San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 7
O Trio


Notas iniciais do capítulo

É agora que veremos quem vai pegar os papéis principais no teatro!

Boa leitura!



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— Temos ótimos atores aqui! — comentou professora Eduarda, animada.

O professor Marcos deu um passo à frente, olhando um caderno. — Para o papel de Heitor será o....Yan! — Fez sinal para que ele subisse ao palco.

Yan levantou com a salva de palmas, e foi até o palco pegar o livro e o roteiro, e depois voltou.

— Para o papel de Gregório... James!

E James passou por mim, pegou suas coisas e voltou. Houve um burburinho na plateia e o professor esperou que todos ficassem quietos.

— Para o papel principal, Jasmim... Foi difícil escolher entre duas de vocês, mas... será a Bruna!

Paralisei. De repente fiquei surda. O barulho das palmas foi diminuindo conforme eu assimilava a notícia.

Ai. Meu. Deus.

O professor Marcos fez um sinal para que eu fosse até lá, mas eu travei na poltrona. As duas professoras também me esperavam, e eu senti um calor na nuca, imaginando que todos estariam me encarando.

James deu um leve empurrão em meu ombro. — Vai lá, Bru!

Eu estava indecisa entre surtar e ficar feliz.

Puxei o ar e o soltei devagar, levantando e indo até lá. Peguei meu livro, o script e voltei ao meu lugar em um piscar de olhos, querendo evitar o que já estava acontecendo.

Para o restante dos personagens fizeram o mesmo esquema com as pessoas que sobraram, não que tivessem muitas interessadas em atuar, mas Erica ficou com o papel de Marilya. Quem sobrou pôde escolher entre ficar com cenografia, figurino, maquiagem, etc.

— Muito bem — Eduarda começou, esfregando as mãos. — Os ensaios primeiramente serão separados. Para os papeis primários e secundários serão de segunda, quarta e sexta, e para os outros terça e quinta, todos das cinco às sete e cinquenta. E depois de um certo período vamos juntar todo mundo, mas irei avisar a todos. Não se esqueçam de ler tudo o que receberam e estudarem. E obrigada por virem! Estão dispensados.

Eu não ouvi muito bem o que ela tinha dito, só prestei atenção no “dispensados”, até porque todo mundo levantou conversando. Mesmo que ainda nervosa, estava um pouco mais aliviada de não ter vários pares de olhos sobre mim. Mas isso não era algo que eu poderia reclamar depois, né, Bruna?!

Segui James para fora em silêncio.

— Temos que ensaiar por conta própria também — comentou Yan logo atrás de mim, o que quase me fez pular de susto na saída para o jardim.

— Sim — James concordou, virando para trás. — Que tal fazermos um primeiro ensaio geral amanhã depois do almoço?

— Por mim tudo bem.

— Tá, claro — falei, nervosa. — E-eu vou indo, nos vemos no jantar. — Disparei para o dormitório sem esperar resposta.

Assim que cheguei no quarto, me deitei abraçando o travesseiro.

Tudo bem, a sensação de estar lá, no palco, foi muito legal. Foi como se realmente eu estivesse sozinha, ou pelo menos só com a professora, e como se eu tivesse conseguido de verdade me sentir no lugar da personagem. Por outro lado, aquela sensação desmoronou quando voltei à realidade e reparei em todo mundo me olhando.

Enquanto estava presa nas cenas, eu não senti as mãos suando, ou as pernas um pouco bambas... Foi bom e ruim ao mesmo tempo. Agora não sei se sou capaz de lidar com toda a atenção que uma personagem principal recebe.

Soltei o ar pela boca e resolvi fazer o que eu sempre fazia com os meus problemas: deixar pra pensar depois.

Peguei o livro, que eu nem sequer analisei, e olhei os detalhes da capa, a sinopse, e sem enrolar muito comecei a ler. A história não era tão longa.

Ao longo da trama, percebi que haviam várias cenas de violência, mesmo no início do relacionamento deles, quando Gregório puxava Jasmim com força quando ela o evitava, ou quando o contrariava, e, depois do casório, ele praticamente a obrigava a ter relações sexuais. Era claro que as cenas mais pesadas seriam cortadas, mas será que cortariam os beijos também?

