San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax
Notas iniciais do capítulo
Olá! Espero que estejam gostando!
Boa leitura!
— Já pensou se vocês pegam um papel de casal? — Júlio perguntou, brincando.
— Não seria ruim. — James falou, deitando em sua cama. — Quem sabe.
— Você já viu a Erica?
— Não. — Ele se sentou, mais atento. — Por quê? Você viu?
— Vi... Ela tá meio diferente.
— Diferente como?
— Tem algo diferente, mas não sei o quê.
James ficou pensativo e encarou o guarda-roupa. — Eu não quero ver ela.
— Você não vai conseguir fugir até a formatura. Uma hora vai acabar trombando com ela e você sabe.
— Eu sei, mas eu não quero continuar gostando dela. Quero gostar da Bruna, ela é legal e não tem cara de quem faria uma aposta com a Lili.
— E você acha que resolve alguma coisa gostar da Bruna? Se ela não gostar de você não adianta nada. — Júlio levou uma olhada reprovadora. — Tô sendo realista, ué.
— Eu não quero ficar pensando nisso. — James olhou através da sacada, vendo a luz do quarto de Bruna acesa.
...
— Daqui a pouco é hora — sussurrei para mim, respirando fundo mais cinco vezes.
Fui ao banheiro, lavei o rosto e arrumei o cabelo pela terceira vez. Apertei o nó da gravata, ajeitei a camisa dentro da saia, puxei as meias e fiz sei lá mais o quê sem prestar atenção.
Meu estômago estava inquieto, eu só não sabia se era pelo teatro ou pelo Yan.
Afofei meu travesseiro, arrumei o despertador no criado-mudo e arrumei os materiais em cima da escrivaninha. Quando deu a hora, saí do quarto e desci, ficando perto da entrada do dormitório, esperando James. Um tempo depois o vi aparecendo por entre as árvores e nos encontramos no meio do caminho.
Andamos para o fundo do campus, onde ficavam o teatro e as quadras. Entramos no auditório. Era grande — não como um teatro normal, mas era bem parecido, só que menor —. Devia ter menos de duzentos lugares ali. A entrada ficava de frente a escada que levava até lá em baixo, e lá do outro lado havia outro corredor de escadas — como se fosse um cinema.
As paredes eram escuras, o chão de madeira clara e as poltronas de um tom de vermelho escuro terroso. O palco era de uma madeira mais escura, e as cortinas tinham a mesma cor das poltronas.
Já tinham pessoas sentadas, e os professores estavam sentados na beirada do palco, conversando com os alunos mais próximos.
Descemos as escadas e nos sentamos na segunda fileira da frente, onde Yan estava sentado sozinho. James foi na frente e se sentou do lado dele, e eu do seu lado. Uma professora que eu não conhecia acenou para James, e ele retribuiu.
— Bom — começou a professora Eduarda. — Acho que estão todos aqui. Podemos começar. — Levantou. — A peça que queremos fazer esse ano chama-se O Outro. Vocês irão receber o roteiro e o livro, mas basicamente é a história de uma garota chamada Jasmim, que é obrigada a se casar pelo pai com um homem mais velho que ela, o Gregório. Depois de casar, ela conhece um rapaz por quem se apaixona, o Heitor, e eles têm um romance às escondidas, e no final... Bem, vocês vão ler! — Riu. — E sim, tem muitas partes que tiramos do roteiro, como cenas de violência ou as que contém conteúdo sexual. Vamos entregar alguns trechos do roteiro, daremos um tempo pra vocês lerem e treinarem, e depois cada um virá ao palco interpretar. Eu, o professor Marcos e a professora Aline iremos decidir os papeis. Primeiro, vamos pegar os papeis principais.
O professor Marcos passou nas fileiras perguntando quem queria tentar os papeis principais. Na primeira fileira poucos quiseram.
Ele chegou na nossa fileira e se aproximou de mim. — Vai querer?
Encarei o professor sem entender muito bem o que ele tinha falado, e para não deixá-lo sem graça, peguei o papel.
— Boa sorte.
— Obrigada...? — Ele não ouviu meu agradecimento com grande tom de dúvida.
— James?
— Posso tentar os dois?
— Claro. — Procurou e entregou duas folhas a ele. — Boa sorte. — Yan?
— Heitor.
Entregou uma folha a ele também. — Boa sorte.
Dei uma passada de olho bem rápida no texto da folha, fazendo a ficha cair de que eu tinha pegado o texto da personagem principal. O que diabos eu tava fazendo?!
— Tomou coragem, é? — James perguntou, abrindo um sorriso orgulhoso.
— Eu peguei a folha sem nem perceber direito — choraminguei.
— Acho que no fundo, você quer e sabe que consegue.
Logo o professor Marcos voltou ao palco. — Bom, já que todos pegaram...
Um barulho fez ele parar de falar. Alguém entrou correndo no auditório.
— Espera, por favor!
Olhei para trás. Uma garota entrou e correu para o palco.
— Desculpa! Quero tentar o papel principal.
Marcos entregou um papel à menina, e ela se sentou na terceira fileira, no último lugar.
A acompanhei com o olhar, e ela olhou em minha direção, mas não para mim. Ao voltar para frente, notei que James virou a cabeça quase junto comigo, parecendo meio tenso.
— Podem começar a ensaiar.
Olhei para minha folha e li o texto mentalmente.
“— Como poderei? Eu não gosto dele, Marilya — exclamou Jasmim.
— Sinto muito, Jasmim. Eu não queria isso para você, mas não tem como fugir... Com o tempo você se acostuma.
