San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 42
Livraria + Produto Não Disponível + Outra Jéssica




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Eu havia acordado cedo. Era raro eu conseguir dormir até tarde, a menos que estivesse bem cansado.

Havia pego um livro novo na biblioteca e decidi começar a lê-lo.

O peguei e fui para a varanda.

Perdi a hora enquanto lia. Um barulho baixo tomou minha atenção. Olhei para o lado e vi alguém abrindo a porta de sua varanda e andando até a grade.

Bruna olhava para o jardim, parecendo feliz. Pelo jeito ela havia acabado de acordar. Seu cabelo estava um pouco bagunçado e estava de pijama.

Voltei a olhar o livro. A parte onde eu estava era justamente quando o personagem principal acordava pela primeira vez ao lado de sua mulher. Eles eram recém-casados, e ele ficou impressionado em como ela ficava bonita daquele jeito, inclusive depois de acordar, quando ela ainda estava sonolenta e dizia coisas com a voz rouca.

Minha opinião não era muito diferente. Eu gostava de ver mulheres quando acabavam de acordar. Sempre enchia o saco da minha mãe, dizendo que ela ficava bonita naquele momento. Ela ria e perguntava o que eu estava querendo.

Pelo jeito, com a Bruna não era diferente. Apesar dela estar longe — e eu não enxergava direito de longe — ainda dava para ver sua “beleza matinal”.

A olhei de novo, e ela estava me olhando. Antes que eu levantasse a mão, ela acenou.

Geralmente eu que acenava primeiro.

Sorri e acenei de volta.

Será que ela ficou brava pelo beijo de ontem? Gabriel disse que com certeza ela não ficou brava, mas apenas com vergonha. É claro.

Ela parecia hesitar, sem saber o que fazer. Deu uns passos para trás, virando meio devagar e entrou.

Ela ficava muito fofa envergonhada.

Eu não sei se foi certo o que eu fiz ontem. Eu continuo querendo que ela se acostume comigo. Então eu precisava ir aos poucos. Por isso escolhi aquele lugar para beijar. Era o meio termo, certo?

As professoras me disseram que estávamos livres para tirar ou colocar algumas coisas que quiséssemos, mas acho que elas ficaram decepcionadas já que não teve nenhum beijo direto, pois elas haviam dito que tínhamos química e que combinávamos com os papeis.

Não sei quanto tempo ela vai demorar para se acostumar. Eu queria que...

Parei de pensar quando a vi novamente. Parecia que ela estava pegando algo no criado mudo e colocou algo nos ouvidos. Um fone? Não conseguia distinguir o que era. Eu via tudo desfocado.

Ela começou a se mexer, e levantou os braços, dançando.

Levantei rápido e entrei. Peguei meus óculos e voltei a me sentar na varanda.

Bruna estava em cima da cama, dançando e cantando.

Sorri.

Ela pulou, sumindo de vista. Apareceu de um lado da cama, próximo da cama, e sumiu de novo. Apareceu do outro lado e sumiu de novo. Ela estava animada.

Pouco depois subiu de novo na cama e continuou a dançar.

Não conseguia deixar de sorrir. Não imaginava que ela gostasse de dançar.

Ela se moveu mais lentamente, e saiu de vista. Depois deitou.

Só de vê-la assim fiquei mais feliz. Voltei minha atenção ao livro e tirei os óculos.

Fiquei ansioso para irmos à livraria. Só não sabia se iria perguntar sobre o que ela estava ouvindo. Fiquei curioso. Mas com certeza ela iria morrer de vergonha e...

Olhei para frente, mas baixei o rosto novamente. Ela parecia olhar para cá.

Segurei o riso e me esforcei para não olhar de novo.

Quando olhei um tempo depois, ela não estava mais lá.

Será que ela notou que eu vi? Queria saber a reação dela.

Dei risada só de imaginá-la ficando vermelha e escondendo o rosto.