O Gregório é um cara insensível e violento. Trata Jasmim bem na frente dos todos, e algumas primas da personagem até ficam com inveja, sem nem sonhar como realmente ele é. Mas quando ela conhece Heitor, se apaixona à primeira vista e eles não demoram muito a começar um caso... Diferente da relação com o Gregório, a Jasmim se entrega completamente ao Heitor, e isso é muito nítido. Não que todas as cenas sejam explícitas, mas são subentendidas.

E se eu tiver que beijar James e Yan...? Ai meu Deus, onde eu fui me meter?!

Espera. Preciso me acalmar. Não posso pensar desse jeito... Vou interpretar. É a personagem que vai fazer isso... Preciso manter isso em mente. O que é quase impossível.

Meus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta.

— Vamos jantar? — Lili perguntou do lado de fora.

— Tô indo. — Deixei o livro na cama, apaguei a luz e saí.

— E aí, como foi na audição?

— Bom, consegui o papel principal... — falei baixo, passando por um grupo de meninas eufóricas quase gritando com alguma coisa.

— Uau! Você deve ser incrível. Parabéns! — comemorou, animada.

Dei um sorrisinho indeciso. — Valeu.

— Mas por que essa cara? Não parece que você gostou.

— Eu acho que gostei, mas... sei lá, eu não sou fã de atenção, sabe? Foi muito legal a sensação de atuar, mas ao mesmo tempo foi péssimo a sensação de ser encarada por tanta gente, isso porque nem tinha tanta gente lá.

— Sobre o que é essa peça? Qual a história?

— É sobre uma garota que é obrigada a se casar com um homem ruim, o Gregório, que vai ser o James, e ela se apaixona pelo Heitor, que é o Yan, e eles têm um caso... — Estremeci de vergonha e senti as bochechas quentes de falar aquilo. — Tô tentando pensar que não vai ser a gente que fazer isso, e sim os personagens, mas tá difícil — desabafei rápido demais.

— É por causa do James que você tá preocupada? — Terminamos de descer e saímos no salão de lazer.

Encarei Lili com um misto de confusão e medo.

— Eu sei, não é difícil ver que ele tá interessado em você, e você só o vê como amigo... Eu entendo, mas eu já vi ele interpretando e ele não vai levar pro lado pessoal.

Ele tá interessado em mim? Não sei nem o que falar.

— É sério, não fica se preocupando com isso.

Continuei em silêncio, talvez até um pouco mais confusa do que antes. E agora com medo de que o James realmente estivesse interessado em mim e pensasse que eu também tô interessada nele só pelo fato de que possivelmente teremos que nos beijar... Ótimo.

Procuramos os meninos pelo jardim e logo os achamos perto da mesa de sempre.

— Ei, Bru — chamou Júlio. — Parabéns pelo papel principal.

— Valeu.

James ficou ao meu lado enquanto íamos para o refeitório. — Já leu alguma coisa?

— Sim, tô na metade do livro.

— Quê?! Nossa, só li as cinco primeiras páginas só.

— Ah, eu leio rápido.

Só de pensar que em beijar Yan na frente dele me dói o estômago, e o inverso também. Ele parece tão animado... E se ele estiver animado porque eu entrei na peça? Será que ele acha que vamos ficar juntos de verdade depois disso? Ou eu tô fantasiando demais? Por favor, que eu esteja.

Pegamos nossa comida e fomos para uma mesa vazia. Ali, sentada, notei que tinha mais comida no meu prato do que no prato do James.

— O que foi? — indagou ele, estranhando minha olhada nada discreta.

— Nada. — Neguei com a cabeça. Ele vai é achar que sou morta de fome ou algo do tipo.

Começando a comer, olhei para frente, e vi que Júlio estava me observando. Quando nossos olhos se encontraram, ele baixou o rosto, escondendo um riso. De canto de olho, consegui enxergar James o fuzilando com o olhar.

Que que foi isso...?

Depois que terminamos, levamos as bandejas e fomos para nossa mesa de costume no jardim. Pelo menos não teve mais nada daquele comportamento estranho.

— Ô Bru — Lili chamou —, se você quiser ajuda pra ensaiar, posso ajudar.

— Seria bom, Lili...

— Ah... Oi. — Uma terceira voz, estranha, soou.

