"E sua voz era tudo o que eu ouvia dizendo que eu tive o que mereço..."

Estava em uma floresta densa, tão densa que ele mal conseguia passar entre as arvores. As folhas e os galhos eram como mãos agarrando suas roupas, arranhando sua pele como garras, mas ele continuava forçando suas pernas a continuarem a correr mesmo com suas roupas pesadas pela chuva forte.  Seus pulmões queimavam pela corrida intensa e seus músculos gritavam de dor. Parecia que quanto mais ele corria, mais longe do seu objetivo ele ficava.

Ele precisava continuar.

Entre as folhagens, viu um borrão rosado entre as árvores e se agarrando naquilo, sua motivação se reacendeu. Precisava...

Cerrou a mandíbula e forçou mais, concentrando mais chakra na sola dos pés.

Ele ouviu uma risada baixo feminina, ecoando em sua mente. Apagando qualquer cansaço que poderia ter no momento.

Sa-su-ke-kun...

A voz voltou a ecoar em sua mente, cantarolando seu nome pausadamente.

O ambiente ao redor, a floresta densa tinha sumido dando lugar a uma clareira não muito grande e a mudança brusca o fez reduzir sua velocidade até finalmente parar no centro da clareira. Ele olhou ao redor, ativando seu Sharingan para desesperado para achar outro borrão rosa que lhe desse a próxima direção.

Onde ela... Ele olhava para os lados desesperadamente.

Viu um borrão correndo entre as arvores, mas quando ele tentou correr até o local quando viu pela visão periférica outro borrão do outro lado da clareira.  Parecia que alguém estava brincando com sua sanidade!

— Apareça! – rugiu para os ares.

Ele girou o corpo, ainda na procurando incansavelmente por qualquer sinal do rosa pálido. Paralisando completamente ao encontrar-lo perto de uma das entradas da floresta densa.

A kunoichi estava de costas para ele, vestia novamente sua famosa camisa vermelha com o circulo branco símbolo dos Haruno, a bermuda preta com a saia branca.

Os olhos ônix arregalados não conseguiam acreditar que ela poderia estar ali. Sua boca estava seca e a garganta fechada, seu peito subia e descia desesperadamente tentando levar oxigênio para seu organismo.

— Sakura...

Ao ouvir seu nome, a kunoichi foi se virando lentamente. Mesmo que tivesse a chamado, ao ver que ela se virava, Sasuke deu um passo para trás receoso em olhá-la nos olhos.

Estava pronto para encará-la nos olhos? Pronto para encarar a garota que ele quis matar?

Antes que a kunoichi se virasse completamente, algo chamou a atenção dela de volta para a floresta densa. Percebendo a intenção dela de voltar a floresta fez com que a força voltasse as pernas e Sasuke se pôs em movimento, indo até ela, mas quando estava a metros dela outra presença o fez parar.

Itachi surgiu da entrada que a kunoichi iria entrar. Ignorando completamente a presença de Sasuke, o Uchiha mais velho caminhou até a kunoichi parando muito próximo a ela, numa distancia intima demais para apenas amigos.

Sasuke sentiu a urgência em se mexer, correr até eles, mas quanto mais tentava se mexer mais paralisado ele parecia ficar. Olhou para os pés vendo que realmente não estava louco, seus pés estavam presos por raízes grossas que subiam por suas pernas o prendendo ao chão.

Desesperado, ele buscou por sua espada para cortar as raízes, mas ela também tinha desaparecido de sua bainha mesmo assim ele não desistiu de se soltar. Olhou de volta para os outros dois sentindo seu sangue congelar ao ver que Itachi segurava ambos os lados do rosto da kunoichi e se aproximava perigosamente.

— Não! – a palavra saiu como um grunhido do peito do Uchiha mais novo, desesperado. – Não! – ele repetiu desesperado mais parecia que os dois o ignoravam continuando a cena pavorosa na frente dele. – Sakura, por favor, não... – implorou.

