Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 11
Capítulo 11 — Doces, travessuras e Chloe Bridwell


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente, tudo bem com vocês? Espero que sim.
Estou de volta! Com novidades também, umas boas, outras nem tão boas. Enfim, explicarei tudo para vocês daqui a pouco!
BORA PRA MAIS UM CAPÍTULO! QUEM TAVA COM SAUDADE?
Leiam as notas finais, é EXTREMAMENTE IMPORTANTE.



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SÁBADO AMANHECEU COM GROSSAS GOTAS DE CHUVA fustigando as janelas do castelo. Era impossível dar um passo para fora dos aposentos sem sujar os tênis de lama. Sem mencionar que a água do lago subira tanto que os boatos de que os sereianos estavam raptando os alunos cresceu absurdamente. Os alunos da Grifinória se refugiaram no Salão Comunal, a maioria das garotas com o nariz enfiado na revista rosa e brilhante d’A Garota dos Segredos.

— Essas pessoas não têm nada para fazer mesmo, hein — resmungou Rose.

— Ela é porta-voz das fofocas de Hogwarts — disse Wayne, observando a amiga acrescentar algumas raízes na gaiola de Escavador.

Rose moldou uma careta.

— Ela é uma intrometida, isso sim!

Alvo desceu as escadas do dormitório masculino com um guarda-chuva em mãos.

— Aonde você vai? — perguntou Wayne, recuando a mão quando Escavador mordeu seu dedo. — Na biblioteca não está chovendo.

— Eu sei — disse Alvo. — Vou assistir ao treino da Grifinória.

— Você prometeu que iria à biblioteca conosco! — Rose protestou.

— Eu não disse que não iria — justificou-se Alvo. — Assisto ao treino e depois vou à biblioteca.

— Está chovendo muito lá fora — Wayne tentou convencê-lo.

Em resposta, Alvo ergueu o guarda-chuva. Antes que alguém pudesse impedi-lo, apressou-se em passar pelo buraco do retrato da Mulher Gorda e fez o trajeto para o campo. Não havia ninguém transitando no Saguão de Entrada além de Filch, que dormia escorado na parede com um esfregão, sem a companhia do seu gato-fantasma — cujo o nome Alvo descobrira ser Madame Nor-r-ra — que certamente estava patrulhando os corredores.

O vento estava impiedoso. Se o garoto não segurasse com firmeza o cabo do guarda-chuva, sabe-se lá até onde a tempestade o arrastaria. Na metade do caminho, Alvo já estava um pouco arrependido de sair do quente e aconchegante Salão Comunal. O estádio estava vazio, fora os jogadores que adejavam em suas vassouras; não havia condição de se sentar na arquibancada. Os uivos do vento e o som das vassouras cortando o ar eram as únicas coisas que se ouvia.

— É um espião da Sonserina! — urrou Matilda Mumps quando notou a presença de Alvo.

— Não é, não! — negou Tiago. — É o meu irmão!

— Ah, olá, Alvo! — cumprimentou Sean. — Não está meio chuvoso para você vir aqui?

— Eu só vim assistir ao treino! — Alvo gritou de volta.

O treino da Grifinória era um dos momentos mais prazerosos que Alvo tinha em sua rotina. Ultimamente, os garotos viviam escarafunchando os livros da biblioteca com tanto sôfrego que Alvo esquecera o que era ter um tempo de lazer. Sem mencionar os afazeres que os professores deixavam; quando não estava na biblioteca, estava fazendo as tarefas. Rose, aos poucos, estava pirando de excitação com a descoberta do espelho mágico de Apate. Não queria magoar a prima, mas sabia que, independentemente do que achassem, jamais teriam poder suficiente para provar aos aurores que estavam certos. E, teria de admitir, crianças de onze anos não eram páreas contra os homens-corvos.

A tempestade, por fim, foi apenas um dos motivos para o treino sair um desastre. Com o vento, os balaços produziam um efeito diferente. Carl não parava de proferir ofensas quando as bolas não iam muito longe. A água fazia com que a goles escapasse a todo instante das mãos de Alaric. O garoto reclamava incessantemente que sua luva estava escorregadia.  Daniel Dencourt de fato era o único que não tinha razões para objetar contra a enxurrada, se não fosse o infeliz acidente que acontecera: Violeta Brunner, em uma de suas tentativas de arremesso, deixou a bola escapar da sua mão, acertando um tiro certeiro no nariz do garoto. Sem controle da vassoura, Daniel desceu em espiral até se atolar na lama.

Pelas cuecas sujas de Merlim! — gritou Alaric, pousando ao lado do garoto estirado. — Acho que ele quebrou o nariz.

Daniel se contorcia no chão, as mãos cobrindo o nariz, que derramava um fluxo contínuo de sangue. Violeta e o resto todo time — até mesmo Alvo — aterrissaram para ver o estado do companheiro.

— É melhor ele ir à ala hospitalar — disse Sean. — Brunner, não precisa chorar. Leve-o à Madame Longbottom, não deve ser muito difícil consertar isso... Dencourt, pare de fazer escândalo, venha, eu te ajudo a levantar...

Depois de muito esforço, Daniel foi levado para dentro do castelo, o nariz inchado e sangrando profusamente. Sean, pouco conformado, colocou as mãos nos quadris e deu uma olhada em volta no time.

— Bom, estamos sem um artilheiro e sem o apanhador — disse sem ânimo. — Eu posso substituir a Brunner, por enquanto, mas não posso dizer o mesmo para o Dencourt... Gárgulas! Assim não dá para treinar os batedores também...

— Tem o Alvo — Tiago disse de repente.

Alvo arregalou os olhos, o guarda-chuva escorregou de sua mão.

