar nela, não é? Ela salvou a sua vida. — E massageou a cabeça que ainda doía desde o incidente no sexto andar. — Pode ser que ela conheça algo sobre... vocês sabem...

Alvo e Rose se entreolharam, considerando as palavras do amigo.

— Bem, pode até ser — concordou Alvo, apanhando uma cenoura do caixote sobre a mesa. — Mas, sinceramente, o que eu mais quero nesse instante é manter distância de tudo isso. Já arranjei confusão demais e ainda nem é Natal.

— Alvo, você não aprendeu nada na Festa das Bruxas? — Wayne ironizou. — Aquilo foi só a primeira parte da predição. Querendo ou não, você já está envolvido de corpo todo neste assunto, então é melhor estarmos prontos para qualquer coisa que acontecer. Precisamos saber mais, precisamos da ajuda de alguém que as conheceu. Sem ser seu pai — apressou-se Wayne ao ver Alvo se manifestar.

— Quem iria nos ajudar? — contestou Rose, olhando para as vidraças, aborrecida. — Podemos fazer isso sozinhos, ainda não olhamos os livros de História da Magia Recente...

— E aí, que acharam da valeriana? — O Prof. Longbottom se aproximou, fazendo que as crianças parassem imediatamente de falar.

— Muito interessante — admitiu Rose.

— Elas são muito bonitas — Wayne acrescentou.

O rosto redondo do professor, cheio de alegria, virou-se para Alvo, com um quê de esperança em ouvir mais elogios. O menino não tardou em animá-lo mais.

— Incrível — forçou um sorriso.

Mas, quando o padrinho se virou cheio de si para ver como os outros colegas se saíam, Alvo desalinhou o sorriso da cara e, visto que a valeriana não faria nada com a cenoura, escreveu uma anotação no rodapé de seu pergaminho: incrivelmente entediante.

O resto do dia se arrastou lentamente, todos os residentes do castelo loucos para terminarem de jantar e irem às salas comunais quentes e agradáveis relaxar um pouco. O teto encantado do Salão Principal estava escuro e nublado e as quatro longas mesas recheadas de comida.

Alvo mal queria comer. Estava ansioso para ir à Torre Oeste o mais rápido possível, mas precisaria esperar até o fim do jantar, quando a azáfama fosse menor. O menino não parava de mirar a ampulheta que marcava o placar das Casas, desgostoso. A Grifinória estava bem atrás na pontuação, comparado à Corvinal — aparentemente líder da Taça das Casas. Por um momento pensou que seria impossível alcançá-los, principalmente porque a maioria dos seus primos vivia metido em confusões. Molly, por exemplo, perdera vinte pontos depois de transfigurar a esponja de uma aluna da Lufa-Lufa em um ouriço-do-mar.

A única esperança que restara era a Taça de Quadribol, outro título que a Grifinória amargava anos na fila. Desta vez, porém, o time era outro, com jogadores mais jovens e talentosos, segundo um grupo de garotos do sétimo ano.

Quando Alvo mudou a direção de seu olhar para a mesa dos professores, notou que uma das cadeiras estava vazia — a de Merle Copperfield. O menino queria julgar a situação toda como esquisita, só que, ao considerar todos as vezes que o inominável agiu misteriosamente em toda a sua estadia, soube que era apenas uma ação corriqueira de sua parte. Como disse Rose no dia da Seleção das Casas, ninguém sabia o que ele fazia.

Após a refeição, os respectivos aurores e monitores das Casas se levantaram e guiaram os discentes até as salas comunais, como estava virando costume. O mesmo bruxo miúdo de sempre levava a Grifinória pela escadaria de mármore acima, até o sétimo andar, onde garantiria a segurança de todos. Entretanto, existia apenas uma falha nesse sistema: não havia controle algum dos alunos.

— Boa sorte — murmurou Wayne a Alvo, quando o garoto se abaixou e começou a se misturar com os alunos mais velhos.

