San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 6
Audição


Notas iniciais do capítulo

Olá! Espero que estejam gostando!

Boa leitura!



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— Já pensou se vocês pegam um papel de casal? — Júlio perguntou, brincando.

— Não seria ruim. — James falou, deitando em sua cama. — Quem sabe.

— Você já viu a Erica?

— Não. — Ele se sentou, mais atento. — Por quê? Você viu?

— Vi... Ela tá meio diferente.

— Diferente como?

— Tem algo diferente, mas não sei o quê.

James ficou pensativo e encarou o guarda-roupa. — Eu não quero ver ela.

— Você não vai conseguir fugir até a formatura. Uma hora vai acabar trombando com ela e você sabe.

— Eu sei, mas eu não quero continuar gostando dela. Quero gostar da Bruna, ela é legal e não tem cara de quem faria uma aposta com a Lili.

— E você acha que resolve alguma coisa gostar da Bruna? Se ela não gostar de você não adianta nada. — Júlio levou uma olhada reprovadora.  — Tô sendo realista, ué.

— Eu não quero ficar pensando nisso. — James olhou através da sacada, vendo a luz do quarto de Bruna acesa.

 

...

 

— Daqui a pouco é hora — sussurrei para mim, respirando fundo mais cinco vezes.

Fui ao banheiro, lavei o rosto e arrumei o cabelo pela terceira vez. Apertei o nó da gravata, ajeitei a camisa dentro da saia, puxei as meias e fiz sei lá mais o quê sem prestar atenção.

Meu estômago estava inquieto, eu só não sabia se era pelo teatro ou pelo Yan.

Afofei meu travesseiro, arrumei o despertador no criado-mudo e arrumei os materiais em cima da escrivaninha. Quando deu a hora, saí do quarto e desci, ficando perto da entrada do dormitório, esperando James. Um tempo depois o vi aparecendo por entre as árvores e nos encontramos no meio do caminho.

Andamos para o fundo do campus, onde ficavam o teatro e as quadras. Entramos no auditório. Era grande — não como um teatro normal, mas era bem parecido, só que menor —. Devia ter menos de duzentos lugares ali. A entrada ficava de frente a escada que levava até lá em baixo, e lá do outro lado havia outro corredor de escadas — como se fosse um cinema.

As paredes eram escuras, o chão de madeira clara e as poltronas de um tom de vermelho escuro terroso. O palco era de uma madeira mais escura, e as cortinas tinham a mesma cor das poltronas.

Já tinham pessoas sentadas, e os professores estavam sentados na beirada do palco, conversando com os alunos mais próximos.

Descemos as escadas e nos sentamos na segunda fileira da frente, onde Yan estava sentado sozinho. James foi na frente e se sentou do lado dele, e eu do seu lado. Uma professora que eu não conhecia acenou para James, e ele retribuiu.

— Bom — começou a professora Eduarda. — Acho que estão todos aqui. Podemos começar. — Levantou. — A peça que queremos fazer esse ano chama-se O Outro. Vocês irão receber o roteiro e o livro, mas basicamente é a história de uma garota chamada Jasmim, que é obrigada a se casar pelo pai com um homem mais velho que ela, o Gregório. Depois de casar, ela conhece um rapaz por quem se apaixona, o Heitor, e eles têm um romance às escondidas, e no final... Bem, vocês vão ler! — Riu. — E sim, tem muitas partes que tiramos do roteiro, como cenas de violência ou as que contém conteúdo sexual. Vamos entregar alguns trechos do roteiro, daremos um tempo pra vocês lerem e treinarem, e depois cada um virá ao palco interpretar. Eu, o professor Marcos e a professora Aline iremos decidir os papeis. Primeiro, vamos pegar os papeis principais.

O professor Marcos passou nas fileiras perguntando quem queria tentar os papeis principais. Na primeira fileira poucos quiseram.

Ele chegou na nossa fileira e se aproximou de mim. — Vai querer?

Encarei o professor sem entender muito bem o que ele tinha falado, e para não deixá-lo sem graça, peguei o papel.

— Boa sorte.

— Obrigada...? — Ele não ouviu meu agradecimento com grande tom de dúvida.

— James?

— Posso tentar os dois?

— Claro. — Procurou e entregou duas folhas a ele. — Boa sorte. — Yan?

— Heitor.

Entregou uma folha a ele também. — Boa sorte.

Dei uma passada de olho bem rápida no texto da folha, fazendo a ficha cair de que eu tinha pegado o texto da personagem principal. O que diabos eu tava fazendo?!

— Tomou coragem, é? — James perguntou, abrindo um sorriso orgulhoso.

— Eu peguei a folha sem nem perceber direito — choraminguei.

— Acho que no fundo, você quer e sabe que consegue.

Logo o professor Marcos voltou ao palco. — Bom, já que todos pegaram...

Um barulho fez ele parar de falar. Alguém entrou correndo no auditório.

— Espera, por favor!

Olhei para trás. Uma garota entrou e correu para o palco.

— Desculpa! Quero tentar o papel principal.

Marcos entregou um papel à menina, e ela se sentou na terceira fileira, no último lugar.

A acompanhei com o olhar, e ela olhou em minha direção, mas não para mim. Ao voltar para frente, notei que James virou a cabeça quase junto comigo, parecendo meio tenso.

— Podem começar a ensaiar.

Olhei para minha folha e li o texto mentalmente.

“— Como poderei? Eu não gosto dele, Marilya — exclamou Jasmim.

— Sinto muito, Jasmim. Eu não queria isso para você, mas não tem como fugir... Com o tempo você se acostuma.

