San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 12
Perguntas e Declarações




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Na manhã seguinte, tudo continuou com o mesmo clima chato, e apesar de Júlio ainda estar daquele mesmo jeito, ele tentava disfarçar, fazendo suas piadinhas de sempre, mas dava para perceber de longe que ele não estava sendo ele mesmo. Lili obviamente notou, porém, não demonstrou nada do medo da outra noite. A única coisa que fez de diferente foi roubar o lugar de James do meu lado logo na primeira aula, e ele deu uma olhadinha brincalhona a ela, mas não reclamou.

Aquilo estava se estendendo até o almoço, enquanto ela resmungava sobre ter medo de chegar no Júlio e perguntar de vez o que estava acontecendo, enquanto nós duas íamos para o dormitório.

Quase perto do prédio, ouvi alguém me chamar, e eu estaquei no chão e olhei para trás, vendo Yan se aproximar.

— Oi. — Ele acenou para nós duas. — Tá ocupada?

— Ah... Não.

— Podemos dar uma volta, então? — indagou, abrindo um sorriso gentil.

Que rápido...! — Tá. Eu só... vou guardar minhas coisas.

— Tá bom. Eu espero aqui. — Naquele instante percebi que ele não estava de mochila, então já tinha guardado as coisas e descido.

Concordei e puxei Lili para dentro do dormitório enquanto ela ria.

— Ele não quis perder tempo mesmo, hein? E você já tá toda vermelha!

— Não ria, Lili!

— Desculpa. — Mordeu o lábio, tentando não rir.

— O que você vai fazer? — Me senti mal por deixá-la sozinha em um momento tão ruim para ela.

Começamos a subir.

— Vou ficar com os meninos, ué.

— Mas...

— Mas nada. Vai e aproveita, você não pode perder essa oportunidade por minha causa.

Quando cheguei no meu quarto, meu coração já estava quase saindo pela boca, e não foi pelo fato de subir as escadas. Minhas mãos estavam geladas.

Ajeitei meu cabelo, vendo o roxo na minha testa gritando “tô aqui, tô aqui!”, mas o ignorei, afinal não tinha o que fazer. Passei um pouco de manteiga de cacau nos lábios e um pouco de perfume atrás das orelhas, truquezinho que mães e avós sempre ensinavam.

Respirei fundo e saí.

A cada degrau que descia, meu coração saltava.

Abri a porta. Yan se virou, sorrindo ao me ver. Não evitei o sorriso que surgiu em mim e fiquei ao seu lado.

— E aí, tudo bem? — Ele perguntou, começando a andar para o lado das quadras.

Nervosa pra caramba, não sei como não tô tremendo. — Bem, e você?

— Tô bem, também... Bom, acho que não tivemos a oportunidade de nos apresentar direito. Então vou começar de novo... — Ele falou de um jeito divertido, gesticulando com as mãos. — Meu nome é Yan e tenho dezesseis anos. Estou no segundo ano B... Nasci dia quatro de junho e meu signo é de gêmeos. — Sorriu e me indicou. — Sua vez.

Dei uma risada levemente nervosa, pensando. — Hm, me chamo Bruna... tenho quinze anos e estou no primeiro A. Nasci dia vinte e cinco de outubro e sou virgem... — Parei por um momento, corando. — Signo de virgem — acrescentei rapidamente, com vontade de dar um tapa na minha própria testa.

Yan riu, me achando boba ou engraçada. Ou os dois. — Entendi.

Já estávamos mais a fundo no campus, perto do final do prédio dos dormitórios. Entramos nas trilhas entre as árvores e Yan parou perto de uma.

— Se importa de sentar no chão? — Eu neguei com a cabeça, e ele se sentou ao pé da árvore.

Puxei a saia para baixo e me sentei, meio de lado, meio de frente a ele, cruzando as pernas.

— E o que você gosta de fazer? — Ele perguntou.