— E-e-eu... não posso... Não fiz o teste!

— É temporário! — disse Sean, entusiasmado com a ideia. — Vamos, Alvo, seu irmão me falou que você é um apanhador-nato.

Com as orelhas ardendo, Alvo topou. A vassoura de Daniel Dencourt era uma Thunderbolt VII, conhecida por não resistir as investidas de balaços na Copa Mundial de Quadribol de 2014. Sua mãe escrevera vários artigos para o Profeta Diário protestando contra o modelo. Deveria ser extremamente cauteloso para não amassar o cabo da vassoura.

Apesar de não ser muito segura, a Thunderbolt VII era infinitamente melhor que as vassouras da escola. O cabo feito de carvalho inglês era fino e leve, contribuindo muito na aerodinâmica. Alvo tinha a sensação de ter sido lançado por um canhão. Não queria demonstrar arrogância, porém, sabia que seu físico era melhor que o de Daniel. Baixo e franzino, os balaços não eram obstáculos suficientes para derrubá-lo. Poderia fazer aquilo o dia todo, mas, lembrou-se com certa amargura de que não era integrante do time. O capitão ficava exortando a todo instante o desempenho dos colegas, mesmo que não fosse a melhor performance que ele já vira na vida.

Após o treino, Sean fez inúmeros convites para que Alvo aceitasse ser o apanhador reserva. A proposta não era nada ruim, mas não queria desapontar Wayne e Rose. Seus impulsos diziam que ele deveria aceitar o convite, mas o seu coração sabia que ele tinha um compromisso a cumprir com seus amigos. Indeciso e com medo de se arrepender, respondeu:

— Vou pensar no assunto.

Encharcado e sujo, Alvo retornou ao interior do castelo com Tiago. Filch guinchava e limpava o mesmo metro quadrado há mais de cinco minutos; nem reparou na entrada dos garotos, muito menos no rastro de lama que deixaram pelo caminho.

— Sabe, Alvo, eu estou feliz — comentou Tiago.

— Algum motivo especial? — retrucou Alvo.

— Só faltam algumas semaninhas para acabar meus dois meses de detenção.

— Fascinante — desdenhou Alvo.

— Você não entendeu — disse Tiago. — Eu vou poder realizar minhas tradicionais pegadinhas de Dia das Bruxas.

— E aí vai ser expulso — concluiu Alvo.

— Eu não acho, vai ser cômico, a Profa. McGonagall não perde por esperar...

— O que eu não perco por esperar, Potter?

Com um salto de susto, os garotos se viraram para trás. A própria Profa. McGonagall estava em pé próxima de uma armadura, o olhar severo perfurando os garotos.

— Que... as abóboras de Hagrid estarão do tamanho de um barraco no Dia das Bruxas... — mentiu Tiago.

— É bom que estejam — disse a Profa. McGonagall. — Espero, também, que não estejam me escondendo nada.

— Claro que não — disseram juntos.

— Potter, foi com muita admiração que eu testemunhei a guarda que vocês fizeram — contou a Profa. McGonagall. — Mas é inadmissível que, depois da sorte que tiveram, vocês queiram aprontar de novo.

— Como...? — Alvo tartamudeou.

Diante dos olhos dos garotos, a Profa. McGonagall se desmantelou e, em seu lugar, um gato de listras amarelas e manchas quadradas em torno dos olhos surgiu. Alvo já tinha visto este gato antes... na pracinha em Godric’s Hollow.

— Era a senhora...?

Então o gato desapareceu e a Profa. Minerva estava novamente em pé observando os garotos.

— Sim, Potter, era eu — disse rispidamente. Ela os olhou por cima dos óculos quadrados. — Sugiro que mostrem prudência, a época não está nem um pouco propícia para tolices. Caso contrário, para usar a expressão vulgar, vocês vão se mandar para suas casas. Agora, se me dão licença, o Salão Comunal me parece muito atraente para dois garotos encharcados.

— Ela se transformou em um gato? — questionou Wayne, cético, assim que Alvo se reuniu com os amigos na biblioteca. — Isso é possível?

— Sim, é possível — disse Rose sem despregar os olhos de Homens Notáveis da Magia do Nosso Tempo. — Ela é um animago.

— Ela estava em Godric’s Hollow... — contou Alvo. — No meu aniversário, sentada em uma esquina...

— Talvez tenha sido por isso que ela não deixou que expulsassem o Tiago — disse Rose.

— Como assim? — rebateu Wayne. — O que aconteceu no seu aniversário?

Alvo narrou os eventos da madrugada de nove de agosto, mencionando o caso que ocorrera no Beco Diagonal com a professora de Adivinhação. Rose, com os olhos azuis arregalados, ergueu a cabeça, os ouvidos inflamando.

— Ei, peraí, você nunca me contou sobre essa predição.

— Bem... ela não é muito importante — Alvo deu de ombros. — Não pode ser verdade.

Rose apanhou pergaminho e pena da sua mochila.

— Você se lembra do que a professora disse?

Alvo tentou ditar o máximo do que ele se recordava. Até ele mesmo se surpreendeu com o que lembrou. A predição contada grudou em sua cabeça, como uma melodia, mas ele não gostava de pensar nela. Ele não poderia ser a criança amaldiçoada.

Rose leu e releu a predição, então se levantou e caminhou até Madame Pince, a bibliotecária.

— O que você acha que ela descobriu, Alvo? — perguntou Wayne.

— Eu também queria saber — respondeu Alvo.

Instantes depois, Rose veio correndo até os amigos, repetindo consigo: “eu já sabia, eu já sabia.”

— Dá para nos dizer o que está havendo? — insistiu Alvo.

