San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 24
Domingo Legal




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O sábado foi unicamente usado para fazer o restante das lições e algumas atividades para entregar durante a semana. Fiz algumas visitas para a biblioteca, aproveitando para esticar as pernas por ficar tempo demais sentada na cadeira, curvada sobre a mesa, e algumas pausas foram para comer, afinal saco vazio não para em pé e muito menos presta atenção no que está fazendo.

Só sei que terminei tudo lá para as dez da noite, e não me restou muito a fazer além de tomar banho e ir dormir. Minha cabeça parecia prestes a explodir com tanta informação.

Mas tinha uma coisa boa. Domingo estava completamente livre!

Não que eu tenha muito pra fazer sozinha.

Troquei o pijama por uma roupa mais usável socialmente e desci para almoçar. Peguei minha comida e me sentei em uma mesa próxima à cantina. Haviam umas cinco pessoas solitárias comendo, cada uma em um canto do lugar.

De repente, a porta que dava para o prédio dois foi aberta. Todos viraram suas cabeças para ver, devido ao barulho, e uma menina entrou, parecendo bem entretida com suas duas malas rosas de rodinha, que eram metade do corpo dela. Passou uma mala para a frente da porta, e depois outra e ajeitou a alça da mochila, nas costas.

Ela parecia ser um pouco mais baixa que eu e seu cabelo era curto, na altura do queixo, repicado e loiro, quase branco. Vestia uma jardineira jeans azul claro e tênis amarelos.

Isso que é mudança.

A menina atravessou o refeitório, observando tudo o que havia para ser observado, puxando as malas até a outra porta, e logo saiu para o jardim.

Enrolei bastante ali, sabendo que nada me esperaria no quarto, e quando estava ficando entediada levei minha bandeja e voltei ao dormitório. Subi a primeira leva de escadas e escutei alguém descendo.

Olhei para cima e vi uma cabeça platinada.

— Ei. — Ela parou no último degrau, na minha frente. — Onde fica a biblioteca?

Ela é realmente mais baixa que eu. Uns quatro dedos, talvez. Não reclamo mais da minha altura.

— No prédio dois, no segundo andar.

— Antes do refeitório, né? — perguntou. Sua voz era fina e delicada, o tipo de voz que eu esperaria sair de uma pessoa fofinha assim.

— Isso.

— Ah, ok. Obrigada. — Sorriu e passou por mim.

— Por nada.

Ela parece um pouco doidinha, mas discreta ao mesmo tempo.

Se eu tentasse cortar o cabelo chanel e franja... Senhor, Deus me livre. Eu ia ficar com cara daquela bolacha lá.

Entrei no quarto, ainda pensativa sobre minha aparência e parei na frente da cama. Estava tudo arrumado e não tinha mais o que fazer. E se eu mudasse meu cabelo? Ele sempre foi assim, castanho, ondulado e abaixo do ombro. Nunca tive coragem de cortar, pintar ou fazer qualquer coisa que mudasse ele. O máximo que fiz foi cortar essa franjinha, e eu só uso ela de lado.

Preciso pedir a opinião da Lili, vai que ela tem alguma ideia boa sem ser exagerada.

Andei até a sacada e olhei para o jardim, notando mais uma vez como era estranho ver aquele lugar vazio. Virando o rosto para o outro lado, vi as quadras esportivas. Será que estão abertas? Talvez eu consiga arranjar uma bola e treinar minha coordenação. Não custa tentar.

Novamente, saí do quarto, fechando a porta, e desci. Caminhei tranquilamente para o fundo do jardim, sem querer chamar atenção, mas também dando a chance de, se algum funcionário me visse, conseguisse gritar e avisar que eu não podia ficar lá.

O portão estava destrancado, apenas com o trinco fechado.

O vestiário, que ficava do lado direito das quadras, ao lado do auditório, estava fechado, mas a sala de equipamentos não estava. Entrei na salinha bem organizada e procurei uma bola de vôlei. Estavam expostas em prateleiras altas.

Peguei uma, abri o portãozinho do guarda-corpo de ferro e entrei na quadra, que parecia maior ainda vazia daquele jeito.

