San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 22
Engano




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Por mais que eu tivesse acordado com todo o pique de uma boa aluna que estava preparada para fazer todas as lições com ânimo, os professores estavam animados em nos ferrar, passando lição extra para entregar na próxima aula. Apesar de gostar de estar sempre em dia com as matérias, ficar sem fazer absolutamente nada era algo prazeroso.

Saímos da última aula resmungando em direção ao refeitório. Fomos para a fila, como sempre, e pegamos nosso almoço.

— Sabe, eu tô me esforçando — reclamou Júlio quando nos sentamos —, mas parece que quanto mais eu me esforço, mais os professores querem me pressionar jogando lição na nossa cara e falando “faz tudo ou você repete de ano”.

— Não só a você — James disse.

— O importante é que você faça o melhor que puder — Lili incentivou. — Até porque não adianta fazer tudo isso e não aprender nada. Tudo o que eles passaram de lição é das matérias que estamos vendo.

— Eu sei. — Júlio remexeu a comida com o garfo, fazendo uma careta.

Assim que terminamos, Lili e eu fizemos uma parte das lições no quarto dela. Abrimos o máximo que deu a porta da sacada, já que o dia estava quente, e fizemos algumas várias pausas por preguiça. Não conseguimos terminar nem metade, isso que a Lili conseguia fazer tudo mais rápido do que eu.

No horário, descemos para o café, encontramos os meninos e comemos. Júlio estava motivado, coisa que percebemos com surpresa, e ele quis voltar para o quarto.

Lili, James e eu ficamos nossa mesa, nós dois sentados lado a lado e Lili na frente.

— Eu sei que você não me conhece, mas não se preocupe, terá muito tempo após o casamento para me conhecer — James disse, de repente, virando-se para mim.

Pff, já saquei. — Não fales como se me entendesse. Não tenho intenção alguma de me casar contigo — recitei, franzindo o cenho, tentando demonstrar raiva.

Eu já tinha decorado muitas partes da peça, e pelo jeito, James também.

— Você pode não querer. — Ele estreitou os olhos e segurou meu rosto, apertando as minhas bochechas e me fazendo fazer um bico. — Mas você será minha, Jasmim. Não importa o que faça! — Forçou o drama, dando uma risada maléfica no final.

Puxei sua mão, o encarando mais de perto. — É o que veremos.

— Você não acha que é muito abusada, não? Infelizmente não do jeito que eu queria.

Assim que abri a boca para dar uma bela resposta, senti algo empurrando minha cabeça contra a de James. Quando pisquei, percebi que nossas bocas estavam coladas, e nos afastamos rapidamente, assustados e vermelhos.

Mas o quê...?!

— O que você pensa que tá fazendo?! — James disparou, levantando.

Só ali notei uma figura do nosso lado e, quando olhei para cima, percebi o que tinha acontecido. Tinha que ser você!

— O que foi? Vocês estavam enrolando aí... — Viktor falou, como se não tivesse feito nada de anormal. — Só dei um empurrãozinho.

Me virei para a mesa, cobrindo meu rosto com as mãos, sentindo ele ferver de vergonha.

— Você nem sabe de nada e faz isso? — James perguntou, inquieto.

— Ué, e você nunca beijou ela antes?

— Claro que não. Não somos namorados.

— Ah... — Viktor hesitou. — Eu achei que... Foi mal.

Não ouvi mais nada, e senti James sentando de volta. Olhei para Lili, sem saber se ela estava surpresa ou segurando a risada. Os dois, provavelmente.

— Esse seu colega é intrometido, hein? — James falou, querendo quebrar o climão.

Olhei para ele, completamente sem graça. — James...

— Desculpa. — Ele me interrompeu. — Sério, desculpa.

— Você não teve culpa...! Ah, esquece isso, vai. — Eu não sabia onde enfiar a cara.

Ele riu. — Certo, esquecendo, esquecendo.

Cara... Acabei de perder o bv com o James... Isso não estava planejado... E agora?! E agora não tem nada pra fazer! Não tem como voltar atrás. Não tô acreditando nisso... Era pra ter sido o Yan! Ai Deus, por quê?!

Ainda vamos para o ensaio... Como vou olhar pra ele agora? Calma, Bruna, foi só um selinho. Nada demais, vocês fariam isso uma hora ou outra na peça, não surta.

— Vamos pro teatro? — James me cutucou com o braço.

Agora tô com vergonha de ficar sozinha com ele. — Ainda não tá cedo?

— A gente sempre vai essa hora. — Ele não parece nem um pouco abalado com o que aconteceu. Talvez eu esteja exagerando.

