San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 17
Resfriado




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Ficamos um tempinho na mesa, conversando, mas como a praça de alimentação ainda estava muito cheia e com cada vez mais gente, decidimos levantar para dar lugar a alguém. Levamos nossas bandejas, jogamos os descartáveis na lixeira e caminhamos para as escadas mais próximas. No andar do cinema, nos despedimos de Mateus, e continuamos a descer.

Conforme descíamos, o ar ficava mais frio. Chegamos no último andar e, quando viramos no corredor da entrada, entendi porque estava tão frio. Estava ventando e caindo uma chuva de dar medo.

— Mas que droga... — Gabriel resmungou baixinho.

Paramos perto da saída, junto de outras pessoas que aguardavam a chuva parar, ou pelo menos diminuir, para conseguir ir embora.

— E agora? — Yan perguntou, observando o céu.

Olhamos desanimados para o trânsito que estava formando na rua do shopping. Pelo menos alguns conseguiam chamar um táxi ali na calçada.

— O jeito é esperar — falei, me abraçando. Eu devia ter desconfiado do solzão que fazia mais cedo. Só podia ser o sol de chuva.

Ficamos parados, em silêncio, por alguns minutos, esperando por um milagre.

— Isso não vai passar tão já — Gabriel falou e cutucou minha bolsinha. — Você não tem nenhum guarda-chuva aí?

Olha o tamanho disso, acha mesmo que cabe um guarda-chuva aqui? — Não... Eu nem pensei em trazer um pra escola, na verdade.

— A gente vai ter que ir — Yan disse, começando a tirar sua blusa xadrez. — A menos que a gente tenha paciência pra esperar, e vai saber horas isso vai parar.

— Bom, eu não tenho medo de chuva — Gabriel comentou, apesar da cara preocupada que fazia para a aguaceira que caía sem piedade.

— Não temos muitas escolhas...

Senti algo quente cobrindo meus ombros e ao olhar para o lado, vi Yan colocando sua blusa em mim.

— Você vai ficar com frio — protestei, mesmo gostando muito daquilo.

— Vamos nos molhar, não vai fazer diferença pra mim, então pode ficar. — Sorriu.

Apesar do vento gelado, meu rosto esquentou. — Obrigada.

Vesti a blusa direito, enfiando os braços nas mangas. Aproveitei para dar aquela cafungada na gola e minha vontade era de deixar o tecido em frente ao nariz, como se fosse uma máscara, só para ficar cheirando o perfume de Yan o tempo todo. Era maravilhoso, magnífico. Nenhuma palavra conseguia descrever o quão bom era.

Ficamos ali, tomando coragem para nos encharcar de uma água congelante.

Yan suspirou alto, dando um aviso, e saiu correndo. Gabriel o seguiu. Eu hesitei, sem ter outra saída.

Ai caramba.

Pulei para a calçada e corri o mais rápido que consegui. Os jatos de água fria vinham em todas as direções, e eu tentava pelo menos esconder o rosto e os olhos, deixando o braço encostado na testa, mas era bem difícil correr daquele jeito. Minhas roupas já estavam encharcadas.

Pensei até em pedir para fazer uma pausa assim que passamos pela fachada do café preferido do Yan, mas faltava pouco para chegar no ponto de ônibus, então continuei.

Paramos na proteção do ponto, ofegantes. O pulmão doía e a garganta queimava.

Ficamos tentando controlar nossas respirações por uns minutos.

— Acho — comecei, ofegante — que nunca corri tanto na minha vida.

— Eu já... — Yan cochichou, e pigarreou depois. — Mas não ensopado assim.

— Quando?

— Corri uma maratona na minha antiga escola. — Ele se endireitou e puxou os cabelos molhados para trás, passando as mãos no rosto para tirar o excesso de água. Como era possível alguém ficar ainda mais bonito?

— E ficou em qual lugar? — E claro que eu aproveitei para admirar aquele movimento.

— Segundo. Eu não tava tão bem preparado.

Ah, tá, acabou em segundo e não tava preparado, sei. — Bom, hoje você ganhou. Correu mais rápido que a gente.

Ele riu. — Ninguém me avisou que era pra competir, então não valeu.

O ônibus chegou e Gabriel deu o sinal. Entramos e reparamos em como estava cheio. Não tinha nenhum lugar vago e algumas pessoas estavam de pé no corredor. Pelo menos tinha espaço para nós.

Caramba, essa corrida me cansou.

Involuntariamente comecei a tremer. Eu sentia o meu corpo todo gelado, dos dedinhos do pé ao topo da cabeça. Me sentia exausta. Se por acaso eu conseguisse sentar, com certeza tiraria um cochilo.