Comecei a jogar a bola para o alto, com os braços esticados, como se fosse dar uma manchete, e tentava me manter no mesmo lugar e jogar a bola cada vez mais alto. Pelo menos eu conseguia me manter no mesmo lugar. Até que eu era boa nisso.

Acho que vou conseguir fazer bem no campeonato, afinal.

Só acordei dos meus pensamentos quando a bola bateu no teto da quadra, provocando um barulho super alto, me fazendo pular de susto. De repente, ouvi uma gargalhada e eu me virei, assustada, já achando que a escola era assombrada.

Yan estava apoiado na grade em frente ao portão de entrada. — Você nem percebeu o que tava fazendo, né?

Minhas bochechas começaram a queimar de vergonha. — Pior que não mesmo... — confessei, sem graça. — Tá fazendo o que aqui?

— Eu quis vir mais cedo... Eu quis vir mais cedo — repetiu, como se não quisesse terminar a frase.

— E como você me descobriu?

— Eu tinha acabado de chegar e tava na varanda e te vi entrando aqui. Quis saber o que você tava aprontando — brincou, abrindo um sorriso.

Pode falar, você estava com saudade de mim... Até parece.

Procurei a bola pela quadra e a encontrei a alguns passos de distância. Quando a peguei, voltei a olhar para ele. — Quer jogar?

Seu sorriso aumentou. — Claro. — Andou até a entrada da quadra e se aproximou, fazendo sinal para jogar a bola.

Ele estava vestindo uma calça jeans escura e uma camiseta cinza com vários desenhos pretos que não fazia sentido algum.

Você fica lindo de cinza... Mas você fica bem com qualquer cor.

Joguei a bola para ele, que defendeu com uma manchete, jogando a bola para o alto e a rebateu para mim. Naquele movimento, percebi que ele estava com alguns arranhões na parte de fora do braço esquerdo, próximo aos cotovelos, onde a manga da camiseta não chegava.

— Então... — Ele começou, olhando para a bola. — Como foi o seu meio final de semana?

— Hm... Foi tedioso. Ontem fiquei o dia todo fazendo lição.

— Nossa. Eu também tive que fazer lição ontem, mas não fiquei o dia todo nisso.

— E o que você fez?

— Mateus me levou num clube de esporte. Jogamos basquete.

— Jogaram só por diversão?

— Mais ou menos. Os amigos do Mateus ficaram bem sérios quando a partida começou. — Deu risada.

Joguei a bola de volta, mas ele a pegou, começando a quicá-la no chão. — Eles eram rápidos, eu tinha que correr muito... — Se aproximou de mim, ainda quicando a bola. — Mas ainda assim, eu consegui fazer alguns pontos. — Ele girou, passando por mim, e correu até a ponta da quadra, jogando a bola no aro e acertando.

Yan me lançou um olhar rápido, divertido, com um sorriso enorme estampado no rosto, e pegou a bola do chão.

Não tinha como não sorrir com o sorriso dele.

Ele olhou para o chão, parecendo sem graça, e voltou a quicar a bola no chão. Voltou a me olhar. — Quer tentar tirar a bola de mim?

Ri, nervosa. — Eu não vou conseguir.

— Você nem tentou.

Tá. Posso tentar.

Fui para cima, mas ele virou as costas, rindo, sem parar de bater a bola no chão. Com um braço tentava me bloquear, mas eu tentava mudar de lado, e ele acompanhava. Yan andou de novo e fez outra cesta. Dessa vez passou a bola para mim, parecendo se divertir à beça.

Comecei a bater a bola no chão, rindo, sabendo que não ia conseguir fazer muita coisa. Ele viria para cima de mim a qualquer momento. Dei alguns passos para trás e para os lados, tentando confundi-lo. Dei um passo para a esquerda, e assim que ele se mexeu junto, corri para a direita.

No mesmo momento que passei por ele, senti seus braços me rodeando e me impedindo de continuar. Mesmo assim joguei a bola, que passou perto do aro.

Senti o perfume de Yan no mesmo instante em que ele me pegou. Meu coração já estava acelerado antes, agora então ia sair do peito e ele mesmo fazer uma cesta.

— Isso não vale! — gaguejei, sentindo a cara ferver.