Nós quatro olhamos para cima ao mesmo tempo. Era a menina do teatro, Erica, acho.

— Oi. — Fui a primeira e única a responder.

Ela me olhou com um semblante inseguro e envergonhado. — E-eu tava pensando... Como fiquei com a Marilya e terei cenas com vocês, queria saber se podíamos ensaiar juntos alguma hora... — Seu olhar foi para James, que rapidamente encarou a mesa, a ignorando.

— Ah... Tá — respondi rápido. — Podemos sim, que tal amanhã às dez, depois do jantar?

Erica sorriu timidamente. — Tá ótimo... Passo no seu quarto?

— Isso. É o vinte e cinco.

— Tá bom. — Ela acenou para mim e se afastou.

Nós olhamos para James ao mesmo tempo.

— O quê?! — questionou, irritado.

Lili suspirou e se virou para Júlio. — Vai ajudar o James também?

— Vou sim, vou fazer as falas da Jasmim. — Empinou o nariz, se achando.

— Só não pode se aproveitar disso. — Dei risada.

— Claro que pode, cê acha?

James virou para ele. — Tá pensando que eu vou te beijar?

— Claro que vai, ensaio é ensaio né, bem! Tem que ser direitinho pra não fazer feio na hora.

— Então eu vou ter que te bater também.

— Vai, bate que eu gosto — falou estreitando os olhos, fazendo a gente gargalhar alto.

Devia ser engraçado ver eles ensaiando. Só não vai ser tanto quando eu estiver no lugar do Júlio.

— Bom... — James começou, secando as lágrimas de tanto rir. — Temos que ensaiar o script, os tons de voz, as feições, e memorizar as falas, claro. Acho que as cenas mesmo serão nos ensaios, a menos que a gente tenha que se concentrar em alguma cena em particular que for mais complicada. — Deu uma olhada rápida para mim e virou para Júlio.

Isso tá me deixando cada vez mais nervosa, e cada vez mais tenho a impressão de que ele não vai levar na brincadeira. Ele tá ansioso, dá pra ver escrito na testa dele!

— Quanto mais ensaios, melhor o resultado final. — Riu Júlio.

Fica quieto, Júlio. Não piora a situação.

James olhou o celular. — Quase dez horas. Vou subir. Quem sabe não termino o livro hoje. — Levantou, se espreguiçando.

Júlio fez o mesmo. — Vou com você. Boa noite, meninas.

— Boa noite — Lili e eu dissemos juntas.

Assim que eles se afastaram, me debrucei sobre a mesa e Lili riu.

— Não tem graça Lili. Você viu aquilo?!

— Sim, acho que ele tá ansioso.

— Eu não sei o que fazer.

— Olha, acho que você tem que agir o mais normal possível. Se você demonstrar que tá nervosa, ele vai ficar mais ansioso do que já tá e vai achar que você está igual a ele, sabe? Você tem que agir como se não fosse nada demais.

— É... Acho que faz sentido. Você quer ver o script da peça?

 

...

 

Sentei na cama, pegando o livro para ler, e Lili sentou na outra ponta da cama, lendo o roteiro.

— Bom, tem algumas cenas de beijos, mas são beijos técnicos, né.

Beijo técnico? Como seria isso? — Aí tem algo sobre a Jasmim e o Heitor se pegando na cama? No final.

Ela passou as páginas, lendo e procurando. — Bom, tem assim “Heitor segura Jasmim pela cintura, a olha nos olhos e diz ‘eu te amo’ e a beija. As cortinas se fecham”

— É ruim, mas não tanto como aqui.

— Como é aí?

— “Heitor segura Jasmim pela cintura, a apertando contra seu corpo e começa a beijá-la. A empurra devagar para a cama, a deita, ficando em cima dela. Ele diz que a ama e eles ficam se pegando... — Fiz uma careta de pânico.

Lili riu. — Uau, bota ruim nisso. Mas obviamente que não seria permitido vocês fazerem algo assim. — Bocejou. — Bom... vou pro quarto, boa noite. — Deixou o roteiro na cama e levantou.

— Boa noite.

Assim que ela saiu, deixei as coisas em cima da escrivaninha, tranquei a porta e fui tomar banho para tentar relaxar daquelas centenas de pensamentos que vinham de todos os lugares possíveis.


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