Rose olhou para todos os cantos. A biblioteca estava quase deserta naquele dia chuvoso. Chloe Bridwell era a única pessoa, além do trio, que estava realmente a fim de ler algo útil; os outros alunos presentes não paravam de debater sobre A Garota dos Segredos. Os meninos saíram apressados, encontrando um lugar mais reservado no corredor do homem de três rostos.

— Tá, agora nos conte o que está havendo — disse Wayne.

— Certo, me escutem — começou Rose, relendo o pergaminho. — Criança Amaldiçoada, no final do décimo mês, aquele que detém os poderes libertará os demônios. Final do décimo mês, como eu pude ser tão burra! No Dia das Bruxas!

— Quem vai libertar os demônios? — Wayne desenhou pontos de interrogação com os dedos em torno da frase.

Rose demorou a responder.

— Não tenho a menor ideia... ainda.

— Calma — disse Alvo, organizando-se. — Rose, que poder é esse?

— Ainda não descobri — respondeu Rose calmamente. — Mas algumas coisas começaram a se encaixar.

— Por exemplo? — disseram Alvo e Wayne juntos.

— Bem, vamos focar nesta primeira parte da predição — Rose dizia lentamente. — Está claro para todos nós que no Dia das Bruxas algo muito terrível vai acontecer, certo? Ótimo. Qual é a pessoa, mais especificamente um professor, que anda meio angustiado durante esse mês?

Os garotos arregalaram os olhos.

— O Professor Godunov... — sussurrou Alvo.

— Exatamente — confirmou Rose. — Há umas duas semanas ele veio à biblioteca quase antes do horário da sua aula e levou um livro. Curiosa, perguntei à Madame Pince quando ele devolveria, mas ela disse que ele já deveria ter feito isso. Madame Pince estava enviando uma carta cobrando e, se consegui ler direito, o livro era Presságios: O Que Fazer Quando se Sabe que O Pior Vai Acontecer. Eventualmente eu só consigo imaginar duas coisas: ou ele sabe, de fato, o que vai acontecer no Dia das Bruxas ou o próprio Prof. Godunov está arquitetando tudo isso.

Os três ficaram em silêncio por um tempo.

— Eu duvido que ele fará alguma coisa, Rose — afirmou Alvo. — Ele previu esse sei-lá-o-quê desde nossa primeira aula de Astronomia, lembra? E aquilo que eu contei da conversa dele e do Prof. Scamander?

— Mas Alvo — disse Rose —, a arte de adivinhar o futuro é incerta ao olho humano, principalmente tratando-se de leitura astral. E, bem, não gostaria de colocar isso em pauta, mas mamãe vive dizendo que essa tal professora de Adivinhação é quase que um embuste.

— Ao olho humano... — devaneou Wayne, ignorando a última colocação de Rose. — E se formos consultar alguma coisa não-humana?

Alvo e Rose se entreolharam.

— É sério — disse Wayne. — Ouvi falar que centauros são dotados do dom da adivinhação. Só que eu duvido que encontremos centauros andando por Hogwarts à esmo, não é mesmo?

Rose, no entanto, sabia que existia um professor centauro em Hogwarts. Ouvira Roxanne comentar com Lucy, durante as férias de verão. O trio, então, resolveu buscar uma fonte confiável.

— Ah, sim, o nome dele é Firenze! — informou McLaggen aos garotos quando retornaram à Torre da Grifinória. — A maioria dos alunos o acha fascinante, até preferem ele que a biruta da Profa. Trelawney, inclusive eu. Leciona na sala número onze, no piso térreo, mas ele folga com sua colônia na Floresta Proibida aos fins de semana... afinal, por que vocês estão tão interessados mesmo?

— Nada — responderam em uníssono.

Mesmo com desconfiança, McLaggen se retirou para patrulhar os corredores.

— Que faremos? — perguntou Alvo. — Esperamos até segunda-feira?

Ou — sugeriu Wayne — entramos na Floresta Proibida.

— É proibido — relembrou Rose.

— Não se estivermos acompanhados — disse Wayne.

— E quem nos acompanharia até uma floresta para falar com um centauro? — inquiriu Alvo.

Os três se entreolharam. Eles sabiam a resposta: Hagrid. O meio gigante seria o único do castelo que teria peito suficiente para guiá-los pela Floresta Proibida. Era a oportunidade perfeita, uma vez que, quando Alvo, Rose e Wayne o encontraram em sua cabana, Hagrid parecia mais feliz do que nunca. Ficaram imaginando o que teria acontecido na conversa com Merle Copperfield.

— Olá, meninos — disse Hagrid, acrescentando em seguida: — e menina. Que fazem aqui neste dia tão chuvoso?

Apesar da trégua da chuva, o chão continuava extremamente escorregadio e a cada passo que eles davam pela grama dos terrenos do castelo, uma tira de barro do tamanho de cartas de baralho grudava nos seus tênis. Àquela altura, Alvo já se sentia três centímetros mais alto.

— Precisamos da sua ajuda — Rose foi direto ao ponto. — Queremos falar com o Professor Firenze, mas soubemos que ele não passa os fins de semana no castelo.

Hagrid, que estava radiante e com um avental florido, desmanchou o seu sorriso. Noel veio logo atrás dando um latido de fazer os pássaros voarem de seus galhos.

— Querem que eu entre com vocês na Floresta Proibida? — O queixo de Hagrid quase foi ao chão. — É muito, muito perigoso entrar lá desde que... Aragogue se foi...! — Fungou.

— Sabemos que é perigoso — Alvo abriu o jogo. — Mas precisamos de uma informação muito importante, Hagrid.

