Qualquer um pode começar de novo

Não pelo amor, mas pela vingança

Através do fogo, nascemos de novo

A paz pela vingança

Trás o fim

Meses depois...

O sol ainda não tinha nascido, mas o dia já estava começando a clarear, os animais diurnos ainda não tinham acordado e noturnos estavam indo dormir. Aquele era o momento que ele mais gostava do dia para poder treinar, o silêncio e o vento fresco da noite o agradavam.

Aquele era um dos poucos momentos que ele não estava acompanhado e podia ficar sozinho do jeito que gostava.

Infelizmente, mais rápido do que ele gostaria esse momento passou e ele logo pode ouvir a floresta acordando, o barulho dos animais se movimentando, as aves começando a piar. Sasuke suspirou abrindo os olhos ônix e olhou com certa preguiça para a trilha que dava para um das bases abandonadas de Orochimaru onde seus companheiros de time estavam e sem pressa ele caminhou de volta.

Sasuke tinha ficado a noite fora isolado dos outros, ficava até tarde treinando e por mais que Karin pedisse, implorasse e se auto convidasse para ir junto tudo que conseguia dele era um “Não” indiferente antes de Sasuke sair andando e bem, não havia muita discussão depois que o Uchiha tomava uma decisão.

Seus momentos de solidão eram preciosos e ele não iria deixar Karin atrapalhar apenas puxando saco.

Ele caminhava calmamente com as mãos nos bolsos e, mesmo de longe, já conseguia ouvir os gritos dos companheiros discutindo.

— Pare de ser teimosa, mulher!

— E você deixe ser pervertido! Acha que não sei que você só quer ir vigiar porque ela é mulher?!

Sasuke suspirou vendo que Suigetsu e Karin estavam mais uma vez discutindo.

— Alguém tem que ficar vigiando. – Suigetsu tentando argumentar.

— Juugo está muito bem vigiando, não precisa de você lá. – Karin teimou.

— E ele não precisa dormir? Se não for eu, Sasuke irá.

Karin ficou calada.

— Sasuke não precisa saber de nada.

— O que eu não preciso saber? – Sasuke perguntou anunciando sua entrada.

Karin arregalou os olhos e engasgou, tendo uma crise de tosse. Suigetsu riu alto da reação da garota que continuava tossindo nervosa, Sasuke apenas olhava para os dois com tédio esperando que alguém explicasse.

— S-Sasuke – Karin gaguejou. – Não é nada demais, só achamos alguém dentro da base. – disse sorrindo de forma forçada.

As sobrancelhas do moreno se uniram levemente e ele olhou para Suigetsu esperando que ele explicasse melhor do que a ruiva.

— Juugo encontrou uma garota no antigo armazém de medicamentos do Kabuto. – Suigetsu explicou ganhando um olhar de ódio de Karin.

Agora as sobrancelhas de Sasuke se uniram de verdade.

O que uma garota podia estar fazendo no armazém do Kabuto? Ele próprio sempre que podia ficava longe deles, eram lugares sombrios onde Kabuto guardava os matérias e tudo necessário para as experiências que fazia junto com Orochimaru.

Sasuke lembrava bem dos fetos deformados dos experimentos fracassados que Kabuto guardava em potes de formol. Não era uma coisa agradável, nem algo que iria agradar uma garota.

— Civil?

Suigetsu balançou a cabeça negativamente.

— Shinobi, seu nível de chakra estava baixo, ela devia estar se escondendo lá.

— Hn.

Sasuke cruzou os braços sem mostrar nenhuma reação a mais caminhou calmamente para o quarto de armas.

 Ele mal saiu da sala e voltou a ouvir os gritos de Karin com Suigetsu.

Sem pressa, começou a polir as armas que tinha usado para treinar antes de colocar-las de volta no lugar. Ele usou aquele momento para refletir, deixando sua mente vagar enquanto suas mãos repetiam os movimentos contra a pedra para afiá-las.

Sua mente distraída disparou um alarme ao sentir um quase inexistente chakra familiar vindo de dentro da base.

A kunai que estava em sua mão escapou entre seus dedos, se fincando no chão e Sasuke não pareceu notar, seus instintos guiavam seus pés em direção ao chakra com sua velocidade anormal. Em poucos segundos ele estava de frente a uma das celas, pelo canto do olho conseguia ver Juugo, mas os olhos ônix encaravam e garota dentro da cela.

A garota estava sentada de costas para os dois visitantes, as únicas coisas que se conseguiam ver bem com a iluminação das tochas da cela eram o cabelo rosa até um pouco abaixo dos ombros e a pele alva.