Foi um desafio e tanto atravessar o tropel de gente sem ter a sensação de que poderia ser pisoteado a qualquer instante, mas Alvo conseguiu escapulir discretamente até o quarto andar absolutamente vazio. Evitando produzir algum ruído, o garoto andou na ponta dos pés, quase correndo. À porta da biblioteca era possível ouvir a voz de Madame Pince reclamando com os alunos:

— Não ouviram o auror? Já é hora de voltar para o Salão Comunal.

Antes que alguém pudesse vê-lo, o garoto percorreu o corredor correndo, sem encontrar Chloe pelo caminho. Já estava começando a desconfiar de que tudo não fosse apenas uma armadilha para se vingar dele por não tê-la incluído na sua história. Alvo estava prestes a dar meia-volta até que ouviu uma risada e o som de alguma armadura caindo no chão.

— Pirraça — sussurrou, desatando a correr novamente.

Com a aproximação das risadas, Alvo não viu outra alternativa além de se precipitar em uma passagem que dava acesso aos degraus de pedra. O menino nunca estivera lá antes e não hesitou, tampouco; subiu a escada em formato de caracol, os tênis vacilando com a camada de gelo que cobria os patamares conforme ele subia.

No ponto mais alto da escadaria havia um vão, ou melhor, uma porta. Uma ventania congelante entrava por ela, porém Alvo não tinha muitas opções naquele momento, logo atravessou-a e desembocou nas ameias da torre, onde duas silhuetas estavam paradas aos murmúrios.

— Que demora, hein, seu dorcas. — Chloe chegou perto de Alvo, os cabelos loiros voando em seu rosto. — Nós já estávamos cansados de esperar.

— Nós... ? — Alvo balbuciou.

A outra figura se apropinquou também e, à luz noturna, o menino reconheceu o rosto do irmão.

— Boa noite, Al — cumprimentou Tiago, moldando seu típico sorriso zombeteiro, sem vestígios de raiva ou rancor.

Os olhos de Alvo passaram pelos dois, sem entender absolutamente nada o que estava acontecendo.

— O que está havendo? — Alvo sibilou. — Por que não me avisou onde estaria?

— Eu avisei — Chloe foi sucinta. — Torre Oeste. Ou você imaginava que iríamos ficar conversando nos corredores enquanto os aurores fazem patrulha?

Pensando melhor, Alvo percebera que sua pergunta fora estúpida.

— E como sabe que não vamos ser pegos?

Tiago se antecipou e puxou de suas vestes um grande pedaço quadrado de pergaminho. Quando o irmão acendeu uma luz na ponta da varinha ele notou na hora que era antiquado, gasto e sem nenhuma escrita nela.

— Sabe o que é isso? — perguntou Tiago, divertindo-se com a curiosidade de Alvo.

— Um pedaço de pergaminho velho — Alvo arriscou ironicamente.

Tiago meneou a cabeça, desapontado.

— Isto, meu irmão, é a maior joia do papai.

Alvo arregalou os olhos, mas abafou um riso em seguida. Era ridículo. Seu pai jamais daria algo tão precioso a um de seus filhos. Por incrível que parecesse, até mesmo uma escova de cabelos poderia ser útil a um auror.

— E como que usa esta maravilhosa joia? — Alvo perguntou em tom de gozação.

Como se esperasse a reação sarcástica do irmão, Tiago tocou o pergaminho com a ponta da varinha e proferiu: Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom. Por um momento Alvo achou que aquilo fosse uma piada, mas quando ele viu, linhas de tinta começaram a se convergir, retorcer, se cruzar até um flabelo se abrir mostrando detalhadamente cada minúcia das propriedades de Hogwarts. Tiago e Chloe riram da cara de espanto que Alvo demonstrava quando letras grandes e adornadas começaram a despontar no alto:

Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas,

fornecedores de recursos para bruxos malfeitores,

têm a honra de apresentar

O MAPA DO MAROTO

— Não... como você...? Peraí, estes aqui somos... nós?

