Titanic de Volta escrita por bia


Capítulo 2
Capítulo 2




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   Meus olhos fechados não impediam que eu visse o horizonte e tudo que nele refletia. A vista do mar era a mesma do crepúsculo, que colocava o sol para dormir, ou simplesmente ia brilhar em outro lugar. Mas era complexo demais para eu entender como o mundo funcionava, embora, para uma dama da realeza, eu conhecesse demais como as coisas funcionavam.

   O barco que boiava na água despedia-se da luz, seguindo sempre ultimo raio de sol, tentando se manter aquecido por pelo manos mais um segundo. O homem que nele navegava gritava incontrolavelmente meu nome, batia uma velha e acabada garrafa de uísque no chão, que estranhamente não quebrava.

   - Rose! Abra a porta Rose! – gritava ele, com a voz grossa e severa.

   Foi então que um estrondo ecoou, ardendo os ouvidos. O mar se revoltou, a garrafa estava quebrada no chão. Mas tudo que eu acreditava virou um sonho, e quando acordei os policiais estavam preenchendo todo o espaço vazio do quarto de Jack.

   - Rose! Graças a Deus você está bem meu amor! – sorriu Carl, vindo em minha direção e me pegando no colo.

   Não, ele não estava preocupado, só não queria perder a ultima pessoa que o restou.

   - Você! Seu rato imundo. Além de ladrãozinho é seqüestrador. Prendam! – Disse Carl, apontando aqueles dedos cheios de poder para Jack, que ainda estava deitado.

   Sim, seus olhos demonstravam medo, pela primeira vez. Sua coragem pouco valia no meio de tantas armas. Era difícil acreditar que ele estava tão calmo, simplesmente colocou a mão no bolso. Mas ela foi tirada rapidamente, quando algemaram aqueles pulsos frágeis.

   - Ele não me seqüestrou! – eu gritei em plenos pulmões, mas Carl me arrastou para fora. Eu podia sentir a pulsação em minha pele, o sangue apertado em meus braços, que doíam por causa da mão de meu noivo – Me solte!

   - Você está me tirando do sério Rose. – disse ele, calmo.

   “Que absurdo!” pensei.

   - Mande soltar o rapaz Carl – pedi, olhando em seus olhos com uma inocência que naquele momento não existia.

   - Mr. Dawson está em boas mãos, amor. Lovejoy, leve-a para o quarto, certifique que ela não sairá tão cedo. 

   Ainda estava incrédula. Ele me entregou nos braços daquele coveiro, como se eu fosse um produto a ser vendido. Foi tão repentino que a dor parecia um apetrecho, e o mundo continuaria girando. Mas o chão já tinha virado um amigo, frio e duro. A porta foi trancada e ali estava eu de novo.

   Era até surreal como as pessoas se comportavam, agora ali estava eu, lembrando daquela noite no porão. Como era maravilhoso não se preocupar, poder encostar-se no assento da cadeira ou comer salada com o garfo errado. Melhor ainda era poder beber o copo de cerveja inteira, em um gole só ou tirar os sapatos.

   Virei-me de bruços, a barriga doía um pouco, mas eu já me acostumara com as roupas apertadas. Era confortável. Nunca tinha reparado direito nos pequenos detalhes do carpete. O mais incrível, ou ridículo, era que, até no chão havia ouro, como se a realeza se preocupasse se pisa em carpetes nobres ou não.

   - Você ficou sabendo? Tinha um seqüestrador a bordo, mas já foi preso e vão despachá-lo.

   “Bando de fofoqueiras mentirosas”

    Não tinha um seqüestrador a bordo, mas as noticias correm rápido, principalmente se são mentiras. Não posso ficar aqui, enquanto Jack, bem, nem eu sabia de Jack.

   Levantei-me, apoiando as duas mãos no chão. Segurei a barra do vestido e corri em direção à porta. Um pé atrás do outro, simples. Mas quando tem um objeto no chão fica difícil continuar assim, cair era só um obstáculo.

   - Socorro! Alguém me ajude! – batia os punhos fechados na porta – Alguém, por favor! – eu batia e batia na porta, mas ninguém ouvia.

   Bem, era sempre assim que eu me sentia, parecia que eu sempre gritava e gritava, mas ninguém ouvia, ou pelo menos, assim fingiam. Eu queria poder encher meus pulmões de ar e gritar, bem alto, mas é difícil quando se chora.

   Foi quando eu me lembrei de Jack que as lagrimas caíram. Seus cabelos eram tão loiros, que pareciam o sol, não o sol não, o sol era amarelo vivo e o cabelo de Jack era um loiro escuro e simples. A boca, nunca desejada tanto por mim, com um tom maravilhoso e suculento, carnudo a medida do possível.