— Não estão se metendo em confusão, estão? — Ninguém respondeu. — Não digam que tem algo a ver com a nossa última conversa.

— Não diretamente — confessou Wayne. — Está mais para... uma dúvida de Astronomia...

— ...e nossos cérebros estão famintos por conhecimento! — Alvo mentiu. Hagrid pareceu não acreditar em sua ladainha. — E a Profa. Minerva odiaria saber que três alunos do primeiro ano entraram sozinhos na Floresta Proibida diante dos olhos do guarda-caça...

Hagrid bufou e fechou a porta. Os garotos, desapontados, já estavam dando as costas e retornando para o castelo, quando a voz do meio gigante trovejou:

— Vamos, andem logo, quero fazer isso de uma vez.

Munido de um grande arco e uma aljava, vestindo um casaco de pele de toupeira e galochas do tamanho de baldes, Hagrid e Noel acompanharam as crianças à orla da floresta.

— Já vou avisando — disse Hagrid —, deixem suas varinhas prontas. Existe de tudo aqui na floresta: acromântulas, vampiros, unicórnios e, se dermos sorte, não toparemos com os trasgos.

Os pelos da nuca de Alvo se ergueram. Havia uma névoa ligeiramente densa e gélida se embrenhando na floresta; tudo tinha um ar sinistro por ali. Até mesmo as árvores pareciam mais escuras e grossas que o habitual.

Lumos! — O trio acendeu a ponta da varinha no momento em que entraram numa estradinha de terra batida.

Noel já havia tomado a dianteira e farejava as raízes das árvores, parando a todo instante para erguer uma das patas de trás. Wayne tremia um pouco, fosse pelo frio, fosse pelo medo, jurando que ouviu alguém atrás deles. Certamente era o rumorejar das folhas, imaginou Alvo.

— Fiquem atentos — recomendou Hagrid, parando para escutar os ruídos da floresta.

Com o hálito quente de Noel perto de seu calcanhar, Alvo imaginou que a ideia tinha sido absolutamente louca, estúpida e sem precedentes. Poderiam morrer a qualquer minuto. Foi então que ouviram o som de água corrente e puderam avistar a ponta de um penedo, onde uma criatura metade cavalo da cintura para baixo e de cabelos acaju observava o riacho.

— Sludor! — Hagrid ergueu a manzorra, sacudindo a aljava no ombro. O centauro mirou Hagrid. — Viu Firenze por aí?

De trás dos troncos das árvores, duas dezenas de centauros de todos os tipos surgiram. Alvo, Rose e Wayne, discretamente, se meteram atrás do corpo de Hagrid. Alguns dos centauros estavam armados com arcos.

— Olá, Ronan... Bane... Agouro... Magoriano — Hagrid cumprimentou os centauros conhecidos. A maioria deles era alto e forte. — Viram Firenze?

Do meio da colônia, um centauro de olhos azuis profundos como safiras e aspectos joviais irrompeu, fazendo uma reverência aos humanos e dispersando os outros centauros.

— Como vão? — perguntou Firenza. O vento sacudia serenamente seu cabelo louro-prateado, que lembrava os de Victoire, Dominique e Louis. Os olhos dele miraram as três crianças com curiosidade. — O que estudantes de Hogwarts fazem aqui, dentro da Floresta Proibida, Hagrid?

— Bem, eles parecem ter uma dúvida, algo do gênero — disse Hagrid.

Trêmulas, as crianças saíram das costas de Hagrid. Noel cheirava os cascos de Firenze.

— Professor Firenze — Rose tomou coragem. — Queremos saber uma questão de Astronomia.

— Então acredito que vieram atrás do professor errado — disse Firenze.

— Mas tem a ver com Adivinhação — insistiu Wayne.

Firenze pateou o chão.

— Vocês são do primeiro ano, que dúvida teriam com a minha disciplina?

— É importante — Alvo conseguiu dizer.

Firenze o encarou com curiosidade.

— Você é o menino Potter. — Galopou em sua volta. — Tem os mesmos olhos do pai, mas acredito que um possui destino um tanto mais favorável. — Firenze voltou a ficar de frente com as crianças e Hagrid. — Digam-me, então, o que é tão importante a ponto de os levarem até a minha colônia.

— Professor Firenze — disse Rose —, queremos saber o significado do alinhamento de Marte e Urano.

Firenze ponderou as palavras de Rose e fez menção de empinar nas patas traseiras.

— Nós, centauros, fazemos a leitura dos movimentos dos planetas todos os dias — disse Firenze, com calma. — Marte e Urano andam brilhando mais ultimamente. Eles não estavam alinhados, porém, isso acontecerá. Aparentemente, o mais breve possível, até o final do mês. Há inúmeros significados. Marte representa a ira, o espírito de vingança e a violência. Urano, a energia explosiva do redemoinho caótico, a genialidade, o intelecto. Estes dois astros não costumam se alinhar constantemente, posso afirmar que é um evento que eu quase não vejo, mas posso adiantar que é um mau presságio.

O centauro fechou os olhos e inflou o peito.

— É sempre bom estarmos prontos para o pior — vaticinou Firenze. — O caos pode acontecer em qualquer canto do mundo. Tinworth, Wigtown, Dufftown, quem sabe, Hogwarts. Os efeitos são variáveis, pode ser desde uma tempestade à Terceira Guerra Bruxa. Algo de ruim vai acontecer, é o que posso garantir.

Firenze fez questão de levar os garotos no lombo, Hagrid e Noel caminhando ao lado deles. O centauro também lamentou em ter de retirar um ponto de cada, porque os motivos de entrarem na floresta não eram válidos, mas Alvo, Rose e Wayne não estavam preocupados com isso, poderiam recuperá-los facilmente. Estavam mais preocupados por não terem obtido nenhuma resposta exata.