Suspirei baixinho e levantei.  — Até mais tarde, Lili.

— Até.

Antes de sair, a encarei com uma expressão de dor, e ela riu, dando de ombros. Seguimos para o auditório, indo pela trilha entre as árvores, em silêncio.

Ok, Erica, pode aparecer agora.

Mesmo com o barulho do jardim, conseguimos ouvir alguém correndo. Esse alguém nos alcançou e parou ao lado de James, ofegante.

— Oi, gente! — Erica disse, acenando.

Obrigada, Deus!

— Oi — respondemos juntos, James com mais animação do que eu.

E ela começou a falar sem parar, enquanto eu respirava aliviada de não precisar ficar naquele estado vergonhoso até estarmos sentados nas cadeiras da plateia.

Entramos no auditório e fomos para a primeira fileira, como das outras vezes. Aos poucos os outros alunos começaram a chegar.

Cadê você, Yan? Me sinto como se tivesse te traído... Eu sei que não temos nada, mas é paranoia da minha cabeça. Por coisas assim que fico pensando em como tem gente que, mesmo gostando de outro alguém, consegue ficar com outras pessoas. Pra mim, isso é impossível.

Os professores chegaram e foram para o palco, os últimos alunos sentaram e o grupo que já estava lá foi para atrás das cortinas.

Hoje começaríamos a cena dos preparativos para o casamento. Teríamos o pai de Jasmim, Gregório e seu pai. De acordo com a professora Eduarda, mais para frente os figurantes entrariam na cena.

James, Ricardo e Gustavo foram para o palco começar a cena. Eu fiquei ali, ansiosa, já que Yan ainda não tinha chegado, e quando olhei para o lado, vi ele andando em minha direção e sentando do meu lado esquerdo.

— Oi — sussurrou, vendo a movimentação do palco.

— Oi.

Ele me encarou, de repente, parecendo querer falar alguma coisa, mas voltou a olhar para frente. Estranhei aquilo e fiquei neurótica de novo.

Os meninos começaram a ensaiar, e apesar de eu ter que prestar atenção, fiquei incomodada com o silencio entre nós dois. Geralmente ele sempre começava a falar de alguma coisa, fosse da cena ou sei lá.

— Tá tudo bem? — cochichei.

Yan abaixou levemente a cabeça, como se quisesse esconder os olhos para não levar bronca por não estar prestando atenção na peça, e me olhou. — Sim — cochichou de volta. — Por quê?

— Você chegou atrasado... Coisa que é rara.

— Eu perdi a noção do tempo fazendo lição — explicou, abrindo um sorrisinho.

— Ah... — Balancei a cabeça, afirmando.

Ele voltou a olhar para o palco, apoiando o queixo na mão e o braço no descanso esquerdo da cadeira, ficando um pouco mais longe de mim.

Por que sinto que ele tá distante? Será que eu fiz alguma coisa errada?

Tentei prestar atenção nos meninos. Todos eles interpretavam bem. James ainda mais. Apesar que nas cenas onde Gregório estava acompanhado de outras pessoas, não só a Jasmim, não era tão diferente do jeito normal dele... A mudança drástica acontecia quando o personagem ficava sozinho com Jasmim.

Yan se mexeu na cadeira, trocando o lado onde estava apoiado, ficando mais perto do que antes. — Você e o James estão... ficando ou algo do tipo?

Arregalei os olhos, sentindo até os dedinhos dos pés gelarem. Ele viu aquilo! — Não — respondi rapidamente, meio paralisada.

— Então vocês estavam ensaiando? É que eu vi vocês...

— S-sim, quer dizer, mais ou menos. Aquilo não era pra ter acontecido... O Viktor empurrou nós dois um contra o outro... — expliquei rápido, atropelando todas as palavras, me sentindo uma idiota.

Ele franziu o cenho de leve. — Quem é Viktor?

— Amigo da Lili, ele tava atrás da gente. Acho que ele achou que a gente namorava e quis fazer alguma brincadeira idiota.

— Ah... — Olhou para frente. Sua mão escondia quase seu rosto todo, na posição que estava. — Eu achei... que você estivesse pronta... pra aquilo... Eu fiquei pensando, porquê... Você não tinha me falado nada, mas também pensei que você teria mais facilidade já que o James é seu amigo... — explicou, conforme concluía o pensamento.

Uau... O que eu falo? Ele ficou pensando nisso...?

Ele me olhou de novo, sem graça. — Desculpa, eu não devia me intrometer assim.

