San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 9
Ajudando Nas Tretas do Amiguinho




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Erica se sentou na beira da minha cama. Eu levantei e fechei a porta.

— Antes de começar o ensaio, eu queria saber uma coisa — comecei, encostando na minha mesinha, cruzando os braços.

— O quê? — Erica perguntou solicitamente, já abrindo o roteiro em seu colo.

— Bom... Eu percebi que você tem olhado pro James... — Só o fato de mencionar o nome dele foi o suficiente para que o rosto dela ficasse vermelho. — E ele te evita toda as vezes. Ele me contou sobre a aposta que você e suas amigas fizeram, e se você tá querendo fazer ele de besta de novo...

— Não, não, não! — Ela soltou em um jato, desesperada. — Eu não quero fazer isso, eu, eu ainda gosto dele e...

— Ainda gosta? — repeti com incredulidade. — Desde quando apostar com as amigas é gostar de alguém?

— Não, não foi de propósito. As coisas ficaram mal esclarecidas. Eu sempre tentei conversar com ele, mas ele sempre me evitou, e o Júlio também não deixava eu me aproximar.

Troquei um olhar com Lili, que estava apreensiva, talvez até mais curiosa do que antes.

— Então o que aconteceu? — disparei ainda na defensiva.

Erica hesitou, engolindo em seco. — Se eu contar desde o começo, vai ficar melhor de entender. E-eu sempre olhava pra ele de longe e comecei a gostar dele, e parecia que ele me olhava também, mas eu nunca tive coragem de falar com ele, então minhas amigas fizeram uma aposta pra que eu fosse falar com ele. Um dia, tomei coragem e fui. Puxei assunto e deu certo... A cada vez que falava com ele, gostava mais ainda dele... E certa vez minhas amigas fizeram outra aposta, que eu deveria roubar um beijo dele... Por que segundo elas, ele estava sendo lerdo. — Fez uma careta, como se não concordasse com aquilo. — Um dia quando estávamos conversando, eu não pensei direito e beijei ele. — Colocou a mão no rosto, escondendo as bochechas vermelhas. — E saí correndo. Fiquei com tanta vergonha que fiquei um tempo me escondendo. Quando tomei coragem de novo, fui tentar procurar por ele, mas nunca achava. Parecia até que ele tava fugindo... Quando encontrei, ele não quis falar comigo e se afastou. Eu tentei outras vezes, mas era sempre a mesma coisa. Ele nunca me explicou por que não queria mais me ver... Eu tentei, mas fui evitada.

Lili estava com o cenho franzido, e certamente tinha acreditado em tudo.

Eu fiquei chocada. Não sabia nem o que dizer.

Erica me olhou, suplicante. — Eu queria muito pedir a ajuda de vocês. Me ajudem a resolver isso. E-eu ainda gosto dele, e mesmo que ele não goste de mim, eu quero pedir desculpas, seja lá pelo que eu fiz de errado. Por favor?

Eita... — Bom... Eu... acho que posso tentar, mas não prometo nada.

Erica pulou no meu pescoço, me abraçando. — Ai, brigada!

— Tá, se acalma. Vamos ensaiar logo.

 

...

 

— Então, vamos ajudar? — Lili perguntou depois que Erica tinha ido embora, lá para quase onze horas da noite.

— Eu não sei, eu até tô pensando nisso, mas tenho medo de acabar dando merda de novo.

— Eu também... Mas é melhor a gente pensar nisso logo.

— Sim. Eu não quero que aconteça a mesma coisa, mas ela parecia sincera.

— Eu também acho. — Levantou e bocejou. — Vamos pensar com calma... Boa noite.

— Boa noite.

Depois que Lili saiu, arrumei as coisas, tomei banho e me deitei, completamente perdida em pensamentos.

E agora? Devemos falar? Porque... ele parece que ainda gosta dela também. Eles podem até ficar bem depois de resolver esse problema...

 

 

...

 

Inconscientemente, estiquei o braço para desligar o despertador, ainda grogue de sono por ter demorado a dormir na outra noite por causa dos pensamentos sobre James e Erica.

Tentei me arrastar para fora da cama, colocando a mão no chão e me apoiando. Acabei não percebendo que meu braço estava formigando e perdi a força, fazendo o meu peso me empurrar para baixo, indo com a testa de encontro ao piso em um piscar de olhos.

Soltei um grito abafado e tentei puxar minhas pernas da cama, terminando de me jogar no chão e me encolhendo, fazendo pressão na testa com as duas mãos e choramingando pela dor. Fiquei ali, resmungando, por pelo menos cinco minutos até a dor diminuir. Pelo menos eu tinha despertado de vez.