Apertando as pálpebras, Alvo notou que os pontinhos mínimos de tinta agora se mexiam por toda a parte. Um letreiro abaixo desses pontos etiquetava cada ponto, identificando que pessoa era e captando sua movimentação pelos terrenos do castelo. Pirraça, o poltergeist, já não rondava mais o quarto andar, Filch se encontrava parado — dormindo, talvez — no armário de vassouras e até mesmo o Prof. Flitwick estava rotulado em seu escritório. O mais assombroso e hilário para Alvo foi encontrar a si mesmo na Torre Oeste.

— Como foi que conseguiu este mapa? — perguntou Alvo.

— Cortesia do papai — respondeu Tiago.

— Quando que ele te presenteou? — retrucou Alvo, espantado e com inveja.

— Eu nunca mencionei que ele havia me dado — disse Tiago, aprumando a capa.

Meninos — Chloe falou —, estamos sem tempo para confabulações familiares. Viemos falar sobre algo muito mais grave: Rúbia Scarlet.

Alvo ficou lívido. O clima leve que estava pairando pareceu ter sido varrido pela ventania, dando espaço a uma atmosfera mais sombria.

— Eu senti que ela estava lá no sexto andar, na Festa das Bruxas — comentou Chloe.

— Como assim você sentiu? — Alvo replicou.

— Eu senti, oras — disse a menina. — Mas este não é exatamente o ponto. Eu tenho um bom pressentimento a respeito de vocês com relação a isso. É como se... não sei, vocês estivessem amaldiçoados com a marca da Legião Escarlate.

Alvo quase deu um salto, enérgico.

— Você sabe sobre a Legião Escarlate?! — exclamou.

— Chhhh! — Chloe olhou para o mapa. — Sim, sei. Minha mãe me contou sobre eles. É o nome dos seguidores de Hotwan e Scarlet, geralmente são vistos com máscaras de corvos, não sei se já ouviram falar...

— Já, já ouvimos — Tiago confirmou. — Em Godrics Hollow, nas férias de verão, nós os vimos. Presenciamos um assassinato promovido por eles.

— Eu sabia — murmurou Chloe consigo. — Pelo visto é isso mesmo, vocês têm o sinal dela, o Estigma da Morte. — Os irmãos fizeram cara de interrogação. — É uma espécie de marca que eles costumam deixar na próxima vítima deles, não é visível — disse ao ver Tiago erguer a barra das vestes. — Mas também não significa que vocês vão morrer, é algo meio místico, se é que me entendem. Scarlet nunca matava suas vítimas para uma multidão. Para ela, a morte é um rito e não um espetáculo. Contudo, ela não tem piedade. Nenhuma pessoa sobreviveu ainda ao Estigma da Morte. Isso me fez lembrar: como vocês saíram ilesos?

— Estávamos sob efeito de Feitiços de Proteção — contou Tiago, excitado com a explicação de Chloe.

— Menos quando fugimos — completou Alvo.

Chloe suspirou.

— Isto, sem dúvidas, é um grande problema.

— O que é um grande problema? — Alvo tremia, fosse pelo frio ou pelo medo. Procurou os olhos de Tiago, mas o irmão sequer deu atenção; estava animado demais em saber que ele era especial (mesmo que para assassinos).

— A partir do momento que vocês deixaram o Feitiço de Proteção, perderam a imunidade que lhes foi imposto — Chloe explicou, as engrenagens de sua cabeça maquinando. — Bom... existe uma maneira de conseguir se defender, mas... é difícil de se obter. E, de um jeito ou de outro, preciso pesquisar sobre... Mas talvez tenha sido isso.

— Qual é a outra forma? — Tiago perguntou, atônito.

— Chama-se... sujou!