Tão fofa.

***

Yan disse que iriamos depois do almoço, mas não sabia se iriamos direto ou se ia subir depois, pra tocar de roupa, sei lá.

Comecei a ficar nervosa. Minha fome sumiu.

Coloquei a roupa que escolhi. Meu cabelo não estava muito bom, então fiz um rabo de cavalo.

Arrumei a franja e passei rímel. Peguei a bolsa de sempre no quarto da Lili e voltei. Coloquei a carteira dentro dela e a coloquei atravessada no peito.

Meio dia, fechei a porta do quarto e desci, devagar, tentando não pensar em Yan.

Tudo bem, era impossível.

Dei um suspiro longo e abri a porta do dormitório. Fiquei mais aliviada. Ele não estava ali.

Andei devagar até o refeitório. Entrei na fila de três pessoas. Olhei as comidas, que apensar do cheiro maravilhoso, não me dava vontade de comer.

Mas eu precisava comer ou poderia ficar mal.

Peguei um pouco de arroz, feijão um filé de frango pequeno, salada de cenoura crua e...

— Oi. — Alguém do meu lado disse, ao mesmo tempo que encostamos no pegador de alface juntos.

Yan tirou a mão primeiro. — Desculpe, pode pegar.

Sorri, meio nervosa, e peguei algumas folhas de alface. Ele pegou depois de mim.

— Só vai comer isso mesmo? — Ele perguntou.

— É... Não estou com muita fome hoje. — Tinha pego metade do que geralmente como.

— Você está bem? — perguntou preocupado.

— Estou sim.

— Se não estiver bem pra sair, não tem problema, saímos outro dia...

— Yan. — O cortei, o olhando. — Eu estou bem — Sorri. – Calma.

Ele respirou fundo, brincando e sorriu. — Tudo bem.

Terminamos de pegar a comida, e pedimos, eu, água, e Yan um suco de laranja.

Fomos para uma mesa próxima e sentamos um de frente para o outro.

Yan comia um pouco mais que eu — nos dias normais — E seu prato era bem colorido. Estava parecido com o meu, mas no dele não havia frango e tinha tomate, beterraba e milho.

Começamos a comer. Eu precisava pensar num assunto. Ainda não queria falar de Mogi.

— O que você quer fazer na livraria? — Pensei rápido.

Pensei rápido mas bem idiota, né? O que você acha que ele vai fazer numa livraria? Plantar coco que não é. Fiz uma careta.

Ele riu, engolindo a comida. — Quero ver se tem aquele livro que eu quero comprar. Liguei lá ontem e falaram que tinha.

Ah, droga. Só porque eu queria dar pra ele... O livro. — Ah sim. Que bom. Faz tempo que você está procurando, né?

— Faz, já está na hora de comprar. — Sorriu.

A cada vez que eu via aquela covinha, derretia um pouco mais. Até antes da metade do ano já virei geleia.

Me obriguei a comer tudo. Yan acabou ao mesmo tempo, já que eu estava comendo devagar.

Levamos as bandejas e saímos do refeitório. Deixamos nossos nomes na secretaria e saímos da escola.

Deixei Yan guiar o caminho.

— Yan... E como está o seu braço? Tinha esquecido de perguntar.

— Ah, está melhor. — Olhou para o braço. — Não dá pra te mostrar... — Puxou a manga, mas ela nem chegou na metade do braço. — Mas olha, lembra que aqui estava machucado também?

— Lembro, já cicatrizou — comentei olhando.

Yan estava com uma blusa branca, leve e de mangas que iam até um pouco depois do cotovelo. A gola era em “v” com um cordão branco trançado. Parecia aquelas blusas que os piratas usavam.

A blusa não era larga, mas nem justa. Ficava perfeita nele. E ele vestia uma calça jeans escura e All Stars pretos.

— Sim, todos os menores já sumiram. Aquele maior mais em cima está quase também. Ainda está vermelho, mas não tem mais casca.