— Não, não, tudo bem... — Sorri, sem jeito.

Ele sorriu, concordando, e voltou a prestar atenção no ensaio.

Se eu pudesse, e tivesse coragem, te beijava aqui mesmo, seu lindo! Você ainda vai me matar do coração com esse seu jeito.

Uns vinte minutos depois de um silêncio não mais constrangedor entre Yan e eu, subi no palco e continuamos a cena. Ele não apareceria naquele dia, então ficou assistindo do seu lugar, sorrindo de vez em quando.

No fim, subi para o dormitório e entrei no quarto da Lili, mas ela não estava lá. Desci, fui até nossa mesa, e nem os meninos estavam lá. Parei na entrada do refeitório, procurei e nada. Andei pelo jardim, olhando cada rosto que aparecia por perto. Era muita gente.

Andei até perto das quadras, e na volta procurei por entre os alunos que estavam sentados no chão, encostados na parede do dormitório feminino. Ali, vi Lili conversando com Viktor. Aparentemente, só conversando tranquilamente, em uma distância razoável.

Achei melhor não atrapalhar e voltei para a nossa mesa, esperando pelo primeiro que resolvesse aparecer.

— Ué, tá sozinha? — Ouvi Júlio atrás de mim, dando a volta na mesa. — Cadê a Lili?

— Hmm... Eu não sei... — menti, sem saber se era melhor falar ou não. — Saí do ensaio e não vi ela ainda.

— Que estranho... — Se sentou no banco da frente. — Será que aquele colega dela não roubou ela não?

— Acho pouco provável que ele tenha roubado ela. Provavelmente ela foi por conta própria — provoquei, segurando o riso.

Júlio fez um biquinho birrento. — Sei... Bom, eu quero jantar. Você vem?

— Vou esperar ela.

— Tá. — Levantou e caminhou para o refeitório.

Ele ficou nervosinho, ui.

Dois minutos depois, James apareceu.

— Não vai jantar?

— Tô esperando a Lili.

— E onde ela tá? — Ele colocou as mãos na cintura.

— Falando com o Viktor.

Deu risada. — Sei não esses dois, hein... E o Júlio já foi?

— Já.

— Então vou lá com ele...

— Ei, não conta sobre a Lili. Eu falei pra ele que não sabia onde ela tava.

 — Tá, vou guardar esse segredo terrível. — Riu e acenou, se afastando.

Fiquei observando as pessoas indo e voltando do refeitório por algum tempo, até que senti alguém me abraçando pelo pescoço.

— Bru, desculpa! Você não precisava me esperar.

— Tudo bem, vamos agora então. — Levantei e vi Viktor logo atrás dela. — Você vai com a gente?

Ele olhou para Lili rapidamente, parecendo confuso. — Sim?

— Não vai não — retruquei.

— Por que não?

— Porque você foi inconveniente hoje.

— Ah, me desculpa! Eu achei que vocês estavam juntos... A Lili nem me falou nada...

— Não vem colocar a culpa em mim. Como eu ia saber que você ia achar que eles eram namorados? — resmungou Lili, cruzando os braços.

— Ah, sei lá... — E Viktor me encarou. — Me perdoa, vai? Foi uma brincadeira bem idiota.

— Tá bom, tá bom. Vamos comer logo. Tô morrendo de fome.

Viktor sorriu, todo feliz, e fomos para o refeitório. Entramos na fila, e vi Júlio e James saindo. Bem provavelmente não tinham nos visto.

O lugar já não estava tão cheio, pelo horário, então foi fácil pegar uma mesa. Começamos a comer.

— Minha irmã vai voltar semana que vem — Viktor comentou depois que engoliu uma garfada de comida.

— Onde ela tava mesmo? — Lili perguntou.

— Na casa da madrinha dela. Como não a gente não sabia se a nossa casa estaria vazia, meus pais acharam melhor ela ficar por lá. Como deu tudo certo, ela volta semana que vem... E ela tá doida pra te ver.

Lili sorriu ternamente. — Tô com saudade dela. Que bom que ela volta logo.

Com mais algumas trocas de assuntos, terminamos de comer até que bem rápido.

— Vamos subir? — Lili me perguntou.

— Mas já? — Viktor ficou surpreso. — Por que tão cedo?

— Temos lição pra fazer. E bastante.

Ele a encarou de forma desconfiada. — Se você tá dizendo...

Lili levantou, pegando sua bandeja. — Até mais.

Fiz o mesmo sem me despedir. Levamos nossas bandejas para o balcão da cantina e saímos rumo ao dormitório.