Sujou? — repetiu Alvo. — Que nome bizarro.

— Não, seu dorcas, sujou, olha quem está vindo.

Tiago tornou a abrir o mapa e um quarto pontinho surgiu antes mesmo que ele pudesse dizer quem era. A risada gutural já denunciava.

— Ora, ora, ora. — Pirraça, o poltergeist, surgiu com um balde em mãos. — Veja só quem está por aqui nessa bela noite: o Complô Potter!

Tiago enfiou o Mapa do Maroto dentro do uniforme, a varinha presa entre os dedos.

— Boa noite, Pirraça — cumprimentou-o com uma reverência. — Agora que você já sabe o que estamos fazendo, faça-me o favor de se retirar antes que alguém nos expulse.

Pirraça soltou um guincho de prazer.

— Tsk, tsk. Passeando depois do Toque de Recolher? Tsk, tsk. Acho que deveria contar ao Prof. Flitwick... Ou ir diretamente ao escritório da Profa. McGonagall.

Alvo empalideceu e Pirraça notou, fazendo com que seus olhos cintilassem maldosamente.

— Você não vai fazer isso — afirmou Tiago num tom ameaçador. — Aliás, por que trouxe esse balde?

Pirraça riu prazerosamente.

— Isto aqui? É apenas uma surpresinha. Sabe, o Sr. Copperfield me deu ordens expressas para impedir qualquer pessoa não-autorizada a perambular pelos corredores do castelo fora do horário. Estão a fim de provar?

— Ah, cale essa maldita boca! — exclamou Chloe, puxando a varinha do decote das vestes. — Saia agora antes que eu rogue uma praga contra você!

Foi um grande erro.

— Eu até estava considerando não chamar ninguém — disse Pirraça —, mas pensando bem... INVASORES, ARRUACEIROS, ALUNOS FORA DA CAMA NA TORRE OESTE..

— ... você pediu, Pirraça — disse Chloe, mirando a varinha no poltergeist. — Travalingua!

Um lampejo prateado disparou como uma bala contra Pirraça. O resultado foi incrível e eficiente, porque o poltergeist ficou com a língua presa no céu da boca, impossibilitado de falar. Irritado, atirou o balde vazio em direção da cabeça de Chloe, mas Alvo foi extremamente ágil. Sacou sua varinha de cipestre e ordenou:

Aresto! — E tudo ocorreu na hora “H”. Em vez de desnortear a garota, o impacto soou como se uma almofada a atingisse.

— Muito bem, Al! — Tiago soltou um arroubo. — Estamos sem tempo, precisamos ir agora.

Alvo, no entanto, encarava o céu com admiração, sentindo-se extremamente poderoso depois de obter êxito com o seu feitiço. A força de Chloe puxando o seu pulso foi suficiente para que ele saísse do transe e voltasse para a vida real.

— Se tivermos sorte, ninguém ouviu Pirraça — comentou Alvo, esperançoso.

Os três saíram pela porta que dava acesso à escada helicoidal. Era realmente muito difícil descer com velocidade, já que os degraus de pedra estavam escorregadios e o local era bem estreito. Quando chegaram embaixo, de volta ao corredor do quarto andar, Tiago parou para consultar o mapa e viu um pontinho intitulado como Moody Sable caminhando por ali. Não muito depois, a voz de Pirraça tornou a reboar.

— ALUNOS FORA DA CAMA!

Alvo, Tiago e Chloe colaram o corpo contra a parede e escutaram passos apressados.

— Algum problema, Pirraça? — perguntou a Profa. Sable.

— A senhora é surda?! — respondeu Pirraça, ríspido.

— Seu diabinho! — vociferou a Profa. Sable. — Como ousa falar assim com um professor? Criatura imunda! Suma da minha frente antes que eu... AHHH!