Ele riu e se afastou. — Claro que vale... Você foi esperta. Quase conseguiu passar por mim.

— Não é justo. Duvido que você fez isso com os amigos do Mateus.

— Bom, nem dava, eles eram do meu tamanho, até maiores. Era meio que impossível. — Passou a mão pelo cabelo, sorrindo. Me derreti só um pouquinho com aquela visão.

Fui atrás da bola e a joguei para o alto, fazendo um levantamento com as pontas dos dedos, e passei para Yan.

Continuamos jogando por um tempo, sem mais mudanças para basquete.

Estava silencioso tirando o som da bola sendo jogada de uma mão para a outra, ecoando no teto alto da quadra, e o som das nossas risadas ocasionais quando um de nós jogava a bola de um jeito torto demais.

Quem diria que estaríamos jogando assim, sozinhos. Eu nunca imaginaria isso.

— Yan...? — comecei, lembrando de algo importante que eu queria perguntar.

— Sim?

— Você vai participar da equipe da sua sala pro campeonato?

— Arrã. Você vai, né?

— Sim.

— Ah! Eu sabia! — falou animado. Parecia até que tinha acertado o bingo.

Sorri com a empolgação dele.  — Sabia como?

— Eu imaginei. Você é boa nisso. Pelo menos pelo que tô vendo agora. Por isso vim aqui, pra ver suas habilidades.

Corei com o elogio, mas fiquei confusa. — Mas pra que você ia querer ver minhas habilidades?

Ele deu um sorriso de lado. — Ué, somos adversários agora. Preciso ver seus pontos fracos.

Gelei. Ele usaria isso conta mim...?

Yan começou a rir. — Ei, eu tô brincando. Eu não faria isso com você.

Ele deve ter visto o desespero da minha cara. Eu estava segurando a bola e comecei a girá-la nos dedos. Olhei para ele, dando um sorriso envergonhado de quem foi pego numa pegadinha e comecei a andar na direção dele, indo até o portão e para a sala de equipamentos.

Escutei ele correndo e parando no meio da sala atrás de mim. — Bruna, você tá brava...? E-eu juro que era brincadeira...

Fiquei na ponta dos pés e coloquei a bola de volta na prateleira. — Se você tá vendo meus pontos fracos... eu não posso bobear, certo? — Dei um sorriso brincalhão para ele.

Eu sei que ele estava brincando. Só queria ver a reação dele.

Yan respirou, parecendo aliviado. Passou a mão na lateral do cabelo e sorriu. — Talvez.

A sala estava levemente escura, e isso não era bom para o meu coração.

Passei por ele, indo para a porta. — Talvez também seja bom pra você. Eu também fiquei de olho nos seus pontos fracos.

Vi de relance sua expressão preocupada e acabei rindo. Ouvi ele andando atrás de mim, rindo junto comigo, sabendo que eu também estava brincando.

Saímos da quadra.

— Acho que podemos fazer algo que não tenha a ver com o campeonato. — Ele andou do meu lado.

— Tipo o quê?

Ele pensou. — Pior que não sei. Não tem muitas opções pra se fazer nessa escola sem ser estudar ou ficar parado olhando o céu. Ou o teto do quarto... — Ele parou e me olhou. — Sabe jogar xadrez?

— Hm... — Eu sou péssima nisso, não pode ser damas? — Não muito, na verdade. Faz muito tempo que tentei aprender, já esqueci tudo.

— E você quer voltar a aprender?

Se for com você, sem dúvida alguma.  — Ah, pode ser. Mas onde podemos jogar xadrez aqui?

— Na biblioteca tem algumas mesas de tabuleiro. Vamos lá?

— Vamos.

Depois daquele sábado tedioso, nunca achei que passaria o domingo tão bem.

Atravessamos o refeitório e fomos para o prédio dois. Subimos o primeiro andar.

— Você não acha estranho? — Parei, olhando para o corredor. — É tão vazio. Não tem barulho, não tem ninguém. É um pouco solitário.

— Eu também acho. Imagina isso aqui a noite? Deve ser bizarro. Se o dormitório já fica sinistro, imagina isso aqui. Uma bela cena de filme de terror.

Concordei.

Subimos para o segundo andar e andamos até a entrada da biblioteca.


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