— Ainda bem. Você já voltou a treinar?

— Já. Um tempo depois voltei. Quando não tinha mais risco do machucado maior abrir. Já voltei com meus treinos pesados. — Me olhou sorrindo, e deu um empurrão de leve no meu braço com o cotovelo.

Dei risada. — Enquanto você ficava assistindo, eu treinava.

Yan me olhou fingindo estar ofendido. Eu acabei rindo e ele também.

Andamos algumas ruas e chegamos na avenida principal. Ficamos na mesma calçada, e logo Yan virou à esquerda e entrou na livraria.

Havia uma pessoa ou outra andando ou olhando os livros. O ambiente era muito aconchegante, talvez devido o chão ser de madeira e ter uma quantidade absurda de livros.

Percebi que estava tocando MPB bem baixo na loja.

Yan olhava as pilhas de livros, e pelo jeito achou o que queria. Foi direto para uma que estava perto. O segui.

Havia uma plaquinha dizendo que era um dos livros mais vendidos do mês.

Mas Yan não parecia feliz. Ele estava tirando os livros que estavam em cima para ver os de baixo.

— Mas me disseram que ainda tinha.

Olhei a capa do único livro que estava para exposição. Já estava aberto e meio amassado.

Ajudei ele a olhar aquela pilha, mas não achamos mais nada. Só haviam outros livros do mesmo autor.

Ele suspirou. — Eu vou perguntar para alguma vendedora.

— Tá bom. — O olhei se afastar.

Que droga. Ele não está com sorte com esse livro. Talvez eu esteja tirando a sorte dele.

Andei pelas estantes, olhando os livros, procurando algo interessante.

Olhei alguns que me chamaram a atenção pela capa, e li algumas sinopses. Mas nada que me fizesse querer comprar.

Yan estava demorando, então decidi procura-lo. Andei pela loja.

Passei por duas mulheres, que pareciam ser mãe e filha, e estavam brigando em voz baixa. A garota devia ter a minha idade.

— Mas mãe...

— Eu já falei, você não merece. Só tira nota ruim, não me respeita e ainda quer ganhar algo?

— Você é muito chata!

— Larga isso aí ou eu dou na sua cara aqui mesmo.

A menina bufou com raiva e largou o livro no chão, e saiu andando.

A mulher suspirou, cansada, pegou o livro do chão, o colocou na estante atrás dela e foi embora.

Fui até lá. Vai que é o livro que o Yan quer.

Peguei o livro e o virei.

Não era.

Droga.

Procurei a estante daquele livro. Achei e o coloquei no lugar. Aí percebi que ele estava grudado com outro livro mais grosso.

Os peguei e desgrudei os dois.

Meus olhos brilharam. É ele!

O segurei, o apertando contra meu peito, como se alguém pudesse pega-lo. Coloquei o livro fino no lugar e sai para procurar Yan.

Andei pela loja e não demorei para acha-lo. Escondi o nome do livro com as mãos, o abraçando.

— Yan... — Cheguei atrás dele. Ele se virou. — E aí?

— Eles não tinham mais. Nem em estoque! — disse decepcionado.

Percebi que eu não gostava de vê-lo triste. Quase esqueci do que tinha em meus braços. Quase.

— Achou algo legal? — Ele deu um sorriso triste.

— Achei. Fiquei curiosa sobre ele.

— Qual o nome?

Segurei o riso para não me entregar logo de cara, e rapidamente estendi o livro para ele, com a capa para cima.

Yan olhou para o livro, e para mim, abrindo um sorriso. — Como...? — Começou, o pegando.

Contei a pequena história, inclusive que ele estava grudado com outro livro pelo plástico. — Aí eu vi que era esse. — Dei de ombros.

Ele me olhou, ainda sem acreditar, e num piscar de olhos, ele estava me abraçando.

Meu rosto ferveu, mas o abracei pelo pescoço.