Sua suplica pareceu dar resultado, Itachi parou de se aproximar.

— Por que não? – a voz da kunoichi fez um arrepio correr por todo seu corpo. Como um veneno se espalhando por todo seu corpo roubando seu fôlego e paralisando seus músculos. – Finalmente eu posso ser livre. – ela olhou para o lado, expondo parte de seu rosto. – Livre de você e todo seu amor doentio. – cuspiu as palavras o atingindo em cheio. Ele pode ver um sorriso horripilante crescer nos lábios dela.

Aquela não poderia ser a verdadeira Sakura...

A kunoichi voltou o rosto para Itachi, levando suas mãos para a nuca dele acabando com a distancia que os separava, unindo os seus lábios aos dele.

Sasuke sentiu o estomago embrulhar quando viu as mãos de Itachi circularem a cintura da rosada, subindo por suas costas até se perderem nos fios rosados retribuindo o beijo com a mesma intensidade. Ele fechou os olhos querendo fugir da cena, mas os reabriu, arregalando os mesmos, quando sentiu algo apertar com força sua garganta.

— Abra os olhos e veja. – a kunoichi disse com aquele sorriso psicótico. Os olhos verdes estavam arregalados e as pupilas dilatas de uma forma que não podia ser natural. Ela aumentou seu aperto na garganta dele. – Eu quero que você viva o resto da sua vida miserável com essa duvida na cabeça como uma parte do pagamento por ter me matado.

Sasuke balançou a cabeça negativamente, levando as mãos até o pescoço tentando se soltar do aperto dela porém aquilo só fez o aperto aumentar mais e mais. Quando ele sentiu que iria perder a consciência, uma lufada de ar entrou em seus pulmões e ele mais uma vez arregalou os olhos.

— Sasuke? – Juugo o chamava segurando seus ombros.

O Uchiha olhou ao redor, aterrorizado esperando encontrar a kunoichi pronta para atacá-lo de novo, mas não havia vestígios dela. Não estava mais na clareira de antes, a floresta densa tinha sido substituída por uma encosta de uma montanha e não havia sinais tanto de Itachi quanto de Sakura ao em vez disso, ele pode ver Suigetsu e Karin sentados em seus colchonetes olhando para ele.

— Você estava sonhando. – Sasuke voltou a olhar para Juugo. – Parecia estar tento um pesadelo.

Pesadelo...

Desviou o olhar para o chão. Se nada daquilo era verdade, por que ele não se sentia aliviado?

Sasuke empurrou Juugo para o lado e se levantou, um pouco cambaleante. Precisava esvaziar sua mente e se livrar dos olhares curiosos dos outros companheiros de time.

— Ele não tá bem. – Karin disse quando Sasuke sumiu de suas vistas.

— Ele descobriu que o irmão que ele odiou quase a vida inteira na verdade fez toda aquela merda por causa dele e além de matar ele, matou também a garota que ele amava. É claro que ele não tá bem!

— Ele não amava ela, só está com peso na consciência. – ela retrucou na mesma hora.

Suigetsu suspirou revirando os olhos. Não acreditando que ela ainda tinha mente para ter ciúme numa hora daquelas.

— Além de querer ser cega, vai dar uma de surda, também? Você acabou de ouvir! Ele estava sonhando com ela agora mesmo!

— Era um pesadelo! – teimou.

— Inacreditável. – Suigetsu balançou a cabeça negativamente, desistindo de discutir com Karin sobre o assunto.

Alheio a discussão dos dois, Juugo olhava preocupado para a direção que Sasuke tinha seguido. Ele sabia que o Uchiha não estava nada bem, a morte dos dois tinha mexido muito com a mente dele.

Apesar dos pesares, mesmo depois de todo o tempo longe de sua vila natal, ele nunca cogitou qualquer coisa contra Konoha até aquele momento. Agora tudo que passava na mente dele era sua vingança contra a vila e vendo seu histórico em vinganças, Juugo tinha certeza que aquela não iria terminar bem.