Esperar, talvez, tenha sido a parte mais difícil de tudo. Não tinham porquê retornar à biblioteca sem um ponto de partida e eles sabiam disso. Quanto mais se aproximava o Dia das Bruxas, mais a ansiedade acometia os garotos, só que eles não podiam deixar de lado sua programação escolar. Alvo estava muito orgulhoso de si, conseguira dominar o Feitiço Conjuratório de Pássaros, com a Profa. Aingremont, o Feitiço Escudo com o Prof. Silvanus e já sabia identificar as características gerais das plantas graças ao Prof. Longbottom. Sem mencionar, obviamente, seus excelentes resultados em Poções — o que lhe custara uma boa imaginação para criar novas desculpas para não comparecer a nenhuma reunião do Clube de Poções. Contudo, estava cansado de tentar aprender sobre o Stonehenge em História da Magia; a Profa. Sable parecia odiá-lo com todas as forças.

— E aí, Alvo, já se decidiu? — Sean perguntava toda vez que o via.

— Ãh... ainda não — Alvo esquivava-se em todas as oportunidades.

— Por que não aceita logo? — entesava Wayne. — Seria o garoto mais popular do primeiro ano.

— Mas eu não quero isso — repetia Alvo. — Você não sabe o que é estar na sombra da minha família.

— Ele tem razão — concordou Rose. — Seria uma responsabilidade e tanto, mesmo que eu ache que você vai se dar muito bem. Seu vô, seu pai e sua mãe sempre se destacaram no quadribol. É coisa de família, sabe.

— Eu não seria exatamente o apanhador, apenas... o suplente — corrigiu Alvo. — Sem falar que o nariz do Daniel já está quase bom, não tenho chance contra ele.

— Claro que tem! — animou-o Wayne. — Você vai bem em todas as aulas de voo.

Alvo deu um sorriso enviesado.

— Ano que vem, talvez — disse, para não contrariar a gentileza do amigo. — Agora, se me dão licença, esse cheiro de bacon está me deixando zonzo.

Após dispensar o convite de Sean, Alvo sentiu que o tempo começou a andar mais devagar sem nenhum compromisso extra a cumprir. Mesmo assim, notara no calendário que estava em Hogwarts há dois meses. Não sentia muita falta de casa, a não ser de seus pais e Lílian. As cartas que recebia toda semana eram insuficientes para a saudade que tinha de todos eles.

Então, o Dia das Bruxas chegou. Firenze estava certo, as interpretações astrológicas eram extremamente variáveis. O dia amanheceu mais claro, embora nublado, como nas outras semanas. Seria o tal fenômenos apenas uma chuva de outono? Não poderia ser, não pela azáfama que o Prof. Godunov fez durante esse tempo. Mas, honestamente, Alvo sabia que não poderia apostar todas as suas fichas no professor de Astronomia. Ele era maluco, não era?

Independentemente do que acontecesse, não poderia ser nada catastrófico, afinal, Hogwarts era um dos lugares mais seguros em que o menino já pusera os pés e ninguém poderia estragar aquele dia que começara tão feliz. Nada de predição, nada de Professora Trelawney, nada de Hotwan, apenas o cheiro de abóboras assadas espalhando pelos corredores do castelo. A escola toda estava animada com a festa do Dia das Bruxas, até mesmo os professores entraram no ritmo, embora o Prof. Godunov tenha passado um pouco dos limites ao infestar o Salão Principal com morcegos vivos e fantasiar anões para assustar os alunos nos intervalos das aulas.

Tiago recortava um rosto para as abóboras que Hagrid cultivou. Como o garoto havia prometido à Profa. McGonagall, os legumes estavam do tamanho de barracos e seriam iluminadas por lanternas.

— Que dia feliz, não é mesmo? — Tiago perguntou a Alaric e Carl, que o observavam fazer tudo. — Último dia de detenção e eu finalmente poderei ir ao povoado de Hogsmeade. Ah, bom dia, Al!

Alvo acabara de se aproximar.

— Parabéns pelo trabalho, devem ter sido dois meses muito sofridos — Alvo debochou do irmão.

— Eu não ficaria tão assanhado se fosse você — rebateu Tiago.

Alvo empalideceu.

— É, Alvo, acha que eu não sei por onde você andou nas últimas semanas? — Tiago riu.

Alvo arregalou os olhos, perplexo.

— Como você sabe?

Tiago gargalhou prazerosamente.

— Digamos que Tiago Sirius Potter sabe tudo. — Piscou para o irmão e saiu com Alaric e Carl na mesma esteira.

Os preparativos para a festa deram continuidade durante o dia. O Prof. Silvanus, que recuperara um pouco do ânimo, ensinou aos alunos o Feitiço do Corpo-Preso, tão útil quanto qualquer outro que aprendera nesse trimestre em Hogwarts; a Profa. Monet mostrou como preparar uma gosma a partir de tagetes, onde Fergus Finnigan derreteu o seu caldeirão; a Profa. Aingremont, com muito entusiasmo, dividiu a classe para praticarem a Azaração da Cara-de-Vampiro, a qual Alvo conhecia da história de Tiago sobre o Prof. Abelardo. A sua parceira foi Emily Aingremont — uma das alunas favoritas da Profa. Aingremont, tia da garota. Wayne se apressou para ficar com Rose.

— Boa sorte — desejou o amigo a Alvo, assim que se separaram.

