San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 8
Ficando Mais Próximo




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Me virei na cama a noite toda, sonhando às vezes com Yan, às vezes com James. Em algum momento da noite, acordei de vez, totalmente dispersa, e fui ao banheiro. Quando voltei, olhei a hora. Cinco e vinte da manhã. Resmunguei e me sentei na cama, de frente para a janela, enxergando a luz do quarto de James acesa.

Fui até a sacada, olhando para lá. Não demorou muito para que a luz apagasse.

Só faltava ele estar sem sono e pensando na mesma coisa que eu.

Pouco depois escutei barulhos vindo lá de baixo, do jardim. Notei que alguém tinha acabado de sair do dormitório. Será que era ele? Mas o que ele faria no jardim a essa hora da madrugada?

Tentei ver algo entre as árvores, mas era impossível. Eu estava com uma vontade de me mexer, mesmo sabendo que não era certo sair do dormitório às escondidas. Mas eu poderia tomar cuidado, não poderia? E seria rápido, só para ver se realmente era ele.

Calcei os meus chinelos e fui ao corredor, tomando cuidado para não fazer barulho. Desci as escadas rapidamente e abri a porta da entrada com cuidado. Andei até a árvore mais próxima e fiquei atrás dela, tentando ver alguma coisa do outro lado do jardim. Fui passando para as árvores mais à frente, até conseguir ver quem estava parado ali perto do dormitório masculino.

Espera, por que eu vim aqui? Tô ficando maluca? E se não for ele?! Onde eu deixei minha cabeça...?

Mas era mesmo James. Ele estava... se alongando?

Ele curvou-se para baixo, tocando a ponta dos pés. Aparentemente ele não estava de pijama, já que vestia calças moletom cinza e camiseta branca.

Mas por que ele tava fazendo aquilo tão cedo?

Ao terminar o alongamento, James começou a correr.

Fiquei parada, olhando até onde ele ia. Ele foi até lá na frente, quase perto das quadras e deu a volta pelo outro lado, do dormitório feminino. Dei a volta na árvore para me esconder e acabei pisando em algo que fez barulho. Paralisei ali, ouvindo apenas o meu coração martelando as costelas.

Olhei para o lado esquerdo, e de repente James apareceu. Por um triz eu quase gritei.

— Mas o que você tá fazendo aí? Tá me espionando, é? — perguntou com falsa reprovação, colocando as mãos na cintura.

Meu rosto ficou quente. — N-não... Eu... eu achei que... Eu vi a luz do seu quarto acesa e depois ouvi uns barulhos... Imaginei que fosse você — respondi rápido.

— E por que você tá acordada tão cedo? — Riu.

— Eu não consegui dormir direito. Tinha acordado e fiquei na sacada... Por que você faz isso tão cedo?

— Vem caminhar comigo que eu te explico — falou, pegando minha mão e me puxando de volta para o caminho principal.

— Primeiro, eu preciso me exercitar regularmente, e segundo, essa hora não tem ninguém, é silencioso e mais agradável — comentou tranquilamente.

— Mas por que precisa fazer exercícios regularmente?

Ele me olhou. — Eu tenho diabetes.

Ah... Nossa... O que eu falo?

James sorriu timidamente e olhou para frente. — Eu tenho que fazer exercícios regulares, ter uma alimentação balanceada e tomar insulina nas horas certas... Não é tão complicado como parece.

— Você toma insulina todos os dias? — indaguei, surpresa. Eu nunca tinha conhecido alguém que precisasse tomar.

— Sim. Eu tomo injeções.

Arregalei os olhos, só de imaginar me dava um frio na barriga. — Onde?

— Geralmente aqui — disse, levantando a camisa, mostrando um conjunto de manchinhas roxas abaixo do umbigo. — Mas também em outros lugares, depende do dia.

— É normal ficar assim? — Desviei o olhar de sua barriga, envergonhada, enquanto ele puxava o tecido de volta.

— É sim... Não tá com frio?

Olhei para minhas pernas descobertas. — Não. Até esqueci que tava de pijama.

Ele riu. — Até que você fica bonitinha assim.

— Pfff... — Foi o máximo que conseguir dizer, quer dizer, fazer barulho, sei lá. — Eu... vou te deixar em paz.