Yan apertou minha cintura e me levantou. Segurei para não dar um gritinho e me limitei a dar risada.

Me colocou de volta no chão. — Acho que você é meu amuleto da sorte. Obrigado.

Sorri. Eu não sabia o que responder.

— Vamos lá pagar. Você ainda quer pegar algo? — perguntou colocando o braço em volta dos meus ombros e me guindo para o caixa.

— Não, eu...

— Yan? — Alguém chamou antes de sairmos do corredor.

Olhamos para trás ao mesmo tempo. Yan olhou para a mulher e a garota que estava com ela, tentando lembrar.

— Ah! Tia Milena! — Ele sorriu, foi até ela e a abraçou.

A mulher o abraçou, o apertando. — Como você cresceu! — Se soltaram, mas ela segurou o rosto dele, sorrindo. — Eu quase não te reconheci. Como você está lindo — disse, com certo orgulho.

Ele sorriu. — Se a senhora não tivesse me chamado nem iria te reconhecer.

Milena o soltou e apontou para a garota do lado dela. — Lembra dela?

A garota sorriu, parecendo contente em vê-lo. Contente até demais.

Yan a olhou, pensando. — ... Jéssica, claro.

Ela se iluminou quando ele disse seu nome. Deu uns passos e o abraçou pelo pescoço.

— Você cresceu também. — Ele disse, e se soltaram.

— Ela que te reconheceu. — Milena disse. — Te viu de longe.

Jéssica deu um olhar meio nervoso para sua mãe.

Yan me olhou, e antes que falasse algo, Milena me olhou.

— Quem é essa moça bonita? Sua namorada?

— Ela... — Me olhou rapidamente. — É minha amiga, da escola.

Dei uns passos e fiquei do lado dele. — Olá.

— Ora, mas vocês estavam abraçados. — Ela sorriu.

Meu rosto já quente, piorou.

— É que ela achou o último livro da loja. — Levantou o livro. — Estava agradecendo.

— Uau. — Jéssica pegou o livro da mão dele. — Eu estava procurando esse livro. — Sorriu, olhando para Yan.

— Acabou o estoque dele. — Yan falou, meio incomodado, mas sorrindo.

— Eu amo esse autor. — Ela olhou a capa.

— Desde quando? — Ele perguntou, curioso.

— Depois que você foi embora, fui procurar pra ler — explicou rápido.

Milena pegou o livro da mão da filha e devolveu para Yan. — E o que está fazendo aqui? Está estudando na San Peter? — perguntou carinhosa.

— Sim, estou sim.

— Mas seu pai voltou pra cá?

— Não, ele está em Mogi.

— Ele e sua mãe voltaram?

— Ah não. Eles moram bem longe um do outro.

— Ah sim... — Olhou para Jéssica, que parecia impaciente. — Bom, temos que ir. Foi muito bom te ver. — O abraçou. — Aparece lá em casa, ainda moramos no mesmo lugar.

— Claro, quando der eu vou.

Jéssica abraçou Yan e deu um beijo em seu rosto.

— Tchau, foi um prazer. — Milena acenou para mim.

— Igualmente. — Acenei.

Jéssica não olhou para mim. Elas se afastaram, e aí, ela olhou para trás. Não consegui decifrar sua cara, mas parecia estar com um pouco de raiva.

Fomos para a fila do caixa.

— Aquela moça era minha vizinha. — Yan falou assim que paramos na fila. — Eu ficava na casa dela de tarde, nas férias, e brincava com a Jéssica. Ela é dois anos mais nova que eu.

— Ah...

E com certeza você era a paixonite dela. Já não gostei dela por causa do nome — que lembra a ex amiga da Lili —, depois que ela olhou daquele jeito pra ele, então...

Yan pagou o livro e saímos.

Acho que agora é o momento.

— Quer tomar sorvete? — Yan me olhou.

— Quero. — Ótimo, mais tempos juntos!


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