   “Talvez não fosse para ser, talvez meu destino já estivesse escrito e Jack foi somente uma flor no caminho, para quebrar a rotina monótona” pensei, caindo ao chão.

   - Meu marido fedia a gambá, mas era podre de rico – Logo após veio uma risada alta e vulga que só uma pessoa da primeira classe teria.

   - Molly! Molly, socorro!

   - Rose? É você?

   - Sim Molly, ajude-me!

   Era difícil saber se ela ainda estava ali, a porta fechada e tudo em silencio.

   - Molly?

   - Calma Rose, estou pensado em alguma coisa.

   Passou um tempo, ainda tudo em silencio, agora eu podia ter certeza que ela não estava mais ali. Foi então que ouvi um barulho de chave sendo colocada na fechadura, girando e abrindo. Pronto!

   A porta estava aberta com Molly. Era difícil acreditar que ela conseguira.

   - Onde conseguiu essa chave?

   - As fechaduras são todas iguais, só peguei a do meu quarto.

   Eu ri, afinal, como algo tão simples seria tão complicado? Quem pensaria em usar fechaduras diferentes?

   - Obrigada Molly, sabe de Jack?

   - Eu o vi algemado, sendo levado para os porões.

   - Molly, estou muito grata, por tudo – eu disse, já me afastando para correr novamente aos porões.

   - Não esqueça Rose, damas não correm, andam rápido! – disse ela rindo. Sim, ela realmente zombava sempre que possível da primeira classe.

   Era cômico o modo que falava, andava e questionava, mas marcou na minha vida, sempre parecendo chique, mas simples.

   Ali estava eu de novo, nos porões do Titanic.

   “Bem, o que eu vim fazer aqui?” me peguei questionando, claro que era tirar Jack de trás das grades, mas como? Claro que minha palavra teria poder, já que, pelo que falam, ele ME seqüestrou.

   Mas simplesmente falaria que foi um engano? O que vão pensar de mim? Envolvendo-me assim com um ‘pobretão’.

  “Meu Deus, tenho que parar de me importar com isso.”

   Nos corredores as pessoas me olhavam (de novo). Realmente parecia que algo estava acontecendo. Todos estavam comentando, alguns gritavam: ”Jack!”

   - Você é Rose Bukater? – perguntou um moço, com sotaque diferente, talvez espanhol.

   Cabelos pretos, olhos pretos, roupas simples.

   - Quem seria o senhor?

   - Sou Fabrizio, amigo de Jack.

   - Ele esta bem? – eu estava muito preocupada.

   - Jack sabe se virar como ninguém, ele só pediu para dizer que não vá trás dele, é perigoso.

   - Onde ele está?

   - Trabalhando lá em baixo, com as maquinas e o carvão, vai ficar lá até chegarmos.

   - Tudo bem então, obrigada Fabrizio.

   - Rose, eu falo sério, não vá lá.

   - Farei o possível.

   Ao responder dei as costas e andei normalmente. Sim, realmente eu não sabia disfarçar. Eu não o deixaria lá em baixo, é escuro e sombrio. Mas principalmente, é injusto.

   Subi até o salão central, mamãe estava lá e Carl estava junto, de braços entrelaçados com a sogra. Na mesa estava Thomas, Molly, Bruce e mais alguns ricos tontos. Se eu fosse lá Carl não iria me bater, pelo menos, não na frente de todos.

   Aproximei-me mais ainda e me sentei em uma cadeira.

   - Bom dia a todos, desculpe o atraso.

   - Bom dia Rose – disse Molly, olhando a mim e piscando.

   - Linda manhã meu amor – completou Carl, ótimo ator como sempre.

   - Fiquei sabendo que Sr. Dawson seqüestrou uma dama da primeira classe – disse um senhor – coitada dela, seja quem for.

   - Coitada mesmo – eu completei.

   ‘- Mas vó, você disse que não o deixaria passar por seqüestrador, se ele não era.

   - Eu sei meu amor, mas naquela época não adiantava brigar com eles, eram mais tolos que qualquer outro.

   - Ok, chega de histórias por hoje Rose, está na hora de criança dormir.

   - Tá vô, mas amanha é pra continuar, viu vó!

   - Tudo bem, amanhã eu continuo, mas vamos dormir.

   - Boa noite.

   - Boa noite querida.’


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Notas finais do capítulo

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Desculpe a demora,
espero que gostem
se tiver duvida é só perguntar
comentarios?