— Vai ser rápido — Yan cochichou perto do meu ouvido, passando o braço pelas minhas costas e esfregando meu braço esquerdo, tentando me esquentar.

Só por ele estar mais perto foi o suficiente para eu ficar um pouquinho mais quente. Calor humano e vergonha, ótimos para aquecer alguém que está morrendo de frio.

De fato, a viagem foi mais rápida do que a ida. Descemos com a chuva um pouco menos intensa, e corremos de novo até chegar na escola. Passamos na secretaria, e as duas mulheres de lá ficaram bravas pela nossa irresponsabilidade de não esperar a chuva passar e ainda que poderíamos ficar doentes. Como se tivéssemos culpa que caiu o mundo.

Assinamos os papeis da volta e fomos para dentro do campus.

— Vê se vai tomar banho e se esquentar — disse Yan, parando na porta do refeitório.

— Eu sei. Vocês também. — Tirei a blusa e entreguei a ele. — Obrigada.

— Por nada. A gente se vê depois. — Ele abaixou e deu um beijo na minha maçã do rosto, debaixo do olho direito, ao lado do nariz. Seus lábios estavam hiper quentes em comparação à nossa pele.

Fiquei sem reação, para variar um pouco, mas eu não tinha culpa se ele gostava de dar beijos em lugares inesperados. Tão fofo.

Yan e Gabriel correram para a direita do campus, e eu para a esquerda. Subi correndo, ou quase isso, entrei no meu quarto e comecei a tirar as roupas encharcadas até o banheiro. Deixei as peças no chão, para não molhar as roupas sujas do cesto, e me enfiei no box, ligando o chuveiro na temperatura máxima.

A água parecia queimar minha pele, arrepiando todos os pelos do corpo. Meus músculos reclamaram e relaxaram depois de alguns minutos. Foi um alívio sentir meus dedos dos pés e das mãos de novo.

Lavei o cabelo bem rápido e enrolei até o limite de água terminar, afinal, eu merecia depois de tomar um banho de água gelada.

Me sequei dentro do box e enrolei a toalha no cabelo. Vesti meu pijama de frio e escovei os dentes, me sentindo outro ser humano mais iluminado e aquecido. Deixei as roupas molhadas no varal de chão da sacada, para secar antes de colocar no cesto, e fechei a porta, impedindo que os ventos frios invadissem o meu cafofo.

Não sabia que horas eram, e nem queria saber. Deitei, me enrolei nas cobertas e apaguei segundos depois.

 

...

Abri os olhos no escuro, me sentindo mole e quente. Quente até demais.

Me sentei, fazendo certo esforço, provavelmente dormi quase o tempo inteiro na mesma posição. Coloquei a mão na testa, sentindo minha temperatura. Eu estava febril.

Levantei, fui ao banheiro e tomei dois copos d’água. Voltei para a cama e apaguei de novo assim que me deitei. Na quarta vez que acordei, virada para a porta da sacada, percebi que estava claro. Me virei e olhei para o relógio.

— Meio dia?! — resmunguei comigo mesma, notando minha voz rouca.

Me sentei, esfregando os olhos. Meu estômago roncou.

— Eu sei. Desculpa por não jantar... nem tomar café. Vamos tentar comer alguma coisa.

Levantei com muita preguiça e moleza, coloquei uma calça por cima do pijama e escovei os dentes. Tentei dar uma ajeitada no cabelo e na cara amassada, mas não deu muito certo. Vesti um moletom e puxei a touca para a cabeça, querendo me esconder do mundo.

Pela claridade que entrava no quarto não devia mais estar chovendo, mas fui até a sacada para ter certeza. E não, não tinha chuva.

Provavelmente eu me sentiria melhor quando comesse alguma coisa.

Saí do quarto e desci as escadas bem devagar, com mais preguiça do que outra coisa. Saí para o jardim, mais verde e brilhante por causa da chuva. O sol estava escondido detrás das nuvens, não tão acinzentadas como no dia anterior.

— Bruna! — Olhei para trás, mas não tinha ninguém. — Espera ai!

Era Yan, mas ele não estava ali pelo jardim. A menos que ele tivesse me visto do quarto dele. Se for o caso, uau, que visão. Fiquei parada, esperando, e coloquei as mãos no bolso do moletom, já sentindo elas ficando frias. Devia estar uns vinte ou dezenove graus.

Um minuto depois, vi um movimento no bosque e logo Yan saiu de lá, vindo em minha direção com uma expressão preocupada.

— Oi, Yan...

— Você tá bem? — Ele soltou o ar de boca. Pelo jeito desceu correndo. — Eu fiquei preocupado. Você não apareceu no jantar... — E ele olhou para o meu moletom. — Tá com febre?

— Eu acho que fiquei um pouco, ontem... Eu cheguei, fui tomar banho e dormi, só acordei agora pouco.

