San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 11
Primeiro Ensaio




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E junto com Erica veio mais um espirro.

Subimos e paramos no centro do palco. Erica parecia não ligar de estar ali, mas eu olhei para frente, vendo todos nos olhando, mas foi o olhar de Yan que mais me deixou nervosa.

 Será que você poderia se retirar?

A professora nos deu os roteiros que estavam sobrando e nos instruiu sobre as primeiras cenas, e conforme íamos atuando, ela nos falava se estava bom ou ruim, ou falava o que poderíamos melhorar. Ela anotava algumas observações em um caderno, provavelmente para estudar e entender como poderia nos ajudar.

Fiquei até surpresa quando, a certa altura do ensaio, percebi que tinha esquecido das pessoas e que estava me saindo razoavelmente bem, pelo menos para quem tinha acabado de começar.

Talvez, no fim das contas, eu fosse sim capaz de separar as coisas com James e Yan.

Em uma das pausas, dei uma espiada na primeira fileira, vendo James parecendo se divertir, e Yan com um sorrisinho mínimo, mais parecendo um crítico de artes cênicas.

Me olhando desse jeito quer que eu faça as coisas aqui como? Você fica olhando todos os meus movimentos e isso não me ajuda. Ainda dá tempo de sair pra eu fazer algo sem achar que estou pagando mico.

Depois de mais alguns minutos, a professora nos liberou. Devolvi o roteiro e desci, indo de encontro aos meninos.

— Você foi muito bem — Yan comentou, e James concordou com um aceno de cabeça.

— Obrigada... — Poderia ter sido melhor se você não estivesse me encarando tanto.

Erica se aproximou e James falou algo com ela. As pessoas estavam indo para a saída. Yan colocou as mãos no bolso da calça, deu um sorriso para mim e saiu andando.

Queria não ficar tão nervosa perto dele. Nunca vou pensar num assunto decente assim.

Comecei a subir sem prestar muita atenção. A imagem dele me olhando não saía da minha cabeça. Eu já me sentia daquele jeito com ele longe, imagina quando a gente tiver que interagir ali, em cima do palco, com tudo aquilo de gente olhando? Meu coração não vai aguentar, tô prevendo.

Subi para o dormitório e fui para o quarto da Lili. Dei uns toques na porta e entrei. Ela estava fazendo lição na mesa.

— Oi... — Me olhou rapidamente. — Como foi o ensaio?

— Foi tudo bem, mas o James me abandonou.

— Ficou conversando com a Erica né? — Deu uma risadinha.

— Sim... — Me sentei na cama, atrás dela.

Ela virou. — E...? Tem mais coisa aí.

Dei de ombros, me fazendo de inocente. — O Yan sentou do meu lado.

Lili sorriu, tentando interpretar se aquilo era bom ou ruim.

— Ele ficou me olhando o tempo todo! Me deixou mais nervosa do que eu já tava.

— Então quer dizer que você gosta dele? — Ela apoiou os braços no encosto da cadeira.

— E-eu não sei. — Corei automaticamente, desviando o olhar.

— Como não sabe, Bruna?! E todo esse nervosismo aí?

— Tá, eu tenho uma queda por ele... Mas ainda não conheço ele direito.

Lili riu e terminou de escrever. Pelo menos não tocou mais no assunto. Descemos e fomos para nossa mesa. Ela mandou mensagem para o Júlio e ficamos ali esperando para ir jantar.

— Bru... — Lili sussurrou e fez sinal para que eu olhasse para trás.

Olhei para trás, me deparando com Yan chegando perto.

— Posso falar com você um pouco? — perguntou ele, parecendo sem graça.

Olhei para Lili com os olhos arregalados, e ela sorriu, me incentivando. Respirei fundo e levantei. Yan começou a andar, devagar, e eu o segui.

— Eu queria falar sobre o teatro — começou, colocando as mãos nos bolsos da calça.

— Ah. O que foi?

— Bom, então... Você viu que tem algumas cenas de beijos e tudo mais... — Ele me olhou e meu rosto ferveu. — Desculpa tocar no assunto assim, é que eu fiquei pensando nisso e acabei ficando preocupado.

— Com o quê? — Fiquei encarando o chão.

Ele parou de andar e se encostou numa árvore. — Eu percebi que você é bem tímida, e pensei que seria difícil pra você... ter esse tipo de cena logo de cara, além de você não me conhecer direito... Eu só... queria falar que não precisamos nos beijar nos primeiros ensaios se você não quiser... Podemos ir pra essas partes quando você estiver mais acostumada comigo. Com certeza a professora não vai se importar.

Mesmo sem me conhecer, ele pensou que eu não ia lidar bem com aquela coisa toda. Parando para pensar, realmente, eu estou assustada.

— Eu falei alguma coisa que não devia? — Yan perguntou, receoso.

— Não... — O olhei, confusa.

— Então o que foi? — Chegou mais perto, erguendo as mãos, hesitando em tentar me acalmar.

Percebi que meus olhos estavam úmidos. Rapidamente passei as mãos, os secando, me sentindo ainda mais idiota. — Desculpa, não foi nada do que você falou... Você acertou... Eu fiquei assustada com isso. Por que... entrei meio que sem pensar achando que seria uma coisa bobinha. — Forcei um sorriso.

Yan acabou por segurar meus ombros. — Tudo bem, então. Faremos assim. Não tem problema. — Vi sua mão chegar perto do meu rosto, e com a ponta do dedo, me fez erguer o queixo para olhá-lo. — Certo?

— Certo... Obrigada.

— Não há de que. — Sorriu e se afastou. — Se qualquer coisa te incomodar, por favor, me fala. Eu preciso saber se fizer algo errado.

— Tá, pode deixar.

