O que eu posso dizer sobre a semana? Só que o Bebê me fez ficar viciada em The Sims. E ainda fiz ele instalar o jogo num computador velho que tinha aqui.

Tomei a escrivaninha da Ana, mas ela não se importou, até quis jogar com a gente.

Minha Sim se chamava Mia Colucci. Sim, bela homenagem a Rebelde.

Se Bernardo me zombou? Imagina, né.

Logo de manhã, ele me mandou uma mensagem dizendo que ia pra casa dos avós, e que “infelizmente eu não teria a ótima companhia dele hoje”.

Eu mandei de volta “que pena, vou chorar o dia todo”.

Depois do almoço, já fui pro computador, mas pensei em algo diferente.

Criei outra família, um casal adulto e uma filha adolescente chamada Bruna.

Depois, criei outra com um adolescente chamado Yan.

Seria vergonhoso eu dizer que fiquei feliz quando eles s conheceram? E quando ficaram amigos, depois deram o primeiro beijo, e começaram a namorar...

Pelo menos aqui é fácil.

Meu celular apitou. Mensagem da Lili.

|Hoje é niver do Alex! Como queria que você visse a carinha de felicidade dele|

|Ai, que fofo. Abraça ele por mim|

|Pode deixar. Ele tá muito feliz xD Vamos fazer uma festinha pra ele|

|Chamou os meninos?|

|Chamei. Já, já eles chegam. Tô animada|

|Imagino. Guarda bolo pra mim :P|

|Haha se sobrar, eu guardo|

|Ok, obrigada s2|

|s2|

|Deixa eu ir arrumar as coisas. Mais tarde te conto como foi. Bjs|

|Ok, bjs|

Ai, como queria ver a carinha do Alex.

Bom, voltando...

Hm...

Flertar... Serenata.

Quem diria que o Yan ia fazer uma serenata pra mim?

Bruna, vai se tratar.

Depois da janta, voltei pro jogo e a Caju me fez companhia.

Outra mensagem chegou.

|Posso te ligar? :c|

|Pode|

Eita, o que será que aconteceu?

Peguei meus fones e os pluguei no celular. Logo Lili me ligou.

— Oi, Lili.

— Oi, Bru — disse com a voz desanimada.

— O que foi?

— Aconteceu um desastre.

— O quê?

— Júlio e eu brigamos.

Ai Deus... — Mas por quê?

— Bom, pra começar, ele ficou com ciúmes do Viktor, pra variar.

— Mas o que o Viktor tava fazendo aí?

— Ué, minha mãe convidou a família dele. Enfim. O Júlio já ficou com ciúmes por ele estar aqui. Eu vi só pela cara dele. Se fosse só aquilo, tudo bem... Mas a cada vez que o Viktor me olhava, eu achava que o Júlio ia pular nele.

— Meu Deus, o Júlio é muito esquentadinho.

— Pois é. — Suspirou. — Aí, no final da festa. Viktor veio se despedir de mim. Eu estava lá fora com o Júlio e o James. Ele me deu um beijo no rosto, olhou pro Júlio e disse “você sabe que ela odeia ciúme, né?”. Bru, nessa hora eu jurei que ia sair briga... Mas aí o Júlio respondeu “e você com isso?”. Eu me intrometi e falei pro Viktor ir embora, e ele me ignorou e continuou “eu estou te dando uma dica, porque foi sendo ciumento que ela parou de gostar de mim” e eu só encarando ele...

— Nossa senhora. — Coloquei a mão na testa, chocada.

— Com essa, o Júlio me olhou de cara fechada, não entendendo o que o Viktor tinha dito, e o Viktor completou com “o quê? Você não sabia que a gente namorou?”. EU QUIS MATAR ELE ALI MESMO!

Gente...

— O Júlio me olhou, James me olhou... E eu não sabia se ficava com vergonha, se gritava, se saia correndo...

— E o que você fez?

— Olhei pro Viktor, tentando manter a calma e falei “vai embora”. Aí ele deu aquele sorrisinho infeliz e saiu. Aí o Júlio pressionou com “é verdade?’. Eu já tava perdendo a paciência e soltei “é, e daí? O que isso muda?”. Ele disse “você mentiu pra gente esse tempo todo?”. Eu falei “eu nunca menti. Vocês nunca perguntaram se eu já tinha namorado ele”.

— Ai, caramba — sussurrei.

— O Júlio levantou falando “não acredito. Agora tá explicado por que ele não te deixa em paz. Vai saber o que ele tentou fazer aqui, já que ele entra a hora que quiser”. Eu levantei e falei “você realmente acha que eu ia deixar ele fazer o que quisesse?!”. Ele retrucou “como vou saber?! Uma hora você tá toda carinhosa comigo, e outra tá toda ignorante. Como vou saber que você ainda não gosta ele?!”. Ai, Bru...

— Lili do céu...

— Eu me senti muito ofendida. Segurei muito pra não chorar. Aí eu falei “se eu fiquei assim foi culpa sua. Você que me fazia ficar confusa”. Ele disse “ah, tá bom, senhora certeza do que sinto. Você não é nem um pouco confusa, né?”. Eu respondi “você sempre foi confuso desde o começo, não vem colocar a culpa em mim!”. Ele continuou “aí você aproveitava meus momentos de confusão pra ficar com ele?”. BRU DO CÉU como eu queria socar ele. Eu disse “por que você tá metendo ele nisso?! Se eu tivesse ficado com ele ou não, não seria da sua conta. A gente NÃO tá namorando, lembra? VOCÊ disse isso na sua casa”. Mas aí eu sabia que ia ficar mal depois, e acrescentei “e eu NÃO fiquei com ele”.