Os garotos esticaram o pescoço para observarem a cena. O balde de Pirraça estava cobrindo a cabeça da Profa. Sable, um líquido verde-amarelado derramado em seu corpo, exalando um forte cheiro de gasolina. Quando ela jogou o balde para longe, revelou-se uma outra pessoa. O rosto idoso e murcho da professora agora se tornara grande e cheio de tumores do tamanho de ameixas.

— Ops... escorregou! — Pirraça deu mais uma gargalhada e sumiu.

— Temos que ajudá-la — disse Alvo com determinação.

— Alvo, não temos tempo — disse Chloe. — Os aurores farão isso logo, logo. Precisamos voltar para o Salão Comunal antes que nos apanhem.

— Vai ter um auror por lá... — lembrou Alvo.

— Eu direi que estava no banheiro e... Ah, coisas de menina — Chloe corou. — Vejo vocês amanhã.

Então a menina tornou a galgar as escadarias. Alvo e Tiago ouviam os gritos e ofensas da Profa. Sable, tateando o ar sem saber para onde ir. Tiago resgatou o mapa e passou o dedo pelos cantos do castelo.

— Por aqui tem uma passagem — falou. — Mas tem uma pá de aurores chegando... Aqui. Ah, não, está muito longe... Bem...

Alvo ficou perscrutando o mapa junto do irmão, a testa suando. Quanto mais demoravam, mais os aurores começavam a se agrupar pelo quarto andar, guiados pelos gritos de socorro da Profa. Sable. O quinto andar estava praticamente vazio, salvo pela presença de Karoliny Smith no banheiro dos monitores.

— Vamos por lá — sentenciou Tiago.

Possuir o Mapa do Maroto era uma arma e tanto para os Potter. Alvo pensava que era impossível diagramar toda a área de Hogwarts. Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas deveriam ser, sem dúvidas, pessoas geniais por conseguirem tal feito. Depois de correrem bastante, Alvo e Tiago chegaram no corredor do quinto andar que, assim como o mapa dizia, estava deserto e silencioso.

Os andares do castelo eram sempre cheios de portas, mas a maioria não representava nada além de um pedaço de madeira; outros, porém, guardavam lugares sem utilidade, como depósitos. As coisas pareciam estar indo bem, até eles passarem pela estátua de Bóris, o Pasmo — um bruxo lendário por ser esquecido — quando os garotos ouviram um som de chicote estralando atrás deles.

— Srs. Potter!

Com o coração batendo rápido, eles se viraram e toparam com uma criaturinha de olhos grandes, voz esganiçada e orelhas de asas de morcego. Trajava uma toga com a insígnia de Hogwarts e carregava uma vassoura sob os bracinhos. Era um elfo doméstico, mas pela admiração e o nariz de cenoura, não era qualquer elfo doméstico, era...

Boxe! — Alvo e Tiago exclamaram em uníssono, abandonando as precauções.

— O que os senhores estão fazendo aqui? — Os olhos do elfo marejavam.

— Nós que perguntamos — rebateu Alvo.

— Boxe trabalha para a Profa. McGonagall, meu senhor, para Hogwarts — disse Boxe. — A Profa. McGonagall é uma boa bruxa, meu senhor, dá ordenado a Boxe...

— OK, OK. — Tiago cortou a história. — Boxe, conhece algum meio de chegarmos ao sétimo andar sem sermos vistos?

Os olhos do elfo se iluminaram.

— Claro que sei, meu senhor! — exclamou enlevado. — Talvez doa um pouco, mas Boxe promete que será rápido.

Alvo engoliu a seco.

— Que seja — disse Tiago. — Faça, por favor.

Tudo aconteceu em um piparote. Alvo teve a sensação de que alguém havia derramado um líquido frio no seu cocuruto e, a partir dali, escorresse em tiras por toda a extensão de seu corpo. Depois que o gelo passou pelos seus pés, o menino baixou os olhos para onde deveriam estar suas coxas, mas encontrou algo muito mais surpreendente a ponto de quase derrubá-lo de costas no chão. Ele tinha assumido a textura dos móveis atrás dele, como se fosse parte do corredor. Não havia outra palavra para defini-lo a não ser camaleão humano.