— Você quer mesmo fazer lição? — perguntei, desanimada, sabendo que, de barriga cheia como eu estava, nem que eu quisesse muito ia conseguir me concentrar.

— Não. — Lili sorriu, brincalhona.

— Ufa, ainda bem. Vai me contar o que rolou mais cedo?

— Bom, por incrível que pareça, nada demais. — Ela falou, tranquilamente. Parecia até leve, de certa forma.

— Quê? Estamos falando do mesmo Viktor?

Ela riu. — Sim. Ele conversou numa boa. Não tentou me agarrar nem nada — brincou.

— E falaram sobre o quê?

— De tudo um pouco. Ele falou as coisas que aconteceram com ele desde aquela época, e quis saber de mim. E agora posso dizer com certeza que ele mudou. Apesar de ainda ser um pouco inconveniente, tá melhor do que antes.

— Ele era mais?

— Era. Se metia em tudo que não era chamado, se metia em briga por besteira... Já impedi ele de se meter em briga de colega algumas vezes. Você não tem ideia.

Entramos no dormitório, cheio de meninas no salão, e subimos as escadas.

— Então ele não se mete mais em briga?

— Isso eu já não sei, mas imagino que ele esteja mais controlado. Vamos esperar ter uma briga aqui pra ver.

Fui para o quarto de Lili também e me sentei na cama dela.

— Já que estamos aqui... — Lili foi até a cadeira da escrivaninha e mexeu em sua mochila. — Vou fazer a lição de matemática.

Revirei os olhos, sabendo que não teria escapatória e que mesmo estando com preguiça, era melhor não deixar lição para depois. — Tá, dona Maria. Vou pegar minhas coisas.

Fui até meu quarto, peguei o caderno de matemática e meu estojo e voltei para a cama. Lili sentou na minha frente e se encostou na cabeceira da cama.

Começamos pelos problemas.

— Como o James ficou hoje? — perguntou ela, escrevendo. — Depois daquele beijão.

— Lili! — Parei de escrever, corando. — Não foi um beijão.

— Eu sei. — Deu risada. — Tô brincando. Como ele ficou?

— Não sei. — Voltei a fazer contas, tentando ignorar minha cara vermelha. — Desejei tanto que a Erica aparecesse que ela apareceu, e aí ficou lá tagarelando com ele... Mas aí, o Yan apareceu. E ele tava meio estranho.

— Estranho como?

— Meio distante, sei lá. Eu puxei assunto... mas ele não quis falar de primeira. Só que depois ele perguntou se eu e o James estávamos ficando ou “algo do tipo”.

— Quê?! — Lili quase gritou, batendo o caderno contra as pernas cruzadas.

— É, ele viu aquilo lá que o Viktor fez. E disse que pensou que eu tava pronta...

— Pronta pra quê?

— Pra colocar os beijos nas cenas — confessei, rabiscando o canto da folha.

Suas sobrancelhas levantaram. — Ele falou assim direto?

— Sim... É que... Acho que quando o Viktor empurrou a gente... Ele não viu o Viktor fazendo aquilo, só viu eu e o James... — Senti meu rosto esquentando e não precisei terminar. — E ele disse que ficou pensando naquilo...

— Pensando?! Por que viu vocês se beijando? — questionou, animada.

— É... Ele achou que eu tava pronta e disse que achava mesmo que seria mais fácil pra mim começar com o James primeiro. E eu expliquei o que tinha acontecido.

— E o que ele falou?

— Ele falou isso. Só que ficou pensando. E depois pediu desculpa por se intrometer.

— Caramba... Ele foi muito sincero — observou, pegando o caderno e o lápis de volta.

Balancei a cabeça, concordando.

Voltamos aos problemas. Terminamos os cinco, e começamos os cálculos. Cinco questões com cinco contas cada. Depois de certo sufoco da minha parte e alguns pedidos de ajuda, terminamos.

— Chega disso. — Larguei tudo na cama, querendo distância de números.

— Eu poderia fazer as outras lições... — Lili considerou, olhando o teto. — Tô no pique. Quanto mais faço, mais fico empolgada pra fazer mais.

— Você é estranha, sabia? Quanto mais eu faço, mais distância eu quero.

Ela riu. — Bom, eu vou continuar.

— Então vou pro meu quarto. — Peguei minhas coisas e levantei. — Boa noite.

— Boa noite, Bru.

Depois de tomar banho e arrumar o material para o dia seguinte, me deitei, olhando através da porta de vidro.

Estar pronta... Quando estarei pronta pra isso? Acho que nunca.


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