— Você não tá me incomodando.

— Mesmo assim. Era pra você estar correndo e não andando nesse passo de lesma.

Parei e fiquei quase em sua frente, o observando sem saber o que dizer. Não fazia muito tempo que nos conhecíamos, mas eu já sentia um certo carinho por ele. Ele era o tipo de pessoa que não precisava dizer muito para conquistar alguém.

— Que foi? — perguntou ele, estranhando minha cara hesitante.

 — Acho bom que você se cuide direito, viu? Eu não quero que você fique ruim... Faça tudo direito pra que esteja sempre bem — soltei sem pensar muito.

James ficou confuso. — Por que disse isso?

— E-eu fiquei preocupada... Você me solta isso do nada. — Senti minha cara fervendo.

— Não vou ficar ruim, eu me cuido desde sempre. Não precisa ficar preocupada. — Ele sorriu carinhosamente.

Concordei de uma forma meio elétrica. — Tá, vai lá terminar sua corrida. A gente se vê daqui a pouco.

— Ok. — Sorriu, achando graça. — Até.

Voltei o caminho e subi para o meu quarto. Me deitei e dormi assim que me cobri, até o relógio despertar.

Acordei, arrumei meu material e me troquei. Enquanto esperava Lili, terminei de ler o livro. Quando alguém bateu na porta, coloquei a mochila nas costas e abri a porta.

— Bom dia — Lili desejou assim que me viu, sorrindo.

— Bom dia. — Sorri de volta.

Descemos falando sobre as aulas que teríamos no dia e chegamos no jardim, vendo os meninos já nos esperamos. James sorriu para mim e eu acenei com a cabeça. Tomamos o café e fomos para a aula, que para minha surpresa, passou rápido. Talvez porque eu estava nervosa com nosso ensaio particular que eu não conseguia esquecer de jeito nenhum.

A última aula foi Educação Física, que particularmente eu era boa. Vôlei sempre foi o meu esporte.

No almoço, pegamos nossa comida, famintos. Por incrível que fosse, só ali na fila que eu lembrei o que me aguardava depois de comer.

— Vocês vão ajudar no ensaio hoje? — perguntei a Lili e Júlio, tentando me distrair.

— Que ensaio? — Júlio estranhou.

— Eu e a Bru vamos ensaiar depois daqui com o Yan — James explicou e olhou para Lili. — Você pode fazer a Marilya pra ajudar a Bru.

— E eu faço o quê? — Júlio indagou, incomodado por não ter sido chamado para a ajuda.

— Você... você dá apoio moral. — Ele deu de ombros.

— Uau — soltou com ironia.

Depois de comer o pouco que peguei, fomos para a nossa mesa com as mochilas, e eu e James colocamos o roteiro na mesa, que Lili já tomou, sentando do meu lado.

— Vamos lendo, Bru.

Nós duas começamos a ler em voz alta as primeiras falas, fazendo algumas graças. Um tempo depois, senti alguém sentando do meu lado esquerdo.

— Desculpa a demora, tive que resolver umas coisas na secretaria. — Ouvi Yan dizer, se ajeitando no banco.

— Tudo bem. Vamos começar. — James pegou seu roteiro de volta.

Por que ele tinha que sentar do meu lado? Já não basta eu estar nervosa, ele vem e fica do meu lado, com os ombros e a coxa colada na minha... Mas bom, pelo menos assim eu não preciso ficar olhando pra cara dele... Poderia seria pior.

Sempre éramos atrapalhados pelas piadas do Júlio, ou zombava de algo ou imitava a fala de algum personagem com uma voz fina.

— Essa peça vai ser foda. — Ele riu, se divertindo à beça. — Não vai bater de verdade, hein, James.

— Claro que não! Acha que eu não sei?!

Mesmo rindo, eu ainda estava tensa. Tudo em mim estava ciente de que Yan estava do meu lado, principalmente quando ele ria, já que seu ombro quase sempre se encostava no meu, fora a risada dele que era fofa.

Então... chegou as partes “piores”.