Nada bem.

Juugo respirou fundo e expirou lentamente, se levantando. Gostaria que, por algum milagre, Sakura estivesse ali. Mesmo convivendo pouco tempo com a kunoichi, sabia que ela teria a solução para os dilemas que perturbavam a mente de Sasuke. Tinha certeza que Sakura conseguiria entrar na mente do Uchiha e o libertar das trevas.

Juugo seguiu o rastro de chakra de Sasuke, o encontrando de pé em um dos penhascos que havia na encosta da montanha. Por algum tempo, ele apenas ficou em silencio admirando a vista reconhecendo quase no final do horizonte as barreiras e um pedaço do começo de Konoha.

— Eu não sei o que planeja para sua vingança contra Konoha, mas peço que, em memória a tudo que um dia a Sakura foi pra você, não deixe seu ódio lhe cegar. – disse não recebendo nenhuma resposta ou indicação que o Uchiha tinha lhe ouvido. O moreno continuava olhando fixamente na direção de Konoha. – Não se esqueça que também há vidas inocentes lá.

Mesmo sabendo que falar aquilo poderia ser perda de tempo, Juugo ainda tinha fio de esperança que Sasuke ainda pudesse reagir, mas quando se passaram vários minutos sem reação vinda dele Juugo suspirou já se virando para ir embora.

— Milhares morreram por essa falsa paz que eles têm. – cuspiu as palavras. – Por que eu deveria ter pena enquanto todos que eu amo morrem?

Juugo o encarou surpreso. Aquela era a primeira vez que Sasuke falava abertamente que sentia algo pela kunoichi, não que não pudesse se notar pela forma devastada como tinha ficado após o incidente que causou a morte dela, mas ele nunca tinha dito claramente que a amava.

— Eles também a perderam, Sasuke.

O moreno grunhiu alto como um animal raivoso.

— Eles choram agora, mas daqui alguns meses voltaram a sorrir, a viver como se ela nunca tivesse existido. – disse com desprezo. – Eles não a merecem...

— E você a mereceu? – Juugo interrompeu o discurso de ódio dele.

Lentamente Sasuke foi abaixando a cabeça, conforme as palavras de Juugo penetravam em sua mente.

Longe dali em uma caverna subterrânea, dois ninjas encaravam um dos tanques cheios de um liquido esverdeado que haviam espalhados pelo local. Observando atentamente tanto a figura que se encontrava dentro, quanto ao painel que mostrava todos os seus dados em tempo real.

— Quanto tempo você acha que vai demorar?

O ninja ajeitou os óculos, corrigindo algumas alterações em sua prancheta. Calmamente ele fez uma ultima avaliação antes de responder.

— Em alguns dias se aplicarmos o tratamento intensivo.

— Faça, preciso que esteja pronto o quanto antes. – ordenou.

Kabuto desviou o olhar do tanque para o ninja mascarado. O olhando com curiosidade.

— Conseguimos o que pretendíamos, por que insiste nisso? Se deixasse morrer seria até melhor para os nossos planos.

Obito continuou olhando para o tanque, com uma expressão contemplativa.

— Se diz isso, ainda não compreende completamente a situação. Sasuke pode ser o nosso trunfo para destruição de Konoha, mas também pode ser uma de nossas fraquezas. Quando não houver nada mais, qual vai ser o próximo alvo da mente deturpada dele? Nós não podemos arriscar. – apontou para o tanque. – Essa é nossa melhor chance.

Kabuto ergueu uma das sobrancelhas, ainda não muito confiante na decisão dele.

— Acho que você está superestimando isso, Sasuke já esta com a mente destruída, no final ele nem vai lembrar-se dela.

Obito balançou a cabeça negativamente, desistindo de tentar fazer Kabuto entender. Sasuke não esqueceria a kunoichi pelo mesmo motivo que ele não esqueceria Rin.

Porque da mesma forma que ódio dos Uchihas é mortal e enlouquecedor, o amor deles é único e eterno.