Ela estava vestida com um top preto com mangas de arrastão, um short também preto com uma meia de arrastão até os joelhos, diferente da antiga camisa vermelha sem mangas e short/saia branco que ela usava.

Tinha quase um ano desde a ultima vez que eles tinham se visto e ele se lembrava bem da cena. Ela tinha se metido entre Sasuke e o corpo caído de Naruto e, graças ao seu incrível controle, Sasuke parou pouco antes de atingi-la.

“ Irritante” foi como ele a chamou  “Irritante como sempre”

Ela não disse nada, apenas o encarou por alguns instantes com os olhos verdes intensos por cima do ombro. Ele a encarou de volta com frieza, sem se importar em tentar entender as emoções que passavam por ali.

Sasuke nunca teve que interpretar o silencio dela simplesmente porque Sakura sempre foi uma pessoa de palavras, o que era muito irritante quando eram mais novos e ela era mais uma daqueles fãs idiotas que ficavam correndo atrás dele, mas agora eles tinham crescido e Sasuke não sabia o quanto da antiga Sakura ainda existia.

Ele esperou, esperou ela chama-lo de “Sasuke-kun”, esperou ela chorar e implorar para que ele voltasse com ela para Konoha, mas ela apenas voltou a olhar para a parede da cela ignorando a presença do Uchiha.

As sobrancelhas do Uchiha se uniram agora olhando para as costas vestidas de preto.

Percebendo a intensidade com que Sasuke olhava para a prisioneira Juugo decidiu sair sem dizer nada. Conhecia o Uchiha o bastante para saber quando fazer e não fazer perguntas.

— Sakura. – a voz dele saiu baixa e rouca.

Sua ex-companheira de time não mostrouu nenhuma reação ou qualquer coisa que indicasse que tinha ouvido o chamado, mas Sasuke não iria se repetir.

Ele expandiu mais seu chakra enchendo cada canto daquele cômodo com sua presença, para que ficasse impossível não nota-lo.

A rosada apenas virou a cabeça e olhou por cima do ombro.

— Pensei que tivesse entendido que eu não quero ser seguido. – Sasuke disse sem elevar a voz.

Sakura voltou o rosto para a parede.

— E o que te faz pensar que eu estou aqui por você?

A voz dela saiu fria e cortante, bem parecida com a que ele usava.

Sasuke buscou em suas lembranças, mas não conseguia se lembrar de uma única vez em que Sakura se dirigiu a ele daquele jeito, nem mesmo com seus inimigos.

Ele soltou uma risada que mais parecia um grunhido debochando da resposta da rosada.

— Então por quê você está aqui?

Ela não disse nada, continuou olhando para a parede.

Sasuke era um homem de poucas palavras, somente dizia o que achava necessário e definitivamente não gostava quando o ignoravam, quando ele perguntava uma coisa era para ser respondido. O comportamento de Sakura estava abusando da pouca paciência que o Uchiha tinha.

Ele grunhiu irritado.

Ela nem ao menos estava olhando para ele.

— Sabe que não gosto de repetir minhas palavras, Sakura. – disse entre os dentes se segurando para não ir até a rosada e obrigá-la a respondê-lo.

— Algumas coisas não mudam, não é? – ela deu uma risada seca, forçada. – Mas temo que não possa responder sua pergunta.

Sasuke a olhou tentando compreender a situação. Então ela estava em alguma missão para Konoha? O que eles queriam nas antigas bases do Orochimaru?

— Não me importo de esperar. — Sasuke disse quase sorrindo.

Não importava quanto tempo ele teria que esperar, Sakura iria falar. Sasuke pensou encarando as costas da garota.

Sasuke ficou encarando as costas da garota, sabia que sua presença era uma pressão maior na consciência da garota. Mesmo depois de tanto tempo, ele tinha certeza de uma coisa, conhecia Sakura e a Sakura que ele conhecia não resistia a idéia de ir contra ele.

— Sasuke?

O chamado dela foi tão repentino que Sasuke ficou um pouco surpreso, mas tratou de não mostrar nenhuma reação mesmo quando ela girou o corpo, ficando de frente para ele, mas sem olhá-lo.

Ela estava mais forte, ele podia ver pelos músculos mais definidos, mas suas curvas e a delicadeza dela ainda estavam ali.

— Não perca seu tempo comigo, não pretendo ficar muito. – ela finalmente olhou diretamente nos olhos do Uchiha.

Verdes nos ônix.

Ele não se intimidou e devolveu com a mesma intensidade o olhar dela, analisando a antiga companheira de time reparando algo parecido com uma sombra no olhar dela.

Aquilo era novo. Sakura costumava ser como um livro aberto pra ele, fácil de ler, fácil de lidar.

—Isso é o que veremos. – ele disse em um tom de ameaça.