No entanto, Alvo não precisou de muita sorte. Emily Aingremont não era tão arrogante quanto pensava e, por sinal, não guardara nenhum rancor desde o jogo de Derrubada da aula de voo. Era uma das alunas mais brilhantes em Transfiguração — talvez, até melhor que Rose. Ela rogava insistentemente contra Alvo:

Cara-de-vampiro!

Desta vez, a praga funcionara. Um lampejo roxo disparou inexorável contra o rosto de Alvo, que não teve tempo de reação para raciocinar se deveria se defender. De qualquer forma, sentiu uma ligeira dor nos caninos, como se alguém estivesse tentando arrancá-los a força. Sem conseguir fechar a boca direito, tocou nos dentes e seus joelhos quase cederam. Não haviam mais dentes, mas sim, presas afiadas e longas como um sabre. Os alunos da Corvinal caíram na risada com a nova aparência vampiresca de Alvo.

— Olhem o Potter, parece um chihuahua! — gritou Benjamin Bristow.

Apesar do constrangimento, Alvo não foi o único a ser pego pela azaração. Todos na sala terminaram com os dentes alongados como o de um vampiro. Fora a melhor aula de Transfiguração do ano para a classe, que passava a maior parte do tempo copiando as leis de Gamp ou recitando as diferenças entre Transformação Pontual e Transformação Bruta. Em contrapartida, as aulas do Prof. Flitwick estavam mais excitantes que nunca; já haviam saído da parte de Encantamentos Simples e agora entravam aos poucos em Encantamentos Úteis.

— O Feitiço de Amortecimento é um pouco mais difícil dos quais vocês estão acostumados — dizia o Prof. Flitwick sobre um amontoado de livros. — Para realizá-lo, é necessário fazer este movimento. — O Prof. Flitwick transcreveu um raio no ar. — Todos agora.

A aula poderia ter sido realmente muito melhor, se não fosse pela invasão de um dos anões do Prof. Godunov, insistindo que o Prof. Flitwick estava descaracterizado. Se Alvo não o conhecesse, poderia facilmente confundi-lo com um dos anões, afinal, era o menor bruxo que já vira na vida. No momento que a sineta tocou, os alunos fizeram o caminho para as salas comunais, tontos de fome, mas animados para a festa que viria a seguir.

— Parece que a predição estava errada — disse Alvo com cuidado, assim que vira a Profa. Trelawney cambaleando pelos corredores do sétimo andar.

Wayne parecia preocupado.

— Espero que sim — disse sem mostrar muita convicção.

— Molly disse que a festa de Dia das Bruxas é a melhor coisa que acontece no ano — Rose mudou de assunto. — E ouvi que a Profa. Minerva contratou uma atração especial, então andem logo!

Ao descerem para a Festa do Dia das Bruxas, Alvo, Rose e Wayne encontraram um salão menos cheio de morcegos se enfiando no teto encantado, ao passo que centenas de abóboras iluminadas por lanternas riam-se em todos os cantos. Quando os três amigos iam entrando no Salão Principal, um fantasma gordo vestindo roupas vitorianas fechou o caminho, esticando uma tigela de amoras a eles.

— Com licença, dama e cavalheiros — disse o fantasma. — Aceitam uma guloseima antes do maravilhoso banquete que está por vir?

Alvo e Wayne se olharam, animados. Meteram a mão no pote e enfiaram as amoras na boca. Conforme iam mastigando, os garotos perceberam que as frutinhas não tinham o sabor de amora, mas um gosto horrendo de mofo e chulé.

— O que é que está acontecendo?! — McLaggen exclamou nas costas deles. — Saia de perto deles! Não comam nada que ele oferecer!

O fantasma deu uma risada sepulcral e sumiu no vão das portas duplas do Salão Principal, deixando a tigela cair no chão com um estrondo. McLaggen se aproximou do trio, esbaforido.

— Vocês não comeram aquelas frutinhas, certo? — indagou o monitor. Os olhares de Alvo e Wayne entregavam. — Oh, Merlim!

— O que vai acontecer conosco? — Alvo perdeu a cor.

— Não faço ideia — respondeu McLaggen com incerteza. — Aquelas frutas podem estar envenenadas!

— Calma, não é para tanto — disse Rose ao notar o pânico no rosto dos amigos. — Às vezes é só uma pegadinha, ninguém sabe.

— Rose, era Edmundo Grubb — explicou McLaggen. — E você sabe como ele morreu, suponho.

Rose mordeu a lateral do lábio, nervosa.

— Os professores não deixariam um fantasma perigoso rondando o castelo — disse.

A ideia, todavia, não foi bem aceita por Alvo e Wayne. Suando frio, mal deram atenção ao extravagante banquete que surgiu na louça de ouro. E não era para menos, afinal, dentre os trezentos e sessenta e cinco dias do ano, Alvo escolheu colocar sua vida em risco exatamente na data em que um vaticínio indicava um desastre.

— O que deu em vocês? — inquiriu Rhona Byrne, avaliando o estado dos garotos.

— Nada — disse Wayne, depois de mastigar por três minutos um pedaço de bolo de cenoura.

— A aparência de vocês está horrível, deviam ir à Ala Hospitalar — sugeriu Arepadma Goshawk.

— Concordo com minha irmã — reforçou Abhaya.

— Vocês não podem sair daqui sem provar estes pirulitos de cereja — disse Fergus animado, empurrando um caldeirão para Alvo e Wayne.

Os garotos miraram a comida com asco e, trocando olhares, disseram em uníssono:

— Vamos à Ala Hospitalar.

— Mas e a apresentação final? — choramingou Rose. — Vocês não estão acreditando mesmo que vão morrer, estão?

— Para ser sincero — confessou Alvo —, estamos sim.