Fiz um esforço e me levantei, indo para o banheiro. Depois, me troquei com o olhar preso na sacada de Yan, o vendo sentado de lado no chão, tomando sol e com a cabeça baixa, aparentemente lendo algo.

Terminei de abrir a porta da sacada e me aproximei do guarda-corpo, admirando a cena. Não que desse pra ver grandes detalhes daquela distância, mas dava para imaginar como seria de perto. Fiquei até surpresa em como meu cérebro gravou tão bem os detalhes do rosto dele, dado as poucas vezes que consegui encará-lo por mais de cinco segundos.

Quando voltei a realidade, notei que seu rosto estava virando para o lado, eu só não sabia dizer se era na minha direção, mas mesmo assim meu coração disparou, temendo que ele tivesse percebido a doida que eu era por ficar observando ele daquela forma.

Yan levantou com um livro em mãos, limpando a calça que vestia. Fiquei parada no mesmo lugar, fingindo não ter visto nada daquilo. Ou seria melhor se eu entrasse e me escondesse?

Ele se aproximou da grade e acenou. Meu rosto esquentou com a dúvida de se o aceno era realmente para mim. Yan acenou de novo, e eu, mais envergonhada ainda, acenei timidamente de volta. Ele sorriu e entrou.

Gente do céu... Acho que era pra mim mesmo.

Eu também tenho que entrar e... Não! Se eu entrar agora ele vai achar que eu estava aqui só por causa dele... Tem que esperar um pouco, fingir que eu só vim pra cá pra admirar a vista, tomar um ar fresco, qualquer coisa do tipo.

Ouvi a porta do quarto abrir e eu automaticamente olhei para trás.

— Bru?

— Oi, Lili, peraí. — Entrei rapidamente e calcei meus sapatos.

— Você tá bem? O que aconteceu? — indagou ela, encarando algum ponto acima dos meus olhos.

— Como assim?

— Você já se olhou no espelho?

Fui ao banheiro e levei um susto ao reparar melhor em mim. O que mais chamava atenção era um vermelhão do lado esquerdo da testa, justamente onde a franja não cobria, um vermelhão que muito provavelmente ficaria roxo depois de algumas horas. Fora que, como eu não tinha dormido muito bem, estava com olheiras levemente arroxeadas debaixo dos olhos.

Que incrível.

— O que você fez? — perguntou Lili do quarto.

— Eu caí da cama — respondi, tentando ajeitar a franja para que escondesse o machucado. — Direto com a cara no chão quando tentei sair da cama, na verdade. E também acho que não dormi muito bem.

— Você tá preocupada com o James, né?

— Sim. — Voltei ao quarto, indo pegar minha mochila.

— Eu tava pensando. Acho que seria bom ele saber da verdade. Ele passou por isso e é mais forte, e se acontecer de novo vai saber lidar. E também, só cabe a gente falar, ele que vai decidir se vai falar de novo com ela ou não.

É, não tinha pensado nisso. — É, verdade... Mas você avisa ele, tá?

— Tudo bem, eu falo. Vamos.

Descemos rapidamente junto de outras meninas e saímos.

— Eita demora, hein — Júlio reclamou quando abrimos a porta da entrada.

— Não enche. — Lili fez uma careta para ele.

— Bom dia. — James sorriu ao nos ver, e rapidamente seu olhar foi para a minha testa, e ele arregalou os olhos. — O que você fez?

— Eu caí da cama. Não foi nada. — Dei de ombros.

— Dá licença. — James passou o dedão no meu machucado com uma expressão preocupada. — Você fez um galo.

Levei a mão até ali e confirmei o que ele disse. Estava mesmo alto.

— Vamos pedir uma faca lá na cantina — comentou Júlio, e todos o olharam alarmados.

— Quê? — Lili perguntou, confusa e alarmada.

— É, minha tia uma vez usou uma faca pra cortar um galo meu quando eu era criança.

— Acho que você tava é delirando com medo, isso sim — disse James, começando a rir e caminhando na frente. — Não se pode cortar um galo.

— Mas eu lembro disso. Eu chorei pra caramba aquele dia...

Fomos para o refeitório e pegamos o café. Pegamos uma das últimas mesas e nos sentamos, começando a comer. Dei uma cutucada em Lili, que acenou, e percebi que tinha esquecido de pegar uma bebida. Então para aproveitar a deixa, levantei e voltei à cantina para pegar um chá.