— Ah, eu não quero me acostumar! — disse, desesperada. — Isso não devia ser possível. Não é justo. Sou nova e terei que me casar com um homem que não conheço... Terei que ter filhos com alguém que não amo. Ah, Marilya, prefiro morrer — debulhou-se em lágrimas.
— Não diga isso! Vê? — Colocou a mão sobre a barriga, grande e redonda. — Isso é o que faz valer a pena! Você terá um futuro garantido, moradia segura e um marido para cuidar de você... Será ruim no começo, apenas, depois você verá como será uma benção.
— Tenho certeza que não... Eu vou fugir! Não quero isso para a minha vida. Suas riquezas pouco me importam. Há um mundo gigante lá fora, quero conhecê-lo, não ficar presa dentro de casa fazendo serviços domésticos e cuidando de filhos. Não posso aceitar isso.
— Você é tão ingênua, Jasmim. Seu pai te obrigará e mesmo que fuja, sabe que fará de tudo para te achar, e seu noivo com certeza ajudará. E se te acharem, será muito pior.
Jasmim sente-se fraca e desaba no chão, sentando-se e chorando”.
Uau, é coisa demais...
— Vamos poder ficar com o papel, né? — perguntei a James, cochichando.
— Sim. — Ele ainda parecia um pouco tenso.
— Você tá bem?
— Sim. O frio de sempre no estômago. — Deu uma risadinha. — Pronta?
— Não sei, tô tremendo um pouco.
— Isso é normal. Pensa que não tem ninguém na plateia, que só tem você ali. Limpa sua mente e respira fundo. Tenta se colocar no lugar da personagem. Sinta suas emoções, seus medos. Pegue esses sentimentos pra você e interprete. Se você achar que é a personagem, vai conseguir transmitir o que precisa.
— Parece complicado.
— É e não é. — Sorriu, me encorajando. — Quando você estiver lá vai ver, vai vir quase que automaticamente.
— Certo.
Preciso saber como ela se sente pra interpretar bem. Certo. Tá bom.
Li mais algumas vezes, interpretando em minha mente. Talvez eu consiga.
Um tempo depois, o professor Marcos foi para a ponta do palco. — Vamos começar?
Ele chamou uma garota da primeira fila, e assim foi com as outras que pegaram o papel, com a professora Eduarda como Marilya. Prestei bastante atenção nos movimentos e feições que faziam. Algumas não fizeram do jeito que eu imaginei, então poderia me concentrar bastante naquelas partes. Quando a última garota estava quase acabando, minhas pernas começaram a tremer e minhas mãos a suar.
— Próxima! — Professor Marcos chamou, me olhando. — Sua vez.
— Boa sorte — James cochichou.
Levantei, meio travada, e subi no palco, segurando minha folha com mais força do que o necessário.
— Pronta? — Eduarda perguntou gentilmente.
Afirmei com a cabeça e respirei profundamente, virada para ela, para não precisar lembrar da plateia ali, observando cada passo meu. Imaginei que estava sozinha. Tentei entrar na personagem e comecei. Tentei transmitir toda a angustia de Jasmim, tentando entender e ao mesmo tempo representar o que ela sentia.
E então, no último instante, me deixei cair no chão, e tampei meu rosto com as mãos, fingindo muito bem um choro incontrolável. O som das palmas me assustou. Ergui a cabeça e fiquei surpresa em como consegui mesmo me sentir sozinha, ou quase isso.
A professora Eduarda estendeu a mão e me ajudou a levantar. — Muito bem, parabéns.
Agradeci com um aceno e voltei ao meu lugar, vendo Aline e Marcos cochichando entre si lá do outro lado da plateia.
Eu não tinha notado até então, mas alguma parte muito louca de mim queria conseguir aquele papel, e aquela simples cena me deu uma certa esperança.
James estava sorrindo, com um ar surpreso e desconfiado ao mesmo tempo.
— Tem certeza que nunca tinha feito isso antes? Você foi ótima!
— Doido, né? — falei sem jeito, me sentando.
— James — chamou Eduarda.
Ele levantou, passou a mão no topo da minha cabeça e foi ao palco. Naquele instante consegui relaxar na poltrona.
Foi. Consegui. Eu consegui!
Primeiro, James interpretou Gregório, e depois Heitor. Ele ficava tão diferente. Eram personagens totalmente distintos e ele os interpretava perfeitamente. Ele como Gregório chegava a me assustar, e mudava drasticamente fazendo Heitor. No final, todos bateram palmas e ele voltou ao seu lugar.
— Assim não vale, você é profissional — comentei, impressionada. — Foi incrível.
Ele riu. — Sou nada... Obrigado.
— Yan — O chamaram.
Yan interpretou tão bem quanto James... Muito bem. Provavelmente ele ficaria incrível até interpretando um psicopata.
Todos bateram palmas no fim e ele voltou.
— Erica!
A garota da fileira de trás foi para o palco e interpretou Jasmim muito bem.
— Ela é boa — sussurrei.
— Você é mais — James sussurrou de volta.
Dei uma risadinha. — Nem sou. — Assim vou começar a me achar.
Todos bateram palmas e Erica voltou.
O resto dos candidatos foram ao palco, e quando os que queriam os papeis principais acabaram, Marcos deu um passo à frente.
— Agora vamos conversar e decidir os papeis.
Os professores deram alguns passos para trás, para ninguém conseguir ouvir. Uma falação começou na plateia, então nem que eu quisesse conseguiria ouvir a conversa deles.
Fiquei nervosa de novo. Será que vou conseguir? A Erica foi tão bem...
Um tempo depois, os três voltaram para a frente do palco.
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