Antes que Rose pudesse fazer mais alguma objeção, Alvo e Wayne apertaram o passo para chegarem na grande escadaria. Tinham a esperança de que Madame Longbottom não estivesse em seu escritório, porque não a viram no salão durante o banquete. O outono era uma época em que a ala hospitalar ficava cheia de alunos com os narizes vermelhos, testas queimando de febre e as gargantas inflamadas. Os garotos queriam correr para chegar o mais rápido possível ao terceiro andar, mas a pressa nunca é boa, porque, em algum ponto, quanto mais se tenta antecipar nossos objetivos, mais nos distanciamos dele.

Alvo, com total descuido, esqueceu de saltar o degrau que desaparecia e seu pé ficou preso na lacuna da escadaria, sendo atirado com força no chão. O seu queixo latejava e sua visão turvou-se por um momento. Apertou os olhos e capitou a imagem de Wayne se esforçando para içá-lo aos degraus novamente.

— RÁ! — Pirraça, o poltergeist, sobrevoou a cabeça dos garotos. — Parece que o Potter-Podre e seu amigo Evie-credo foram pegos pela velha enrascada das escadarias.

A situação não poderia piorar. Alvo se esforçava muito para tirar o seu pé daquele intervalo de absolutamente nada, mas estava apenas se machucando. Pirraça atirava jujubas prateadas na sua própria boca, gargalhando alto em ver os meninos tentando sair daquela incômoda condição.

— Vocês nunca ouviram o ditado? — disse Pirraça, recuperando o fôlego. — A curiosidade matou o gato-malhado.

— Curiosidade? — repetiu Alvo. — Estávamos indo para a ala hospitalar, apenas.

Pirraça fingiu acreditar.

— E eu sou Vítor Krum — desdenhou. — É claro que vocês estavam atrás do menino escorpião! Admitam!

— Atrás de quem? — perguntou Wayne.

— Vão ter que ir ao sexto andar para saber! — Pirraça gargalhou e sumiu entre as paredes, o chapéu em formato de sino sacudindo.

— O que acha que tem no sexto andar? — Alvo quis saber.

— Não faço ideia, mas sugiro que você tire seu tênis — disse Wayne. — A menos, é claro, que queira ficar aí pelo resto do trimestre.

Alvo deu uma risadinha frouxa.

— OK. — Começou a tirar a parte de trás do seu calçado. — Quem você acha que é o “menino escorpião”?

— Suponho que Malfoy — deduziu Wayne. — Mas o que você acha que estaria fazendo longe de todo mundo em plena Festa do Dia das Bruxas?

Alvo sacudiu os ombros.

Do Salão Principal era possível ouvir gritos histéricos e aplausos. Provavelmente era a atração principal que a Profa. McGonagall contratara para animar a noite. O som de guitarras e baterias reverberou por todo o castelo; os quadros se encolheram nos seus retratos. Alvo conhecia aquela música: Pescoços para Você, de Lorcan d’Eath. Não creu que um dos cantores mais famosos do mundo bruxo estaria a alguns metros dele e ele estava com o pé entalado num degrau falso, perdendo esta oportunidade única. A adrenalina que Alvo e Wayne sentiam era alta o suficiente para fazê-los se sentirem melhor de qualquer náusea. Sinceramente, pensou, o enjoo não passava de uma ilusão de sua mente criativa, assim como a predição. Ele não iria morrer. Não ao menos antes de conhecer Lorcan d’Eath.

— Que barulheira — reclamou Wayne.

Alvo não conseguia escutar o amigo, a música estava fazendo as paredes vibrarem. Sacudiu o pé e o tênis escorregou escadaria abaixo, produzindo um eco que o garoto não ouviria. Wayne o ajudou a ter equilíbrio e berrou para sobrepor-se à voz de Locan d’Eath.

— Que tal darmos uma passada no sexto andar primeiro?!

Alvo concordou e se apoiou no corrimão para garantir que as escadas não o levassem para outro andar. Hogwarts era repleta de segredos, o que tornava o lugar ainda mais mágico, só que era quase impossível desvendá-los sem mapear o território inteiro e as possibilidades de um aluno tê-lo feito eram quase nulas. Desde o início do ano letivo, ele, Wayne e Rose já haviam se perdido à vera pelo castelo. Entretanto, sempre havia um quadro ou um aluno mais velho para aconselhá-los — exceto Tiago, Carl e Alaric, que gostavam de gozar da cara deles ao indicá-los o caminho errado.

O sexto andar estava muito mais silencioso, mas não escapava dos gritos histéricos dos alunos. Alvo rezou para que Lorcan d’Eath tocasse mais quinze músicas até que ele e Wayne pudessem revirar o andar atrás de Malfoy — ou quem quer que fosse. Poderia deixar o assunto de lado facilmente, contudo, brincar com uma previsão tinha um lado perigoso. E se realmente fosse verdade? Alvo jamais perdoaria a si caso alguém se machucasse por algo que poderia ter evitado. O seu mundo girava, ele não sabia dizer se acreditava ou não nas palavras da vidente. Rose dizia toda hora que “a arte da adivinhação era incerta”, entrementes, os fatos e o trechos se encaixavam quase que perfeitamente.

Definitivamente, Alvo estava ficando maluco a cada dia.

— Ei — Wayne o trouxe de volta à realidade. — Que é aquilo?

O dedo de Wayne apontava para uma esquina no final do corredor. Desde quando ela estava ali? Os garotos nunca repararam em nada no sexto andar além de um banheiro interditado, o qual evitavam usar quando ouviam gemidos lá dentro. Alvo trocou olhares com o amigo e deu um passo de cada vez, a varinha já em punho, pronta para ser utilizada a qualquer instante.