Eu não sabia por que estava com vergonha de falar com James sobre aquilo. Talvez porque fosse algo pessoal, algo que tinha a ver com um momento ruim que ele passou, ou sei lá.

Demorei um pouquinho e quando voltei, vi que James não estava mais ali.

Mas nossa, já foi atrás dela?!

Lili leu meus pensamentos. Ou melhor, minha expressão. — Ele tá ali. — Apontou para o lado oposto da cantina de onde eu estava.

Ah... O que será que ele pensou?

Encarei a minha xícara, um pouco nervosa, e tomei um gole. Deixei ela de lado e peguei o meu pão, prestes à levá-lo até a boca, quando senti algo gelado sendo encostado na minha testa, o que me fez levar a mão ali automaticamente, encontrando outra mão.

— É gelo — James disse de pé atrás de mim. — Vai ajudar a abaixar isso aí.

— Ah... Obrigada. — Segurei o saquinho com gelo, o vendo voltar ao seu lugar.

James voltou a comer, sem parecer estar abalado com a notícia, nem mesmo incomodado. Talvez eu tenha exagerado em ficar preocupada com ele.

Depois de alguns minutos, quando terminamos de comer, os meninos se voluntariaram em levar as bandejas para a cantina. Lili e eu pegamos nossas mochilas e levantamos, e alguém esbarrou em mim, fazendo a bolsa escorregar do meu ombro.

— Desculpa! — pedimos ao mesmo tempo, eu puxando a mochila para ela não cair, e ele fazendo o mesmo. Nos olhamos e eu corei, vendo que era Yan.

— Desculpa, você levantou de repente e eu não vi. — Ele deu um sorriso sem graça.

— Tudo bem. — Neguei com a cabeça de um jeito bobo, gaguejando.

— O que aconteceu? — Yan indicou minha mão segurando o saquinho com gelo.

Como se já não fosse idiota contar pros outros, era milhões de vezes pior contar pra ele. — Eu caí... da cama. Não foi nada.

Ele não riu. — Posso ver? — Afastei a mão um pouco, e ele fez uma careta de dor. — Uau, tem certeza que não foi nada?

— Sim... Eu tô bem... Eu... fico com hematomas muito fácil.

— Se você se sentir mal, vai na enfermaria, viu?

— Eu sei.

Yan abriu um sorriso brincalhão. — Toma mais cuidado.

Que sorriso lindo, Deus. Devia ser crime ter uma covinha dessas...

— Tá... Eu vou tentar. — Acabei rindo, sem graça.

Yan saiu andando. Lili deu a volta na mesa e riu.

— Você parece um pimentão.

Puxei os cabelos para a frente do rosto, ficando mais envergonhada ainda por ela ter falado aquilo, e saí andando, puxando a mochila para as costas.

Fomos para a primeira sala e assim que entrei, joguei o saquinho plástico fora, já que o gelo tinha derretido, e nos sentamos na penúltima carteira. Os meninos chegaram pouco depois e sentaram atrás de nós.

O resto da sala encheu e a professora chegou, já começando a passar lição.

Enquanto copiava em meu caderno, fiquei tentando imaginar o que James pensou, e se já tinha decidido o que ia fazer.

De repente, um papel dobrado foi jogando na minha mesa. Peguei o livro e abri o papel na frente dele.

“A Lili me contou, como já deve saber... e agradeço sua preocupação, de verdade. Saber o que você fez me deixou feliz”

Peguei uma caneta e escrevi embaixo.

Não precisa agradecer, eu fiz o que tinha que fazer. Ninguém mexe com meu amigo e sai impune”.

Dobrei o papel e joguei rapidamente para trás. Escutei James o abrindo, escrevendo e o devolvendo.

 “Mesmo assim, obrigado. Você é a melhor” e ele desenhou uma mãozinha mostrando o dedão.

 “Obrigada xD E já sabe o que vai fazer?

Bom, não tenho tanta certeza, mas vou falar com ela pra resolver isso logo. Não se preocupe que você vai ficar sabendo das coisas

Tudo bem. Se precisar de algo é só falar

Valeu, Bru!

:)

Depois disso, ouvi o papel ser amassado.

Apesar de fazer apenas alguns dias que nos conhecemos, eu sentia que James seria um bom amigo, daqueles que fazem de tudo para te ajudar. Parecia até que já nos conhecíamos, porque nunca tinha acontecido de eu me sentir à vontade tão rápido com alguém. E eu não podia dizer que era diferente com a Lili e o Júlio.


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