— Você não quer ir na enfermaria? — Se aproximou e colocou a palma da mão na minha testa, me surpreendendo. — Você tá um pouco quente.

— Não... — Baixei o olhar, envergonhada por ele estar tão perto. — Eu só quero comer. Eu vou melhorar depois.

Yan concordou e me empurrou de leve pelo ombro. — Então vamos.

Eu não sabia se estava corada. Meu corpo todo estava quente, então provavelmente sim, eu estava corada, mas talvez ele achasse que era por causa da febre.

Fomos para o refeitório, pegamos o almoço e nos sentamos em uma mesa próximo à cantina. Tinha duas pessoas em um canto, e outras três em outro.

Conversamos sobre o dia anterior enquanto comíamos. Gabriel e Mateus ainda estavam dormindo, mas Mateus não pegou a chuva, pois tinha chegado lá para as dez da noite, quando tudo estava mais calmo. Eu já estava me sentindo muito melhor depois de encher a barriga.

— Você parece melhor. Tá com mais cor — observou Yan, dando um sorriso um pouco mais aliviado.

Bom, vermelha eu sempre estou... — Eu falei que ficaria melhor.

Ele concordou. — Mas se a febre aumentar, vai ter que ir pra enfermaria, sem desculpas.

— Eu sei. Não se preocupe. Acho que vou dormir mais um pouco até.

— Tudo bem, você pode. — Deu uma risadinha. — Tá com frio?

— Agora não. Tô quentinha aqui. — Me abracei, fazendo uma gracinha. Ele riu.

— Ainda bem, que continue assim.

Apesar de eu amar ficar ali, conversando e rindo com Yan, ele quis que eu subisse e ficasse debaixo das cobertas para melhorar logo. Então, ele me levou até o dormitório, me deu um beijo na bochecha, e eu subi para o quarto com um sorriso de orelha a orelha.

Peguei um caderno, as folhas que estavam na bolsa e me sentei na cama, me cobrindo. Passei os textos que fiz com Yan a limpo, e quando terminei deixei tudo na mesa. Peguei meu celular, disquei o número de casa, e esperei chamar quatro vezes. Conversei com minha mãe, falando as novidades e como estavam as coisas. Ela ficou toda preocupada quando falei que peguei chuva, e sobre a febre, mas se aliviou quando falei que estava bem e que meus amigos estavam de olho.

Depois de quase uma hora falando, terminei a chamada.

Me deitei de lado e tirei um cochilo. Sem entender muito bem quanto tempo tinha passado, ouvi vozes no corredor. Pelo jeito o povo estava começando a chegar.

Logo agora que eu estava me acostumando ao silêncio. Acabou a folga.

Liguei a luz e fui ao banheiro, andando com mais preguiça do que na última vez que acordei. Quanto mais eu dormia, mais eu queria dormir.

Escutei a porta do quarto abrindo e fechando rapidamente. Voltei para o quarto, vendo Lili parada perto da porta. Parecia que não a via há muito tempo.

— Ah, acordou finalmente — disse ela, sorrindo.

— Lili! — Corri para abraçá-la. — Que saudade.

— Eu também fiquei. Você tá bem? Eu cheguei e vim direto pra cá, mas você tava dormindo, achei estranho.

— Chegou cedo?

— Mais ou menos. Eu não quis te acordar... — Lili me analisou. — Você tá corada, tá bem?

— Agora tô... Fiquei com um pouco de febre ontem por causa da chuva...

— Como assim? Como você pegou chuva a ponto de ficar com febre?

O sorriso na minha cara foi quase involuntário. — Tenho muita coisa pra te contar.

— Hmmmm... — Ela estendeu a palavra com um sorrisinho interessado e sentou na minha cama. — Sou toda ouvidos.

Comecei contando os acontecimentos desde sexta, quando ela foi embora, passei por sábado e todos os seus detalhes do dia e terminei com o que aconteceu hoje a poucas horas atrás.

— Ai meu Deus. Isso só acontece quando não tô por perto! — reclamou, colocando as mãos no rosto. — O Yan foi todo fofinho! Emprestando a blusa e ficando de olho pra ver quando você sairia do quarto. Ai, ai, viu. — Riu. — Pena que você tenha ficado assim. Você tá se sentindo bem mesmo?

— Tô sim, Lili! Tô muito bem agora. E você? Como foi o seu fim de semana?

— Hm... bem... — Ela olhou ao redor, tentando achar as palavras. — Não tenho muita certeza...

— Como assim?

— Lembra que eu contei que tive um namorado? Meu ex-vizinho? — Afirmei com um aceno de cabeça. — E que ele tinha se mudado...? Então, ele voltou.


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