No começo não tinha grande coisa, mas depois piorou. O Heitor adorava dizer coisas românticas para a Jasmim, fazia promessas, contava tudo o que planejava para o futuro dos dois... Era um pouco muito vergonhoso ouvir aquilo, ainda mais na frente do pessoal. Era como se Yan falasse comigo, e não como se lesse o papel.

Pelas descrições do livro, Heitor era um cara charmoso, sedutor, simpático, bonito, com voz grave e atraente. Algumas daquelas coisas descreviam o menino-bonito muito bem.

Até tentei ler com um tom de brincadeira, mas era difícil. Nas juras de amor então...

Minhas mãos estavam suando frio e foi um grande alívio quando James suspirou e pediu para parar porque não aguentava mais.

— Ah, foi bom — Yan falou, quando acabamos o terceiro ato, levantando. — Foi bom pra gente ter uma noção de como vamos fazer na hora. Então a gente se vê depois.

— Beleza! — James disse. — Até mais.

Yan foi para o outro lado, e nós deixamos as mochilas na mesa e fomos tomar café. Não demoramos nem meia hora e voltamos.

Estávamos sem assunto. Cada um perdido em seus pensamentos.

Olhei para James, que estava observando o jardim, e de repente, ele desviou o olhar para a mesa, fechando a cara e ficando corado. Tentei seguir para onde ele olhava e percebi por que ele tinha feito aquilo. Erica estava longe, em uma mesa com suas amigas, o encarando ainda.

Por que ela fica fazendo isso? Tudo bem, agora acho que não restam dúvidas de que ela é a menina que fez aquela aposta ridícula.

— O que foi? — Lili cochichou na minha orelha.

— Nada. — Levantei. — Vou guardar minhas coisas, você vem?

Ela estranhou a minha súbita mudança de humor, mas subiu comigo e foi para seu quarto. Deixei as coisas em cima da mesa e me deitei, pensando no que eu poderia fazer.

Lili deu alguns toques na porta e entrou. — O que deu em você lá embaixo?

Me sentei. — Aquela menina, a Erica, fica encarando o James. Não tem nem vergonha na cara, depois de tudo o que ela fez com ele! Não é possível que ela não se toque! Você sabe da história da aposta, não sabe?

— Sei. Mas desde aquilo, eu nunca vi ela querendo se aproximar de novo.

— Eu não sei o que ela tá querendo fazer, mas se tiver planejando deixar o James mal de novo, a gente não pode deixar quieto.

Lili me encarou um tanto espantada.

— Fala alguma coisa!

— Ah... O que você quer fazer?

— Você vai me ajudar a falar com ela.

— Eu?

— Quem mais seria? Não tô dizendo pra você segurar enquanto eu bato... — Ela arregalou os olhos. — Só quero que fique aqui perto pra me ajudar na conversa.

— Bom, claro que vou ficar. Agora até fiquei curiosa.

— Isso! E... Mudando de assunto, temos algumas lições, né? Vamos fazer?

— Sim, vou mandar mensagem pros meninos.

Pegamos os materiais, encontramos com eles e fomos para a biblioteca. Procuramos alguns livros para pesquisa e ficamos o resto da tarde fazendo tudo. Nesse meio tempo, James saiu e voltou com uma maçã. Quando terminamos já era hora do jantar.

Fomos para o refeitório.

— Bru — Júlio me chamou, comendo. — Você vai ensaiar com a Erica depois, né?

— Sim. E a Lili vem comigo.

— Oxe, por quê?

— Ela vai ajudar, ué — soltei em um tom alto demais, sem querer.

— Vai matar a Erica e pedir pra ela esconder o corpo? — brincou, rindo.

— Vou. — Todos pararam de comer e me encararam. — Eu tô brincando.

— Você parece irritada — Júlio falou. — Não parecia brincadeira.

Lili comprimiu os lábios ao mesmo tempo em que eu sentia algo cutucando minha perna debaixo da mesa.

— Eu? — Dei uma risada estranha. — Claro que não.

Ele olhou para Lili como se pensasse “essa aí tá doida”.

Quando terminamos, Lili e eu subimos. Um tempo depois, Erica apareceu.

— Oi? — Deu alguns toques na porta, colocando a cabeça para dentro.

— Pode entrar — convidei.


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