— Ai... E ele?

— Ficou olhado pra mim, pensando no que falar. Sabe quando a pessoa abre a boca mas não fala? Ele fez isso. Aí ele só falou “Vamo embora, James” e saiu andando... Olhei pro James, coitado, tava com cara de perdido. Ele me olhou e levantou, me abraçou e disse “eu vou tentar acalmar ele” e também foi embora.

— Meu Deus... O que você fez depois?

— Depois eu fui limpar a casa fingindo que nada tinha acontecido. Quando acabei, vim pro quarto e te mandei a mensagem.

— Ai, Lili... justo agora que vocês estavam indo pra frente.

Suspirou. — Pois é. Agora que a gente empaca de vez. Ou retrocessa.

— Vamos torcer pra que não.

— Você acha que eu peguei pesado?

— Não, você falou a verdade, ué.

— Isso é... Acho que ou ele se toca, ou vai ficar chateado por causa da “mentira”. O que eu não duvido muito.

— Do jeito que ele é...

— Se ele voltar a falar comigo, provável que fique jogando isso na minha cara... Eu não quero voltar pra escola brigada com ele. Não sei o que faço.

— Bom, espera um pouco. Talvez o James consiga fazer ele esquecer isso.

— Tomara. James é um anjo na minha vida. — Riu. — Agora vou tomar banho e dormir, Bru.

— Tá bom. Não fica com isso na cabeça, viu?

— Vou tentar. Boa noite.

— Boa noite, beijos.

— Beijos.

***

Mais uma semana se passou e nessa fatídica tarde de quinta-feira, me sentei no sofá com Bebê pra vermos desenho.

Olhei pra mesa e vi uma revisa pequena que eu nunca tinha visto.

A peguei e vi que era uma revista de signos.

— Descubra as qualidades e defeitos de cada signo — leu Bebê, fazendo voz de comercial.

— Você acredita em signos? — O olhei.

— Às vezes sim, às vezes não. Depende se tem coisa boa no horóscopo do dia.

Eu ri e balancei a cabeça. — Aí não vale.

Abri a revista e fui pra página que falava do signo de gêmeos.

— O sujeito Yan é de gêmeos?

— Sim... Aqui. As qualidades. Sociável, curioso, atencioso, bem-humorado, versátil, carinhoso, tagarela. Tem muita energia, gosta de fazer várias coisas ao mesmo tempo e gosta de novidades.

— Defeitos. — Ele pegou a revista da minha mão. — Inconstante, calculista, avoado, esguio, analítico, inquieto. Desanima das coisas com facilidade, não gosta de se sentir sozinho, limitado ou preso a algo ou alguém. Não gosta de compromisso. — Eita, como assim? — Será que ele não gosta de namorar?

— Mas ele já namorou antes.

— Hm... sei lá. Vamos ver o seu. Qual é?

— Virgem.

Ele passou algumas páginas. — Qualidades... Organizada, racional, bem-humorada, defensora, econômica, prudente, pontual e observadora. Defeitos... Tímida, insegura, conservadora, crítica. Não gosta de incertezas, de correr perigo ou perder o controle de si mesma.

— É, sou eu, mas não sei se sou observadora. Sou meio avoada na verdade.

— Minha vez. — Passou outras páginas e parou na de capricórnio. — Qualidades... Paciente, bem-humorado, determinado, prático, confiante, responsável, dedicado e honesto. Defeitos... Rígido, ambicioso, malicioso, sarcástico. — Deu um sorrisinho depois dessa. — Pessimista, teimoso, materialista e controlador. — Sorriu abertamente. — Sou eu.

Tomei a revista dele. — Vou ver da Lili... Sagitário... Qualidades... Honesta, simpática, intelectual, otimista, bem-humorada, calorosa, alegre, criativa, energética, aventureira. Gosta de liberdade, de aventuras e novas experiências. Defeitos... Inquieta, desapegada. Não tem paciência pra pessoas lentas, nem de se preocupar com detalhes e sentir-se presa a algo ou alguém.

— Sagitário é um bom signo — comentou.

— Por quê?

— Eles são divertidos. Você nunca fica parado com eles.

— É, realmente. A Lili não gosta de ficar parada.

— Será que um dia vou conhecer ela?

— Quem sabe.

Ouvimos passos vindo da escada, e então Ana apareceu, descendo, e parou perto da TV, nos olhando.

— Ah, minha revista tá aí.

— Você gosta de signos? — perguntei.

— Gosto. Acho legal. — Se aproximou e entreguei a revista pra ela. — Estão vendo o quê?

— Sei lá. — Dei de ombros.

— O pai comprou o DVD do filme do Bob Esponja ontem. — Abaixou e fuçou na portinha do rack e tirou o DVD de lá.

Meus olhos brilharam e olhei pro Bebê.

— Sou um amendobobo, yeah! — cantou, levantando os braços.

Comecei a rir e levantei, indo colocar o filme.

Conforme assistíamos, percebi uma coisa.

Bernardo e eu éramos parecidos. Ele ria de qualquer coisa idiota assim como eu.

Até a Ana percebeu. A gente ria de cenas que não tinha graça nenhuma, e ela nos olhava como se fossemos doidos.

Mas aí ria da risada alta do Bebê e tudo ficava mais engraçado.