Lumos! — ordenou Alvo. A luz em sua varinha foi forte o suficiente para captar um arco em torno da entrada do corredor. Havia uma inscrição, ou melhor, uma frase seguida de símbolos. Alvo leu: — Impavidum... Fe-ferient... R-rui... Ruinae... Impavidum ferient ruinae. — Teve a impressão de já ter ouvido a palavra Impavidum em algum lugar. — O que isso significa?

Wayne chacoalhou os ombros.

— Vamos embora, Alvo — disse. — Isso não está cheirando bem.

A curiosidade estava roendo o garoto por dentro. Ignorando as palavras de Wayne, passou pelo arco e tudo começou a transcorrer em câmera lenta. Cada célula do seu corpo vibrou e começou a se deteriorar, transformando-se em incalculáveis partículas que o transpusera do outro lado do arco. Então ele estava lá, naquele escuro e infindável corredor. Lembrava uma galeria, mas no lugar de quadros, havia inúmeros espelhos, sem refletir absolutamente nada, genuínos abismos de silhuetas indescritíveis.

Quando Wayne ultrapassou o portal, um jorro de luz dourada refulgiu de um daqueles espelhos; sangue, crocitares e uma faixa de Scorpius Malfoy correndo aterrorizado na sua direção. De onde ele saíra?, pensou Alvo ao ver uma parcela do rosto fino de Scorpius. De sua boca, apenas um guincho que viera do fundo da alma:

— CORRAM!

Sem saber muito o que fazer, Alvo foi lançado ao chão quando Malfoy o empurrou. Tudo se transformou em dor excruciante e escuridão; o rosto no chão, a varinha fracamente firme nas mãos. Tonto e assustado, tentou ficar em pé com o auxílio das paredes. Wayne estava encolhido em um canto, perturbado demais para realizar algum feitiço naquele instante. Pares e mais pares de olhinhos dourados, brilhantes como galeões, pulularam no breu da sala, aos poucos formando uma nuvem densa. Corvos: foi a primeira coisa que Alvo pensou antes de começar a se mexer, sustentando Wayne em seu ombro.

Foram os metros mais longos de sua vida. Era baixo, magro, rápido, o contrário de Wayne, troncudo, alto e debilitantemente lento. A sensação de estar sendo partido em mil pedaços aconteceu de novo e os garotos atravessaram o arco, dobrando a curva com uma derrapagem. Scorpius, deitado no chão, se contorcia em câimbras. Sangue e medo resumiam aquele momento.

As aves já faziam menção de mergulhar sobre as cabeças dos garotos; entretanto, o que Alvo sentiu não foi uma porção de bicos perfurando sua pele. A porta do banheiro se abriu, uma luz queimou os olhos dos garotos e os corvos começaram a voar sem direção, atordoados.

Alvo tentou se arrastar aos tropeços, até uma mão puxá-lo violentamente, fazendo-o bater as costas contra uma parede azulejada. O garoto se forçava a enxergar, as lágrimas atrapalhando a sua visão. Arfava como nunca na vida. O terror havia tomado conta dele.

— Você está OK? — perguntara aquela inconfundível voz.

Alvo piscou fracamente. Não podia ser possível, o vaticínio acabara de se concretizar diante dele. E por que diabos Chloe Bridwell o salvara? Ele não entendia, mal teve forças para arranjar algum pensamento. Mas estas foram as últimas coisas que passaram pela sua cabeça antes do menino tombar no chão, desmaiado.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam deste capítulo? Eu acho ele um dos mais interessantes até agora. E, pra não perder o costume, as coisas sempre acontecem no Dia das Bruxas (já haviam notado isso?). Coisas de J.K., hahahah!

Agora, vamos aos avisos: primeiramente, EU MUDEI A CAPA! UHUL!
"Mas por que você fez isso? A outra era linda!"
Bom, sendo curto e grosso: eu não trabalho mais com a Beco dos Escritores. Muito obrigado a Amily por ter feito a capa, mas devido a um desentendimento entre a equipe e eu, não utilizarei absolutamente mais nada com relação à página, certo?

Terei que fazer mudanças na programação de postagem. Acredito que não será mais um capítulo por semana, mas um a cada duas. Entenderam? É mais ou menos assim: uma semana sim, outra não. Ou seja, semana que vem não tem capítulo.
"MAS POR QUE? EU VOU ABANDONAR A FIC!!"
Entendam, não é fácil escrever capítulos tão conteudistas e enviar para que os betas façam tudo isso em questão de poucos dias. Não dá. Eu bem que queria, mas não rola. Não é fácil nem para mim nem para as pessoas que cuidam de revisar minha história. Mas como eu sei que meus leitores são INCRÍVEIS, posso esperar que eles estarão lá sempre que eu postar coisas novas. AQUI É #TeamPereira!

73 COMENTÁRIOS, 55 ACOMPANHAMENTOS, QUE INCRÍVEL! Muito obrigado pelo suporte, galera, vocês valem incontáveis galeões! :D

Enfim, me contem o que vocês acharam do capítulo, das mudanças, da capa, de tudo! AH, não se esqueçam também de falar uma coisa: QUAL O PATRONO DE VOCÊS? O MEU É UM ARMINHO! Falem o de vocês nos comentários! :)

Curiosidade do capítulo: Edmundo Grubb era um fantasma gordo na Escola Hogwarts de Magia e Bruxaria. Ele viveu na era vitoriana, e morreu na porta do Salão Principal de Hogwarts Castelo após a ingestão de bagas venenosas. Depois de sua morte, ele voltou como um fantasma a assombrar o castelo, por vezes, impedir as pessoas de entrar no Grande Salão por despeito.

Até daqui duas semanas!

Att,
Tiago



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