— Hm... Gosto de ler... De ficar ao ar livre... Também gosto de esportes.

— Sério? — Ele pareceu surpreso e ao mesmo tempo, animado. — Quais?

— Eu jogo de tudo, na verdade, mas meu preferido é vôlei.

— Ah, legal. Eu também gosto de vôlei, e de basquete. Gosto de ler, de andar ao ar livre, andar de bicicleta, de skate... — Foi citando sem eu nem ter perguntado. Não que eu estivesse reclamando. — Tem irmãos?

— Tenho duas. Uma de quatorze e outra de vinte e cinco. Você tem? — Fiquei surpresa quando reparei que comecei a ficar mais relaxada. Que bruxaria é essa?

— Sou filho único... Você mora aqui perto?

— Não, em outra cidade.

— Então vai ficar aqui nos fins de semana?

— Provavelmente... Você fica? — Ele afirmou. — Sempre? Tem muita gente que fica aqui?

— Na maioria das vezes eu fico sim, mas são poucos os que ficam, deve ter dez alunos da escola toda, fora alguns funcionários. Mas a gente não precisa ficar preso aqui, podemos sair, só temos que assinar uma lista na secretaria.

— E você costuma sair?

— Não muito. Às vezes saio com os meus amigos. Vamos no cinema ou comprar alguma coisa... Você conhece a cidade? Já foi no centro?

— Não. — Fiquei deslumbrada em como aquele menino gostava de falar, assim eu nem precisava quebrar a cabeça para pensar em assuntos aleatórios.

— Quer ir lá algum dia?

Isso é um convite...?! — Seria legal.

Yan sorriu. — Arrã. Não que tenha muito o que fazer lá, mas é legal, tem algumas lojinhas de utilidades, uns cafés muito bons, tem o shopping...

Ele parou de falar quando alguém correu para perto de onde estávamos, fazendo muito barulho conforme pisava nas folhas secas. Não entendi, mas também fiquei em silêncio e nos olhamos, tentando entender o que estava acontecendo.

A pessoa parou próximo dali, e então ouvimos outra pessoa correndo e parando perto também.

— Por que você tá fugindo? — Alguém perguntou em um tom irritado, ofegante.

Era a Lili. Surpresa e curiosa, fiquei de joelhos, me apoiando no tronco, e olhei para eles, me escondendo. Era o Júlio que estava ali também.

Yan fez o mesmo que eu, olhando por detrás da árvore.

— Não tô fugindo. Você que tá me seguindo — retrucou ele.

— Tá fugindo sim. Tá fugindo das conversas, tá fugindo de ficar sozinho comigo. Fica quieto quando falo alguma coisa. O que aconteceu, afinal?

Júlio desviou o olhar dela. — E-eu não... Eu não posso. Ainda não... Por favor, Lili, espera um pouco... Eu tô pensando ainda... — Colocou uma mão na nuca, sem graça.

Lili hesitou, aparentemente ficando um pouco pálida. — Não, espera, Júlio... Não... Não precisa pensar nisso. Não precisa...

— Por quê? — Ele perguntou, surpreso, voltando a encará-la. — Você não acha que...

— Não — respondeu ela prontamente, erguendo as mãos espalmadas. — Olha, Júlio, eu me segurei todo esse tempo e não vou deixar nossa amizade acabar por minha causa. Não precisa ficar considerando...

— Pera. Como assim você se segurou todo esse tempo? — A interrompeu, confuso.

Lili ficou arregalou os olhos e tentou falar, mas demorou dois segundos até um som sair de sua boca. —  Mas... Espera, do que você tava falando?

— Eu não posso falar disso, Lili, não sem ter certeza... Me fala você agora. O que você quis dizer com aquilo?

De pálida, ela ficou vermelha e desviou o olhar, segurando seu braço com uma mão, como se estivesse com frio.

Júlio deu alguns passos para perto dela, vacilante. — Você gosta de mim?