— Ah, eu não quero me acostumar! — disse, desesperada. — Isso não devia ser possível. Não é justo. Sou nova e terei que me casar com um homem que não conheço... Terei que ter filhos com alguém que não amo. Ah, Marilya, prefiro morrer — debulhou-se em lágrimas.

— Não diga isso! Vê? — Colocou a mão sobre a barriga, grande e redonda. — Isso é o que faz valer a pena! Você terá um futuro garantido, moradia segura e um marido para cuidar de você... Será ruim no começo, apenas, depois você verá como será uma benção.

— Tenho certeza que não... Eu vou fugir! Não quero isso para a minha vida. Suas riquezas pouco me importam. Há um mundo gigante lá fora, quero conhecê-lo, não ficar presa dentro de casa fazendo serviços domésticos e cuidando de filhos. Não posso aceitar isso.

— Você é tão ingênua, Jasmim. Seu pai te obrigará e mesmo que fuja, sabe que fará de tudo para te achar, e seu noivo com certeza ajudará. E se te acharem, será muito pior.

Jasmim sente-se fraca e desaba no chão, sentando-se e chorando”.

Uau, é coisa demais...

— Vamos poder ficar com o papel, né? — perguntei a James, cochichando.

— Sim. — Ele ainda parecia um pouco tenso.

— Você tá bem?

— Sim. O frio de sempre no estômago. — Deu uma risadinha. — Pronta?

— Não sei, tô tremendo um pouco.

— Isso é normal. Pensa que não tem ninguém na plateia, que só tem você ali. Limpa sua mente e respira fundo. Tenta se colocar no lugar da personagem. Sinta suas emoções, seus medos. Pegue esses sentimentos pra você e interprete. Se você achar que é a personagem, vai conseguir transmitir o que precisa.

— Parece complicado.

— É e não é. — Sorriu, me encorajando. — Quando você estiver lá vai ver, vai vir quase que automaticamente.

— Certo.

Preciso saber como ela se sente pra interpretar bem. Certo. Tá bom.

Li mais algumas vezes, interpretando em minha mente. Talvez eu consiga.

Um tempo depois, o professor Marcos foi para a ponta do palco. — Vamos começar?

Ele chamou uma garota da primeira fila, e assim foi com as outras que pegaram o papel, com a professora Eduarda como Marilya. Prestei bastante atenção nos movimentos e feições que faziam. Algumas não fizeram do jeito que eu imaginei, então poderia me concentrar bastante naquelas partes. Quando a última garota estava quase acabando, minhas pernas começaram a tremer e minhas mãos a suar.

— Próxima! — Professor Marcos chamou, me olhando. — Sua vez.

— Boa sorte — James cochichou.

Levantei, meio travada, e subi no palco, segurando minha folha com mais força do que o necessário.

— Pronta? — Eduarda perguntou gentilmente.

Afirmei com a cabeça e respirei profundamente, virada para ela, para não precisar lembrar da plateia ali, observando cada passo meu. Imaginei que estava sozinha. Tentei entrar na personagem e comecei. Tentei transmitir toda a angustia de Jasmim, tentando entender e ao mesmo tempo representar o que ela sentia.

E então, no último instante, me deixei cair no chão, e tampei meu rosto com as mãos, fingindo muito bem um choro incontrolável. O som das palmas me assustou. Ergui a cabeça e fiquei surpresa em como consegui mesmo me sentir sozinha, ou quase isso.

A professora Eduarda estendeu a mão e me ajudou a levantar. — Muito bem, parabéns.

Agradeci com um aceno e voltei ao meu lugar, vendo Aline e Marcos cochichando entre si lá do outro lado da plateia.

Eu não tinha notado até então, mas alguma parte muito louca de mim queria conseguir aquele papel, e aquela simples cena me deu uma certa esperança.

James estava sorrindo, com um ar surpreso e desconfiado ao mesmo tempo.

— Tem certeza que nunca tinha feito isso antes? Você foi ótima!

— Doido, né? — falei sem jeito, me sentando.

— James — chamou Eduarda.

Ele levantou, passou a mão no topo da minha cabeça e foi ao palco. Naquele instante consegui relaxar na poltrona.

Foi. Consegui. Eu consegui!

Primeiro, James interpretou Gregório, e depois Heitor. Ele ficava tão diferente. Eram personagens totalmente distintos e ele os interpretava perfeitamente. Ele como Gregório chegava a me assustar, e mudava drasticamente fazendo Heitor. No final, todos bateram palmas e ele voltou ao seu lugar.

— Assim não vale, você é profissional — comentei, impressionada. — Foi incrível.

Ele riu. — Sou nada... Obrigado.

— Yan — O chamaram.

Yan interpretou tão bem quanto James... Muito bem. Provavelmente ele ficaria incrível até interpretando um psicopata.

Todos bateram palmas no fim e ele voltou.

— Erica!

A garota da fileira de trás foi para o palco e interpretou Jasmim muito bem.

— Ela é boa — sussurrei.

— Você é mais — James sussurrou de volta.

Dei uma risadinha. — Nem sou. — Assim vou começar a me achar.

Todos bateram palmas e Erica voltou.

O resto dos candidatos foram ao palco, e quando os que queriam os papeis principais acabaram, Marcos deu um passo à frente.

— Agora vamos conversar e decidir os papeis.

Os professores deram alguns passos para trás, para ninguém conseguir ouvir. Uma falação começou na plateia, então nem que eu quisesse conseguiria ouvir a conversa deles.

Fiquei nervosa de novo. Será que vou conseguir? A Erica foi tão bem...

Um tempo depois, os três voltaram para a frente do palco.


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