Boxe sorria debilmente para a frente, mesmo sem ver ninguém.

 — Feitiço Desilusório, senhor — explicou. — Boxe acha muito útil para...

Uma porta que estava perto da estátua de Bóris, o Pasmo, se escancarou.

— Boa-noite — disse Karoliny Smith, fazendo Alvo contrair todos os seus músculos. — Falando sozinho?

— Certamente que não, minha senhora! — Boxe respondeu com um sorriso, varrendo o tapete.

Karoliny balançou a cabeça, indignada, e saiu andando com seu robe amarelo, passando por Alvo como se ele não existisse.

— Genial — sibilou Tiago, assustando Alvo. Quase esquecera que o irmão também estava camuflado. — Bem, nos vemos outro dia. Até mais, Boxe.

O elfo fez uma enorme reverência.

Alvo e Tiago, sem perder mais tempo, saíram andando depressa, sem chamar a atenção para eles. Não tinham certeza quanto tempo duraria o encanto do feitiço. E se durasse eternamente?, pensou Alvo inocentemente. Não era possível. Correram na direção oposta à que Karoliny Smith foi e chegaram ao sétimo andar guarnecido pelo auror miúdo, sonolento. Os meninos só foram parar de correr quando, derrapando, chegaram ao retrato da Mulher Gorda dormindo.

Chifre de unicórnio — disse Tiago. — Vai, vai!

A Mulher Gorda abriu os olhos, mas não viu ninguém.

— Quem está aí?

— Tiago Potter e Alvo Potter — ofegou Tiago. — Abre aí.

— Eu não estou vendo vocês — retrucou a Mulher Gorda.

— Mas está ouvindo — disse Alvo.

— Vocês andaram por onde? Não deveriam estar nas suas cam...

Chifre de unicórnio, chifre de unicórnio, abra logo — suplicou Alvo. O quadro girou para a frente e eles entraram de qualquer jeito na sala comunal vazia, dando um rápido boa-noite e correndo para os seus dormitórios antes que alguém ficasse realmente preocupado pela ausência deles. Por sorte tinham Wayne, Rose, Carl e Alaric para acobertá-los.

Então Alvo trocou suas vestes pelo pijama, bebeu o copo d’água da mesa de cama de Fergus e se enfiou silenciosamente na sua cama, fechando as cortinas. Sua cabeça fervilhava, a adrenalina ainda corria em seu corpo. Mas ele estava lá, deitado inocentemente, sem levantar suspeitas, graças à sorte, graças a Boxe. Estava quase dormindo, pensando em dar um par de luvas ao elfo quando lembrou-se que Impavidum, a palavra entalhada na porta da Sala de Espelhos, estava inscrito no anel de Boxe.

 


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Notas finais do capítulo

E aí, acharam o capítulo empolgante também?

Eu realmente estou gostando do rumo que a fanfic está levando. Depois de tudo o que aconteceu, o mistério parece que está começando a se desenrolar com o Alvo, não é mesmo? Parece que o termo "no lugar errado, na hora errada" vai se justificando.

E vocês estão sumindo, hein! Eu quero saber qual a opinião de vocês, o que vocês acham que vai acontecer com o Alvo. Ou seja, não deixem de comentar, favoritar e clicar em 'Acompanhar História'!

Curiosidade do capítulo: O capítulo não teve ilustração por um bug do Nyah, mas seria um desenho modificado do Pirraça, Harry, Rony, Hermione e Neville feito à mão pela própria J.K. Rowling. Aos que quiserem ver a imagem oficial e um artigo (em inglês) sobre o Pirraça, aqui está o link: https://www.pottermore.com/writing-by-jk-rowling/peeves

Até o próximo capítulo!



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