Ela deu um sorrido forçado. — Então você não sabia... — Negou com a cabeça, como se tivesse feito alguma besteira enorme.

— Você gostava de mim esse tempo todo...? Lili, me desculpa, eu não sabia...

— Era justamente pra você não saber.

— Por quê? — interrogou, confuso.

— Júlio, não tá na cara? Você nunca foi de namorar sério ou ficar muito tempo com alguém, como que...

— Isso não quer dizer nada — interrompeu, angustiado. — Só por isso você acha que eu não poderia gostar de alguém de verdade?

— Como eu vou saber? Nunca vi isso acontecer.

Ele passou a mão no cabelo, sem saber o que fazer. — Mas acontece. Tá acontecendo. Eu acho.

Lili o encarou sem entender. Júlio parecia relutante em falar algo e suspirou.

— Eu não queria que você soubesse disso tão cedo. Eu queria ter certeza antes de falar alguma coisa... mas... eu... acho que tô gostando de você. Por favor — acrescentou rápido —, não fica brava comigo. Não era pra eu estar falando, eu fui um idiota por deixar isso tão na cara e te deixar nervosa assim. Eu não queria mentir... Eu tô pensando sobre isso. Enquanto eu não tiver certeza, não posso fazer nada. Então, por favor, tenha paciência comigo — pediu, franzindo o cenho.

Lili ficou em choque, sem expressão alguma. Acho que a informação demorou para ser processada.

— Fala alguma coisa! — Júlio implorou, começando a ficar preocupado.

Ela piscou algumas vezes, ficando mais vermelha ainda. — Acho bom você não ficar se achando por causa disso!

Os ombros de Júlio relaxaram e ele deu um sorrido aliviado. — Tá, eu vou tentar. — Ele se aproximou e deu um empurrão de leve no braço dela. — Chega de correria por hoje, cansei.

Lili fez um biquinho para segurar um riso e saiu andando. — Sedentário. — E ele foi em seu encalço.

— Uau — soltei, impressionada, me sentando. — Eles se declararam meio que sem querer...

Yan riu. — Nunca tinha visto uma coisa assim antes... E se falassem isso pra voce? O que ia falar?

— Não faço ideia. — Que diacho de pergunta é essa? — Não posso dizer muito sobre esse tipo de coisa...

— Ninguém nunca se confessou pra você?

— Não. — Acabei falando como se fosse uma coisa óbvia.

— Qual sua cor preferida?

Yan continuou fazendo perguntas aleatórias e eu nem precisei fazer de volta, não na maioria das vezes. Assim descobri que a cor preferida dele é preto, que ele gosta tanto de gato quanto de cachorro, que ele é chamado de “CDF”, entre outras coisas, e ficamos naquela conversa até a hora do café.

Quando nossos estômagos roncaram, ele se espreguiçou e levantou, estendendo a mão para me ajudar. Claro que eu aceitei, sentindo como sua pele era quente comparado a minha.

Mas bom, todo mundo tinha as mãos quentes pra mim... Ou era eu que sempre estava com as mãos frias.

Continuamos a conversar até chegar no refeitório. Já não era mais tão difícil falar e rir. Pegamos nosso café e olhei ao redor, procurando meu grupo, até que vi Lili acenando da mesa.

— Até mais, então. — Yan se abaixou e deu um beijo em meu rosto.

— Tchau. — O observei indo para o lado oposto do refeitório enquanto me dirigia até a minha mesa.

Lili deu o maior sorriso quando me sentei, e o devolvi. James e Júlio se olharam, estranhando. E aparentemente James era o emburrado da vez.

— Quer um cavalo também? — Júlio perguntou, encarando o prato da Lili. — Come mais que eu.

— Se eu como mais que você é problema meu, não é? — Ela retrucou, lançando um olhar bravo a ele.

Júlio gargalhou, fazendo ela abrir um sorrisinho. — É, ta afiada.

Pelo menos eles voltaram ao normal.


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