— Tudo bem. Agora posso te levar de volta pra sua amiga — brincou, e começou a caminhar de volta. — Eu também fiquei pensando se... a gente podia passar um tempo juntos, sabe, pra gente se conhecer melhor. O que você acha?

Ai. Meu. Deus. Ele tá falando pra gente passar um tempo juntos? Eu escutei direito? Porque meu coração tá batendo tão rápido que o som tá tapando meus tímpanos.

— Acho que seria uma boa ideia, sim — afirmei, dando uma olhada para ele.

— Ótimo. Qualquer hora que estivermos livres, então? — Yan parou, já perto da mesa onde Lili me esperava.

— Sim.

— Beleza. Então... Até mais. — Se abaixou e deu um beijo rápido na minha bochecha fervente, quase me fazendo desmaiar com a aproximação surpresa.

Observei ele se afastar para o refeitório, sem acreditar no que tinha acontecido. Andei até a mesa, cambaleando, e me sentei na frente de Lili.

— O que aconteceu?! — Ela perguntou de prontidão.

Apoiei a testa na mão. — Eu ainda não tô acreditando... Calma. Cadê os meninos?

— Eles já foram pro refeitório. Eu fiquei te esperando.

— Ah, Lili! Não precisava... Desculpa.

— Tudo bem. Conta logo! — Levantou, e eu a segui, já falando tudo o que Yan tinha me falado. Nós duas rimos, animadas.

Pegamos nossa comida e achamos os meninos dividindo uma das mesas grandes com outro grupo, no lado desocupado.

— Que demora — James reclamou brincando.

Estranhamente, Júlio nem tinha nos olhado sentar, e era sempre ele que falava aquilo. Porém, ele estava mexendo a comida com o garfo, mantendo a cabeça baixa.

Claro que eu percebi que Lili percebeu aquela atitude esquisita, mas ela não falou ou fez nada diferente do que faria. Puxou assuntos, conversamos, mesmo que Júlio falasse pouco e às vezes dirigisse um olhar estranho a Lili e desviasse.

Nós duas terminamos rápido, como se lêssemos a mente uma da outra. Levamos as bandejas e decidimos subir mais cedo. Apenas avisamos e andamos para o jardim.

— O que o Júlio tinha? — perguntei, mesmo que ela não soubesse a resposta.

— Eu não sei! Ele tava estranho demais — exclamou, fazendo sua máscara tranquila cair. — Parece que ele tá com vergonha de mim... Como se soubesse de algo.

— Será que ele descobriu que você gosta dele?

Lili parou de andar e se virou para mim, ficando vermelha. — Quê?

Opa... Abri demais a boca... Não posso entregar o James. — E-eu percebi.

— É tão óbvio assim? — indagou, assustada, levando a mão ao peito.

— Na verdade não. — Fiz ela voltar a andar. — Mas eu sou menina, afinal. Vejo essas coisas de longe... — Péssima menina eu sou. Se o James não tivesse falado, eu ia demorar anos pra perceber.

— Desculpa. — Olhou para o chão, envergonhada. — Faz tempo que não tenho amigas próximas assim. Homens não percebem essas coisas a menos que esteja óbvio demais.

Entramos no dormitório e subimos. Ficamos no meu quarto e sentamos no chão da varanda, apenas com a luz que vinha dos outros quartos e do jardim nos iluminando.

— Quando eu tava te esperando, na hora que eles desceram, ele já tava me parecendo um pouco distante. Enquanto eu falava com o James, ele me olhava algumas vezes e desviava, como se... sei lá, tivesse medo que eu olhasse direto pra ele... — Lili esfregou o rosto com as mãos. — Eu não quero que as coisas fiquem assim... Eu sempre escondi meus sentimentos porque sei que não daria certo.

— Você nunca pensou em falar?

— Claro que já. Mas eu conheço a peça. Ele não é chegado nisso de amor, muito menos de namoro sério.

— Mas... talvez seja uma parte dele que você não conhece.

— Já pensei nisso também, mas prefiro não arriscar. Se eu falasse, e ele não quisesse porque me vê como amiga, como ficaria nossa amizade? Iria por água a baixo.

— E se ele sabe? O que você vai fazer?

— Eu não quero esperar pra ser rejeitada. E-eu tenho que falar pra ele esquecer. Ignorar isso e continuar normalmente. Ou posso perguntar como ele descobriu e falar que é mentira e desfazer do assunto.

Ela parecia tão triste falando aquilo...

Olhei para frente, pensando no que dizer, mas não vinha nada em mente. Só consegui reparar na luz do quarto de Yan, que estava acesa.

Fiquei observando sua varanda, e poucos segundos depois, ele apareceu, se sentando no chão, lendo algo.

Lili riu de alguma coisa.

— Que foi? — perguntei e só depois a encarei.

— Suas pupilas dilataram quando ele apareceu. — Fiquei sem entender. — Dizem que quando vemos a pessoa que gostamos, nossas pupilas dilatam. E eu acabei de comprovar.

— Acho que nem tem como não dilatar. Ele é tão...

— Lindo? — continuou minha frase.

— Sim... — Suspirei.

— É, ele é bonito, mas acho que meu gosto é um pouco diferente. — Rimos juntas. — Vai passar mais tempo com ele mesmo?

— Eu tenho tanta vergonha de ficar com ele que quase não consigo falar. Seria bom passar mais tempo com ele e ver se me acostumo.

— Com certeza seria melhor pra você... Acho que vou terminar minhas lições. — Levantou e se espreguiçou. — Boa noite, Bru.

— Boa noite, Lili.

Aproveitei a ideia e peguei meu caderno de matemática, ficando ali na sacada, intercalando entre fazer uma atividade e observar Yan.


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